Regressam as entrevistas com mais um dos casos em que o autor responde à totalidade das questões; isto é, fala sobre um livro e sobre um texto vencedor da votação do público.
Neste caso, a autora vai referir apenas a sua mais recente vitória, na colectânea "Uma manhã na praia", mas já tinha vencido a votação do público anteriormente, na colectânea "Desses Poetas por aí", com o poema com o mesmo título (também é uma das autoras a já ter dado nome a uma colectânea).
No espaço de semanas, esta psicóloga de 35 anos ganhou a votação do público e lançou o seu primeiro livro "Poetisa de pé descalço", um sonho do tamanho da vida.
E é a vida que inevitavelmente a inspira e a motiva, todos os seus textos são retratos da sua vida que vai expondo e partilhando.
Ana Pão Trigo, na primeira pessoa...
Conte-nos como e porquê começou a escrever, por paixão ou por necessidade?
Esta paixão começou bem cedo, tinha eu aproximadamente 11 anos, em 1996. Andava no 5.º ano de escolaridade e estava a estudar o texto poético em Língua Portuguesa. Adorei esta forma de escrita! Na ficha de avaliação, escrevi em 5 minutos o primeiro poema do meu livro e a minha professora achou que estava muito bem escrito. Começou a incentivar-me e a ela seguiram-se outros professores. Mais tarde, já no 10.º ano de escolaridade, fui vítima de Bullying por ser boa aluna (“a totó”), então a escrita passou a ser mais do que um simples passatempo para passar a ter um efeito terapêutico em mim.
Qual o papel que a escrita ocupa na sua vida?
A escrita para mim é algo do qual não abdico para me sentir livre! É a minha forma de expressão por excelência… adoro escrever poesia, mas também gosto de escrever contos infantis que leio ao meu filho ou aos meus pacientes nas consultas. Escrevo, ainda, discursos, crónicas de cariz político que me fazem sentir que através da escrita, da mensagem que passo aos outros, posso fazer algo mais pela sociedade.
Sempre sonhou publicar um livro?
O meu grande sonho de menina sempre foi publicar um livro. Por volta dos 6 anos já sonhava com isso. Queria ser professora de português, adorava a escola, ler e escrever. Mas, nesta altura ainda não tinha definido o meu gosto pela poesia, apenas o gosto pela escrita, sem rumo. Aos 11 anos, isso tornou-se claro para mim: um livro de poesia – um sonho a realizar, nem que para tal tivesse que batalhar a vida toda.
Qual é a sensação que tem ao ver, agora, o seu livro nas mãos?
Para mim ter o livro nas mãos significa, acima de tudo, ter a ousadia, a coragem de partilhar-me com os outros. O meu livro é a minha história de vida em verso e não foi fácil ganhar coragem para partilhá-la com o público. Porém, uma enorme sensação de orgulho em mim própria, quase comparável ao nascimento do meu filho, tomou conta de mim no lançamento.
O que significa para si ter o texto favorito dos leitores? Fale-nos um pouco sobre o texto.
O poema mais votado pelo público "Pinguino, meu Verão", na colectânea “Uma manhã na praia”, tem um duplo significado para mim. Por um lado, pretendia que servisse de motivação para o meu filho que está a passar uma fase difícil, por outro funcionou como expressão da força que me move para viver: o meu filho. É um retrato fiel do meu Zé. O meu "pinguino", nome carinhoso que utilizo para chamar o meu filho Zé, é o título deste poema que foi agraciado com esta distinção que muito me honra.
Tem algum projecto a ser desenvolvido, actualmente? Pensa publicar mais algum livro? Continua a sentir vontade de escrever?
Atualmente, tenho um projeto relacionado com contos infantis em marcha, algo para fazer com calma. Uma espécie de ferramenta de trabalho no qual alio o gosto pela escrita à minha paixão pela psicologia e pelas crianças em especial. Se conseguir concretizar será um grande feito para mim, pois poderei ajudar outros profissionais da minha área e até pais, professores, educadores. Contudo, a poesia é o meu amor para a vida toda e sonho voltar a publicar mais tarde uma nova versão de mim.
Fale-nos um pouco sobre o seu livro.
O meu livro, como já referi, é a minha história de vida, até ao momento presente em verso. Tive que seleccionar textos, não pude colocar tudo o que tenho escrito nestes últimos 23 anos, mas tentei mostrar aos leitores a minha evolução como pessoa e como escritora. As diferenças são muitas, mas a essência mantém-se: ser uma poetisa de Pé Descalço, sem regras, de versos simples que têm como única preocupação passar para o papel os meus sentimentos, emoções, a genuinidade do meu ser… Sem obedecer a qualquer estilo literário ou qualquer tipo de convenção. Versos nus mas cheios de conteúdo!
Existe alguma parte do livro, em particular, que goste mais. Porquê?
Sou suspeita para falar, mas a parte que se destaca mais em mim é aquela que intitulei de “Do Ser construído, em construção perene…”. São os textos mais recentes, então, identifico-me mais com eles tanto ao nível da escrita, como ao nível da minha forma de pensar e sentir.
Indique as razões pelas quais aconselharia as pessoas a ler o seu livro? O que acha mais apelativo no seu livro?
Eu aconselharia as pessoas a lerem o meu livro como incentivo à sua própria superação como seres humanos. Vivi muitos momentos difíceis ao longo destes meus 35 anos, encontrei na escrita um refúgio. Acho que alguns dos meus textos poderão ser inspiradores para quem passou por situações de vida idênticas às que vivi. Julgo que poderá servir de inspiração para a transformação de algumas pessoas e para alguns autores como encorajamento a publicarem os seus textos.
Qual é o seu estilo de escrita ou que tipo de mensagem gosta de passar no que escreve?
Como já deve ter percebido, não me preocupo muito com isso, limito-me a escrever o que sinto, de alma nua e o coração no pensamento! No entanto, por brincadeira costumo dizer que sou poético-sarcástica… um neologismo que criei para dar um rótulo (ainda que desnecessário) ao que escrevo!
Qual o papel das redes sociais na vida e na divulgação da obra de um autor? E na sua?
Até ao lançamento do meu livro, tentava evitar ao máximo essa exposição pois tenho algum receio do plágio e se isso acontecer um dia, será como se me tivessem roubado parte de mim… sabemos como funcionam a exposição e as redes sociais. Neste momento, coloquei essa ideia um pouco de parte para divulgar o meu livro, ainda que com algumas reservas. Julgo que as redes sociais poderão ser um bom veículo de divulgação de cultura, se obedecerem a determinadas regras de bom-senso.
Gosta de ler? Que tipo de leitor é que é?
Sim, adoro ler! Gostava de ler mais… não tendo tempo, leio o que posso! Já fui rapariga para ler o “Amor de Perdição” numa tarde! Gosto de literatura clássica, quer de autores portugueses, quer de autores estrangeiros. Mas também gosto de ler ensaios filosóficos e livros técnicos na área das ciências sociais e humanas. Odeio leituras de cordel… livros cor-de-rosa! Não sou capaz! Tenho um problema em relação ao leitura, não consigo começar e terminar um livro para ler outro. Dou, muitas vezes, comigo a ler vários livros em simultâneo, porque, por vezes aborrece-me ler sempre a mesma coisa e preciso de fazer pausas ou introduzir outras obras para depois poder terminar todas as leituras que estiver a fazer.
Poetisa de Pé Descalço – De versos nus, sem
regras – Ana Pão Trigo
130
páginas, capa mole; Tecto de Nuvens,
2019
(Novembro)
PVP 12
€
Uma manhã na praia - Colectânea de Férias – Vários autores
92
páginas, capa mole; Tecto de Nuvens, 2019. PVP 11€
Desses Poetas por aí… - Colectânea de Poesia – Vários autores
88 páginas, capa mole; Tecto de Nuvens, 2018. PVP 10,00€