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terça-feira, 26 de maio de 2020
Vaidosicezinhas V - O famoso gato Nino
O gato Nino não é desconhecido dos leitores da Tecto de Nuvens, já fez uma primeira aparição na colectânea de Natal do ano passado "A Prendinha de Natal" e (surpresa, surpresa!) volta agora, com mais aventuras, na nossa próxima colectânea "O Baloiço" a lançar já no dia 1 de Junho.
Entretanto, resolveu dar uma mãozinha (patinha?) à sua dona, a autora Ilda Pinto Almeida, no momento em que ela está a fazer as revisões finais para a impressão da nova edição do seu premiado livro "Quando o sol deixa de brilhar" (a lançar em capa mole e capa dura ainda este Verão). Como as fotografias ilustram, depois de uma leitura atenta resolveu que já não cedia a cópia a mais ninguém, por esse motivo, os interessados deverão manter-se atentos às nossas notícias para saberem como arranjar a vossa própria cópia que aquela, claramente, já tem dono...
sexta-feira, 22 de maio de 2020
Desafios de autor para autor: Poesia Livre
Sem dúvida o nosso desafio mais popular, volta para mais uma ronda: à Poesia livre (em tema, forma, extensão, etc.).
Podiam participar com um ou mais poemas.
Ser português é ter alma
De saudade que não termina!
Ser português é ter a porta aberta
E vir à janela dizer “olá” à vizinha!
Ser português é ter na voz
Um fado que entristece e fascina!
Ser português é nunca ter a casa deserta,
E dividir o caldo verde por dois ou três...
Ou mais... todos os que aparecerem!
O português mete mais água na panela!
Ser português é vibrar com futebol!
Ficar feliz por pôr as pernas ao sol
E emborcar uma mini e sande de presunto!
Ser português é falar, falar com todos,
Com conteúdo e mesmo sem assunto!
Ser português é, também, ter alma de trovão
E tocar grandes guitarradas em cada manifestação!
Ser português é ser Tuga de gema,
E os Tugas são o Zé e a Maria,
Com a nossa Senhora na boca
E muita fé na bagagem,
De tão dura que já fora a viagem!
Ser português é cantar o hino nacional
De lágrima ao canto do olho e mão no peito,
Para sentir o pulsar do coração,
Que é lusitano e perfeitamente imperfeito.
Ser português é acorrer para ver a desgraça,
Mas não ficar indiferente à dor que passa!
Ser português é encher caixas de plástico
Com comida e amor ao próximo!
Ser português é depositar uns tostões,
Que viram milhões, rapidamente,
Para socorrer a Matilde, Pedrogão e toda a gente!
Ser português é ficar em casa e respeitar ordens!
Ter orgulho no seu país, mas sempre a reclamar!
Ser português é ter alma de vencedor,
É dobrar o Bojador e as Tormentas
E perder tudo, porque o de fora é que é bom!
E, ainda assim, sorrir pelo passado,
Reclamar o futuro, continuando a fazer tudo errado!
Ser português é comer sardinha pinga no pão
E não dispensar a malga de vinho ou o fino!
Ser português é ter raça de lutador
E a amargura de um rei sem dor, dorido!
Ser português é pôr as mãos na cabeça e dizer:
“oh pá, está tudo f*dido! “,
Mas, continuar a caminhar sem parar,
E indignar-se, apenas com alarido!
Ah! Mas ser português é tão bonito!
É ter cá dentro um grito de história,
De uma gloriosa memória
Que nos enche de orgulho
E apenas sabe fazer barulho!
Mas um barulho pacífico...
E que venha o chouriço e a broa
E gente da boa para abraçar!
Assim é o Tuga comum mortal,
Que fala a mais bela língua do mundo,
A língua de Camões que arrebata corações
Com sempre viva e imortal poesia!
E que grita com brio à chuva e ao frio:
Agora e para sempre: Viva Portugal!
a lua ilumina o ser da noite,
Podiam participar com um ou mais poemas.
Ser português é ser saudade
Ser português é ter alma
De saudade que não termina!
Ser português é ter a porta aberta
E vir à janela dizer “olá” à vizinha!
Ser português é ter na voz
Um fado que entristece e fascina!
Ser português é nunca ter a casa deserta,
E dividir o caldo verde por dois ou três...
Ou mais... todos os que aparecerem!
O português mete mais água na panela!
Ser português é vibrar com futebol!
Ficar feliz por pôr as pernas ao sol
E emborcar uma mini e sande de presunto!
Ser português é falar, falar com todos,
Com conteúdo e mesmo sem assunto!
Ser português é, também, ter alma de trovão
E tocar grandes guitarradas em cada manifestação!
Ser português é ser Tuga de gema,
E os Tugas são o Zé e a Maria,
Com a nossa Senhora na boca
E muita fé na bagagem,
De tão dura que já fora a viagem!
Ser português é cantar o hino nacional
De lágrima ao canto do olho e mão no peito,
Para sentir o pulsar do coração,
Que é lusitano e perfeitamente imperfeito.
Ser português é acorrer para ver a desgraça,
Mas não ficar indiferente à dor que passa!
Ser português é encher caixas de plástico
Com comida e amor ao próximo!
Ser português é depositar uns tostões,
Que viram milhões, rapidamente,
Para socorrer a Matilde, Pedrogão e toda a gente!
Ser português é ficar em casa e respeitar ordens!
Ter orgulho no seu país, mas sempre a reclamar!
Ser português é ter alma de vencedor,
É dobrar o Bojador e as Tormentas
E perder tudo, porque o de fora é que é bom!
E, ainda assim, sorrir pelo passado,
Reclamar o futuro, continuando a fazer tudo errado!
Ser português é comer sardinha pinga no pão
E não dispensar a malga de vinho ou o fino!
Ser português é ter raça de lutador
E a amargura de um rei sem dor, dorido!
Ser português é pôr as mãos na cabeça e dizer:
“oh pá, está tudo f*dido! “,
Mas, continuar a caminhar sem parar,
E indignar-se, apenas com alarido!
Ah! Mas ser português é tão bonito!
É ter cá dentro um grito de história,
De uma gloriosa memória
Que nos enche de orgulho
E apenas sabe fazer barulho!
Mas um barulho pacífico...
E que venha o chouriço e a broa
E gente da boa para abraçar!
Assim é o Tuga comum mortal,
Que fala a mais bela língua do mundo,
A língua de Camões que arrebata corações
Com sempre viva e imortal poesia!
E que grita com brio à chuva e ao frio:
Agora e para sempre: Viva Portugal!
Ana Pão Trigo (in "Poetisa de Pé Descalço")
Tecto de Nuvens
Que lembrança saudosa e amiga
Gravo há anos na retina dos olhos
Tectos de Nuvens e castelos por cima
Girando, vivos como seres misteriosos.
Assim me parece o nome da Editora
Tecto de Nuvens, a apontar novas descobertas
A criação e a vida são beleza, arte e aroma
Que guardamos no coração para horas certas.
Admiro dedicação e tarefas minuciosas
Que a cada minuto suscitam a vossa mente,
Sugestões imensas e tão harmoniosas!
Quem escolhe, teme deixar a melhor semente.
Felicito a Chefe e o pessoal operário
Que tanto apreciam o esmero e a arte
Cada qual dá seu tributo e recado
E a Tecto de Nuvens,
Em toda a parte
Aromatiza a praça, os livros e o mercado.
(23
de Maio 2017), Florentino Mendes Pereira
No dia da poesia livre, tomamos a liberdade de ir ao baú buscar um miminho...
QUEDO-ME
Quedo-me aqui
Quedo-me sem ti
Perco-me em mim
Assim…
Quedo-me muda serena transparente e tua
Quedo-me por ti
Assim…
Galgo a escadaria do palácio antigo e belo
Perco-me nos corredores do labirinto
E encontro-me/te num doce ninho
Assim…
Amo sinto estremeço e rio
Escancaro a alma neste mar sem rio
Salto a balaustrada
Solto o grito agudo
Solto o ponto e o brio
Sou amante do destino.
Por amor
de todos serei o guia indistinto
a todos darei
o abraço antigo
Quedo-me assim
Quedo-me por mim.
Margarida Haderer
AFINAL
Afinal era curto o caminho
a ponte
a passagem
Era fácil visível transponível
a sebe bem tecida
Afinal…
Era tão só um trilho passageiro
um desvio
um breve-longo engano
Afinal…
Havia Sol na outra margem do rio
Havia Luz por entre as vírgulas do vazio
Havia Flores, Verdes, Amarelos, Rubros,
desafios
Afinal…
Havia Tempo e Mar p´ra desflorar e desfrutar
frutos suculentos, doçuras e branduras
Afinal…
Havia VIDA!
Afinal...
Margarida Haderer
numa noite de luar
a lua ilumina o ser da noite,
porque a lua é um ser,
(assumidamente abstrato),
numa ressonância,
que devíamos construir, pelo labor,
das fronhas,
e das tempestades que passam e voltam,
mas o sol nunca veio,
é que ele nunca foi,
na luz da noite, saboreamos,
o caminho madrasto da vida,
e se algum dia,
encontrares o que procuras,
então sabes,
qual é o lugar das lágrimas que choras.
ora, falemos da noite e do luar,
e do sol e da chuva,
do vento e das ceifeiras,
colhendo o trigo,
que cresce na noite da madrugada.
Fica já lançado o último desafio de Maio: Infância. Em prosa, em verso, em foto, numa frase, como entenderem. Pode ser uma memória própria, uma ficção, pode ser sobre a vossa infância ou um trabalho dirigido às crianças de hoje.
Podem participar com mais do que um trabalho.
Receberemos trabalhos até ao final de sábado, dia 30 de Maio. Os trabalhos serão publicados no blogue no dia 1 de Junho, Dia Mundial da Criança. Durante todo o mês de Junho ficarão abertas as votações para o melhor trabalho.
No dia 1 de Junho vamos lançar a nossa nova colectânea de contos infantis: "O Baloiço" e o trabalho mais votado receberá um exemplar em capa dura deste trabalho.
Bom trabalho!
(assumidamente abstrato),
numa ressonância,
que devíamos construir, pelo labor,
das fronhas,
e das tempestades que passam e voltam,
mas o sol nunca veio,
é que ele nunca foi,
na luz da noite, saboreamos,
o caminho madrasto da vida,
e se algum dia,
encontrares o que procuras,
então sabes,
qual é o lugar das lágrimas que choras.
ora, falemos da noite e do luar,
e do sol e da chuva,
do vento e das ceifeiras,
colhendo o trigo,
que cresce na noite da madrugada.
Joaquim Armindo
Fica já lançado o último desafio de Maio: Infância. Em prosa, em verso, em foto, numa frase, como entenderem. Pode ser uma memória própria, uma ficção, pode ser sobre a vossa infância ou um trabalho dirigido às crianças de hoje.
Podem participar com mais do que um trabalho.
Receberemos trabalhos até ao final de sábado, dia 30 de Maio. Os trabalhos serão publicados no blogue no dia 1 de Junho, Dia Mundial da Criança. Durante todo o mês de Junho ficarão abertas as votações para o melhor trabalho.
No dia 1 de Junho vamos lançar a nossa nova colectânea de contos infantis: "O Baloiço" e o trabalho mais votado receberá um exemplar em capa dura deste trabalho.
Bom trabalho!
Novo livro infantil em pré-lançamento
Para festejarmos o Dia Mundial da Criança (1 de Junho) desafiamos os nossos autores a contar histórias e a partilhar ensinamentos...
O Baloiço - Colectânea de Contos Infantis – Vários autores
156 páginas, capa mole; Tecto de Nuvens, 2020 (Junho), PVP 10,00€
Jovem leitor, queremos que te divirtas com as nossas histórias, que as leias, que as partilhes, que aprendas. Foram todas pensadas para ti, hoje filho e neto, amanhã pai e avô. Que nunca deixes de apreciar as coisas boas da vida, que são as mais simples, aquelas em que normalmente nem pensas muito, pois estão sempre lá para ti.
Preços promocionais até 1 de Junho de 2020:
Pack de 10 livros (40% de desconto) =
Pack de 5 livros (30% de desconto) =
Livro com desconto de 25% = 7,50€
Nota: Pode solicitar o envio para múltiplas moradas. Pode solicitar que o livro seja enviado já embrulhado.
Encomendas pelo email loja@tecto-de-nuvens.pt
quinta-feira, 21 de maio de 2020
Votações para o texto favorito do livro "As Flores do Meu Lindo Jardim"
Vote no seu texto favorito e ganhe um conjunto de duas canecas e 1 um conjunto de 10 postais com a ilustração da capa do livro.
Pode acompanhar as votações em: https://tectonuvens.blogspot.com/p/vote-no-seu-texto-favorito-e-ganhe-um_21.html
Para votar recorte a página respectiva do livro e envie para a morada indicada.
Por sms (terá de incluir os seus dados completos para receber o prémio) para 960131916.
Por email para geral@tecto-de-nuvens.pt com o título: Melhor texto colectânea de Poesia livre.
Aceitamos votações até 31 de Maio de 2020 (data do email, sms ou carimbo do correio). A todas as participações será atribuído um número, por ordem de chegada. – Serão excluídas as participações que não tragam os dados necessários para o envio do prémio -.
O vencedor do melhor texto será anunciado no blogue “Notícias das Nuvens” e nas redes sociais de todos os autores participantes nesta colectânea.
O vencedor do passatempo será aquele cuja participação tiver o número (ou terminação de número) igual ao do número da sorte do sorteio do Totoloto do primeiro sábado de Junho de 2020.
- A seguir ao sorteio do Totoloto será sorteado um participante de entre todos os que tiverem número ou terminação de número (caso haja mais do que um) igual ao sorteado para o Totoloto, e esse será o vencedor. -
A todos os participantes que nos facultarem o endereço de email comunicaremos o número atribuído à chegada. Tentaremos fazer o mesmo com os sms, mas é mais prático com endereços de email.
Também o vencedor deste passatempo será anunciado no nosso blogue e nas redes sociais dos autores, a partir da segunda-feira seguinte ao sorteio do Totoloto.
Obrigada pela sua participação.
Caneca verso |
Caneca frente |
Postal A6 |
Pode acompanhar as votações em: https://tectonuvens.blogspot.com/p/vote-no-seu-texto-favorito-e-ganhe-um_21.html
Para votar recorte a página respectiva do livro e envie para a morada indicada.
Por sms (terá de incluir os seus dados completos para receber o prémio) para 960131916.
Por email para geral@tecto-de-nuvens.pt com o título: Melhor texto colectânea de Poesia livre.
Aceitamos votações até 31 de Maio de 2020 (data do email, sms ou carimbo do correio). A todas as participações será atribuído um número, por ordem de chegada. – Serão excluídas as participações que não tragam os dados necessários para o envio do prémio -.
O vencedor do melhor texto será anunciado no blogue “Notícias das Nuvens” e nas redes sociais de todos os autores participantes nesta colectânea.
O vencedor do passatempo será aquele cuja participação tiver o número (ou terminação de número) igual ao do número da sorte do sorteio do Totoloto do primeiro sábado de Junho de 2020.
- A seguir ao sorteio do Totoloto será sorteado um participante de entre todos os que tiverem número ou terminação de número (caso haja mais do que um) igual ao sorteado para o Totoloto, e esse será o vencedor. -
A todos os participantes que nos facultarem o endereço de email comunicaremos o número atribuído à chegada. Tentaremos fazer o mesmo com os sms, mas é mais prático com endereços de email.
Também o vencedor deste passatempo será anunciado no nosso blogue e nas redes sociais dos autores, a partir da segunda-feira seguinte ao sorteio do Totoloto.
Obrigada pela sua participação.
sábado, 16 de maio de 2020
Desafio de autores para autores - PROSA
Estão encerradas as votações e contados os votos. Os nossos parabéns ao autor Manuel José Martins e o nosso obrigado a todos os (muitos) que por aqui passaram a ler os poemas e ainda mais aos que participaram na votação.
Continuem a visitar-nos, continuaremos a publicar bons textos para boas leituras e a divulgar bons livros, bem como a ocasional vaidosicezinha!
Em resposta ao desafio lançado, que consistia num texto em prosa que relatasse um episódio verídico, chegaram-nos estes textos.
Cabe agora aos leitores lerem e divulgarem esta iniciativa. Têm ainda a oportunidade de expressarem a vossa opinião votando no vosso texto favorito (veja as instruções no final deste post); o autor do texto mais votado receberá um caderno com capa igual à do livro: "Uma manhã na praia - Colectânea de Férias - ".
Boas leituras!
a
quininha
ela ali está. a pessoa dita idosa.não sabemos
muito bem o que é isso de “pessoa idosa”. deve ser quem possui em tese
estatística o ser mais jovem para
morrer. mas encontrei-a, ao meio da rua elias garcia, nesta vila nova de gaia.
deverá ter cerca de noventa e cinco anos de idade, ainda do tempo da segunda
guerra mundial. e neste tempo da terceira guerra mundial. que atravessamos. sob
todos os pontos de vista. a quininha já passou muito. as agruras da vida
medem-se na sua cara. jovem e enlameada. jovem porque ainda tem fé no futuro.
também nunca foi pessoa que necessitasse de muito para se considerar feliz. nem
telefone. quanto mais telemóvel. na televisão ainda vai vendo metade das
coisas. porque a outra metade nem sabe o que é. e então com estas “modernices”
que para aí estão andando. “ó meu filho”. podia ser filho dela. lá isso podia.
mas agora que me chame de menino. mas está bem. sou menino. olhem até fiquei
contente. porque aqueles que não forem como crianças como entrarão numa nova
vida. numa nova ética mundial. a quininha não sabe o que isso é. ética. mas bem
sabe na sua vida o sentir-se ética. o mais que tem é o exame da terceira
classe. mas aí não como agora. ela sabia as serras. os rios. e até os
apeadeiros do caminho de ferro. porque isso “menino” é que era. metia-nos no
comboio e estávamos no porto. bem que se pode contar as vezes que foi ao porto.
uma dúzia. talvez duas. que a lisboa nunca foi. mas onde gostaria de ir era a
braga. tão longe “não é menino”. interroga.
meti a mão no bolso e balbuciei cá para mim braga é a vinte e cinco
quilómetros. daqui. pois nunca lá foi.
é do tempo em que ir à escola. sabe éramos sete
irmãos. e era tão preciso cultivar o campo para comer. malandreca esperava pela
noite pelo “seu homem” porque não havia televisão e o rádio era para quem o
tinha. só tínhamos a cama. por isso a população cresceu. olhe o meu bisneto.
que lindo menino. mas traz para aí umas coisas. toda a tarde virado para a
televisão. e não é que ele com cinco anitos já consegue conduzir um automóvel.
nós também. sabe. mas eram os carros de bois. que linda vida. o carbono não era
tanto e não haviam autoestradas. sabe menino. há para aí umas poucas-vergonhas.
homens com homens. mulheres com mulheres. ai, naquele tempo. lembro-me bem.
namorar só á janela. não é que os campos de milho não houvessem por aí. e sabe
menino os homens têm as suas necessidades. íamos apanhar couves e lá estava ele
para nos apanhar a nós. mas também sabe. era bom. sabia bem e cá para nós até
os padres o faziam. agora não. não é assim. deitam-se nesses óteis. é móteis. e lá fazem a sua vida.
sabe menino. não sei para que está a falar
comigo. mas já me explicou. tirei a terceira classe e o meu paizinho não tinha
o que nos dar de calçar. o que valia era aquilo que lá os estrangeiros mandavam
para cá. manteiguinha. queijinho amarelo. e leitinho em pó. valha-nos nos deus
por isso. mas era bonito até nos davam sopa na escola. era o que nos valia.
salpicávamos a chuva com os nossos pés. ai meu deus. atirávamos água umas às
outras. que divertimento. a escola só de raparigas. porque tinha de ser assim.
na escola das raparigas. mas aprendia-se. que bem. olhe as serras de portugal
são. e lá as disse todas. penso que estão todas. que não as sei como ela sabe.
ai meu deus. e a tabuada era a cantar. já tenho ensinado aos meus bisnetos que
agora não sabem. que boas reguadas eu levei. mas aprendi. ora se aprendi. ainda
agora pelos fiéis coloco uma flor na campa das minhas professoras. a agradecer
as boas reguadas que levei. agora não é assim. ainda noutro dia uma senhora da
segurança formada pela universidade veio cá. e não é que quando eu lhe disse
“bata-lhe-se-ele-foge-à- escola”. me disse. sabe menino. que agora não se
podia. trautalizava [traumatizava] o
menino. eu pensei. pensei. enquanto rezava a nossa senhora o que será isso de tratatizar. bem ela vem da universidade
deve ser uma coisa muito importante. olhe noutro dia o meu filho do meio
levou-me de carro ao porto. ai que quis vir logo para o meu ninho. tanta gente.
e olhe são umas depravadas andam com as pernas ao léu. no meu tempo também as
fazia. mas as perninhas estavam bem escondidas. e no meio do pinhal ninguém
via. mas também o meu homem precisava.
aqui existiam umas casinhas todas alugadas.
éramos uma família. a emilinha. a claudininha. a mena. agora já não me lembra
de todas. e os seus homens. o sr. gaspar. o sr. joaquim. era muito bom ao
domingo. à missinha não faltava e só tomava o senhor. porque no sábado o sr.
abade me confessava. não lhe contava tudo. mas ele percebia. porque a sobrinha
que lhe tratava das coisas ria-se muito. olhe ainda antes da missinha íamos
regar os campos e sempre se levava uma galinhinha. para o sr. abade., coitado.
mas galinha de milho. não com essas coisas que agora colocam às galinhas e uma
duzinha de ovos para a sr.ª professora. porque. ai menino. aturava-nos tanto.
agora olhe. estou aqui nesta cadeira. nem posso
“chaxar”. deito-me e sabe. antes disso. vejo as malandrices na telenovela. até
me rio. mas ninguém vê. noutro dia. ai quando foi. dia dos fiéis. disse eu. sim
foi. fui à campa da minha mãe e da minha irmã. comprei umas floritas e não é
que me pediram dez euros. não sei quanto é. mas deve ser caro. se não fosse o
meu mais velho olhe não comprava. mas é para eu aprender. podia muito bem ter
plantado.
isto aqui eram outros ares. bons ovinhos todos
os dias.
olhe menino. matávamos uma galinhinha pela
páscoa. porque no natal o sr. firmino.o dono da mercearia era tão bom.
comprávamos o bacalhau e ele apontava no livro. ainda nos dava uma garrafinha
de vinho fino. depois jogávamos aos pinhões. rapa-tira-põe-deixa. os nossos
domingos à tarde enquanto os homens ouviam o relato de futebol. sempre são
homens. nós jogávamos à macaca. sabe o que é menino. ai sabe.
quando estávamos doentes vinha cá o sr. dr. o
filho da dona carmindinha. era uma jóia. tínhamos de pagar. para aí cinquenta
escudos. agora, vamos logo para o hospital. e depois cansa-me. sabe. estar à
espera tantas horas. e nuns minutitos o sr. dr. que cá vinha. já lhe disse o
filho da dona carmindinha, que até andou a estudar em lisboa. dr. couto santos.
num instantinho nos tirava a febre. agora tanta gente nos hospitais. ai
valha-me nossa senhora. vai muito mal no mundo. sabe, tudo isto era uma
família. mas agora olhe vivem ali uns senhores que nem os conheço. ele é bonito.
lá isso é. e bem vestido. elegante, mas não sei quem são.
mas já quer ir embora. perguntou. bem para
outro dia conto mais um bocadito da vida. quando quiser. estou por aqui. um dos
meus filhos ainda queria que fosse à suíça. ele está lá muito bem. mas eu não
vou. esperar por si está bem. boa tarde e deus o acompanhe.
Joaquim Armindo
PINGUELA
Lembro-me dela assim: dois trilhos de caminho-de-ferro assentes sobre grandes pedras de granito, fixados às paredes, atravessavam sobre as águas do rio Este e ligavam as duas margens. Sobre os trilhos, na horizontal, tábuas grossas de madeira, firmes e unidas, facilitavam a passagem de pessoas, animais, bicicletas, carros manuais e utensílios que a gente utilizava nas suas lides. Quem pretendia passar de um lugar para o outro da freguesia, ali encontrava a pinguela pronta a suportar com sólida paciência o peso que a pressa tem ao encurtar caminho. Encurtar e serenar. A ponte romana, a sul, é uma alternativa distante e, sobretudo durante a noite, luz elétrica inexistente, esta opção obrigava a percorrer cerca de um quilómetro de caminho e estrada, a andar por entre descampado e bouça.
Até ao seu fim sempre a conheci pela denominação de pinguela. Hoje, dicionário aberto, internet consultada, leio e vejo que pinguela é uma viga, ou uma prancha, ou uns troncos improvisados, ou uma mistura de tudo isto, atravessada sobre um rio a servir de ponte, sem proteção lateral. Assim o terá sido antes de a ver. Quando a conheci tinha proteção lateral. A ladear a pinguela, a cerca de um metro e trinta de altura medido a partir das tábuas, duas arriostas presas a quatro ferros cravados e sustidos no granito das paredes, enticavam-se de uma à outra margem e serviam de corrimão. Entre a pinguela e as arriostas, três cordas compostas por arames entrançados sustinham as quedas dos mais desprevenidos. A completar a proteção lateral, uns quantos ferros dispostos ao alto, fixados nas tábuas, com furos por onde passavam as arriostas e as cordas que aos ferros estavam presas, ofereciam maior consistência a uma proteção inimaginável para os servidos civilizados ocidentais que desconhecem passado recente.
Os rapazes, naquela escola apenas os rapazes, frequentavam o ensino primário, então o único obrigatório.
O Cinema Paraíso poisou-me na ideia. Xô!
Era uma escola com uma régua em funcionalidade aparentemente corretiva; incomodava, transmitia receio, mas nem por sombras imperava. Ensino, recreio, ensino; aprendizagem, diversão, aprendizagem; educação, entretimento, educação. Termina a lição. Risos, algazarra; toca a recolher a loisa, os cadernos e o livro, o lápis e a esferográfica, a borracha e o lápis de lousa que merece maior cuidado senão quebra e quebra sempre. Bolsa recargada. Correria porta fora. Animação, conversa, gritos. Desce-se o recinto do recreio. Encontrões que o portão é estreito. Caminho. O regresso a casa e a simulação do regresso.
Uns juntam-se a descer, outros juntos caminham a subir. Chão de macadame. A esguelha.
Pequenas pedras começam a ser apanhadas, seguras nas mãos, recolhidas nas camisolas, bolsos e bolsas. A distância que permeia entre o grupo que regressa e o que finge regressar está quase. Os mais impacientes animam a antecipação. Alguns apartam-se. Ligeira hesitação.
Inevitável. A primeira pedra atravessa o ar, as outras seguem-na. Os que regressam a casa aguentam firme a primeira leva. Os mais afoitos avançam e fazem recuar os fingidores. Mas, quem regressa a casa, a casa torna por caminho sem espera. Os que subiam atiram pedras, correm a descer. Os que desciam continuam a descer agora a correr.
Os que regressam, antes de passarem sobre a pinguela resistem com nova salva de pedras.
Pequeno entreato. Quem vai a caminho de casa sabe que a pinguela está disposta a carregar novos saberes. Abandonam a contenda. Vão.
O vime sopra e faz-se ouvir. Sobre a pinguela, aos saltos, os perseguidores recusam penetrar em solo hostil. Pincham forte sobre as tábuas enquanto umas pedritas caem no rio ou acertam na cabeça de algum. Cabeça rija que pedra enfrenta sem temer. A pinguela balanceia e os trilhos rangem. O comprido e delgado vime aproxima-se furioso e veloz.
Ordem para voltar. Corre-se campo fora, uns mais rápidos que outros. O vime é persistente e astuto. Corta a direito, cerca, conhece melhor o terreno. Algumas costas são aquecidas, nalgumas coxas um risco avermelhado surge, uma ou outra orelha encarna. A criança tem mais pernas que o adulto. Perna mole foge desta diversão.
Todos tornam a casa e o melhor é estar em casa sem lá ficar. Dia seguinte de manhã todos juntos na escola. A aprendizagem a crescer, a amadurecer.
Nos rapazes, a solidariedade, o silêncio. Talvez a professora soubesse.
O desleal homem do vime. Duas ou três escorraças e toda a freguesia fica a saber o que se passa quando os cachopos regressam a casa após o final da lição. Ralhos, repreensões.
Acabou.
O homem do vime fazia parte.
Manuel José Martins
Votações: Até dia 31 de Maio de 2020 pode votar no seu texto favorito. O número de votações por pessoa é ilimitado.
Para votar basta usar os comentários, siga as instruções do blogger e depois escreva o título do seu poema favorito. Tome em atenção que os comentários neste blogue são controlados, pelo que pode demorar horas a validar os votos. Saberá que o seu voto foi contabilizado quando este aparecer no blogue com a resposta "voto validado".
Pode aproveitar, se assim o desejar, para deixar um pequeno comentário à iniciativa ou aos próprios poemas, uma saudação aos autores. - Tudo com correcção e educação, de outro modo o voto não será validado.
sexta-feira, 8 de maio de 2020
FOTOGRAFIA - Desafio de autores para autores
O desafio desta semana era usar uma fotografia de autoria própria e, de alguma forma, a comentar, com realidade ou ficção, recorrendo a um título, comentário, poema, pequeno texto.
Repetiremos esta iniciativa sempre que tivermos fotógrafos/autores inspirados.
- Pode clicar nas imagens para as ampliar, carregue em Esc para regressar. -
Foz, Porto - Janeiro 2016. |
Rochas limpas e bem desinfectadas: água, sabão, enxaguar, voltar a lavar...
Teresa Cunha
#Quando o fotógrafo se torna no fotografado...
Teresa Cunha
Vertigem
(Rua do Cais, Rio Tinto) |
Quantas vezes o caminho se faz
Rodeado por sombras ou por nada
Caminho de um mapa em branco
Para trás mais do que para a frente
resta
Quantos passos se dá até lugar
nenhum
Pernas levam ao destino que não se
engana
No silêncio da marcha
Tudo tão lento e tudo tão rápido
Quantas vezes o caminho se faz
Na companhia do vazio
Na esperança de uma vida
Na vertigem do caminho
Pedro Forte
Vieste em flor. Levaste-me meu pai, e agora vivo uma primavera em orfandade.
Tu meu Deus sabes o que fazer, mesmo que cries angustias e sofrimentos.
Quero que tu natureza me dês asas para voltar a voar, mesmo que seja por um momento. Esse momento pode me levar à eternidade, aquela que tantos anseiam, e que tu nem sempre ofereces de mão beijada.
Guardo na memória o bem que sempre me fizeste, meu Pai. Meu coração lateja por ti que sempre tiveste presente nas horas mais difíceis que passei. Obrigado meu Pai por teres dado asas para eu voar. Agora resta a saudade, mas sei que descansas em paz, pelo bem que fizeste a muita gente.
Quito Arantes
Próximo desafio:
Prosa: uma história verídica (vivida por vós ou por outros) contada num máximo de 750 palavras. Pode ser um episódio engraçado; uma moralidade; algo relacionado com o trabalho/estudo, etc. Entrega até ao meio-dia do dia 15 de Maio.
- Este desafio vai ter um período de votação de 15 a 31 de Maio de 2020, e um prémio (caderno "Uma manhã na praia" ). -
Envie os seus trabalhos para geral@tecto-de-nuvens.pt ou tectodenuvens@hotmail.com
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