Terminadas as votações (bastante renhidas) o texto vencedor é "A noite dos sentidos" de Carlos Varela. Parabéns ao vencedor!
Em segundo e terceiro lugar ficaram, respectivamente, "Entre as Nuvens" de Ilda Pinto Almeida e "Tecto de Nuvens" de Maria José Moura de Castro.
Muito obrigada a todos os que votaram e muitos parabéns aos premiados - os prémios serão enviados muito em breve. -
No dia do nosso aniversário o desafio era recebermos prendas, e que belas prendas, a que retribuiremos, com a ajuda dos leitores, com prémios.
Este era um desafio muito especial para celebrar o nosso 13º aniversário (13/07/2007 - 13/07/2020).
Uma vez que temos um nome tão inspirador que só mesmo o céu, literalmente, é o nosso limite, o desafio andava à volta de "nuvens", "céu", "limite" ou "infinito" conforme entendessem o conceito de tecto e de céu. Não era necessariamente uma ode à empresa, mas um dissertar sobre o conceito que o nome sugere, na sua forma completa ou parcial.
Em prosa, em verso, em foto, numa frase, como entendessem. Podia ser uma memória própria, uma ficção, uma dissertação, uma fantasia...
Podiam participar com mais do que um trabalho.
Sendo assim, agrupamos os trabalhos de cada autor e depois do último apresentamos algumas das obras de cada autor. Excluímos as colectâneas.
De hoje e até ao final do mês de Julho ficarão abertas as votações para o melhor trabalho. (mais detalhes no final, após o último trabalho).
A todos os participantes os nossos agradecimentos pela partilha do talento e, desde já, ficam os agradecimentos a todos os que vão votar e divulgar este desafio.
Parabéns para todos nós!
A noite dos sentidos
Quantas estrelas me olharam
Sob um céu descoberto
Qualquer delas mais perto
Do íntimo do meu ser
E querer sem querer sem crer
No tumulto dos sentidos
Na luz da noite e dos dias perdidos
Vejo o céu que se estende a sul
Da imensidão do manto azul
Guardo os tufos de algodão
Que num sopro, num suspiro
Reduzo na palma da mão
E o vento leva-me a voz
Eleva-me a alma que num grito
Aproxima da nascente a foz
Onde desaguo aflito
Inebriado pela beleza
Do encanto tal natureza
De uma rosa – mal – me - quer
Um anjo está escondido
Na pele de uma mulher
E quebra-se a fronteira
Que o Homem tem guardado
Caminhando na cegueira
Não sei se vivo dormindo
Ou se sonho acordado…
Carlos Varela
(autor de Puro Amor)
TECTO DE NUVENS PESADAS
À mercê da tirania desse vírus dominador, dessa substância ínfima, que nem vida tem, mas tem o poder de agarrar a vida (especialmente a do ser humano) e manobrá-la e destruí-la a seu bel prazer, sem escolher idade, sexo ou cor, latitude ou longitude, o ser humano precisa de tomar consciência da sua vulnerabilidade. Neste mundo que habitamos ninguém é mais que ninguém. Só unidos, com civismo e com um sentimento do colectivo, podemos combater este mal a circular livremente por todos os caminhos da Terra, que ataca indiscriminadamente qualquer ser humano, rico ou pobre, novo ou velho, em qualquer lugar do mundo.
Mas, claro, os desfavorecidos, por razões de subsistência mais expostos aos seus poderes maléficos, e os mais debilitados quer pela idade quer pela saúde, são as vítimas mais apetecíveis ao seu poder devastador. Todavia ninguém lhe escapa.
Mais suave e amável com alguns, a outros despedaça entre as suas garras poderosas, qual águia esfomeada determinada a agarrar a presa que lhe sacie a fome, e dissemina sobre a humanidade um tecto de nuvens escuras, pesadas, carregadas de medo e de incertezas. E as economias mundiais sofrem abalos profundos, o desemprego alastra e, com ele, a pobreza acrescente pobreza à pobreza em circulação, a fome acrescenta fome à fome existente, e todas as mais calamidades que advêm de uma população espicaçada pelo aguilhão maldito da fome estão no horizonte.
São tempos complicados os que se vivem atualmente.
Todos precisamos de unir-nos no combate a este “cancro”, a este polvo gigante de tentáculos poderosos, que agarra a humanidade.
Está nas nossas mãos (também está nas nossas mãos) criar um vento forte que desmembre este tecto de nuvens pesadas em pequenos farfalhos a boiar num tecto azul de esperança, solidariedade e amor.
Em primeiro lugar cumprindo as normas emanadas da Direcção Geral de Saúde, no sentido de quebrar cadeias de transmissão. E, em segundo lugar, lutando todos (patrões, empregados e comunidade) no sentido da recuperação da economia, que reponha empregos e afaste o espectro da fome e da desesperança do horizonte de tantos, que já ficaram desempregados em função desta crise sanitária.
Todos temos uma quota parte de responsabilidade na recuperação de um tecto azul onde naveguem nuvens leves, quais pétalas de rosas brancas ao sabor do vento.
Jeracina Gonçalves
Barcelos,08/07/2020
A NUVEM QUE NAVEGA A TERRA
No tecto que guarda a Terra
Navega uma nuvem negra
Pesada
A esconder da Humanidade
O calor do sol criador
E protector
E impõe preceitos de doença e de dor
A caminharem sobre a Terra
Por veredas e auto-estradas
Sem latitude escolherem
Ou sequer a longitude
Todos os lugares lhe servem
Para armarem a sua tenda
E imporem o seu mister
Seja no Norte ou no Sul
No Oriente ou no Ocidente
Essa nuvem negra
Pesada
Que sulca o tecto da Terra
Propaga pelo planeta
O sofrimento sem idade
Sem credo
Sem sexo e sem cor
Seja rico, seja pobre
Letrado ou analfabeto…
Seu abraço democrático
Abraça qualquer um
Pelos caminhos da Terra
A nuvem negra, pesada
Acrescenta fome à fome
Acrescenta dor à dor
Deste mundo desigual
Neste mundo sempre em guerra
No entendimento Humano
Algo deve ficar
Depois da nuvem passar
Todos somos irmãos
No nosso destino final
Se unirmos nossas mãos
Potenciaremos as forças
Contra os agentes do mal.
Jeracina Gonçalves
Barcelos, 08/07/2020
(autora de: Janela Aberta; A VIAGEM; Histórias de Gente Simples; A CADEIRA MÁGICA)
I
Autor é
criar, suspirar e descansar debaixo de um tecto mesmo que os sonhos corram como
nuvens.
II
Não te
preocupes. Por mais que as nuvens se espalhem pelo céu, logo haverá um tecto
para ali te abrigar.
III
O meu
pensamento andava nas nuvens antes de bater com a cabeça no tecto. Desde então
voam livros pelo mundo.
IV
As nuvens
sempre mudam, mas um tecto sempre está no mesmo lugar, porém os pensamentos são
como as nuvens até que se esbarrem com um tecto.
ENTRE AS NUVENS
As nuvens, no céu são brancas
No meio, são d’algodão
Ai, se eu pudesse voar nelas
Dormiria, o sono da gratidão
As nuvens, no céu são brancas
No meio têm vielas
Ai, se eu pudesse viver com elas
Construía uma casa, pintada a aguarelas
Nelas faria um lindo chalé
Dando-lhe um nariz prateado, por chaminé
Seus olhos seriam janelas
Com pestanas das mais belas
As nuvens no céu, são brancas
No meio são de doce doçura
A boca é a porta da loucura
Num rosto que imagino delas
A língua seria a passadeira
Coroada de rosas de jardim
Para passar a vida inteira
Desde o começo até ao fim
Ilda Pinto Almeida
(autora de: Ele É também Poesia; Quando o sol deixa de brilhar; Sinfonia de Amores; Chuva de Graça - Yeshua Welcome -: Quando o sol deixa de brilhar - edição revista -, 2020)
Céu
O pai de Sofia, em dias límpidos e noites amenas, depois do jantar, agarra no telescópio sempre muito bem arrumado, protegido e limpo e vai para a varanda observar o céu. Sofia recorda-se: nunca mexer no telescópio, dizia-lhe o pai.
A curiosidade tem pernas, é irrequieta e entusiasma-se, bole e ativa a pessoa. Sofia segue o pai nas suas observações e apontamentos miudinhos carregados de setas e gatafunhos mas a mãe sempre muito solícita e preocupada, aparece logo, pega em Sofia ao colo e, cama. Uma chatice para quem quer ver para além das estrelas.
- Mãe. Tens de me deixar com o pai a ver as estrelas. O que é que o pai vê?
- O céu, o pai vê o céu.
- Vê nada. O céu é um sítio muito longe, sem estrelas.
- O céu somos nós. És tu, sou eu, é o teu pai; o céu somos nós. Lembra-te do Alfredo pequenino e a brincar como o vimos outro dia. Olhávamos para ele e ele entretido com os seus brinquedos. A mãe fez-lhe uma cerca simpática e o Alfredo andava por ali, no interior a brincar com o que conseguia apanhar. De vez enquanto olhava para nós e conversava connosco ou com o que nosso sorriso lhe dava.
- Ele emitia sons. Conversar é falar.
- Ele falava e manifestava contentamento. A cerca, os brinquedos, nós, éramos o céu dele e ele era o nosso céu. O céu são estes momentos em que nos dedicamos e nos cuidamos. Também quando olho para ti a cresceres, a aprenderes, tu és o meu céu.
A mãe faz uma festa e afaga os cabelos de Sofia mas esta, quase a dormir, olha desconfiada. O céu é muito mais, tem de ser muito mais porque o pai comprou um aparelho caro, está muito atento e concentrado a olhar através de um tubo seguro por um trípode e com lentes, toma apontamentos, consulta livros muito grandes e com capas duras, mergulha os olhos no computador e penetra na internet. A mãe está a contar história de adormecer.
No dia seguinte, logo após levantar-se, Sofia alerta corre até à sala escura onde o pai guarda o telescópio. A porta está fechada à chave. Espreita pelo buraco da fechadura, vê escuridão.
Quando pai chega, atira-lhe:
- Quero que me dês a chave da sala escura. Quero ver o teu telescópio.
- Sim, eu mostro-te o telescópio mas a chave fica comigo. O telescópio é um aparelho muito suscetível e receio que tu o estragues. Deixo que o uses quando eu estiver presente. Mais tarde, quando cresceres, se quiseres estudar o céu, dou-te o telescópio.
- O que é o céu?
- Céu é o firmamento, é esse pedaço do universo que nos transporta para além do conhecido e se estende até ao outro lado do alcançável. Por mais que procure, tenho que voltar ao início, ao ponto onde tudo começa e refazer as coisas de novo. O céu é uma revisita.
- Por isso é que tu espreitas e tomas apontamentos. Revisita?
- Tornar ao início. Quando jogas à macaca e, depois de venceres várias etapas, numa delas perdes e tens de recomeçar de novo. Passarás novamente com arreganho renovado por passos que antes percorreste com êxito. Completas a macaca e voltas a jogar. Revisitar é isto, sentir a novidade que há naquilo que se conseguiu e que a vida nos convida a, de novo ultrapassar.
A mãe interrompe:
- A vida é um impossível regresso, li em qualquer lado.
- Revisitar é tornar, é fazer uso da experiência que o recomeço nos dá. Quem regressa vem
para ficar, quem volta nunca saiu apenas se ausentou, quem torna continua a aventura.
- Fico sem saber o que é o céu.
- E nós ficamos sem conseguir explicar-te. Há luz do dia, quando levantas a cabeça e olhas além, podes considerar o céu como sendo aquilo que vês e o que está para além da tua vista.
Muito do que existe a tua vista ignora mas tu sabes que existem muitíssimas mais estrelas do que aquelas que vês. Podes ainda imaginar o que está para além do teu conhecimento.
- O telescópio mostra-me isso tudo?
- O que vês pode ser observado: pássaros a voar, nuvens, relâmpagos, chuva a cair e cometas. Vês ainda algumas estrelas e constelações mas o telescópio, ao ampliar o que parece pequeno e ao mostrar o que é invisível à vista desarmada, ajuda a aprofundar a visão.
- O céu é espaço que se vê ou que se pode ver.
- Muito mais. Para além de tudo isso há o céu transcendente, que nem a vista desarmada nem nenhum telescópio alcança: o céu de Deus e dos anjos.
- Seja como for quero que me ensines a utilizar o telescópio. Logo à noite vou contigo para a varanda e a mãe deita-me mais tarde uma hora.
- Meia hora está melhor.
- Uma hora.
- O que a hora der sem perturbar o sono de uma criança. Afinal o céu está para além do limite.
O céu é esse caminho a que fomos forçados desde que nascemos, opção dos livres que podem e querem escolher, andamento peregrino de quem à sabedoria se abre e de preconceitos se despoja.
Manuel José Martins
(autor de: A Distração de Judas)
Tecto de Nuvens
Vivo sob um tecto de nuvens
Que me prende o olhar,
E me leva em viagens
Feitas de terra e de ar.
É um castelo de algodão doce
Que me apetece provar.
Meu lençol de sonhos,
Com seu infinito mar.
Do nascente ao poente,
Lá está ele, todo celestial,
A cobrir a minha vida
Com seu fascínio brutal.
Dou por mim nas nuvens,
E contigo a galopar,
Transformo-as em cavalos
Para irmos sonhar.
Maria José Moura de Castro
(autora de: Um poema por dia dá saúde e alegria; Doce Maio de Noite Estrelada; Coração Rendilhado)
Infinito
Desperta para a vida
dentro da própria vida,
com olhar no infinito
viver com esperança.
Adosinda Dias Ferreira
(autora de: Pedaços da Vida em Sonhos de Menina; Viajando no Comboio da Vida; Na Cozinha ao Sabor da Poesia; Pedaços do Céu)
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