domingo, 23 de fevereiro de 2025

Desafios de autores para autores: Março e Abril 2025

 


Como habitualmente, nesta época do ano, apresentamos os Desafios que celebraram os géneros literários... Assim, em Março celebramos a Poesia (que tem o seu dia a 21 de Março) e em Abril (que a 23 tem o Dia Mundial do Livro) vamos festejar a Prosa.

Ambos os desafios terão votação do público e haverá prémios que serão anunciados quando as participações forem colocadas online.
Os desafios de Poesia têm, desde já, a recepção aberta com o prazo a terminar ao final do dia 20, quinta-feira. Estarão online no dia 21 de Março, data em que as votações abrirão (serão encerradas a 15 de Abril, 2025).

O tema é livre, mas quem quiser assinalar o Dia da Mulher terá que submeter os poemas até ao final do dia 7 de Março. Naturalmente, estarão online no dia 8 de Março. Os textos não têm premio especial, serão avaliados juntamente com os outros, mas, por graça, levarão esta imagem. 


E logo a partir do dia 1 de Abril e até ao final do dia 22 de Abril receberemos os textos de prosa. No dia 23 de Abril de 2025 colocaremos os textos online e abriremos as votações, que vão terminar a 15 de Maio.


Dia Mundial da Poesia


Os poemas são de tema e estilo livre. Os poemas devem chegar-nos até às 20 horas do dia 20 de Março, que é para termos tempo de os organizar no blogue.
Até 15 de Abril de 2025, quem visitar o blogue (Notícias das Nuvens) poderá votar no poema favorito. – Não há limites para as votações, que serão feitas no próprio blogue, nos comentários. (Lembramos que nos nossos blogues os comentários são monitorizados – para evitar spam, vírus e pessoas desocupadas… - pelo que só depois de aprovados os comentários é que eles ficam visíveis no blogue. Também terão que ser devidamente autenticados.). Os autores podem fornecer links para o blogue aos seus contactos e nas suas redes sociais.

Dia Mundial do Livro

O desafio para este mês é livre, um pequeno texto, com menos de 20 linhas (podem usar uma folha A5 como referência) sobre o que quiserem, seja um livro que vos tenha marcado, um pequeno conto de vossa autoria, um pensamento (que pode vir acompanhado de uma foto tirada por vós); o início de um livro que planeiam escrever (ou já escreveram, mas ainda não publicaram)...
Neste dia, em prosa, celebraremos a palavra escrita como forma de comunicação, de expressão de sentimentos, de companhia, de forma de viajar (pela memória, por exemplo), etc.
Mais para a frente, voltaremos aos detalhes deste Desafio.


Envie os seus trabalhos para geral@tecto-de-nuvens.pt ou tectodenuvens@hotmail.com

Votação para o texto favorito do livro "Na noite de Natal" - VOTANTE VENCEDOR -

Já foi sorteada a chave do Totoloto deste sábado, 22 de Fevereiro, e o número da sorte foi o 6. Sendo assim, os votantes com o número 6 e números terminados em 6, ficaram elegíveis para o nosso sorteio. 

O número sorteado foi o 16 e pertence a Maria Lucília Teixeira Mendes. Muitos parabéns!
Muito em breve vai receber os seus prémios: um conjunto de duas canecas com a ilustração da capa e um conjunto de 10 postais iguais à capa do livro…



 



domingo, 16 de fevereiro de 2025

Votação para o texto favorito do livro "Na noite de Natal" - TEXTO VENCEDOR -

 


E numa votação que andou em vagas, com grandes intervalos de inactividade, portuguesamente ganhou vida nas últimas horas e quase acabávamos com um empate triplo (cada lugar do "pódio" ficou separado por apenas um voto); mas, no final, lá se conseguiu resolver tudo e a vitória foi para o poema "Nova Criação".  Muitos parabéns à autora, Maria Lucília Teixeira Mendes, que assim regressou em grande.

Os nossos parabéns também para as autoras classificadas em segundo e terceiro lugar, respectivamente: Alexandra Carneiro e Maria do Rosário Cunha.
E o nosso obrigada a quem votou, estejam atentos ao sorteio do prémio.
Quanto às autoras, brevemente receberão as suas prendas.

1º Nova Criação VENCEDOR


2º Onde está o Natal?                
3º Pastores de Belém

E para ler ou reler, aqui fica o poema vencedor:

Nova Criação

 

Ó indizível, eterno, omnipotente,

Imutável!

Palavra que tudo cria

E recria

Pelo perdão, pela Graça!

 

Tu és Aquele que é

Desde sempre e para sempre.

És Verbo sempre em acção

És Amor, és compaixão

Dono do tempo que passa.

 

Tu que és desde o princípio

Um princípio sem começo

Quiseste nascer no tempo

Entre aqueles que um dia

Chamaste à existência.

 

Ó luz da luz fulgurante

Que rasgas a noite escura,

Nas trevas que dissipaste,

Tu apenas encontraste

Orgulhosa resistência.

 

Vida vieste trazer,

Porque a vida és só Tu

E assim te vimos nascer

Num corpinho de Menino

Humilde, tão pobre, nu.


A vida que em ti venceu

A morte, a ingratidão,

Não venceu nos que remiste

E o mundo ficou tão triste

Por matarem seu irmão.

 

És Vida, és Luz, és Esperança!

És Amor, Paz, Salvação!

Neste Natal te pedimos,

Que este mundo desolado

Seja por ti recriado!

Fá-lo nova criação.


Maria Lucília Teixeira Mendes


Pode obter mais informações sobre o livro aqui.


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

AMOR: Desafios de Fevereiro - TEXTO VENCEDOR -

 


Mais um ano, mais Desafios e mais, esperamos sempre que mais, AMOR. A melhor maneira de arrancarmos mais um ano de trabalhos é assim, cheia de amor - todo e qualquer amor, incluindo, naturalmente, o amor pela vida. Vamos aceitar pequenos contos e poesia (em todas as formas que pretenderem, incluindo quadras).

Os trabalhos são publicados neste blogue a 14 de Fevereiro, Dia Mundial do Amor, do Casamento e dos Namorados (S. Valentim). Depois, e até ao dia 28, teremos uma votação a decorrer para encontrar o texto favorito dos leitores.
Como habitualmente, as votações serão feitas usando a caixa de comentários (já sabem que tem moderação pelo que os comentários/votos não ficam visíveis de imediato), não há limite para o número de vezes que podem votar ou em quem votar, apenas se espera algum bom senso.
O texto mais votado receberá um exemplar de um livro dedicado ao amor (a partir de uma lista, que incluirá poesia e prosa, que forneceremos ao vencedor) + caneca também dedicada à temática do amor;  e sortearemos um dos comentários/votos para receber um exemplar de um livro nos mesmos termos dos do autor vencedor. - Só serão elegíveis tanto para este sorteio como para o trabalho vencedor, os comentários/votos que nos forneçam uma forma de contacto (podem permanecer anónimos no voto, se nos solicitarem isso, apagaremos do comentário o contacto antes de o publicarmos). -


Feliz Dia de S. Valentim! (Dia Mundial do Amor, do Casamento e dos Namorados)

E após uma votação que fez os corações baterem até ao final temos um texto vencedor: "Breve ausência", de Bastos Vianna. Ao vencedor os nossos parabéns!
Muito obrigado a todos os autores pelas suas participações.
Brevemente o vencedor receberá o catálogo para escolher um livro sobre a temática do amor, a que se juntará também uma caneca.
Dia 1 de Março será sorteado um votante para também receber uma lembrança.
A todos agradecemos a leitura e a votação.

Já foi sorteada a chave do Totoloto deste sábado, 1 de Março, e o número da sorte foi o 4. Sendo assim, os votantes com o número 4 e números terminados em 4, ficaram elegíveis para o nosso sorteio. 
O número sorteado foi o 4 e pertence a IPA. Muitos parabéns!
Muito em breve vai receber o nosso catálogo para escolher um livro.


(13) Sozinho em dia de São Valentim

Adão era um homem muito especial, passava a vida a ajudar os outros. Tinha mil e uma atividades: andou em aventuras pela Europa fora com grupos musicais, fazia teatro, escrevia para revistas, jornais e outras coisas tais. Fazia exposições de fotografia em que gostava de partilhar a sua magia. Tinha um grande problema: O trabalho diário consumia-lhe toda a energia num muito intenso dia-a-dia.
Tinha um grande amor pelas artes e uma enorme paixão por tudo o que era cultura. Amava muito a sua família mas prematuramente foram desaparecendo e formando estrelas no céu.
Amava todos os que sempre estiveram do seu lado e que em certas alturas da vida o ajudaram. Amava tanto a vida e era extremamente sensível. Tão sensível, mas tão sensível que quando alguém lhe contava alguma alegria, ficava sempre com uma lágrima de felicidade a escorrer pela face.
Andava sempre de sorriso aberto, e todos os que o conheciam diziam que ele deveria ser uma pessoa a quem a vida lhe correria muito bem.
Com quem no passado com ele privaram, pensavam que com tantas atividades andava sempre rodeado de amigos e que nunca lhe deveria faltar companhia.
Mas… Sofria por dentro e muitas vezes o que chorava era o coração. Sofria por dentro porque afinal não tinha companhia. Sofria por dentro porque lhe faltava uma companheira de cumplicidade. Sofria por dentro porque faltava o grande amor da sua vida.
No dia de São Valentim fazia questão de ir jantar sozinho, porque amor é: Saber viver com o amor-próprio. Amor é: Amar a vida como ela é. Amor é: Amar à distância e lembrar-se dos mais necessitados com quem ao longo da sua vida teve oportunidade de os amar nem que fosse por um breve instante e com simples gestos e atitudes.
14 de Fevereiro de 2025… Venha mais um jantar sozinho cheio de amor no coração.



Aníbal Seraphim

(12) Vida de amor


Acordar e ser grato por mais um dia
Tomar o pequeno-almoço em boa companhia
Sair de casa para aproveitar o sol em harmonia
Caminhar pelo jardim e ver as crianças cheias de energia
Regressar a casa pleno de satisfação
Almoçar sendo grato pela refeição
Refletir sobre uma vida de trabalho e agora viver da pensão
Dar graças por chegar à reforma e ter cumprido uma missão
Pensar no verão que está a chegar
Começar a refletir para onde se irá viajar
Ir de carro para a serra ou ir de barco em alto mar
Será a escolha que o destino ditar
Dar mais um passeio com a velha companheira
Dando-lhe sempre a mão para atravessar a passadeira
É-lhe grata por ter sido uma cúmplice à maneira
Ter sido o seu sol no nabal e a chuva na eira
Anoitece e sente-se grato por mais um dia
Ficando no sofá a ler um livro em boa companhia
Deitam-se sob uma luz romântica em harmonia
Fazem amor como dois jovens cheios de energia



Aníbal Seraphim


(11) A CANDEIA


Por ti a candeia deixei à janela,
Cuidando que da montanha a verias
- Pouco mais que uma pequenina vela
Face às trevas, ao vento, às brumas frias.

Terno e frágil coraçãozito aceso
Do triste fogo da minha tristeza,
Que todo o meu querer deixei eu preso
À humilde chama da candeia acesa.

Sobre meus olhos a noite desceu,
Cessaram as lágrimas e secaram;
Nos meus lábios poisou um beijo teu,

Muito leve tuas mãos me acariciaram;
E à janela a candeia estremeceu
Quando em sonhos os corações se amaram.

Ana Ferreira da Silva


(10) (Des)amor

Por detrás dos óculos escuros e do jornal da tarde, João observava. Era uma tarde quente, típica do mês de Agosto. Deitou um olhar invejoso aos banhistas que, a poucos metros da esplanada, se refrescavam nas ondas. A areia, dourada e escaldante, parecia implorar ao mar que a inundasse, acalmando assim tanto calor. Só ele não podia, num mergulho, refrescar o corpo transpirado. Não se encontrava na praia para gozar banhos de mar. Estava ali para ver a mulher com o amante. Tinha de ver com os próprios olhos, de contrário não seria possível acreditar.
Um telefonema que recebera horas antes, no escritório, informara-o do comportamento indigno de Ana, na sua ausência. A pessoa amiga (como se intitulara ao telefone) convidara-o a deslocar-se à esplanada, na praia de S. João, onde Ana – a sua Ana – iria encontrar-se com o amante. João não acreditara. Ou, pelo menos, não quisera acreditar. A mulher com quem casara oito anos atrás não seria capaz de uma traição. No entanto… Não lhe dissera Ana que não estaria em casa naquele dia? Onde tinha dito que iria? À praia com uma amiga. Qual a amiga, na verdade? Ela não especificara. E a dúvida começara a atormentá-lo. Por fim, decidira-se e ali se encontrava agora, sob a sombra protectora do guarda-sol colorido, com a garrafa de água já vazia, encoberto pelo jornal (como nos filmes de detectives que ele tanto apreciava), tentando descobrir a figura graciosa da mulher.
Sentia a garganta seca e dispunha-se a pedir nova bebida quando a viu. Encolheu-se por detrás do vespertino. Ana aproximava-se, movendo-se com a elegância habitual,
na companhia de um homem alto, louro e atraente, que João não reconheceu. O vestido leve que Ana usava moldava-lhe as formas esbeltas que João bem conhecia.
Escolhida a mesa, sentaram-se ambos e pediram qualquer coisa que João não pôde ouvir. O vento agitava o cabelo negro de Ana e os seus olhos verdes (como o mar) pareciam a João mais verdes e mais brilhantes. O louro deitava-lhe olhares ardentes, apaixonados. Tocava-lhe o rosto com uma familiaridade chocante. Falava-lhe ao ouvido. João conseguia imaginar o que dizia. Palavras doces, de amor… Não precisou de ver mais. Levantou-se bruscamente e, atirando uma nota para cima da mesa branca, afastou-se a passos largos.
Sentia uma raiva surda, uma dor forte no peito, uma desilusão profunda que lhe dificultava a respiração. Entrou no carro e dirigiu como louco. Como era possível que Ana o enganasse? Não lhe jurara ela fidelidade? Não prometera amá-lo e honrá-lo?
João sentia-se magoado, humilhado, traído.
Entrou no escritório, rubro de indignação. A secretária, morena e bonita, aproximou-se num andar sinuoso.
- Aconteceu alguma coisa, querido?
O olhar suavizou-se-lhe de imediato.
- Um pequeno contratempo, meu amor.
Lígia Dantas


(9) Primeiro Amor

Nascia a manhã.
Espreguiçando seus braços abertos abria o começo.
Teimosa apresentava-se por entre as nuvens do céu, aclarando levemente o céu.
Mas, tal como todos os inícios, germinava lentamente, envolvida em mistério inebriante de um denso nevoeiro espesso escondendo o desabrochar do dia cobrindo os vultos de cinza. 
Imperceptível a olho nu, as plantas recolhiam as gotículas de orvalho fresco e os cães faziam suas caminhadas matinais. As rotinas habituais afloravam: as lojas preparavam- se para abrir, os alunos seguiam seu rumo para a escola… 
Pela rua abaixo, de perninhas frágeis, seguia cabisbaixo de olhos fixos no chão. Revoltado com a vida, dava pontapés em todas as pedrinhas que ia encontrando. Até que se começou a deslumbrar aquela casa. Seu corpo começou a tremelicar, seu coraçãozito começou a aquecer e um rubor inundou-lhe as faces. Não percebeu o que se passava com ele. O que seria aquilo que sentia?...
À medida que se foi aproximando, seu coração acelerou ainda mais…fazendo brotar de dentro dele sentimentos desconhecidos. Uma incomodativa interrogação não parava de bailar no seu pensamento:
- Será que a vou ver?...
Ao passar em frente da casa, desacelerou o passo. À sua lembrança vinha a sua imagem. Era algo muito precioso que fazia seus olhos ficarem encadeados de amor.
Impressionado com a sua beleza, seus olhos ficavam ofuscados mal a via. Sonhava em olhá-la tempo sem fim… 
E fez o que sempre fazia quando por ali passava. Do bolso, gentilmente retirou a maçã docinha. Com a manga da camisola de lã limpou-a carinhosamente até ficar bem luzidia. Esticou-se nas pontas dos pés, esticou o pescoço ampliando seu campo de olhar… e, tremelicante, esticou o braço por cima do pequeno muro para pousar a maçã no lugar ideal para aquela que era a luz dos seus olhos, sussurrando baixinho: “AMO-TE”!
Porém, no preciso momento em que ia pousar a maçã, pressentindo passos na sua
direção, atrapalhou-se e espalhou-se pelo chão. Depressa se recompôs e, ainda atabalhoado, prosseguiu ligeiro, muito encolhidinho e enrolando-se nos livros que levava, temeroso que alguém se apercebesse da sua presença e pior, que soubessem dos seus sentimentos que sentia por ela. “Ai, se houvesse um buraco onde me pudesse esconder…” pensava ele pelo caminho.
- Espera aí…
- Não fiz nenhum mal, não ia roubar nada…- Apressou-se a balbuciar antes que o acusassem.
- Eu sei…apenas queria agradecer-te a amabilidade de dares todos os dias uma maçã.
E a conversa progrediu amena, amável…
Ao verem-no chegar à escola acompanhado, os colegas admirados foram-se aproximando. Toda a turma o rodeou. Sempre o tinham visto aos pontapés e maldisposto insultando todos.
Mas hoje, ele estava diferente!
Da sua boca, só saíam agora palavras de ternura, todas as que possam imaginar… enquanto aconchegava e acariciava com carinho a sua companhia. Verem-no ter aqueles gestos de meiguice e de ternura surpreendeu todos. Pensavam-no incapaz disso...
Era a primeira vez!
A primeira vez que sentia afeto… Inebriado e inundado por essa emoção que transbordava de dentro do seu coração, ele deixou pela primeira vez transparecer a todos o seu sentimento sem medo.
Perante a admiração geral, a ave de um quilo e de quase um metro de altura pousada no ombro dele, abriu a beleza da sua plumagem e fez o seu grito típico “RRAAAK”, articulando de seguida a palavra humana:
- “AMO-TE”!
Um enorme sorriso ternurento se abriu em todos e em coro exclamaram:
- Oh... que amor!
Essa sensação deliciosa de amar que mudou suas vidas.
Por incrível que pareça, desta vez não houve os risinhos habituais de troça que causavam desconforto: “ Estão apaixonados, nha, nha, nha….!” nem sequer a expressão: “Ui, que nojo…” Desta vez, todos se derreteram perante a companhia por
quem ele sentia afinidade e empatia!
- É uma arara-canindé! São das araras mais populares como animais de estimação e eram sinal de riqueza na época dos reis. Foi-me oferecida por uma família brasileira que vai regressar ao Brasil e não tinha com quem a deixar! É oriunda de uma comunidade indígena, diz a lenda que esta espécie animal foi criada pela deusa Arara Encantada que ensinou música, dança, a fala e todo o saber. É dócil e muito inteligente, aprende tudo o que lhe ensino! Basta ouvir uma vez uma palavra para a dizer logo. - Acrescentou o rapaz que tudo sabia sobre ela, visivelmente feliz e com o coração repleto de AMOR!

Era o nascer do Amor…

Nina Pianini

(8) uma estória

era assim. num ano longínquo. há muitos anos. um rapaz entrava num comboio. mas antes perante olhares dos circunstantes. dava um abraço. a uma pessoa que era especial. muitas palmas. porque o abraço foi mesmo apertado. era mesmo um abraço de amor. embora não declarado. na próxima vinda do comboio haveria de ser declarado. com um beijo. lá pelos pinhais e eucaliptos. sim junto a essa escola. e daí começaram as cartas. sim. as cartas do correio. para lá. para cá. quando chegava o comboio namoravam. que é como se diz. levaria três ou quatro meses. até que deixaram de chegar as cartas. do correio. sim senhor.
numa se dizia. nada nem ninguém nos separará. não foi assim. não senhor. 
houve alguém que separou. fosse porque fosse. mas separou. e as cartas deixaram de chegar. para que conste não deixou de existir amor. só que foi interrompido. ele era pobre. ela não o era. haveria outro casamento para ela. aprazado. e foi assim que foi interrompido o namoro. como se chamava.
passaram-se anos. ela viúva. voltaram-se a encontrar. ele casado. já não existiam flores no bosque. nem camélias a florescer. os pinhais e os eucaliptos desapareceram. as cartas não chegaram pelos carteiros. carteiros como se chamavam. os senhores que entregavam cartas. só uma coisa nunca desapareceu. nem a um. nem a outro. o amor que sempre os ligou. fica como estória. ou história. no dia dos namorados de dois mil e vinte e cinco.
joaquim armindo




(7) as rosas duma videira


rosas e uvas não são rios e mares,
mas as rosas dão seiva
                                       às uvas,
as uvas dão sabor
                                       às rosas,
assim é o amor, dos namorados.

joaquim armindo

(6) O Amor

De manhã, durante a minha habitual caminhada no jardim da minha rua, cruzei-me com um casal de idade avançada. Encontravam-se ambos junto a um dos aparelhos de exercícios, que felizmente existem um pouco por toda a parte, quando passei por eles em passo apressado para tentar manter a forma e os níveis de colesterol. Consegui ver-lhes o sorriso cúmplice e, quase sem dar por isso, abrandei. Disfarçadamente, observei-os. A senhora erguia para o homem um olhar brilhante, com a cabeça ligeiramente inclinada, num gesto deliciosamente coquete. Riu-se, numa gargalhada breve, suave e inesperadamente jovial. Compreendi que o que lhe provocara o riso tinha sido a atenção que o homem lhe dedicava. Rodeava-a com braços cuidadosos, ainda firmes, e olhar terno, ao mesmo tempo que lhe recomendava carinhosamente para ter cuidado. Ela riu-se novamente, no seu riso de menina, e depois sorriu-lhe. Ele sorriu-lhe de volta. Sem conseguir conter-me, sorri também. Prossegui a minha marcha, mas a minha atenção ficou por lá. Perguntei-me quantos anos teriam de casados. Perguntei-me se a sua união teria sido sempre assim. Encurtei o percurso para poder cruzar-me novamente com o casal, atraída pela cumplicidade que deixavam transparecer. A senhora abandonou o aparelho, com o companheiro ainda a segurá-la e os risos de ambos a chegarem até mim. Vi-lhes o toque carinhoso, os rostos muito próximos. No momento em que, com relutância, decidi voltar a casa, vi-os, surpreendida, despedirem-se. "Até amanhã, minha querida"; disse-lhe ele. "Até amanhã, meu amor", respondeu-lhe ela. Vi-o beijar-lhe o alto da cabeça. Vi o abraço que deram, o último olhar encantador, as mãos que se tocaram, o sorriso à despedida. Vi-os dirigirem-se, separadamente, para a saída. Ela subiu as escadas, devagar, a olhar para trás de quando em vez, a acenar-lhe sempre, até desaparecer pelo portão de ferro forjado. Segui atrás dele, na direcção daquela que seria também a minha saída, na extremidade oposta do jardim. Ao passar pelo homem, olhei-lhe para a mão esquerda. Vi claramente duas alianças, a dele e a de viuvez. Senti o coração amolecer. Pensei que o amor pode assumir muitas formas, que não é afinal exclusivo da juventude, que é possível que aconteça em qualquer fase da vida, sem 
perder a beleza e o encanto.
Cheguei a casa e só então percebi que trazia os olhos húmidos.

Lígia Dantas

(5) PERFUME

Ele é o perfume que envolve minha alma
Um aroma doce que nunca se dissipa
Seu toque é o óleo essencial que me faz amar
Sua voz é a nota musical que me faz sonhar

Ele é a essência pura, o extrato de amor
O perfume que me faz sentir, a pérola
Seu beijo é a aplicação suave de candor
Sua presença é o aroma que me faz sentir em casa

Ele é o perfume que me faz vencer
Ele é o ser que me faz sentir amada
O aroma que me faz querer
O perfume que me faz sentir desejada

 

Ilda Pinto Almeida

(4) REENCONTRO

Tinha acabado de me sentar à mesa da esplanada diante de uma chávena de café reconfortante, o saco das compras na cadeira ao lado, a praia pejada de casalinhos em t-shirt e pés descalços saudando a fresca glória do sol da manhã luminosa de
Fevereiro, quando deparei com a Madalena, minha antiga colega do liceu, enfiada num fato de treino em tons de rosa, lilás e verde que, não lhe disfarçando a silhueta um tanto roliça, lhe conferia um ar bastante agradável e feliz, acentuado pelas belas cores do rosto e pelo longo rabo de cavalo alourado preso com uma banda estampada de malmequeres.
Levantei-me e chamei-a.
- Oh! – exclamou a minha amiga, correndo para me abraçar. – Tu por aqui! Caramba, já não te via desde o almoço de fim de curso! Estás na mesma! Era capaz de te reconhecer no Pólo Norte ou numa ilha da Papuásia! Uns quilinhos a mais e umas branquitas aqui e ali, está certo, que o tempo não perdoa, mas de resto, és mesmo tu!
- Tu também não mudaste grande coisa, para além do estilo! Lembras-te dos dias em que criticavas os meus jeans coçados nas rochas da praia e pejados de patches e a minha cabeleira selvagem, tu que não dispensavas as saias de xadrez e o penteado de caracolinhos? Anda, senta-te um minuto e conta-me o que tens feito! Posso mandar vir um café para ti, ou preferes um chá detox ou qualquer outra bebida estranha?
- Um café cai às mil maravilhas! Mas conta lá, que tens feito? Sempre casaste com o teu espanhol? Tens filhos? Não tinhas ido viver para a cidade? Conta-me tudo, vá!
- Credo, Inácia de Loyola! – trocei. - Devagar com o interrogatório! Casei, sim, tenho dois miúdos já crescidos, claro, e sim, ainda vivo na cidade, mas não consigo ficar muito tempo longe do mar! Vim fazer umas compras para os meus pais, que ainda moram no mesmo sítio...
- Levas-lhes alguma coisa para o Dia dos Namorados?
- Para além de uma série de refeições pré-fabricadas, que fazem parte da nossa rotina quinzenal, comprei-lhes uma caixa de chocolates em forma de coração, uma orquídea e um ursinho de peluche.
- Uma orquídea e um ursinho de peluche?! Mas que estranho!
- É uma tradição lá de casa! Sabes, antes de se comemorar o S. Valentim cá pelos nossos lados, o meu pai costumava oferecer uma orquídea à minha mãe pelo aniversário dela, e ela retribuía-lhe com um bonequinho de peluche no aniversário dele. O S. Valentim deslocou essa rotina para esta data, obrigando-os a ser mais criativos quanto às prendas de aniversário. Hoje vou eu oferecer-lhes a orquídea e o
ursinho, como prova de estima e reconhecimento por todas as cenas desconfortáveis da minha adolescência.
- Os teus pais são muito românticos! Lembro-me de que os meus nos levavam todos os anos a visitar o mosteiro onde casaram, lá no norte, e até onde sei, cumpriram essa bendita rotina até adoecerem, há dois anos; portanto, mesmo depois de nós termos saído todos do ninho, os velhotes mantiveram o hábito da “peregrinação de Setembro”, como nós lhe chamávamos... 
- Lembro-me tão bem de nos falares disso, no regresso às aulas!...
- Sim! Vocês perguntavam-me sempre onde tinha passado as férias, antes da peregrinação de Setembro!... Bons tempos descuidados!... E vocês, que vão fazer hoje para além de um jantar à luz das velas e um passeio à lua cheia com o cachorro?
- Como sabes que tenho um cachorro?
- Tens todo o tipo de quem não pode passar sem um cachorro! Quando namoravas  o espanhol tinhas um pastor alemão, que vos acompanhava para todo o lado; depois
disso, com crianças, deves ter-te justificado com os argumentos psicopedagógicos do costume; e entretanto, com os miúdos crescidos, novamente sozinha com o teu mais-que-tudo, não consigo imaginar-vos sem um “cãopanheiro” que vos acompanhe para todo o lado!
- É verdade, agora temos um serra da Estrela que nos enche de pêlos a casa toda! Mas agora, fala-me de ti! Com quem casaste, de todos os teus pretendentes?
- Olha, fiquei para tia! – Madalena deitou uma olhadela furtiva em redor, talvez para dissimular alguma nota de tristeza. – Mas em compensação, fiz todas aquelas coisas que planeávamos fazer juntas, lembras-te? Viajar, fazer anos e anos de voluntariado e semi-voluntariado um pouco pelo mundo fora, viver aqui e ali segundo os costumes locais, ensinar, semear, plantar, construir... Na verdade, fui coleccionando famílias adoptivas! Tenho montes de fotografias desses tempos, fiz imensos amigos que me escrevem pelos anos e pelo Natal... Hás-de vir a minha casa ver as minhas curtas-metragens!
- Fantástico! – exclamei, rechaçando uma certa pontinha de inveja.
- Sim, foi muito bom! Mas tudo tem o seu tempo, e agora eis-me de regresso, professora de Educação Física e Trabalhos Manuais num colegiozito; miúdos do primeiro ciclo, estás a ver?
- Nesse caso, tens sobrinhos de sangue e várias turmas de sobrinhos adoptivos!
- Isso mesmo! – Madalena assentiu com a cabeça, mais animada.
- Vais passar o dia com os teus pais?
- Os meus pais já cá não estão – o olhar da minha amiga toldou-se novamente. – Primeiro foi ele, com uma pneumonia, e ela, como não podia deixar de ser, morreu passados dois meses; e ninguém me tira da cabeça que não foi de desgosto! Vou visitá-los ao cemitério depois do almoço, e levo-lhes uma coroa de flores em forma de coração.
- Feita por ti?
- Claro!
- Entretanto, queres vir comigo almoçar a casa dos meus pais? Eles iriam adorar ver-te e escutar o relato das tuas aventuras; eles que passavam a vida a dizer-me: “Devias seguir o exemplo da Madalena, tão boa aluna e sempre tão atinadinha!” Madalena soltou uma gargalhada fresca, que ecoou na minha voz e nas minhas recordações dos belos dias da adolescência.
- Combinado! – respondeu por fim. – Depois do almoço vens tu visitar os meus, e logo à noite, depois do vosso jantar romântico, espero-vos em minha casa com umas bebidas, uns salgadinhos e as minhas fotos e as curtas-metragens! E não se esqueçam de trazer o patudo, que uns pêlos espalhados aqui e ali não me fazem confusão!

A TODOS, UM DIA DE S. VALENTIM CHEIO DE AMOR E BELAS RECORDAÇÕES!
Ana Ferreira da Silva

(3) Manhã de S. Valentim

Clara manhã de Fevereiro,
Dia de S. Valentim,
Arrulham apaixonados
Poemas de rosas e jasmim,
Juras de amor verdadeiro;

Em Junho o Santo Antoninho
Ao altar os levará;
Que sejam bem casados,
E o Céu os abençoará
Com borrifos e manjerico cheirosinho.

Ana Ferreira da Silva

(2) Amor


Foi o olhar que atraiu a minha atenção. O olhar cúmplice. Não um olhar de amigos, companheiros de uma vida, mas um olhar brilhante, de amantes, amados. Discretamente, observei-os. Os pormenores. A mão na mão. O sorriso íntimo. A proximidade dos corpos. Os joelhos que se tocavam, nas cadeiras estofadas da sala de espera do hospital. Teriam ambos mais de 70 anos, mas olhavam-se com o fulgor da juventude. Percebi que ele estava doente. Percebi que ela o tranquilizava. A mão sobre a mão dele. A voz baixa, confiante. Ao nome dele, levantaram-se ambos. Avançaram de mão dada. Julguei ver medo nos olhos dela. Tive a certeza de ver amor.

Lígia Dantas


(1) Breve Ausência


É de manhã, bem cedo
Que estico o braço e minha mão
Cheia de nada
Procura o teu corpo,
Enquanto os olhos tardam em abrir
E com eles a mente a voltar de uma outra constelação
Onde estás presente.

Na ausência de teu corpo e alma,
Esmaga-se-me o peito,
A palavra saudade.

Abro a janela, entram raios de Sol,
Aquecendo o meu grito, mudo,
Que teu nome projecta.
Buscando uma escada
Cujos degraus me levem até ti.
Depressa corro para tarefas,
Necessárias ou inventadas,
Ocupando o tempo
Para que a tua falta não me subjugue.

Alimento-me porque sim,
Como quem toma vitaminas
Para a esperança e fé.
Fé na tua força intrínseca.
Na tua inteligência social e emotiva.
Acreditando, inabalável, que
Mais uma vez, irás vencer
E em breve caminhar comigo.

Logo à noite, enrolo-me
No teu olhar e sonho.
Viagens realizadas e por fazer
Sol, Praia e Mar-
Mãos entrelaçadas e risos.
Pedaladas e correrias estradas fora.
Silêncios cúmplices.
Iguarias partilhadas.

Naquelas horas de breu
Em que só eu vejo Luz.
Por breves instantes consigo entrar
Nesse mundo só teu.

Até, ao início do madrugar, amor
E a minha mão procurar a tua.
Tudo repetindo.
Certo que, juntos, o nosso amor
Será sempre mais forte.

Bastos Vianna

sábado, 8 de fevereiro de 2025

Novo livro de Joaquim Armindo em pré-venda

 


PROMOÇÃO PRÉ-LANÇAMENTO

Válida até às 23h59 m do dia 20/02/2025


Desconto promocional sobre o PVP. (Não inclui portes). = 19€ 14,25€

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águas agitadas porque turvas- crónicas publicadas no jornal “O Primeiro de Janeiro” (2003 a 2008) -; Joaquim Armindo

326 páginas, capa mole; Tecto de Nuvens, 2025 PVP: 19€

“Uma escrita feita de palavras simples, mas que valem e se impõe pela força da mensagem que nelas coloca, pela intransigente defesa dos valores do ser, sem atender aos valores do ter. Para o Autor poder parar a admirar uma flor do campo, a que tantas vezes se refere nos seus textos, é uma dádiva de uma entidade superior, e é algo muito mais importante do que o património que cada um possa ter. (…) Diria, pois, que a escrita do Joaquim Armindo é, antes de mais, um hino à beleza das coisas da vida, um convite a vivermos o presente sem o hipotecar, em nome de um futuro que não sabemos se será nosso, um desafio para nunca abdicarmos das convicções em que verdadeiramente acreditamos."

Para encomendas e esclarecimentos contacte-nos pelo email: loja@tecto-de-nuvens.pt