quinta-feira, 11 de novembro de 2021

S. Martinho - Desafios de autores para autores (Novembro)

 


O desafio para este mês era escrever ou sobre os últimos dias de bom tempo ou sobre os primeiros dias de frio, ou sobre os dois, ou memórias de S. Martinho.
Prosa ou poesia, memórias ou ficção. Estilo livre.

A Tempestade


Ela veio de repente,
do nada surgiu o vento
e do vento surgiu a chuva
- grossos pingos, quais lágrimas da Natureza -
Forte, revoltada, varrendo
tudo à sua frente e 
tudo mudando à sua passagem...
A cidade tornou-se numa miragem
da alegria e do calor d'outrora...
Agora o mar revolta-se contra o rio
e este, majestoso e soberbo, 
tenta refugiar-se fora do seu leito.
E até o brilho e o colorido das montras
desapareceu do vidro baço e molhado.

E o vento não pára de soprar
E a chuva não pára de cair
- É Inverno... -

Teresa Cunha (1992)

Transmutação


Após um longo estio
Laivos de mui saudade!
O vento soprou com brio
E ditou sua vontade!

A cidade sentiu frio
Acordou estremunhada
As gentes num corrupio
Viram-na toda molhada!

Veio a chuva de mansinho
Instalou-se p’ra ficar
Cai… cai… devagarinho
Saltando a refrescar!

É Outono com certeza!
Uma estação de mudança
Quando a mãe natureza
Adormece e descansa!…

Dulce Sousa



nas castanhas do braseiro


nas castanhas do braseiro,
vi dançar o corrimão,
e no mar concorrido de múltiplas,
telas de acordar,
os pinheiros subiram às estrelas.

até o sol se quis empoleirado,
numa escada de serviço,
as múmias rejeitam o ocaso,
a solidão forja as brasas,
do correr até ao solo do caos.

na música que nos dão,
serve o carinho das torres e das cores,
das multidões em delírio,
quase que atropela os carrilhões,
que dão as horas do caminho

Joaquim Armindo


e se eu for aonde


caminhar, caminho na rota celeste,
dos banhos dos areais,
e das bravuras das naus catarinetas,
que afogam o sentir dos moluscos,
                                 e se afirmam assim,
                                 no aonde,
                                 da vida,
fazendo de nós uma fita de cinema,
ai, ai, se eu fosse caminheiro,
                                 brotava canaviais,
e mordia, isso mordia,
a paixoneta dos cantares,
e dava a cada flor, que encontrasse,
o nome para onde cortejava,
no meio das águas, límpidas,
                                de cor,
haveria candeeiros de petróleo,
a iluminar cada esquina,
                               por onde,
                               eu ia.
Joaquim Armindo


Chuva

Já a noite ia a meio
Sendo então visitada
Pela chuva! E com anseio,
Fez do carreiro levada!

A cidade já dormia
A terra ela inundou…
Nos rios em que corria
Seu caudal aumentou!

A sua força era tal
À frente tudo levava!
Que grande o temporal!
A chuva, sulcos cavava!

E assim ia avançando
Transbordou rios e pontes
E persistente… aumentando
Dos vales até aos montes!

Parecia não querer parar
Vasta área já cobria
Num constante avançar
A todos, medo metia!

Parou o céu de chorar
Voltou o sol bem quentinho!
P’rá tradição festejar
Veio o verão de Martinho!

Dulce Sousa


Inspiração


Frente à paisagem outonal
Paro assim deslumbrada!
No passeio pedonal
Tanta folha a ser pisada!

São tapetes multicor
Que embelezam o chão
O verde! Aquela cor!
Foi a minha inspiração!

Verde! Suave lembrança
Nos teus olhos de criança
Leio carinho, verdade!

Que sensação! Que sabor!
Alivio neles a dor
E mitigo a saudade!

Dulce Sousa


Mudança


Após o longo Verão
De sol, doçura, labor
Férias!?… Essas lá vão!
E o calor abrasador!

Saio e desço ao quintal
Olho o céu como breu!
O azul original…
Perdeu a cor… escureceu!

A suave brisa cantou
Volveu-se fria e mais forte
A chuva logo brotou
Com ela, o vento norte!

Observo ao redor
A paisagem já mudou!
Uma paleta de cor
De si, me enfeitiçou!

Amarelo, verde, castanho
Ou vermelho! Tudo é sonho!
No encanto que é tamanho
Espelha-se o lindo outono!

Que estonteante beleza
Nesta estação desvalida
Onde a mãe natureza
Adormece p’ra dar vida!


Dulce Sousa

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