sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Caem as folhas" - Desafios de Outono - PREMIADOS

 


Fechadas as votações, o texto que reuniu maior número de votos foi "Outono", de Bastos Vianna. Ao vencedor, os nossos parabéns!
O autor vai receber lembranças das linhas Tecto de Nuvens.
Como dos 3 votantes só um se identificou, sem necessidade de sorteio também ele vai receber lembranças das linhas Tecto de Nuvens. Parabéns e muito obrigada pela sua participação.
Na próxima semana serão enviadas as lembranças.


Estão de regresso os desafios e, muito apropriadamente, retomamos com um que fala da mudança de estação. Este é um misto das edições de 2020 e 2021. "Caem as folhas" continua a ser o nome do desafio que anda à volta destas folhas, sejam as das árvores ou outras, que caem e se renovam. .

Do dia 23 de Setembro até ao dia 31 de Outubro 2022 estão abertas as votações para o trabalho favorito. O vencedor receberá um prémio (no nosso 15º aniversário vamos oferecer prendas das linhas Tecto de Nuvens). Os votantes que se identificarem entrarão num sorteio para receberem uma lembrança, também das linhas Tecto de Nuvens.
E assim, está aberto, oficialmente, o regresso à rotina e à escrita.


(4) Folhas no Outono…

 
A aragem que soprou do sul
A chuva e o arrefecimento
E as manhãs que nublaram
Pintou o verde das folhas
De cores variadas,
Por cultores tão apreciadas:
 
Umas de amarelo diverso
Outras de vermelho arroxeadas
Terceiras de azul claro
E, numerosas folhas,
De tintas tão variadas…
 
Passado pouco tempo
Com brisa insistente
De manhã e ao cair do sol 
Tombaram no chão;
Arrastadas do vento
Foram recolhidas no gibão
E lançadas no aterro
Sem choro nem lamentação…
 
Assim a beleza dos humanos
Tão colorida de fama e glória
Ao amadurecerem com os anos
Acabam sepultados na história…
 
A beleza das folhas
É como a dos humanos
Tão colorida de fama e glória
Amadurecem com os anos
E acabam sepultadas na história…
 
Florentino Mendes Pereira
20-09-2022

(3) O desencanto do Outono…


A praia das folhas começa no Outono
Para calendário de árvores desnudas
Em agenda, tempo de Inverno rigoroso
Tanta folha morta caída nas ruas…
….
Aos cantos jogam à desfolhada
Já perdeu graça o seu enfeite…
Mas o Outono não lhe tira graça
Arrasta-as tão só do olhar da gente…

Belas, ricas e úteis na árvore
São, hoje, atiradas à lixeira
O costume, assim olvida o brinde
Muda-o, sim, à sua maneira…

Florentino Mendes Pereira
21-09-2022

(2) LEMBRA-TE DE MIM…


Lembra-te de mim, quando ao cair de cada folha
O Outono disser que sim, em cada escolha!
Lembra-te de mim, quando os céus trovejarem
Quando em segredo ouvires a minha voz.
Lembra-te de mim, quando os montes uivarem
O segredo de minha voz.
Lembra-te de mim, quando acordares para a vida
E, a vida nos der uma lição.
Lembra-te de mim, quando os mares espumarem
O bafo de minha voz.
Lembra-te de mim, quando os canaviais
Cantarem uma canção ao vento!
Lembra-te de mim, quando os outeiros
Clamarem por razão…
Lembra-te de mim, quando em fim a sós
Disseres: te amo!
Lembra-te de mim, quando numa canção esquecida
Reconheceres minha voz.
Lembra-te de mim, na teoria da vida
Na prática do prazer e da felicidade.
Lembra-te de mim, quando os mares
Bramarem por marés.
Lembra-te de mim, quando em secreto
Ouvires a minha voz.
Lembra-te de mim, quando chegar a nossa vez
De proclamarmos: O Amor…
Lembra-te de mim, quando os vales e os montes
Ressoarem as suas vozes.
Lembra-te de mim, quando souberes expressar o teu amor.
Lembra-te de mim, quando o júbilo der lugar à ressaca.
Lembra-te de mim, simplesmente por lembrar, lembra-te de mim!
Lembra-te de mim, quando o amor der lugar à calma em nossas almas.
Lembra-te de mim, quando em teu coração, disseres que sim!
Lembra-te de mim, apazigua-me em tua calma, ao sabor de nossa alma…
Lembra-te de mim, no esforço de uma passagem celeste…
Lembra-te de mim, em cada não e em cada sim…
Em cada breve acordar…
Lembra-te de mim, em cada olhar, em cada gesto.
Lembra-te de mim, em cada cheiro, em cada passo.
Lembra-te de mim, por favor não me esqueças,
Mesmo que desbravando o passado em cada futuro.
Lembra-te de mim, em cada alavanca do presente
Em cada nuance passado…
Lembra-te de mim, simplesmente por gostar de alguém.
Lembra-te de mim, quando tua alma fizer menção
De cada sortudo acordar!
Lembra-te de mim, quando no segredo de teu coração
Quiseres perdoar.
Lembra-te de mim, quando escolheres: amar…
Lembra-te de mim, quando por fim: sonhares…
Lembra-te de mim, quando as estrelas, nos cantarem uma canção
E, em seu ímpeto, a lua clarear a terra.
Lembra-te de mim, quando o sol brilhar, uma vez mais.
Lembra-te de mim, em cada melodia, de uma breve canção.
Lembra-te de mim, quando o eco de nossos corações
Nos mostrar a razão de ser de nosso viver…
Lembra-te de mim, quando em cada passo, encontrarmos alento…
Lembra-te de mim, quando virmos a vida a acordar…
Lembra-te de mim, quando o arco-íris estender o seu espectro.
Lembra-te de mim, quando o nosso espaço, vez após vez: é preenchido.
Lembra-te de mim, quando nossas preces, forem senhores de nosso vento…
Lembra-te de mim, quando balbuciares em teu pensamento
As letras de nossa canção…
Lembra-te de mim, quando no embalo de nossa canção
Formos senhores de nossos ventos…
Lembra-te de mim, quando em surdina orares por claros pensamentos…
Lembra-te de mim, quando o tempo nos esclarecer
À mercê de um encantamento.
Lembra-te de mim, na tua força e no teu fracasso
Como que moendo um pedaço.
Lembra-te de mim, quando fores senhor e quando fores escravo.
Lembra-te de mim, em cada olvidar, em cada duvidar!
Lembra-te de mim, quando em nosso espírito: revivermos!
Lembra-te de mim, quando nossa alma clamar por mais…
Lembra-te de mim, em nosso respirar, em nosso sôfrego: amar…
Lembra-te de mim, quando no embalo de cada canção, só o vento terá razão!
Lembra-te de mim, em cada naufragar, em cada embalar…
Lembra-te de mim, no rescaldo de cada canção
Que vem da ternura de nosso coração!
Lembra-te de mim, no fundo de cada anoitecer
Quando o dia for uma criança e o amanhecer tender em esperança!
Lembra-te de mim, quando o dia replicar e a noite tiver um fim!
Lembra-te de mim, quando em nosso fundo embalarmos nossa canção…
Lembra-te de mim, quando em nossa altivez, me tiveres por irmão.
Lembra-te de mim, não no teu repúdio, mas na graça de cada sim!
Lembra-te de mim, em cada não e em cada sim! Lembra-te de mim, em nosso sonhar, emcada acordar!
Lembra-te de mim, na plenitude de nossa vida, em cada miragem!
Lembra-te de mim, em cada invisibilidade, em cada quedar com a idade!
Lembra-te de mim, em cada alvorecer e em cada entardecer…
Lembra-te de mim, quando cair em nós a nossa paz.
Lembra-te de mim, não me esqueças, quando a lua vem beijar o sol
quando o sol jaz sobre a lua… Lembra-te de mim…

Timóteo Pernas

(1) Outono,


Não sei bem porquê mas gosto desta estação, do cheiro a terra húmida, das primeiras chuvas e com elas o ler estendido no sofá ou o deitar-me com trovoada e chuva forte. E sentar-me num banco de um de tantos passadiços nas dunas , nos dias mais soalheiros e ler ou tomar notas no caderno, negro, para mais tarde aproveitar na escrita.
Recordo os meus filhos, ainda nos primeiros e trementes, passos, a chutarem as folhas , enormes, dos plátanos , na quinta da família.
Marcou-me a trilogia da Odete de Saint Maurice, lida na minha adolescência, quase devorava ou o Pescador de Ernest Hemingway.
Era também a altura em que devorava a estante dos livros de adultos creio que sem os meus pais saberem...
Recomeçavam as aulas, terminava a praia (de Mira, Costa da Caparica e Algarve, tal como as vindimas onde ganhava uns trocos, convivia e iniciava amores de ano escolar. Os amores de praia, ou paixões, ficavam, enterrados nos areais e o Outono vinha, devagarinho, envolto em bruma e espuma de um mar revolto com seu mistério e roupas de meia-estação. Depois as maçãs colhidas da árvore, a marmelada acabada de fazer e as castanhas assadas que significavam, sempre, uma festa de amigos e família.
Logo nos finais de Setembro notava a descida de temperatura, a neblina matinal. Interiorizava no luto das paixões de Verão. Ainda salgado, bronzeado de sol e mar e noites mal dormidas e refeições apressadas, e campismo e gargalhadas e corpos suados e amizades e línguas estrangeiras...três meses ausente, pelo Algarve, Costa da Caparica, Lisboa deserta, e Praia de Mira ou da Tocha. Bolso vazio. Entregava-me às vindimas com tantos amigos (as) de Cantanhede. Pagava dívidas com a parca remuneração mas divertia-me à brava a vindimar. Tinha pouco tempo para ler em Setembro. Mas já estudava e preparava a matéria do ano lectivo. Juntava memórias, iniciava o namoro de Outono /inverno. Rejubilava com o desaparecimentos de turistas e o regresso de uma calma apetecida e ainda com alguns dias de praia para desfrutar apreciando o pôr-do-sol. Foi num final de Setembro que li "O Relatório Chapman"...e à noite escrevia e desenhava...não é muito diferente hoje. Maturo, melhor, vivenciado com mais sabedoria...
Nem tudo serão boas memórias. Com a chegada do frio, das gripes e agora da Covid... os mortos preenchiam-me a alma fazendo-me sentir pequeno e frágil na impotência de fazer algo ou da minha própria mortalidade.
Relembro três poemas do nosso Fernando Pessoa - "Canção de Outono", "Esqueço-me das horas transviadas" e "Quando, Lídia, vier o nosso Outono".- ou "O Outono do Patriarca" de Gabriel Garcia Marques. Queira ou não acabo por associar o outono a um certo início de velhice e, simultaneamente, começo a ansiar pela Primavera. Felizmente não entro em nostalgia ou Burnout... agarro a bicicleta de BTT e percorro os trilhos de montes e vales, húmidos, escorregadios e plenos de folhas de diferentes tonalidades.

Bastos Vianna

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