Melissa de Aveiro é mais do que um nome que fica no ouvido, é mulher de múltiplos talentos, natural dos Açores, onde ainda reside. Por agora, vamos deixar de lado a enfermeira e a cantora, e vamos concentrar-nos na escritora e ilustradora, dois papéis que executou com toda a maestria, no nosso mais recente livro infantil "Inês e o mistério do Monstro das Meias", lançado no passado dia 25 de Junho. Sobre o que a inspira e sobre o que mais (muito mais!) podemos esperar dela, deixemos que seja Melissa de Aveiro, 33 anos, a dizer-nos, na primeira pessoa...
Conte-nos como e porquê começou a escrever,
por paixão ou por necessidade?
Escrever surgiu de forma inata.
Em criança, ao aprender a falar, a minha mãe conta que quando eu dizia uma
palavra errada, que me autocorrigia de seguida. Lembro-me de sempre gostar de
pesquisar sinónimos para a mesma palavra, de descrever espaços e lugares.
Sempre foi mais fácil, para mim, expressar-me por texto escrito do que
oralmente. Um livro, nas minhas mãos, era um tesouro! Na escola, por vezes,
ganhava destaque sobre os colegas, com os meus textos. Essa vertente nunca foi
estimulada. Só aos dezasseis anos, ao passar por um período “menos bom” da
adolescência, me foquei na escrita – uma espécie de escape da realidade.
Qual o papel que a escrita ocupa na sua
vida?
Tal como referido, a escrita
acabou por ser um escape. O que ainda se mantém confesso! É, na escrita, que
encontro paz e equilíbrio mental. Quando estou ansiosa ou triste, escrevo
poemas e textos soltos (por vezes público alguns na plataforma Tumblr)
Sempre sonhou publicar um livro? /Publicar
um texto num livro?
Sempre vi os livros como lugares
mágicos, mundos pequenos onde nos podemos perder da realidade. Não sabia que,
um dia, teria capacidade de escrever algum. Atualmente, com quatro livros
publicados, e outros tantos guardados… descubro que era algo que deveria ter
feito toda a vida. Posso dizer que é um sonho, tornado realidade.
Qual é a sensação que tem ao ver, agora, o
seu livro nas mãos?
Costumo dizer que, o primeiro
livro é sempre um erro! É um “pequeno ser” que tem imensos defeitos. Só depois,
após a escrita evoluir, é que conseguimos compreender isso. No entanto, ter um
livro nosso, nas nossas mãos e nas mãos dos outros, é algo surreal, no bom
sentido.
Este livro “Inês e o mistério do
Monstro das Meias”, em particular, faz-me sentir realizada! Quando abri o
caixote e o vi, pela primeira vez, “ao vivo e a cores”, superou as minhas
expectativas! A imagem da capa, as ilustrações juntas com o texto, em livro…
fenomenal.
Tem algum projecto a ser desenvolvido,
actualmente? Pensa publicar mais algum livro? Continua a sentir vontade de
escrever?
Sim. Tenho! Tenho livros à espera
da minha decisão, de os publicar. A vontade de escrever surge sempre, de forma
inesperada, como um cogumelo que brota do chão, no lugar menos apropriado.
Quando há essa ânsia descontrolada, de passar o sentimento para o papel,
escrevo textos e poemas soltos – tenho imensos… nunca os contei! O sentimento
acontece, o pensamento vem, paro e escrevo. Chego a acordar a meio da noite ou
a parar o carro para apontar o que precisa sair! Em situações mais abalantes sinto
necessidade de escrever livros, histórias com personagens! Sou capaz de
escrever um livro de duzentas páginas em duas semanas, como uma espécie de
epifania. Não é por opção… é, simplesmente, o que acontece ou tem de acontecer…
Só acontece quando acontece. Não é algo que possa decidir, que vai acontecer.
Fale-nos um pouco sobre o seu livro: não só
o escreveu, como também o ilustrou, como foi isso?
“Inês e o mistério do Monstro das
Meias” foi uma ideia. Aproximava-me do aniversário da Inês, filha de uma das
minhas melhores amigas e, uma vez que, felizmente, é uma menina que tem um
pouco de tudo, fiquei sem saber o que lhe oferecer. A ideia de elaborar um
texto original, baseada na sua figura, surgiu espontaneamente. O mistério das
meias foi para onde o texto quis fluir (um assunto bastante sério, esse o das
meias… - faço reparo, a rir).
A parte da ilustração veio
posteriormente. Sempre gostei de pintar e desenhar – algo que faço com imensa frequência.
Decidi então, numa experiência, tentar ilustrar o livro, em tentativa e erro.
Inicialmente, usei aguarela e os desenhos não ficaram como pretendia. Comprei
então uns lápis profissionais e refiz as ilustrações. Quando dei conta tinha os
desenhos prontos. Posteriormente “tropecei” na vossa Editora através de um
concurso. Terá sido o destino?
Existe alguma parte do livro, em
particular, que goste mais. Porquê?
Gosto do poema inicial! Foi
escrito com um tempo muito curto, “à pressão” e fiquei orgulhosa do mesmo.
Indique as razões pelas quais aconselharia
as pessoas a ler o seu livro? O que acha mais apelativo no seu livro?
Todos são convidados a ler o
livro. Não só por ser um tema que a todos diz respeito: quem nunca perdeu uma
meia? E, porque, é uma história engraçada de perseverança. As ilustrações foram
elaboradas de forma carinhosa e dedicada, sendo isso, talvez, que o torna ainda
mais apelativo.
Qual é o seu estilo de escrita ou que tipo
de mensagem gosta de passar no que escreve?
A minha escrita foi
descrita como leve e simples, de fácil leitura. Gosto, sobretudo, de escrever
romances contemporâneos, que tenham um mistério envolvido, uma lição de vida ou
algo que deixe o leitor a refletir. Escrever um livro infantil foi uma estreia,
da qual não sabia ter capacidade.
Qual o papel das redes sociais na vida e na
divulgação da obra de um autor? E na sua?
As redes sociais, quando
bem utilizadas, são uma plataforma de partilha. É por lá que partilho as minhas
pinturas, alguns textos e divulgação das obras. Acabam por ser limitativas na
medida em que as publicações só chegam a um X número de pessoas, exigindo
republicações… Utilizo-as basicamente para isso – divulgação pessoal.
Gosta de ler? Que tipo de leitor é que é?
Gosto muito de ler! Tenho imensos livros, dos quais não me consigo desfazer. Por falta de espaço, tenho livros guardados em duas casas – a minha e a dos meus pais. Ainda tenho livros de quando era criança. Gostava de ter mais tempo para ler! Aonde quer que vá, levo sempre um livro comigo. Por vezes nunca o consigo chegar a abrir… mas vai comigo na mesma, como uma companhia, um escape para onde posso entrar em qualquer momento de monotonia. Sou o tipo de leitor que adora o cheiro dos livros novos e velhos, que não gosta de emprestar livros aos outros com medo de que, tal como acontece com as marmitas, nunca o possam devolver ou estragar e ainda perder. Que compra livros ainda tendo bastantes na estante, por ler… Que corrige as gafes que encontra nos livros, que tem sempre um livro no carro, que gosta de oferecer livros, que adora livrarias e bibliotecas. Que aprecia capas mas que não julga o livro pela capa. Que tentou ler o pequeno livro da Alice no País das Maravilhas e que não encontrou sentido algum na história.
Inês e o mistério do Monstro das Meias; Melissa de Aveiro (texto e ilustrações). Tecto de Nuvens, 2023 (Junho)
56 páginas, ilustrações a cores. PVP: 8,99€
“De todos os grandes mistérios, existe um por desvendar. Quando se vai dobrar a roupa, há sempre uma meia sem par!
Inês, ao preparar-se para o seu primeiro dia de aulas, descobre que só tem uma meia na gaveta! Onde andará a outra? Um grande mistério!"
Já à venda nas principais lojas e plataformas online.