Na verdade, é bem espevitada, mas também é muito vaidosa...
Vamos deixar que seja a autora a explicar o motivo pelo qual devemos levar esta florzinha para enfeitar as nossas vidas.
Aqui fica, Ana Ferreira da Silva na primeira pessoa...
- Conte-nos como e porquê
começou a escrever, por paixão ou por necessidade?
Comecei a escrever pequenos contos e poemas no
início da adolescência, digamos que movida por um impulso interior, uma
necessidade de registar no papel ideias e sentimentos, nem sempre para os
divulgar.
- Qual o papel que a escrita
ocupa na sua vida?
A escrita é
para mim como uma segunda natureza, uma segunda pele a pulsar constantemente
sob a carapaça da rotina. Sou muito observadora, e muitas vezes o tema de um
conto, de um poema, ou mesmo de um romance, surge-me a partir de um pequeno
detalhe do dia-a-dia, um fragmento de conversa... Faço muitas associações de
ideias!
- Sempre sonhou publicar um
livro?
Não; durante
muitos anos escrevi exclusivamente para mim. A ideia de começar a publicar,
surgiu por insistência de um grupo de amigas que leram um dos meus romances, a
“Trova de Caio e Benilde”.
- Qual é a sensação que tem
ao ver, agora, o seu livro nas mãos?
Cada livro é
como um filho; todos são diferentes, e a todos temos muito amor. Este livro, em
particular, é o “meu bebé”, fofinho e ternurento.
- Tem algum projecto a ser
desenvolvido, actualmente? Pensa publicar mais algum livro? Continua a
sentir vontade de escrever?
Penso que só
deixarei de escrever quando me morrer a imaginação, ou quando sentir que já
terei dito tudo o que tinha a dizer, o que, para mim, é uma perspectiva muito
redutora; temos sempre qualquer coisa a transmitir aos outros.
Neste momento
estou a trabalhar num romance histórico tendo como pano de fundo o Brasil
colonial; não é um projecto fácil, portanto, de vez em quando faço uma pausa
para desanuviar e escrevo um conto...
- Fale-nos um pouco sobre o
seu livro.
“A Florzinha
Vaidosa” surgiu como um desafio. Como jovem mãe costumava contar histórias aos
meus filhos e participar em actividades lúdicas no infantário, mas nunca tinha
escrito um livro para a faixa etária pré-escolar – primeiras classes. Em
contrapartida, as “palavras difíceis” terão a vantagem de pôr os pais a ler e
“traduzir” para os filhos, criando momentos de saudável convívio e partilha,
actualmente “ameaçados” pelas tecnologias que tendem a isolar cada um na sua
concha.
No seu
conjunto, é um conto simples, com personagens – flores e animais - com
sentimentos e atitudes facilmente identificáveis pelas crianças, que termina
com uma mensagem bonita de solidariedade e reconciliação.
- Existe alguma parte do
livro, em particular, que goste mais. Porquê?
Precisamente,
o final – apesar da sensação de liberdade ao seguir o voo da sementinha nas
asas do vento, logo no princípio do conto.
- Indique as razões pelas
quais aconselharia as pessoas a ler o seu livro? O que acha mais apelativo
no seu livro?
Eu
aconselharia a leitura (acompanhada) do livro até aos 6 – 7 anos, idade em que
eventualmente começam a esboçar-se os conflitos entre irmãos, conflitos esses
que fazem parte do crescimento e do amadurecimento da personalidade. Uma
abordagem honesta e frontal dos problemas, com conselhos sensatos, pode ajudar
a restabelecer a harmonia – mas por vezes é necessária uma tempestade para
redimensionar a importância das coisas. É essa a mensagem do livro.
Para além da
história em si, acho francamente apelativo o trabalho de ilustração da Melissa de
Aveiro, que recupera as linhas simples e suaves e as expressões muito
intuitivas das personagens, e também o colorido muito equilibrado dos livrinhos
da minha infância. Outro ponto muito positivo é o tamanho “livro de bolso”, que
permite ao pequeno leitor (ou à mãe, ou ao pai...) levar a “florzinha” para
todo o lado, para ler no parque, “ver os bonecos” no infantário, ou mesmo para
guardar debaixo da almofada, à noite (Muito bom trabalho, Tecto de Nuvens!)
- Qual é o seu estilo de
escrita ou que tipo de mensagem gosta de passar no que escreve?
Não tenho um
estilo rígido, na medida em que não se pode narrar um romance medieval da mesma
maneira que se escreve um diário de bordo de 1626 ou se põe um mulo e um cão a
dissertar sobre as agruras das trincheiras do Corpo Expedicionário.
Relativamente aos contos, a minha escrita é mais uniforme, e tendencialmente
coloquial; claro que no caso da “florzinha” precisei de me ajustar bastante
mais, tratando-se de escrever para crianças... A poesia é um caso à parte, mas
de um modo geral, tendo a seguir esquemas clássicos de rima e métrica.
Mas em tudo o
que escrevo, tento deixar uma mensagem de amor, de esperança ou de revolta –
algo que deixe o leitor preso à obra depois de fechar o livro.
- Qual o papel das redes
sociais na vida e na divulgação da obra de um autor? E na sua?
Actualmente, e
de um modo mais marcado a partir da pandemia, a utilização das redes sociais
pode contribuir imenso para a divulgação da obra de um autor, principalmente se
não se trata de um nome sonante no meio literário; por outro lado, o uso (e
abuso) das redes sociais pode levar ao enviesamento do trabalho, se o autor se
tornar sensível (e a seu tempo escravo...) às opiniões pro e contra por elas
veiculadas, por vezes de forma leviana e superficial.
Pessoalmente,
pelos motivos expostos e porque o meu trabalho “principal” não me deixa muito
tempo livre, não utilizo redes sociais.
- Gosta de ler? Que tipo de
leitor é que é?
Gosto muito de
ler, e leio de quase tudo – clássicos do Romantismo, autores quase actuais e
actuais, História e Geografia (na preparação de algumas obras). Não sendo
leitora compulsiva, gosto de ler nos transportes, a caminho do trabalho, para
mergulhar noutra dimensão enquanto os meus (desconhecidos) companheiros de
viagem se focam nos telemóveis.
64páginas, capa mole; Tecto de Nuvens, 2023
Um dia nasceu uma flor muito dourada, tão dourada que de dia parecia um sol pequenino, e de noite brilhava como uma estrelinha. (…) era a flor mais bonita do arbustinho, com as suas grandes pétalas luminosas raiadas de todas as cores.
Número 8 “Colecção Petizes Felizes!”
Boa tarde, adorei a entrevista " Penso que só deixarei de escrever quando me morrer a imaginação, ou quando sentir que já terei dito tudo o que tinha a dizer" faz muito sentido...! Adorei participar na criação deste conto com as ilustrações! Muito obrigada e votos de muito sucesso!
ResponderEliminarMelissa de Aveiro