Já sabemos que dispensa apresentações, seja como autora, seja como artista plástica, a Ilda Pinto Almeida, até porque já a entrevistamos este ano a propósito dos 3 livros (dois individuais e um colectivo) que lançou ainda no primeiro trimestre. Mas como regressa hoje, 21 de Setembro, Dia Mundial da Gratidão, com um livro de reflexões sobre a vida, não tínhamos mesmo como deixar passar a oportunidade de, a tendo em Portugal, a voltar a ouvir.
Como se recordarão, o livro "Todavia eu me alegrarei - Pensamentos, ideias e reflexões sobre a vida - Vol. I" que a autora agora apresenta, foi o livro vencedor do nosso voucher de aniversário. Voltamos a dar os parabéns à autora e deixamos que seja ela a explicar a motivação que levou à escrita deste livro e também a forma como o anda a apresentar.
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Ilda Pinto Almeida, de viva voz e na primeira pessoa:
Conte-nos como é que surgiu a ideia de
reunir todos estes textos, dispersos e não necessariamente publicados, e qual o
objectivo deste livro?
O surgimento deste pequeno livro é
um desejo antigo que, hoje posso dizer, está no caminho da sua concretização; e
estou grata com prazer e alegria por este primeiro volume. Sempre gostei de
reflectir naquilo que está ao meu redor, o pormenor chama-me à atenção. - Isto deve
ser importante para cada um de nós; a sensibilidade é algo que devemos usar
diariamente. Os revezes da vida não têm que ser sempre amargos, achar
contentamento nas coisas simples que nos rodeiam é bom. -
Cada vez que
escrevia algo sentia, no meu coração, que podia ajudar outros a encontrar o
valor de si próprios na beleza da criação, que a cada dia nos ensina
gratuitamente. De maneira que fui escrevendo/anotando as reflexões repentinas
que me surgiam. Mais tarde, passava para um caderno essas palavras soltas, por
vezes gravadas no telemóvel, corrigindo aquilo que me foi trazido ao coração e
à mente. Tenho também o hábito quando assisto a uma palestra de tirar as minhas
próprias definições e conclusões, escrevinhando conceitos, pareceres, para mais
tarde, mediante a minha tese, colocar frases que façam sentido, para,
oportunamente, incentivar positivamente a outros. Quando reparei que
tinha tantas frases e pequenos textos escritos dispersos, pensei juntá-los em
um pequeno livro, para mais tarde expô-los, e assim o seu objectivo chegasse a
ser concretizado: levar ao público alegria e paz, sabendo que a vida nem sempre
nos dá o desejo ambicionado; mas em vez de gastarmos o tempo com lamentações,
raiva e até vinganças, porque não colocarmos o nosso olhar no que é o valor do
fôlego de vida, podendo alcançar bênção através de pequenas lições de beleza,
confiança, amor, oportunidades, sabedoria e tantas outras coisas.
Eu penso que as
páginas deste livro trazem ao leitor a oportunidade de fazer uma meditação mais
profunda, distraindo-o da circunstância, dando-lhe encorajamento, fortalecendo
o leitor a confiar, a agradecer, e a ter fé que as possibilidades existem,
colocando em prática o que houver de melhor em si.
Queria fazer chegar ao público algo que lhe fizesse bem à alma e ao mesmo tempo que os alegre e os desperte positivamente a cada dia. É um projecto que penso que tem publico, sendo um livro, sem tempo, sem época e que pode ser lido como o leitor quiser. Vejo-o como um livro considerável e precioso para o público em geral.
É um projecto em que já tinha vindo a
pensar e ao qual quer dar continuidade. Em que medida é que este livro se
aproxima, ou afasta, dos seus outros livros?
Sim, um trabalho que tem vindo a ser feito há bastante tempo, mas que por vários motivos foi ficando sempre nos ficheiros. Não tinha e não tenho uma ideia muito visível da sua aceitação no mercado de língua portuguesa e fico sempre com a reserva do que é que poderá acontecer, mas creio que o tempo lhe trará simpatizantes e fiéis.
Já na recta final e antes de o livro dar entrada na gráfica obtive o apoio generoso de particulares da diáspora na aquisição de centenas de exemplares. Esses exemplares irão ser entregues, gratuitamente, a instituições que estejam dispostos a recebê-los: desde lares a lugares de reabilitação. Este gesto veio confirmar validade da edição deste meu desejo que tinha estado em pausa. Até porque este projecto também já tinha sido vencedor de um voucher de edição, um primeiro incentivo para avançar, e a aquisição veio dar-me o reforço que eu precisava; uma espécie de validação da edição deste primeiro volume. É o meu gosto dar continuidade a este trabalho que tanto me alegra e me é querido, e é por isso que já tenho o volume II em andamento. Vamos ver o que o futuro traz…
Eu gosto sempre de deixar uma palavra de reflexão ao leitor, durante ou no final de cada obra. Eu diria que este trabalho não se afasta muito da minha forma de escrever, embora o livro propriamente dito seja bastante diferente de todos os meus outros livros.
Este livro não tem qualquer espécie de
organização. É intencional, deduz-se, mas há um objectivo nessa falta de
organização formal?
Não é
um livro de temática organizada, nem nunca foi essa a minha intenção. O meu objectivo
principal é fazer com que o leitor tenha a liberdade de abrir (em qualquer
parte do livro) ler e sentir. Meditar sobre as palavras desse preciso instante,
e quem sabe lhe possa vir a ajudar a apreciar, acalmar, agradecer o momento em
que se encontra.
Existe alguma parte, ou temática, do livro,
em particular, que goste mais. Porquê?
Não. O
valor das palavras são sempre especiais em cada momento. A circunstância (de
cada um e de cada momento) cria a particularidade das palavras, dando-lhe o seu
valor específico nessa ocasião por onde os olhos passearam.
Indique as razões pelas quais aconselharia
as pessoas a ler este livro? O que acha mais apelativo nele? Aconselharia este
livro a algum tipo de público em particular?
Um
livro para todos porque creio que todos nós, a qualquer momento, necessitamos
de uma palavra própria. Aquela palavra que queremos dar ou queremos receber mas
que às vezes fica presa, que não é tão bem construída o quanto o deveria ser,
ou, talvez por receio, não queremos ou não temos o valor suficiente para a dizer
ao nosso semelhante. Depois é um livrinho que pode viajar com o leitor para
qualquer lugar sem ocupar grande espaço. Até cabe no bolso!
Tem optado por apresentar os livros em
pequenas reuniões informais. O que é que está a retirar dessa experiência? E em
que medida é que acha que o futuro pode passar mais por este tipo de
apresentações (cada vez mais adoptadas já por alguns nomes grandes da
literatura mundial)?
É sempre muito gratificante encontrar quem goste de me ler, sentir momentos especiais nas suas palavras é força para escrever mais. Um lançamento é feito com gentes que se encontram e se propõem ao ato de conhecer. O autor e o livro devem ter proximidade ao leitor. E é isso que tem acontecido. Tenho dado a conhecer de uma forma mais informal e a interação desliza maravilhosamente. A aprendizagem tem sido cheia de substância para os dois lados. Por exemplo, na poesia (que é muitas vezes olhada e entendida de uma forma negativa pela maior parte da população, que dizem não entender), se levarmos até ao leitor essa mesma poesia numa forma simples, como tenho vindo a fazer com o livro “Sons Poéticos”, o publico torna-se muito mais receptivo e por vezes até se extraem palavras de admiração sobre este género de textos. A interação tem sido magnífica e a poesia ganha leitores. Tenho a certeza que muitos passaram a ver a poesia com outro olhar; e comigo/do meu lado fica uma experiência feliz e enriquecedora. Por isso acredito que, seja qual for o género de escrita, o contacto directo com o leitor será uma mais-valia para ambos os lados. Tenho tido momentos gratificantes de experiências únicas e ainda de enorme aprendizagem. Este público conta histórias e ouve histórias que abrilhantam a socialização seja ela sobre verso ou sobre prosa. Surgem conversas das mais variadas que vão deixando transparecer sentimentos dos mais diversos.
Não há lugar específico para dar a conhecer um livro. Estas ocasiões têm sido muito agradáveis e incomuns, e estou muito satisfeita desde que decidi que iria fazer diferente. Este é o caminho para que o nosso povo se aproxime dos livros naturalmente, sem se sentir incómodo e estranho na presença dos livros e dos seus autores.
A literatura leva-se.