quinta-feira, 30 de abril de 2020

Desafio de autores para autores: Felicidade

Para esta semana o desafio proposto era um poema, estilo e forma livres, sobre a Felicidade.
Que a leitura vos deixe a todos muito felizes!


(parece que este poema é sobre a felicidade)

se perguntarmos a um pássaro o que é a felicidade,
                                    o que responderia?
que nenhum homem ou mulher, me atire um tiro.
se perguntarmos a uma flor o que é a felicidade,
                                    o que responderia?

que nenhum homem ou mulher, me corte do meu caule.
se perguntarmos ao mar, o que é para si a felicidade,
                                    o que responderia?

que nenhum homem ou mulher, atire plástico para cima de mim.
se perguntarmos a um peixe, o que é para si a felicidade,
                                    o que responderia?
que nenhum homem ou mulher, me pesque.
se perguntarmos à floresta, o que é para si a felicidade,
                                   o que responderia?
que nenhum homem ou mulher, me descubra.
se perguntarmos à lua, o que é para si a felicidade,
                                    que responderia?
que nenhum homem ou mulher, pouse em mim.
se perguntarmos ao sol, o que é para si a felicidade,
                                   que responderia?
que nenhum homem ou mulher, impeça que eu os ilumine.
se perguntarmos à homem ou à mulher, o que é para si a felicidade,
                                  que responderia?
que os meus bolsos se encham de dinheiro.
se perguntarmos a trump, boris ou bolsonaro, o que é para si a felicidade,
                                 que responderia?
que o meu país possa ter armas para destruir os outros.

Joaquim Armindo


Felicidade

Se a dúvida te assedia
e pesada te parece a vida!...
Se na noite procuras o fim
da tristeza que te invade,
se a incerteza te faz vacilar
na caminhada dos mundos!...
Espraia o teu olhar,
lê o livro do Infinito…
E nas letras de ouro e fogo
aprende a crer e Amar!...

Crê nas vidas renascentes!...
Na conquista do eterno bem,
na alegria de viveres para sempre!...
Para amares,
para servires,
penetrares na verdade…
E de olhos na Luz
abraçares a Felicidade!...

João Carvalho Táboas
in "Renascer”



Felicidade

Quero-te dentro de mim
A celebrar a vida
Com o meu sentir dos sentidos
Quero que encontres espaço no meu corpo
Onde te deites e acordes com um sorriso
De dentro para fora
Quero que me vejas como sou
E me agarres
Quero que sejas o meu espelho
De brilho no olhar
Quero-te simples, de gestos simples
Com o café da manhã
E o chá antes de dormir
Quero-te nas pequenas coisas
Como uma canja de galinha para a alma
Quero-te em mim
Para te refletir nos outros
E quero-te assim como um sonho que acalento
Desde que me conheço
Quero-te a vencer obstáculos
E na espera da bonança
Quero-te nos pequenos e grandes instantes

E quero querer-te
Porque enquanto eu te buscar
Eu já te tenho um pouco
E continuarei a amar as papoilas.

Maria José Moura de Castro


Próximos desafios:

Fotografia: Usando uma fotografia de vossa autoria, dê-lhe um título; escreva um parágrafo ou dois sobre ela (realidade ou ficção), escreva uma quadra, um poema. Fica ao critério de cada um. Participações ilimitadas. Envio da imagem e do texto até ao meio-dia de sexta-feira, dia 8 de Maio.

Prosa: uma história verídica (vivida por vós ou por outros) contada num máximo de 750 palavras. Pode ser um episódio engraçado; uma moralidade; algo relacionado com o trabalho/estudo, etc.
- Este desafio vai ter um período de votação e um prémio (caderno "Uma manhã na praia" ). -



Envie os seus trabalhos para geral@tecto-de-nuvens.pt ou tectodenuvens@hotmail.com

sexta-feira, 24 de abril de 2020

"Poesia Livre" - Desafio de autores para autores

O desafio para esta semana era escrever poesia com total liberdade: tema, forma, rima, etc. Acontece que, inevitavelmente, apesar do tema livre,  a inspiração dominante  acabou por ser o 25 de Abril.
Agradecemos aos autores pela sua participação e aos leitores pelas suas visitas e divulgação. Podem deixar os vossos comentários, sugestões, cumprimentos aos autores, etc., na caixa de comentários.



Abril!

Eis um povo desvalido
Privado de sonhar!
Na liberdade, tolhido
Sem forças para lutar!

Amordaçada esta gente
Povo luso com história!
Sem igualdade, de repente,
Olvidou momentos de glória!

Perdeu seu brilho e triste
Como algo que não existe
Viveu sem sentido ou poder

Amarfanhado sem opinião
Sentiu a dor, a repressão!
Abril! Renasce um novo viver!

Dulce Sousa



  DESABAFOS - FORTE DE PENICHE

   Penosas
   As penas
   Revoltosas
   As almas 
   Penadas
   Castradas
   Ceifadas
   As vidas
   Abafados
   Os gritos
   Insultados
   Os corpos mutilados
   Calcados
   Os ais
   Destes, daqueles
   De outros tantos
   Que tais.

   Tal e igualmente
   Todos à uma
   Serenos
   Serenamente
   Corajosos
   Teimosos
   Importantes
   Mas doentes
   Os crentes
   Os sãos
   Os grandes.  

   Ontem
   Progenitores
   Da igualdade
   Hoje
   Filhos
   Da liberdade
   Amanhã
   Netos
   Da verdade.

   Eternamente
   Portugueses
   Pregoeiros
   Do pregão-refrão
   Da justiça
   E lealdade.

Margarida Haderer

       


Junta de Salvação Nacional
25 abril de 1974

Já não podias ó Lusa Gente
Um tal governo déspota aguentar
Nascido duma abominável mente,
Traçado e imposto por Salazar
Ao Povo e governante descendente!...

Sempre a tua razão foi desprezada
Aos interesses do fascismo opressor!...
Liberdade sempre te foi negada
Vivendo cercada pelo terror;
A tua mor vontade era assolada
Criminosamente pelo pavor,
Aos “Pides” que lhes era facultada
Objurgar o Povo com vigor!...

Na ilusão de promessas enganosas
Abalaram-te o modo de pensar!...
Cercando-te de insídias ardilosas;
Infando meio de ao Povo negar
Objeção e penas dolorosas,
Nascidas dum perverso governar
Austero às Gentes que receosas,
Liberdade não tinham p´ra respirar!...

João Carvalho Táboas – “in Renascer”





no meu Portugal

no meu país, o coração bate, como as raízes
de um castanheiro,
tanta, tanta, tanta gente, empunha a bandeira do meu país.

são os hospitais, são os médicos, são os enfermeiros,
ai, tanta gente que se dá,
são os técnicos de resíduos,
                                         à porta de cada um,
são os padeiros, são a gente do meu país.

apetece cantar, os nossos ídolos desavergonhados,
que riem, batem palmas e curam novos e velhos.

ai, país de aljubarrota, das guerras coloniais,
de arma a tiracolo ou de máscara sem medo,
país de dentro do peito,
que exalas aloés e mirra,
que cantas a canção desconhecida,
na morte e na vida.

ai, país de são mamede, onde conseguiste
o amor da pátria em construção.
ai, país das desfolhadas, do minho ao algarve,
dos açores e da madeira,
tu, meu país, és o da guitarra, do douro ao tejo,
e do mondego,
que brotas águas nas serras, e borboletas no caminho.
como te amamos, meu Portugal.
Joaquim Armindo


no meu caminho

tu sabes abril que és a minha canção,
dos dedos das violas, ao som das trombetas,
das mulheres carquejeiras,
que subiam e subiam, a ingreme calçada,
para o pão dos filhos.

tu sabes abril que és o meu ser,
da luta e da planície,
dos montes e das montanhas,
onde os caminheiros iam, para voltar,
e possuir a vida.

tu sabes abril que não és a minha grilheta,
que sussurra a prisão,
mas o tamborim que saiu
                                      dos boeiros,
e se faz mar no rio.

tu sabes abril que és o meu maio, de flores,
                                        em cadeiras,
                                        das festas,
                                        das emboscadas,
dos feridos e dos mortos,
mas tu sabes abril, que juraste o maio,
dos cabelos ao vento,
                                da liberdade.

Joaquim Armindo


POR AQUI

O grito
abafa-se no discurso
não se ouve o eco
não se sente o pulso
Perde-se juventude
ganham-se bastidores.
Veste-se a gravata
venham os doutores.
É a Europa
a dos fundos perdidos.
São os outros que ganham
os nossos pedidos
Fuge a História
e as histórias também.
Fica o diário
da república de aquém.
Perde-se o sonho
proíbe-se a vontade.
Esconde-se o olhar
legisla-se a verdade.
Mãe
porque teimas em rezar um terço que é dor?
Porque nunca acreditas na cunha, no favor?
Foi num dia já distante
numa manhã não sei se de nevoeiro.
Os cravos cantaram
cantaram no terreiro.
Passou o dia
foi-se a madrugada.
Ficou o nevoeiro,
ficou terra queimada.
Venham meus senhores,
venham os discursos, a burocracias.
Os montes de papeis
e as tecnocracias.

Que ninguém abandone a sala
vem aí o presidente e os ministros também.
São os senhores deputados
e ainda mais alguém.
Venham todos
e todos vamos aplaudir.
Haja palmas, haja alegria,
que sapos já não há para engolir.

Manuel José Martins
1993/07/02

ABRIL

Em vinte e cinco do quatro
Quando a manhã aqui chegou
Mil nove e mil séculos
Madrugada um cravo beijou
Abafaram-te entretanto
Entre discursos e palmas
Lembram-se e festejam-te
Animam-te em sessões calmas
Tu, quando a ti se dirigem
Recebes em que remédio
Mensagens de um ânimo
Esperança em assédio
Oh grito de suaves ondas
De entranhas nossas cravado
Ergue teu odor bélico
Em amanhãs transpirado
E a poesia senhores
Senhoras que tão bem trajais
Esse perfume há de ficar
Encalhado em vosso cais

Deixem-se de populismos
De gritar pela história
Quem vem transporta aliança
Quem chega, nem memória
Agora assim te discutem
Na assembleia sentados
Por ali estão um terço
Dos ilustres deputados
Ao que nos obrigas covid
Sem ti, ah que bom seria
A serenata de discursos
Nesse tom de romaria
Vermelho torna cinzento
Em aguarela encarnada
Venha daí essa sessão
Teimosia é festejada
E tu vinte e cinco de Abril
Mil nove e setenta e quatro
Reduzem o que nos destes
Ao finito anfiteatro
E tu vinte e cinco de Abril
Mil nove e setenta e quatro
Estendes o que nos destes
Em ondas de alabastro

Manuel José Martins


Ode ao (coração) Filigraneiro (de Gondomar)

O filigraneiro que, delicadamente, entrelaça
Os fios da filigrana e a solda
Dedica-lhe o minucioso amor
Do artista pela criação que assim não morre.

Atravessam o tempo unidos por este laço,
Numa tradição milenar, abraçando o contemporâneo,
Num eterno namoro rendilhado,
Que ganha forma nas suas mãos de milagreiro.

E o seu longo caminho conjunto é coroado
Pelo maior coração do mundo
Cujos frutos desfilam luxuosamente
No corpo da orgulhosa gente.

in Coração Rendilhado
Maria José Moura de Castro (https://www.facebook.com/mjmcastro)




Ao nosso Abril de 2020



Força, Abril, força,
Resiste a este confinamento forçado
Preenche-o de sol por dentro
Pinta-o com as cores do arco-íris
E enche-o de solidária sanidade
Corre, Abril, corre,
Vai buscar a luz ao fundo do túnel
E tira-nos desta liberdade condicional
Que parece uma eternidade
Traz-nos o doce Maio da nossa existência
Com promessas da possível normalidade
Liberta-nos, Abril, liberta-nos,
Deste ambiente atípico
Feito de semblantes pesados
Envoltos em mascarado medo
Em névoa
E solidão indesejada
Dá-nos o sol da rua com o seu calor
E luminosidade
Sorri-nos, Abril, sorri-nos,
Lança a gaivota ao vento
E acolhe-a com a mensagem da cura
Da liberdade
Atira-nos para as ruas de Maio
Com cravos e maias abençoados
Seja findo o luto frio
Do defunto sem direito a ser velado
Diz basta à digital relação
Derruba os muros por este vírus criados
Avante, Abril, avante,
Sê hercúleo.

Maria José Moura de Castro (https://www.facebook.com/mjmcastro)


Apologia da Poesia

Parem o tempo, chiu, venham criar,
Sintam a música a tocar,
Ouçam as palavras a fluir,
Fechem os olhos e deixem-se ir.
Confiem no amor,
Dispam-se da timidez e do pudor.
Abram a vossa caixa das emoções
E sirvam palavras como refeições.
Façam as palavras viajar
Pelo papel e pelo ar,
Pelo pensamento, pela boca, pelos ouvidos
E escrevam, escrevam com os sentidos.
A escrita é água, fogo, terra e ar,
Pode fazer rir e também chorar.
É razão e emoção, é catarse e terapia.
Peguem nas palavras e criem magia.
Iluminem-nas e espalhem-nas por todo lado.
Tenham mente aberta e espirito aguçado.
Decorem as palavras com liberdade,
Deem asas à vossa criatividade.
O preconceito não é permitido,
Tudo pode ser refletido:
A partilha, o amor, a amizade,
A infância, a vida, a saudade...
Digam que guardam um pouco de si
E a Poesia não findará aqui.

in Um poema por dia dá saúde e alegria
Maria José Moura de Castro (https://www.facebook.com/mjmcastro)





És o livro mais lindo que eu gosto de ler.
Nas linhas do teu corpo alegremente me perco,
Sinto a sua textura,
E percorro-o com os meus olhos,
Numa leitura silenciosa
E intensa.
Devoro as suas letras
E inalo o seu odor.
És um livro muito gustativo
E com cheiro dentro.
Encontro-me nele
E a lê-lo continuo.
Saboreio-o.


in Doce Maio de Noite Estrelada
Maria José Moura de Castro (https://www.facebook.com/mjmcastro)

PRÓXIMOS DESAFIOS: 

Poema (estilo livre) sobre o tema "Felicidade".

Prosa: uma história verídica (vivida por vós ou por outros) contada num máximo de 750 palavras. Pode ser um episódio engraçado; uma moralidade; algo relacionado com o trabalho/estudo, etc.
- Este desafio vai ter um período de votação e um prémio (caderno "Uma manhã na praia" ). -



Envie os seus trabalhos para geral@tecto-de-nuvens.pt ou tectodenuvens@hotmail.com



terça-feira, 21 de abril de 2020

Desafio de autores para autores: "Poesia Livre"



Já com as Quadras publicadas, avançamos para o próximo desafio.

Na semana do 25 de Abril, demos toda a liberdade à Poesia (tema, rima, forma, etc.). É também a semana em que festejamos o Dia Mundial do Livro pelo que ainda mais sentido faz que, não só divulguem estas iniciativas, como leiam e recomendem livros.

Podem participar com um ou mais poemas.
O prazo de envio para estes trabalhos é sexta-feira, dia 24, pelo meio-dia.
Os trabalhos serão publicados no blogue no final desse mesmo dia.

Continuamos a aceitar sugestões para mais desafios.

Os trabalhos deverão ser enviados por email para geral@tecto-de-nuvens.pt ou tectodenuvens@hotmail.com


PRÓXIMOS DESAFIOS: 

Poema (estilo livre) sobre o tema "Felicidade".

Prosa: uma história verídica (vivida por vós ou por outros) contada num máximo de 750 palavras. Pode ser um episódio engraçado; uma moralidade; algo relacionado com o trabalho/estudo, etc.
- Este desafio vai ter um período de votação e um prémio (caderno "Uma manhã na praia" ). -


sexta-feira, 17 de abril de 2020

Quadras - Desafio de autores para autores

Com uma semana mais curta, escolhemos um desafio mais pequenino e mais "básico": quadras.
A temática é livre mas as quadras têm de ter rima (cruzada, interpolada, etc.).

Quero escrever um poema

Quero escrever um poema
Dizer-te assim: gosto de ti
Abraçar esse teu brincar
A felicidade está aqui

Minha alma andava sozinha
no firmamento insegura
tu vieste devagarinho
procurar-me nesta aventura

Tuas mãos são desafio
Tua paz é alegria
Olho o teu rosto e fico
em ondas de maresia

Este amor que nos visitou
com companheiros e amigos
foste tu que o descobriste
a sorrir por entre perigos

Agora que aqui estás
e o vento é nosso amigo
vou mandar recado ao tempo
pra ficar a sós contigo

O desconhecido ronda
anda longe e anda perto
É o futuro a acontecer
tua presença em aberto
Manuel José Martins


Quadras de S(em) João

Este ano o S. João
Não vai ter um balão,
Nem vai ter um manjerico,
E muito menos um bailarico!

Nem o João com a sua santidade
Pode contrariar a autoridade:
Há que manter as distâncias
Sejam quais forem as circunstâncias...

Ficam, pois, as esperanças
Ficam as quadras forçadas,
Viveremos das lembranças
de levar umas marteladas...

Maria de Sousa Moreira




Ode a um dia de Verão

Maldito sol, maldito calor!
Tanta gente na praia, tanta gente na rua!
E para aumentar ao disabor
Só me parece ver gente semi-nua!

Não me querem deixar passar?
Não vêem que ando em trabalho?
Mas mesmo que pudesse descansar
Não iria tostar ao borralho...

Venha lá o Inverno
Venha lá o tempo frio
Isto para mim é um Inferno
E só com a chuva eu sorrio

Mas agora, que desilusão,
Com as ruas desertas
e as nossas vidas incertas
Anseio eu pelo Verão!

Venha de lá o barulho
Venha de lá a confusão
Vamos todos dar um mergulho
E celebrar termos um Verão!

José da Silva



Os trabalhos e sugestões deverão ser enviados por email para geral@tecto-de-nuvens.pt ou tectodenuvens@hotmail.com

terça-feira, 14 de abril de 2020

Desafio de autores para autores: Quadras


Com uma semana mais curta, escolhemos um desafio mais pequenino e mais "básico": quadras.
Pode participar com um ou com várias, sendo que podem ser todas individuais ou ser uma composição maior. A temática é livre mas as quadras têm de ter rima (cruzada, interpolada, etc.).
O prazo de envio para estes trabalhos é sexta-feira, dia 17, pelo meio-dia.
Os trabalhos serão publicados no blogue no final desse mesmo dia.
Continuamos a aceitar sugestões para mais desafios.


Os trabalhos deverão ser enviados por email para geral@tecto-de-nuvens.pt ou tectodenuvens@hotmail.com

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Desafio de autores para autores: "Era uma vez..."


Mais uma semana, mais um desafio. Desta vez prosa, num texto com 300 palavras é-nos contado um conto, experiência, etc., começando, obrigatoriamente, pelo originalíssimo: "Era uma vez...".
Onde assinalado podem clicar para terem a leitura feita pelo próprio autor.
Agradecemos aos autores pela sua inspiração e aos leitores pelas visitas. Estejam à vontade para também deixar as vossas sugestões/comentários.


Rei na barriga

Era uma vez um pequeno rei que vivia num castelo muito especial, a barriga da sua mãe. Sentia-se muito feliz e protegido. Havia dias em que a alegria era tanta que não aguentava sem a exprimir, e pulava. Então ouvia a mãe dizer:
-  Lá está ele a dar-me pontapés! Será que vai ser futebolista?
Mas o pequeno rei não pensava em nada disso. Se pudesse, não saía da barriga da mãe, embora tivesse curiosidade de a ver do lado de fora. De certeza que era a mulher mais linda do mundo. Por dentro, era lindíssima. Sentia o seu coração bater com emoção e ouvia a sua voz serena, feminina e agradável. Habituara-se a ouvi-la cantar, rir, ler histórias e conversar com ele. Era uma voz inconfundível e que lhe fazia companhia. Eles eram inseparáveis. Não podiam viver um sem o outro. Ele nela e ela nele. Sentia-se muito feliz na sua barriga e não tinha pressa em sair daquele reino. Ela dizia-lhe que iria ser recebido com muito amor por si e pelo seu pai, e que lhe estavam a preparar um lar muito acolhedor. Ele acreditava, mas tinha receio, pois por vezes sentia que a sua mãe estava triste com o mundo em que vivia, ou melhor, com a humanidade, quando desabafava:
-Sabes, meu rei, estamos no século XXI, houve tanto avanço da ciência, e no entanto a história repete-se: matam inocentes por fanatismo e poder. O medo instala-se. Há muita solidão. As pessoas vivem num mundo digital de telemóveis ou redes sociais e nem se olham. O Homem não respeita a vida, o seu bem mais precioso.
Isto dizia ela, quando ouvia as notícias na televisão e, então, o pequeno rei encolhia-se com medo, mas logo de seguida ouvia-a dizer:
-Não te preocupes, meu rei, terás família, amigos e um anjo da guarda para te proteger. Serás bom, forte e destemido. Tornarás este mundo melhor. Farás o bem. Sim, porque tu és esperança e contigo a vida será ainda mais bela, neste outro reino que brevemente conhecerás.
Então começava a falar-lhe do sol, da lua, das estrelas, do mar, das flores, dos animais, da chuva, do calor, enfim, das maravilhas que a rodeavam e que amava. Ele também as amaria e lutaria para as preservar.
Nestes momentos, o pequeno rei dava uma cambalhota e sentia-se poderoso. Até parecia que era o Homem- Aranha ou outro herói das histórias que a mãe lhe lia e, então, não tinha medo de nada. Confiava na sua mãe e em si. Ele e os seus familiares formariam uma equipa fantástica. Como lhe citava a mãe: " O Homem é do tamanho do seu sonho."
Entretanto, o pequeno rei aproveitava para dormir enroladinho na sua barriga, sem pressas, aguardando o seu Natal.

 Maria José Moura de Castro

(Pintura de José Silva)



o rouxinol que cantava ao meio dia

era uma vez um rouxinol. e cantava ao meio dia. por entre as labaredas das fontes e as esperanças dos rios. uma vez o rouxinol deixou de cantar ao meio dia. e todos os animais da terra se perguntava o que seria do rouxinol. porque estávamos na selva os primeiros a dar a notícia foram os macacos. saltaram de árvore em árvore à procura do rouxinol. mas tiveram que pedir aos galos para também procurarem o rouxinol que cantava. nada conseguiram. então foi a vez do leão que comandava aquela floresta dar ordem aos peixes-voadores para procurarem o rouxinol. seria uma catástrofe se não o ouvissem a cantar ao meio dia.
até os humanos foram chamados. por todo o mundo procuravam o rouxinol que cantava ao meio dia. expedições foram feitas.mobilizaram-se todos os chefes de estado. a polícia e os bombeiros. os cientistas. os médicos. os enfermeiros. os técnicos de diagnóstico e terapêutica. um decreto foi lançado pela organização das nações unidas. os comités especiais de combate ao crime foram ativados. as fábricas dispensaram os seus trabalhadores para procurarem o rouxinol. e as escolas. e os escritórios. e os futebolistas. as televisões e as rádios difundiam mensagens a toda a hora. até o trump andava à procura do rouxinol. e bolsonaro o presidente do brasil. e o primeiro ministro inglês. e todos os bancos por causa da catástrofe económica que viria.
até que escondido dentro do casco de uma árvore encontraram o rouxinol. rouxinol porque não cantas. está o mundo à tua espera. precisamos que cantes ao meio dia. há um vírus – disse o rouxinol – que anda à minha procura. se ele me encontra não posso cantar mais. é o homem. quer destruir tudo.
eu tenho a vacina do amor. e eles sabem matam-me. e depois o rouxinol começou a cantar ao meio dia a canção do amor. e acabou.

Joaquim Armindo




Era uma vez...

Era uma vez um bando de crianças que brincavam ao susto. Era uma vez uma criança que brincava ao susto.
Mais atrevida a criança, pela calada, refreava o passo, surgia pelas costas de uma colega, num instante agarrava-lhe em ambos os braços e sacudia-a com brusquidão enquanto soltava um berro à mistura com uma risada sinistra e um tanto divertida. O bando olhava e a criança sacudida arreguilava os olhos e colava a mão ao peito.
Era uma vez uma criança que se acoitava agachada no meio de erva alta, se escondia numa esquina, atrás de uma porta, murro, morro ou árvore, em silêncio e paciente aguardava que outras crianças, os pais ou os adultos se aproximassem o suficiente e zás, surgia de repente e em modos espalhafatosos pregando um susto a quem chega ou está.
As crianças gostam de pregar partidas, de “tirar uma lascazinha” como se diz por aqui.


É uma vez um susto enorme que a criança nem sabe. Surge assim disposto a multiplicar-se no silêncio e no barulho. Surge na primavera quando a natureza acaricia a esperança e desengana a fartança. Aparece disposto a demorar a vida. E a criança, que gosta do susto quando o prega, confronta o adulto assustado. E o adulto, que sabe pregar um susto à criança, descobre que a criança quer fugir, que a criança desacredita no que lhe contam e quer continuar a pregar sustos, a correr, a brincar, a saltar e a sorrir.

O susto é propriedade da criança. O susto adulto é assombro, é humanidade a sofrer. Brincar com as crianças, mil vezes mil vezes, sim. Assustar as crianças com assombros, nunca.
Anda por aí uma coisa qualquer, dizem que é vírus, que a criança desmerece. Roubaram brincadeira às crianças, retiraram-lhe o melhor da alegria que elas nos entregam.

Manuel Martins

(pode ouvir o texto em:) https://1drv.ms/u/s!AsQetRjqtVuwgSknz0LQHciMpsm9


Próximos desafio: a publicar brevemente.
Continuamos a aceitar as vossas sugestões.
Bom trabalho!
Os trabalhos deverão ser enviados por email para geral@tecto-de-nuvens.pt ou tectodenuvens@hotmail.com

Páscoa 2020




sexta-feira, 3 de abril de 2020

Desafios de autores para autores: "Fotografia"





Mais uma semana, mais um desafio. Desta vez a inspiração vinha de uma fotografia (podem clicar nas fotografias para as ver melhor; depois cliquem na tecla esc para voltar aos textos).
Agradecemos aos autores pela sua inspiração e aos leitores pelas visitas. Estejam à vontade para também deixar as vossas sugestões/comentários.



as três floritas













as botas cardadas abomináveis,
dos que anseiam tempestades, e fazem do mar o escabelo dos pés,
esmagam as três floritas,

                                        que riem para o sol,
                                        e brincam entre a relva,
                                        e fecham para a noite as pétalas.

nos tormentos das águas, vivem
e nas selvas estão acordadas,
onde escutam o som dos pardais,
como quem as enamora,
vão seguindo os caracóis, que não roem,
e a folhagem que as aconchega.

mas nos tristes jardins dos homens,
sugam-nas, cortam-lhes a vida,
porque pisam a relva, pisam as três floritas,
que anunciam a esperança da vida.

mas guardá-las quando sorriem nos corações,
é obra de mãos que não estão sujas,
nem os cotovelos amarelos,
nem pés que as trincam.

e só são três floritas brancas, no meio da relva.


Joaquim Armindo

ONTEM


Ontem, ontem as crianças brincavam na rua
andavam de bicicleta pelos passeios, com loucura
Ontem elas corriam nos jardins em grande algazarra
até os ouvidos doíam pela sua farra
Ontem homens e mulheres, caminhavam apressados 
enchiam  lojas e  supermercados
amontoavam-se nas praças e nos cafés
Ontem os restaurantes estavam a abarrotar
e a noite enchia-se de gente nas ruas a desfrutar 
as praias , essas, eram tão cheias
que não se encontrava um lugar
Ontem as ambulâncias ouviam-se de vez em quando
também era o mesmo com os bombeiros
pouco nos fisgávamos nos médicos e enfermeiros
Ontem o sol nascia
a chuva às vezes caía
os risos percorriam  ruelas
em afetos de doces primaveras
os pássaros, esses cantavam,
a tarde chegava e a noite também
 e as estrelas davam a sua luz quando a lua se escondia
os olhos a tudo assistiam
sem imaginar o que o amanhã traria
Hoje, hoje !
as crianças não correm
os jardins estão tristes com rostos de  solidão
os homens e mulheres também
estão fechadas em credos pela razão
os cafés e os restaurantes estão pasmados
e o mar abraça a praia em solidariedade
pelo mundo que se encontra em confusão
O sol , esse, nasce à mesma cintilante
porém o vento  pode vir
e sopra  onde quer
ouvimos  sua voz 
sem sabermos donde vem, nem para onde vai
e o dia acontece como sempre acontece
os passaredo chilreia sem medo
à chuva ou ao sol, sem  segredo
a tarde chega, como sempre acontece
a noite vem, como sempre acontece
 e as estrelas poderão brilhar 
se a lua não der o seu luar
Amanhã, amanhã...
não sei o que vai passar
mas o dia irá nascer!
Se vai chover?!
não sei, mas tudo pode acontecer...
os pássaros irão cantar 
não têm nada que temer
a tarde irá chegar
e a noite, irá anoitecer
mas homens e mulheres, esta memória
no coração e na mente irão escrever
com tinta inapagável do quanto está a acontecer
Talvez, talvez alguns, irão agradecer
o livramento que chegou do céu
através da ciência e o hostil venceu 
em credos temerosos repetitivos
ou em orações que saem
de íntimo do coração
em louvor , amor e gratidão
mas outros, voltarão a esquecer
todo o aperto que no mundo houve
nos dias em que de novo
tiveram que aprender a viver 

Ilda Pinto Almeida


Finta

Esta noite fintarei a vida
E os seus males invisíveis
Vou dormir nas asas do amor
E trazer-te para o meu sonho
Para o aconchego
Do meu templo corporal
Dar-te-ei todos os abraços
Todos os beijos
Que a vida me proíbe
Cobrir-te-ei com a minha alma
E farei amor com o teu coração
Esta noite fintarei a vida
E os seus males invisíveis
Vou sonhar com a salvação
E lutarei contra moinhos se preciso
Juntinha a ti
Avançaremos sobre sentidos proibidos
Tocando-nos com todos os sentidos
Resgataremos o teu ser e o meu
Numa união
Num só corpo
Numa alegre purificação
Esta noite fintarei a vida
Derrotarei males invisíveis
Poderei respirar
Romper com a solidão
E tocar-nos com todos os dedos das mãos.

Maria José Moura de Castro


Foto tirada no Senegal.
TUMULTO DAS ONDAS

Murmúrios de Paisagens
Sons Transparentes Descaem, lúcidos,
Em escadaria de mármore.

Nascem palmeiras
Contra o sol Do deserto, escaldante.

Brincam crianças-azuis,
Gritando, berrando Pela Mãe-Rosa.

Esvai-se a cerveja gelada.
Como as ondas do mar
Arrefecendo na areia,
Vai-e-vem a coragem de prosseguir.

Onde pastam as estrelas Do céu pintado de cinza?
Quero brincar Com tons esbatidos de Aguarelas.

Lá, no Azul Gaivota.
Que desengano de estar…

Que assalto de desejos pueris e vãos!!

BASTOS VIANNA


Próximos desafio: Prosa - texto com um máximo de 300 palavras. Pode ser um conto, experiência, etc., começando, obrigatoriamente, pelo originalíssimo: "Era uma vez...". Textos a a enviar até ao meio-dia de quinta-feira, dia 9 de Abril 2020.
Continuamos a aceitar as vossas sugestões.
Bom trabalho!
Os trabalhos deverão ser enviados por email para geral@tecto-de-nuvens.pt ou tectodenuvens@hotmail.com

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Novo livro: O Marquês Barão de Alvito



Monografia, sob a forma de ensaio, resultante da análise e estudo documental sobre os Barões de Alvito, nomeadamente, o último Marquês-Barão de Alvito, D. José; antepassados da autora. Este trabalho de investigação da história familiar permitiu responder a algumas dúvidas sobre o destino deste património familiar, e levantou mais umas quantas questões para investigações futuras.

O Marquês Barão de Alvito - Apontamentos sobre a vida da última geração de titulares encartados -, Alexandra Forjaz
Tecto de Nuvens, 2020; 252 páginas
PVP: 18,00€

Disponível nas principais lojas online.
Pode encomendar enviando email para loja@tecto-de-nuvens.pt