
Sofia Pinto da Silva, professora e mãe de quatro filhos, concebeu uma forma divertida, e deliciosa, de nos fazer pensar sobre a alimentação e hábitos saudáveis. Com a mesma facilidade, imaginação e arte com que ilustra, pintou um conto cheio de cores, de detalhes de sensações que levam o leitor numa viagem que mexe com todos os sentidos.
Nesta entrevista explica-nos como foi possível abordar uma temática séria, ensinar uns quantos conceitos básicos de saúde e nutrição, num conto que é um regalo de imaginação - daí o seu brilhante segundo lugar no nosso concurso. Sofia Pinto da Silva, 53 anos, de voz própria e na primeira pessoa:
Conte-nos como e porquê começou a escrever,
por paixão ou por necessidade?
Se existe paixão, existe necessidade, julgo
que uma não vive sem a outra. Por isso, posso dizer que no meu caso as duas são
válidas. A paixão provoca a necessidade e a necessidade alimenta a paixão.
Comecei a escrever há vários anos, sobretudo
inspirada pelas experiências da maternidade. Sou uma mãe de quatro filhos que
sempre gostou de inventar histórias para contar. Quando todos ainda eram
pequenos fui submetida a uma cirurgia que me obrigou a ficar algum tempo
parada. Foi nessa altura que comecei a passar para o papel algumas das
histórias que há muito habitavam na minha imaginação. Muitas delas foram
acompanhadas por ilustrações minhas, outras, surgiram em forma de ilustração
que depois passou a escrita.
Qual o papel que a escrita ocupa na sua
vida?
A escrita é um lugar para o qual gosto sempre
de voltar. Posso estar muito tempo sem escrever, mas quando recomeço é como se
estivesse a voltar à casa de um velho amigo, que apesar de não me ver há muito
tempo me recebe como se ainda ontem nos tivéssemos cruzado.
E assim vou escrevendo, sem horários nem
tempo marcado. Posso dizer que a par da ilustração, a escrita é para mim um
lugar onde tudo tem cor e onde todos somos felizes.
Sempre sonhou publicar um livro?
De certa forma, sim. Quando criamos alguma coisa, seja ela em forma de
música, escrita, pintura, o fim último é que essa criação possa ser partilhada
com outros, de outro modo não faria sentido.
Este não é o primeiro livro que tenho publicado, nessa medida, este é um
sonho que já começou a tomar forma há alguns anos.
A sensação que tenho, sempre que acabo de criar uma história, é a de que
fui apenas o veículo que permitiu dar forma a uma ideia que me bateu à porta. Quando
as histórias que escrevo passam para um livro, sinto que já não são minhas, mas
de todos os que as quiserem ou puderem ler.
Gosto de pensar que deste modo posso partilhar os meus sonhos com os
outos.
Qual é a sensação que tem ao ver, agora, o
seu livro nas mãos? E em relação à capa que tem ilustração e concepção suas?
Atualmente assistimos a muitas coisas de
forma virtual, através dos nossos ecrãs. Eu gosto de pensar que há certas
experiências, como a da leitura, que saem a ganhar quando são vividas num
encontro muito pessoal entre o leitor e o toque do livro. Sobretudo se
estivermos a falar de crianças e jovens onde o contacto físico com o objeto/livro
é muito importante. Fico contente por pensar que a minha história passou para
um livro e agradeço à editora Tecto de Nuvens por o ter tornado possível.
Quanto à capa, passou por várias fases até ficar
terminada. Muitas vezes, enquanto observadores, não nos apercebemos do processo
que levou, neste caso a capa de um livro, a ganhar esta ou aquela forma. Eu
diria que é um processo quase tão complexo como o da escrita, tentar resumir
numa imagem aquilo que queremos que passe para os leitores, que os faça ter
vontade de pensar, «por que não pegar neste livro?».
Tem algum projecto a ser desenvolvido,
actualmente? Pensa publicar mais algum livro? Continua a sentir vontade de
escrever?
Tenho sempre várias coisas entre mãos,
ilustrações, textos, pinturas, que vou desenvolvendo a par da minha profissão
de professora. Claro que desejava poder publicar todas as coisas que tenho
feito, mas não é fácil. Portugal é um país muito pequeno e somos muitos a fazer
as mesmas coisas. Normalmente, quem tem uma visibilidade mais mediática é quem
sai a ganhar.
Fale-nos um pouco sobre o seu livro.
Nas escolas, todos os anos, celebramos o Dia
Mundial da Alimentação. Há uma grande preocupação com este assunto, já que
temos vindo a assistir a um aumento de níveis de obesidade entre as nossas
crianças e jovens. Pegando num tema que a todos nos preocupa, resolvi, de uma
forma divertida, criar esta aventura onde a personagem principal, Zé Limão,
embarca numa viagem até a um reino deliciosamente mágico, mas demasiadamente desregrado.
Existe alguma parte do livro, em
particular, que goste mais. Porquê?
Nenhuma em particular. Penso que a história vive como um todo.
Indique as razões pelas quais aconselharia
as pessoas a lerem o seu livro? O que acha mais apelativo no seu livro?
Talvez por ser uma história que fala de um
tema sério de uma forma mais leve. É muito importante termos hábitos de
alimentação saudáveis, mas não podemos cair no exagero. Como em tudo, o
equilíbrio é muito importante.
Espero que através da aventura vivida pelo
protagonista, pequenos e grandes leitores possam refletir sobre este tema de
uma forma mais divertida.
Qual é o seu estilo de escrita ou que tipo
de mensagem gosta de passar no que escreve?
Não sei definir o meu estilo de escrita.
Nunca se é bom advogado em causa própria. Posso talvez salientar uma
característica que penso que está presente em quase tudo o que escrevo, que é o
sentido de humor.
Eu não vejo a escrita como uma forma de
passar mensagens, mas antes como uma forma de levantar questões que cada um
responderá à sua maneira. Temos em nós a capacidade de mudança e a escrita,
assim como todas as formas de arte, pode servir para nos questionar, para nos fazer
olhar para as coisas de uma nova perspetiva. Tenho a certeza de que cada um
retira mensagens diferentes de um mesmo livro.
Qual o papel das redes sociais na vida e na
divulgação da obra de um autor? E na sua?
Por opção, não tenho redes
sociais, embora tenha a noção da sua importância para a divulgação de obras e
de autores. É uma questão que ainda estou a equacionar.
Gosta de ler? Que tipo de leitor é que é?
Não sei se me enquadro em algum tipo
específico de leitor. Gosto muito de ler poesia, por exemplo. Neste momento
confesso que prefiro ler livros menos longos para ter a certeza de que os vou
acabar. O trabalho de professor por
vezes esgota as nossas forças, por isso, a disponibilidade para criar momentos
de leitura nem sempre é a que desejaria.
Deliciosamente Mágicos; Sofia Pinto da Silva
PVP: 8,00€
58 páginas, capa mole; Tecto de Nuvens, 2023
Zé Limão tinha sido habituado a uma alimentação saudável e regrada, mas, um dia, tudo mudou.
Quando descobre o imenso mundo dos paladares, até então desconhecido, embarca numa mirabolante aventura que o conduz até ao reino “Deliciosamente Mágico”.
Será que neste reino tudo é tão doce e saboroso como imaginou?
Livro disponível nas principais plataformas nacionais e internacionais e na nossa loja online.
Pode encomendar enviando email para loja@tecto-de-nuvens.pt