sexta-feira, 25 de abril de 2025

Um dia com... Ilda Pinto Almeida em "Mexe-te e vive!", nos 51 anos do 25 de Abril

  "Um dia com..." é uma espécie de página de diário, real ou fictício, aqui cada autor pode fazer o relato de um episódio, fazer uma reflexão, colocar um pensamento, uma foto...

Estará disponível todo o ano, independentemente de outros projectos a correr aqui no Blogue. E está aberto a todos, se tiver algo que queira partilhar, pode enviar para geral@tecto-de-nuvens.pt ou tectodenuvens@hotmail.com indicando no assunto "Um dia com...". Podem enviar quantas participações quiserem.

Em mais um 25 de Abril, uma reflexão sobre os abris, vinda do outro lado do Atlântico (por cá, como sabemos, adquiriu-se o direito de não responder aos emails fora do horário laboral; adquiriu-se o direito, não sei se é já um direito adquirido...).


Com a aproximação dos 51 anos de Abril, e ainda em festa pelo seu meio século de Abril, não pude deixar de fazer uma analise aos abris. Palavra que significa primavera, juventude e vida, e que com certeza houve em tantos outros lugares, não precisamente em abril, mas em outras primaveras sonhadoras de melhor vida. Desta forma, desejar-lhes um 25 de Abril sonhador :)


MEXE-TE E VIVE!


"Mexe-te e vive", diz o mundo
Enquanto te empurra para a estrada do stress
Onde a velocidade é a regra
E a pausa é sinónimo de fracasso

“Mexe-te e vive”, mas não esqueças
De pagar as contas, de cumprir as metas
De ser um robô eficiente, sem sentimentos
E de sorrir, mesmo quando isso te afeta

“Mexe-te e vive", diz o sistema
Enquanto te suga os ossos e te deixa sem sono
Onde a conformidade é a regra, não há sonho
E o protesto é um crime que te deixa com algemas

“Mexe-te e vive”, é o lema da era
Onde a liberdade é uma ilusão, uma farsa
Onde a vida é uma corrida, um jogo de sobrevivência
E onde o prémio para alguns é... mais trabalho!

“Mexe-te e vive” diz o cobrador
Enquanto te cobra os chorudos impostos
E a reforma e o ordenado ficam na mesma
Onde custo de vida te atrofia e o C.O. fica com os bónus

“Mexe-te e vive”, é o lema da máquina
Onde a saúde mental é um mito, uma lenda
Onde a liberdade é uma ilusão, uma miragem
E a sociedade está perdida na inercia do sistema
Onde o prémio é... mais da mesma coisa!

"Mexe-te e vive", diz o chefe
Enquanto te dá mais trabalho e o mesmo salário
Onde a produtividade é a regra
E a criatividade é um luxo que não se pode pagar

“Mexe-te e vive”, mas não te esqueças
De responder aos e-mails às 3 da manhã
De ser um super-herói (ina) do trabalho, sem falhas
E de sorrir, mesmo quando a vida te parece um pesadelo
Onde a vida é uma corrida, um jogo de sobrevivência
E onde o prémio é... mais da mesma coisa!






quarta-feira, 23 de abril de 2025

Dia Mundial do livro_ Desafios de autores para autores: Abril - TEXTO VENCEDOR -

A ilustração do cartaz é da autoria de Rachel Caiano, distinguida com menção honrosa no Prémio Nacional de Ilustração 2024.

                                                                     

O desafio para este mês é livre, um pequeno texto, com menos de 20 linhas. sobre o que quiserem, seja um livro que vos tenha marcado, um pequeno conto de vossa autoria, um pensamento (que pode vir acompanhado de uma foto tirada por vós); o início de um livro que planeiam escrever (ou já escreveram, mas ainda não publicaram)...
Neste dia, em prosa, celebraremos a palavra escrita como forma de comunicação, de expressão de sentimentos, de companhia, de forma de viajar (pela memória, por exemplo), etc.
Como habitualmente, por ser Abril, se alguém se sentir particularmente inclinado a escrever sobre o 25 de Abril e/ou a liberdade (ou liberdades), também o pôde fazer.


Lembramos que até ao dia 15 de Maio teremos uma votação a decorrer para encontrar o poema favorito dos leitores.
Como habitualmente, as votações serão feitas usando a caixa de comentários (já sabem que tem moderação pelo que os comentários/votos não ficam visíveis de imediato), não há limite para o número de vezes que podem votar ou em quem votar, apenas se espera algum bom senso (e apesar de aceitarmos que no blogue as votações ficam anónimas, só validaremos os votos após recebermos por email a identificação do votante e forma de contacto, assim que lhe atribuirmos um número).
O autor do texto mais votado escolherá do nosso catálogo de Prosa um exemplar do livro que mais lhe agradar; e o mesmo sucederá com o comentário/voto sorteado de entre os votantes identificados.

E chegou ao fim mais uma votação(?). Tivemos 4 votos e só dois foram validados... Contudo, houve unanimidade nesses dois votos e o texto vencedor (com toda a certeza apreciado por muitas mais pessoas) é o "Confidências", da Maria João Amaral Graça. À autora, os nossos parabéns!
Quanto ao votante, recorremos ao número de sonho do Eurodreams de 15 de Maio, o número 2, pelo que o votante premiado é o votante nº 2. Também para ele os nossos parabéns.
Muito em breve vão poder escolher um livro do nosso catálogo de prosa.
Aos autores resta agradecer mais uma participação e dizer-lhes que apesar dos votos não o mostrarem, os textos foram lidos por imensa gente.

(6) Abril primaveril (pensamentos)

Março de 74 anunciava novos ventos:

Marcelo exclamou - “E eis que chegou a primavera”. “Começou com a PIDE e os dias cinzentos”.
Mas algures um militar dizia - “Mas o sol virá quando menos se espera”.
Ao que outro mais letrado replicou – “Quer faça sol ou um belo luar. A brisa soprará funcionando como defumo. Inebriando uma nova perspectiva no olhar; despoletando a intuição a indicar o novo rumo.”.
Outro mais erudito respondeu “Seja no oceano ou num rio a correr. Que a primavera traga coragem para ultrapassar os obstáculos que nos prendem de crescer.”.

Que a liberdade de Abril nos faça sonhar

Com a fórmula de não vivermos acorrentados
Mas sem nunca nos levar ao próximo desrespeitar
E a nos podermos exprimir mas sendo moderados.

Aníbal Seraphim


 (5) dona miquinhas do senhor samuel

é necessário frisar que estou a escrever sobre a dona miquinhas do senhor samuel.

porque mesmo abaixo da sua casa existia a miquinhas dos alhos. a casa dela. claro. o senhor samuel era raro vê-lo em casa. saía de manhã para o trabalho. quando voltava já era de noite. tinham uma filha casada. com um senhor da judiciária. a dona miquinhas do senhor samuel uma vez por semana ia a casa dela. e era aí que nós aproveitávamos. nós a rapaziada. no seu quintal havia ao fundo a retrete. como era normal. mas também um coberto. na frente deste uma figueira. ora bem. o interesse pelo quintal da dona miquinhas eram os figos. da figueira. na casa dela era um amontoado de móveis. uma grande mesa. nunca usada. em cima da parede um lindo relógio de pêndulo. para dizer mal. quase que não se podia passar para o quarto. este tinha uma cortina a separar a sala. onde estava a mesa grande. do lado esquerdo. quem entra. era uma cozinha. e no meio. entre a cozinha e o quarto ficavam os degraus. uma escada que dava para um quarto em cima. a casa estava bem equipada.
mas não era disto que queria falar. perdi-me. era dos figos. quando era altura deles. do quintal da miquinhas dos alhos. que nunca estava em casa. passávamos para os figos. e seja dito. limpávamos os figos maduros. mas a nossa alegria era quando chegava a dona miquinhas do senhor samuel. não via figos. protestava. nós de nada sabíamos. eramos muito mentirosos. então ia de casa em casa. e fazia queixa aos vizinhos. era uma alegria para nós. e ainda é. passados tantos anos.

joaquim armindo

dia do livro de 2025

 (4) o senhor cândido

o senhor cândido morava na quarta casa do meu bairro. porque aquilo não era uma ilha. mas um bairro. de pobres. ou remediados. como se dizia. então. lembro-me muito bem. uma casa e um pombal no quintal. porque cada casa tinha um quintal. ainda que a retrete fosse no fundo do quintal. mas era. para se fazer xixi era num bacio. que se despejava na retrete. não havia chuveiro. mas existiam bacias. onde se tomava banho. estou já a desviar a conversa. vamos lá. o senhor cândido vivia com a esposa. quatro filhos. uma era filha. os filhos o telmo. viria a ser presbítero da igreja lusitana. porque todos íamos ao torne. ou quase todos. à escola primária e à igreja. aliás o bairro pertencia à igreja. e ainda pertence. mas o telmo já tinha mais idade que eu. era dos grandes. ainda andei com ele num curso de teologia. foram uns cinco anos. depois havia o nélson. este já da minha idade. jogávamos à bola. na rua. claro. há muito tempo que não o encontro. encontrava-o nas manifestações. ele era de esquerda. e depois o tono. muito mais novo. não me lembro do nome da filha. nem da esposa. o telmo casou. veio residir na maia. com a isabel. ainda falo com ela de vez em quando.

mas o mais importante de tudo era o pombal. pombas muitas. concorriam a concursos. lembro os assobios do senhor cândido. os assobios era para chamar as pombas. depois ficava registado numa máquina os tempos que demoravam. na corrida. quem vencesse tinha um prémio. não sei o que era. mas era uma vida curiosa. que agora não vejo. nem tenho de ver. era o nosso bairro. que não era uma ilha. com o senhor cândido e as suas pombas.

 joaquim armindo

dia do livro de 2025

 (3) Acasos

Acho que há acasos que podem salvar-nos a vida. Os cinco minutos de atraso que evitam que passemos num determinado local. O momento em que nos apercebemos de que nos esquecemos de algo em casa e voltamos atrás. Ou quando nos enganamos e seguimos por outro caminho. E, ao fazermos tudo isto, escapamos a um acidente. É verdade que o contrário também pode acontecer, mas eu, que sou optimista, prefiro pensar positivamente.

23h. Alameda das Linhas de Torres. Sou professora. Terminei as aulas. Despedi-me da turma.
Entro no carro. Saio. Não há trânsito. O semáforo está verde. Vou a ouvir rádio. O meu filho ia estar fora. “Dá-me um toque quando chegares. Eu não atendo, um toque apenas para saber que chegaste bem”; - tinha-lhe pedido, receosa da viagem demorada que ele iria efectuar. Aproximo-me do cruzamento. O telemóvel toca. Abrando instintivamente, como se isso me permitisse ouvir melhor.
Às 23h o meu filho decidiu ligar-me. Às 23h reduzi a velocidade. E, ao fazê-lo, evitei, por centímetros, o carro que passou o sinal vermelho, a alta velocidade, no cruzamento.
Às vezes pergunto-me...

 Lígia Dantas

Abril 2025

 (2) Felicidade

Contei sete crianças e dois adultos ainda jovens (segundo o meu conceito de juventude). Ao meu lado na praia, montaram guarda-sol e abrigos de vento, pousaram geleiras e mochilas, espalharam toalhas. Pensei tratar-se de um casal com filhos e sobrinhos, ou amiguinhos dos filhos. Percebi que não. Eram sete filhos. Fiquei fascinada com a alegre algazarra. Imaginei a logística: as camas a fazer de lavado, as compras no supermercado. Pensei nas brincadeiras, nos risos antes de dormir, nas conversas cruzadas à mesa.

Mais à frente, uma senhora sozinha, com um fato de banho azul escuro e um chapéu largo, lia tranquilamente um livro que interrompia de quando em vez para olhar o mar.
Um pai e um filho louro saltavam sobre as ondas, divertidos. O pai passava a mão pelo cabelo do menino, despenteando-o. Davam abraços apertados. Não sei se eram sempre só os dois ou apenas naquele momento. Não sei se ao final do dia se separariam e aguardariam pelo próximo encontro, com o coração a transbordar de saudade. Fosse como fosse, era evidente o amor que os unia.
Quase de saída, reparei num casal de mais idade, a lutar com uma tenda igual à minha - daquelas que nos garantem serem fáceis de desmontar. Percebi que ele dizia graças de que ela se ria com gosto, que se olhavam por cima do tecido impermeável da tenda que teimava em não fechar. Recordei-me de tê-los visto de mão dada, à beira-mar. Não faço ideia se estariam juntos há muitos anos, mas, muitos ou poucos, pareciam bons.
Pensei o que penso muitas vezes. Que a felicidade pode ser muitas coisas. 

Lígia Dantas

Abril 2025

 

(1) Confidências

Após quinze anos afastada da casa materna, Raquel viajou

de Londres até Lisboa, para rever a mãe, mas ao contrário de
beijos e abraços calorosos, encontrou uma moradia vazia e
sombria, desprovida de calor humano. No quarto da falecida,
entre o espólio de memórias perdidas pelos móveis,
descobriu a fotografia de uma jovem com o rosto semelhante
ao seu, e que tinha algo escrito atrás:
G rande é o meu tesouro
  E xtraordinária bênção de Deus
  M uito mais precioso que o ouro
  E ao qual tive de dizer adeus
  A maldiçoada foi a minha sorte
  S entirei amargura até ao dia da minha morte.
Rute, espero que me possas perdoar, um dia, e que a vida
encontre forma de aproximar o que o destino quis separar. As
minhas filhas gémeas, Rute e Raquel”.
Um segredo revelado num poema comovente, cujas palavras
desconcertantes produziram em si um sentimento diferente.
Regressara com a intenção de reconquistar o amor da mãe, e
partia com a certeza de que na sua vida existia mais alguém.

Maria João Amaral Graça




quinta-feira, 3 de abril de 2025

Desafios de autores para autores: Abril - Dia Mundial do livro

 


A ilustração do cartaz é da autoria de Rachel Caiano, distinguida com menção honrosa no Prémio Nacional de Ilustração 2024.

O desafio para este mês é livre, um pequeno texto, com menos de 20 linhas (podem usar uma folha A5 como referência) sobre o que quiserem, seja um livro que vos tenha marcado, um pequeno conto de vossa autoria, um pensamento (que pode vir acompanhado de uma foto tirada por vós); o início de um livro que planeiam escrever (ou já escreveram, mas ainda não publicaram)...

Neste dia, em prosa, celebraremos a palavra escrita como forma de comunicação, de expressão de sentimentos, de companhia, de forma de viajar (pela memória, por exemplo), etc.
Como habitualmente, por ser Abril, se alguém se sentir particularmente inclinado a escrever sobre o 25 de Abril e/ou a liberdade (ou liberdades), também o pode fazer.


Envie os seus trabalhos para geral@tecto-de-nuvens.pt ou tectodenuvens@hotmail.com

sábado, 22 de março de 2025

Vaidosicezinhas XXII

Em 2025, o tema central do evento será a Arte, Ambiente e Ruralidade, procurando explorar áreas como a sustentabilidade, a cultural local e a educação ambiental. Os aspectos focados na Ruralidade vão incidir na génese do património que as gentes da região Alentejo transferiram de geração em geração, até aos nossos tempos.
As obras poderão ser visitadas no Parque de Feiras e Exposições, bem como no Centro Ciência Viva e no Museu Berardo. A próxima edição contará com diversas atividades como workshops, conferências, residências artísticas e participação das escolas.
A BIALE 2025, irá reunir obras de vários artistas nacionais e internacionais, decorrendo entre 21 e 30 de março de 2025, em Estremoz.

E é em Estremoz, acabada de chegar dos Estados Unidos, que encontramos a autora e artista plástica Ilda Pinto Almeida a partilhar, mais uma vez, o seu talento, para aproveitar e reaproveitar matérias primas e tornar em arte os mais diferentes materiais, de forma sustentável, ecológica e muito artística.
Quem tiver oportunidade tem nestes dias do evento muitas actividades, palestras e a exposição, tudo até 30 de Março. E claro, a oportunidade para ver ao vivo e a cores o trabalho da Ilda Pinto Almeida.





quarta-feira, 19 de março de 2025

Novo livro de Nina Pianini: "Como uma moeda muda a vida", em promoção de pré-lançamento

 Nina Pianini está de volta com um livro para os mais jovens (e para os menos jovens, também…):


A lançar a 2 de Abril, 2025, Dia Internacional do Livro Infantil, mas até ao final do dia 1 de Abril de 2025 poderá adquirir o livro com 25% de desconto e com oferta dos portes para Portugal Continental se comprado em conjunto com o outro título da autora:



1) PVP: 12,50€ = 9,38€ + portes
2) PVP: 12,
05€ + 10€ = 22,50€ = 19,38€ c/oferta dos portes*






Como uma moeda muda a vida – - O poder de uma única moeda - contos - , Nina Pianini
142 páginas, capa mole, Tecto de Nuvens, 2025 (Abril) PVP: 12,50€

Já pensou no valor que o dinheiro assume na sua vida? Desde muito cedo, o dinheiro está presente na nossa existência. Cada um destes contos leva-nos a questionar, e refletir, sobre posturas e perspetivas diferenciadas perante o dinheiro.


«Depois de se deliciarem com a parte que lhes calhou da enorme fartura, correram para a barraca dos sumos.
- Já sabem só podem gastar uma moeda em cada barraca!- Relembrou o pai.

Riram, enquanto todos bebiam um gole do sumo.
Repartir era uma boa alternativa…
E, concluíram:

“ Uma moeda é melhor que nada!”»



*Apenas em entregas em Portugal Continental

sábado, 8 de março de 2025

Desafios de autores para autores: Março - Dia da Poesia

 



Os desafios de Poesia têm, desde já, a recepção aberta com o prazo a terminar ao final do dia 20, quinta-feira. Estarão online no dia 21 de Março, data em que as votações abrirão (serão encerradas a 15 de Abril, 2025).

O tema é livre, mas quem quisesse poderia assinalar o Dia da Mulher.
Os textos não têm premio especial, serão avaliados juntamente com os outros, mas, por graça, levam esta imagem e ficam, desde já, disponíveis.


Lembramos que do dia 21 de Março e até ao dia 15 de Abril teremos uma votação a decorrer para encontrar o poema favorito dos leitores.
Como habitualmente, as votações serão feitas usando a caixa de comentários (já sabem que tem moderação pelo que os comentários/votos não ficam visíveis de imediato), não há limite para o número de vezes que podem votar ou em quem votar, apenas se espera algum bom senso (e apesar de aceitarmos que no blogue as votações ficam anónimas, só validaremos os votos após recebermos por email a identificação do votante e forma de contacto, assim que lhe atribuirmos um número).
O autor do texto mais votado escolherá do nosso catálogo de Poesia exemplar do livro que mais lhe agradar; e o mesmo sucederá com o comentário/voto sorteado de entre os votantes identificados.

Encerradas as votações, temos um empate dado que o último votante não se identificou...
Assim os nossos parabéns para a Dulce Sousa (Primavera) e para a Lígia Dantas (Dádiva), curiosamente, os textos 12 e 1 (último e primeiro). Vão ambas receber o nosso catálogo de Poesia de onde poderão escolher um título.
E com tão poucos votantes, fizemos um sorteio simples entre os que se identificaram. O número sorteado foi o número 5. Parabéns à votante, também ela receberá o nosso catálogo de Poesia para escolher o livro.

(12) Primavera


A natureza acordou
Do profundo adormecer
A vida que hibernou
Volta p’ra florescer!

As boninas nos caminhos
Ou dispersas pelos campos
Dão guarida às joaninhas
Outros insetos, que tantos!

O sol acorda mais cedo
P’ra dar vida a todo o ser
O lagarto, a cobra, a medo,
Tornam a aparecer!

As andorinhas voltaram
Tanta vida a enxamear!
Os rouxinóis encantaram
Com o seu belo trinar!

Primavera traz surpresa
Um fascínio! Alegria!
Borda a cores, a natureza
Sons, perfumes, poesia!
Dulce Sousa

(11) Flor em botão


Que magia! Que feitiço!
Deslumbre da natureza
A espiar cheio de viço
Espetáculo! Beleza!...

Paro!... Olho deslumbrada!
Eis um projeto em botão!
Fico muda … deliciada
Toco-o na minha mão!

Uma futura promessa
De um capital bem maior!
A sorrir! A toda a pressa
Ser fruto, após ser flor!

E com pujança também
Outros com igual valor!
Carregam a árvore mãe
Em todo o seu esplendor!

Dulce Sousa


(10) neste dia onde falamos de ti

 

sabias que tens um dia,
um dia ensolarado,
onde os peixes te sorriem,

    e as fadas te anunciam,


os muros desmoronam
e as pistolas se quebram,

    as fardas essas se consomem,

em línguas de fogo

    luzidio. 


tu tens um dia, na liberdade de seres
os clarins de uma nova,
não precisando de licenças,

 

tu tens um dia poema,
onde cantamos e dançamos,

    nas praias ou nas florestas


andando e caminhando,
nos becos e nas avenidas,
nas ruas e nas praças,

    da liberdade,

 em ti.

joaquim armindo

21/3/2025

 

(9) uma carta ao meu pai

 

como tu sabes pai, hoje é o teu dia,
não que os outros não sejam,

    mas é um dia especial,

 

por aqui, olha, as guerras continuam,

mas com o teu sorriso,

    queremos as aniquilar,

 

sei que também queres isso,
e o sol nasça para todos nós,

    como um ribeiro florido,

 

as flores continuam a nascer,
os teus bisnetos também,

    sei que os querias ter nas tuas mãos,

e tens, como sabes, o sorriso do james,

ou da menina que vai nascer,

    estás com eles, também sei,

 

eu sinto-te nas minhas mãos,
das vidas que construímos,

    com o teu sorriso,

    ao lado das marés,
que vivificam o poema,

pronto, deixa lá, queria escrever-te hoje.

joaquim armindo

19/3/2025

 

(8) A volumetria da solidão 


Consegues medir o quão vazia é a tua solidão?
Acordares sozinho e não teres a quem dar a mão?
Saberes que é sábado e teres trabalhado a semana inteira até às desoras?
Saberes que já não és casado nem sequer namoras?
Sentires que te deitas sozinho com um copo de vinho do porto na mão?
Que abres a cama e que vês apenas uma fronha e um edredão?
Acordas a um domingo e sabes que vais sozinho almoçar?
Chegas ao domingo à noite e não tiveste ninguém com quem falar?
A volumetria da solidão
Tem uma profunda razão
Porque ousaste um dia aprender a dizer que não
E nesse dia aprendeste uma enorme lição
Que passaste uma vida inteira a todos agradar
Sem parares para em ti pensar
Esta é a história do Aníbal Seraphim
Que passava a vida a dizer que sim
Agora fica sozinho na praia a contemplar o mar
Sem ter um carinho no encanto das noites de luar

Aníbal Seraphim

 

(7) RIO DO ESQUECIMENTO

 

Diz-me, rio que me corres no peito,
Da longe aldeia onde cresci;
Se inda o melro canta ali
Melodias a seu bel-jeito.

 

Diz-me das searas a bailar,
Longas tranças de oiro ao vento;
Do bosque sombrio, sonolento,
Onde me eu deitava a sonhar.

 

Diz-me de tuas fragas agrestes
E das frias fontes cristalinas
De onde te lançaste às ravinas
Beijando cardos e giestas.

 

Diz-me do sino solitário,
Se inda o ouvem as crianças
- Ou não são mais que lembranças,
Folhas soltas do meu diário.

 

Diz-me dos povos, diz-me dos prados...
Vida ofertaste pelo caminho:
Alfazema, rosmaninho,
Lebre e raposo irmanados.

 

Traz-me, rio, a canção, o cheiro
Da terra que não esqueci;
Mis lágrimas esconde em ti,
De saudade morra eu primeiro.
                                                                                                                        Ana Ferreira da Silva

 

(6) CANÇÃO DE LIANOR

 

Descalça desce ao rio Lianor menina
- Trancinhas de noite, nos olhos as estrelas,
Candeias de África, luzes tão belas –
Saltitando vai descendo a ravina.

 

Ágil gazela que ao Sol despertou,
Cantando em coro, a água vai buscar;
De regresso o carrego a faz vergar,
Sonha com o poço que alguém lhe contou.

 

E vai sonhando Lianor acordada,
Poços, rios, ribeiros, o mar sem fim;
E para aliviar a sede do capim,
Chuva, chuva, muita chuva abençoada.

 

E sonha Lianor com livros que leu
Na escola da missão, no ano passado;
E ao anjo pede, que caminha a seu lado,
Rede de cipó para dormir lá no Céu. CANÇÃO DE LIANOR

 

Descalça desce ao rio Lianor menina
- Trancinhas de noite, nos olhos as estrelas,
Candeias de África, luzes tão belas –
Saltitando vai descendo a ravina.

 

Ágil gazela que ao Sol despertou,
Cantando em coro, a água vai buscar;
De regresso o carrego a faz vergar,
Sonha com o poço que alguém lhe contou.

 

E vai sonhando Lianor acordada,
Poços, rios, ribeiros, o mar sem fim;
E para aliviar a sede do capim,
Chuva, chuva, muita chuva abençoada.

 

E sonha Lianor com livros que leu
Na escola da missão, no ano passado;
E ao anjo pede, que caminha a seu lado,
Rede de cipó para dormir lá no Céu.

Ana Ferreira da Silva

 

(5) ao som do sol para ti

 

sabes de onde vêm as borboletas,
do sol, da lua e das estrelas,

deste cosmos imenso

de onde parte o infinito

ali tu estás procurando e dando
infinitamente,
as raízes do campo, dos mares e dos areais
que em teu corpo existem,
onde realizas o teu fogo, da boca uma onda

grande, como nos temporais,

embriagas os mais pequenitos

e os grandes também,


a tua voz poeta
                                  ao som dos bandolins e dos tambores

e das flautas, também dos acordeões,

dos foguetes e da música,

festejas a vida,
que sai de ti, para ti,
para os outros,
neste mundo onde vai faltando a vida.
 joaquim armindo
16/3/2025

  

(4) QUERO-TE LIVRE!

 

Quero-te, coração, livre;
Gaivota de prata em plúmbeo céu de Inverno,
Salados ventos cruzados rompendo,
Incandescente glória do ocaso demandes;

 

Quero-te afoita andorinha migrante,
Do remoto voo almejado destino celebrando;
E paciente, teu refúgio em impensados beirais
Ao ódio inacessível edifiques.

 

Quero-te
Ave canora de esplendorosa plumagem ou negro melro,
Cantes elevados hinos ao amor,
Consolação de almas separadas por crua guerra.

 

Quero-te altaneira águia ou pequeno falcão,
Do infinito com teu olhar doirado sigas
A humana escravidão de grilhões ou palavras,
Todo o sofrimento e suas razões.

 

E então, coração meu,
Gaivota, andorinha, canora e rapina,
Com os caminhos da vida diante de ti rasgados,
Escolher hás o mais incerto e pedregoso;

 

E quando te eu vir
O corpo dilacerado, as asas quebradas,
Teu olhar contudo firme em teu anelo,
Saberei que terás provado o doce fruto que buscavas:

Saberei que terás encontrado o caminho da liberdade.

 Ana Ferreira da Silva

  

(3) maria o nome do mar azul


como maria sobe a chorar,
vendo o seu filho morrer,
também todas as marias,
                           as mulheres de todo o mundo,
                           seja este o seu nome ou não,
sobem os pedregulhos da vida,
vendo morrer, os seus filhos, os seus netos,
                           nas guerras que os senhores
                           do dinheiro inventam
e invadem as fronteiras dos países.

sem habitação, com fome, esventrados,
caiem no chão da indiferença humana,
                           quais eucaliptos sem água.

mas as moliceiras nos seus barcos,
de água corrente,
                           não morrem e lutam
                           como só as marias o sabem,
por nós, todos e todas,
sem as amarrações constantes,
                           dos mares da vida.

neste oito de março do ano de dois mil e vinte e cinco,
saboreemos as ondas do mar,
                            trazendo consigo as marias,
                            do meu Portugal,
                            de todo o mundo habitado,
para erguermos os sons dos passaritos,
anunciando o tempo novo,
onde os cativos dos poderes,
                          políticos ou eclesiásticos,
                          ou culturais e ambientais,
                          mas também sociais e económicos,
não mais encontrem sorvedouros das luas e do sol.

só as marias o sabem fazer!
joaquim armindo
8/3/2025

(2) Mulher...


Como tu te sabes doar!
Amas, amas sem medida!
Na profissão ou no lar
Sempre pronta a trabalhar
Amas, geras dando vida!
Tens sonhos e não descansas
Jamais aceitas um não!
Não desistes, não te cansas!
Adversidades! Andanças!
Procuras a solução!
Lutas pelo teu ideal
Força tens! Determinação!
Como tu, não há igual!
Nada te enreda afinal
Que grande teu coração!
Pareces frágil! És forte!
És criadora de vida!
Não acreditas na sorte
O trabalho é o teu “Norte”
E não te dás por vencida!
O mundo em homenagem
Sabendo-te mais-valia
Enaltece a tua imagem
Mulher! Mãe coragem!
És fonte de alegria!

Dulce Sousa

(1) Dádiva

Era madrugada
quando te conheci.
Um rosto frágil
De olhos imensos.
Uma emoção desconhecida,
Avassaladora.
Um amor tão forte,
Imediato,
Que nem sabia possível.
Nunca poderei esquecer aquela noite.
Nunca, até então, me sentira tão feliz por ser mulher.
Estavas nos meus braços,
Junto ao meu peito.
Abracei-te com ternura.
Cheguei o meu rosto ao teu.
E agradeci a Deus
Pela maior dádiva da minha vida.
Amo-te, filho!

Lígia Dantas
Fevereiro 2025