Em pleno Verão e no mês do nosso aniversário, nada mais simpático de enviarmos postais das nossas férias uns aos outros...
Podiam usar uma foto de férias passadas, com uma breve legenda ou comentário; podiam expressar um voto de férias; falar de umas férias de sonho (já realizadas ou em projecto - sim, mesmo que seja a Marte ou à Lua); contar um episódio de férias. Usando imagens, podendo escrever em prosa ou em verso, o desafio deste mês servia de caixa de correio à disposição dos autores para enviarem os seus postais.
A leitura e votação dos postais vai ocorrer até ao final de Agosto.
Os nossos leitores serão os juízes e escolherão, a partir dos postais de cada autor, qual o destino de férias favorito.
E como é mês de aniversário, as mãos estão mais que largas com as
prendas...
O autor do destino de férias mais premiado recebe o livro "Uma manhã na praia".
De todos os votos recebidos até 31 de Julho sortearemos um para também receberem o livro..
De todos os votos recebidos entre 1 e 31 de Agosto de 2024, sortearemos um votante para receber o livro "Na areia de uma praia qualquer".
Mas... o troféu que é almofada emoticon está disponível para todos, autores e votantes que usando os comentários (pode ser em simultâneo com o voto) nos digam para que local de férias (real ou imaginário, contemporâneo, do passado ou do futuro) levariam a almofada de férias (vai convosco, naturalmente). O comentário mais original será o premiado.
E pode ser que ainda haja mais umas menções honrosas...
- Já sabem, votam usando os comentários (são supervisionados, terão que esperar que um humano - que não esteja de férias - os valide). Podem votar mais do que uma vez (desde que com moderação) e se, por engano votarem duas vezes, deixem ficar o voto, não o retirem depois de publicado. É que quando é publicado o voto já foi atribuído e contabilizado. Identifiquem os votos pelo local de férias. -
Ah! E boas férias!
Nota: Um problema com o servidor externo ligado às contas de email do site fez com que vários emails tivessem sido devolvidos, por esse motivo, para sermos justos, vamos aceitar trabalhos (postais) que nos cheguem até ao final da tarde de 15/07/2024.
Os postais 1 a 3 foram enviados do mesmo local, isto é, contam uma única história, mas não podemos esticar postais houve mesmo necessidade de dividir. Sendo assim, os votos para 1,2 ou 3 serão sempre considerados como votos para Aswan (aliás os votos deverão, idealmente, indicar o local de férias, não o número ou o autor).
Terminado o primeiro período de votações (31/07/2024) não foi necessário fazer nenhum sorteio para atribuir o livro "Uma manhã na praia", dado só ter havido um voto. O livro vai para Aníbal Seraphim. Parabéns!
O prémio será enviado em data a combinar.
Esperemos que haja mais votos durante este segundo mês de votações e, claro, mais sugestões sobre o local onde a almofada emoticon deve ir passar férias.
Começou torto e terminou torto o período de apresentação de trabalhos e de votações, talvez por não termos usado os correios para o envio dos postais, acabamos por ficar à mercê dos caprichos dos emails... Não sabemos até que ponto isso afectou as votações ou se as férias fizeram adiar o voto e a sugestão de um destino para a almofada, mas é o que temos...
Assim, o texto vencedor é "Boas férias! (Na Alemanha) de copo na mão!", de Aníbal Seraphim. Parabéns!
E a almofada vai para o único destino que lhe foi proposto, que na verdade, para sorte dela, era uma longa viagem com início no Japão, com passagem depois pelo Mali, seguido do Butão, a caminho do Peru. Boa viagem almofada, numa primeira fase ao encontro do seu guia turístico Aníbal Seraphim. Parabéns e esperamos fotos dessas viagens...
Ainda esta semana sortearemos qual votante recebe o prémio de Agosto.
Com apenas dois votos nesta segunda fase do Desafio, optamos por colocar os dois números a sorteio, bem agitado, o número que saiu foi o 2. Parabéns à Alexandra Carneiro!
Na próxima semana serão enviados os prémios.
6) Boas férias! (Na Alemanha) de copo na mão!
Gosto
de lugares inusitados, que pelo comum dos lusitanos não são visitados. Vai daí,
e após vários anos consecutivos a visitar as feiras de natal da
Alemanha, resolvi fazer umas férias estivais germânicas e de copo na mão, que é
como quem diz, explorando novas castas, com moderação.
Destino
Rio Mosel!
Os
seus 560 quilómetros estendem-se desde o nordeste da França, passa pelo
Luxemburgo e percorre a região oeste da Alemanha. A parte principal da
viagem foi percorrer o serpentear desde Trier até Koblenz. Pelo caminho,
fui provando o famoso vinho servido bem fresquinho, um branco com um sabor de
espanto. Espanto e admiração por cada gole de degustação!
Riesling
é a principal casta, que se bebe sem se conseguir dizer basta. Se não fosse o
facto de não se ouvir a falar Português e o pouco teor alcoólico que não causa
embriaguez, havia momentos que parecia que estava em casa, a percorrer o Rio
Douro, com os seus socalcos, que são um patrimonial tesouro.
E
o odor? Hummmmm um cheiro a mosto que ao sentirmos durante a manhã, levantar
até dá gosto.
A
paisagem é deliciosa e cheia de harmonia, com as suas suaves curvas a
embalar-nos como se estivéssemos em sintonia, uma sintonia contagiante, pois
avistamos belos castelos a cada instante, ou majestosas ruínas que
denunciam um passado de mansões finas.
As
joias da coroa da viagem foram para Cochem e a apaixonante Bernkastel-Kues,
local onde pernoitei e me disseram, em bom alemão, que fui o primeiro hóspede
Português a dormir lá…
Se
o que me disseram foi verdade, fez-me sentir lisonjeado, mas não me posso
esquecer que nessa noite cheguei a andar de lado, porque após as várias
provas da tarde na pequena vila de Zell me fizeram ter uma alucinação, pois vi
um gato com um copo na mão.
Que
dizer dessas já distantes férias? Que foram umas belas cargas etílicas e que se
traduziram numas férias idílicas. Passear de copo na mão? Porque não? Não é
para todos, eu sei. Mas também gosto do inusitado e de viajar por todo o lado.
Aníbal Seraphim
5) Boas férias! "cheias de livros."
uma mão cheia de livros. não uma mala. quero dizer. são livros de tantos meses. não tive tempo de ler. agora vou ter. mas existem os livros do ano passado. o tempo não é para os livros. ano a ano. são as férias. que nos convencem a fazer o que devíamos ter feito. ler. ler os livros. eles nos ensinam a saborear a vida. e as férias também. os livros saboreiam o mar. ou as montanhas. por isso sempre de férias. vão todos os livros que não li. os do ano passado. os deste ano. e todos. para virem certamente muitos que não li. por não ter tempo. afinal também nas férias há o tempo. teimando em não me deixar
ler. dizem-me os livros são os melhores amigos. alguém célebre escreveu na sua biblioteca. se os livros são os melhores amigos. os melhores amigos não se emprestam. toda a razão. o depósito dos livros a ler é grande. não cabe na mala de férias. depois nas férias há mais que fazer. os livros deixamos sempre para quando puder. mas quase sempre não podemos. olha. fica para as férias. grandes dizemos nós. nas pequenas nunca podemos. mas as pequenas nunca temos. elas não existem.
lembro-me tantos anos. em que levava tantos livros para ler. como os trazia de volta sem ler. afinal pensava. leio durante o ano. mas durante o ano não podia. leio durante as férias. mas nas férias não lia. talvez por que o rio ou a praia me diziam mais. também os filhos. é verdade. tenho tempo para tudo. menos para ler. nas férias tomo o pequeno almoço. como almoço. como janto. deveria ser como ler.
está bem. não leio nas férias. mas leio sempre durante o ano. afinal é como a alimentação. então vai ser assim. nestas férias. vou ler. quando não estiver de férias. vou ler.
em férias. é assim. cheia de livros. mas não faço férias dos livros. comprometido.
Joaquim Armindo
4) Boas Férias! De Petra, Jordânia
Petra uma viagem de
sonho que não estava nos meus planos, mas que aconteceu por via diplomática, e
montados em Jeep, numa viagem de várias horas lá se iniciou um trajeto com
saída da Palestina atravessando toda a parte desértica de Israel, até à Jordânia, a terra rosa, passando por fronteiras inimagináveis onde se é
descortinado até ao osso, com o passaporte mais querido de um povo e mais
odiado do por outro povo, acompanhado de um sotaque que trazia perguntas, mas
que na descoberta desse inglês cantado me entregava um welcoming sorriso
de orelha a orelha e uma vênia de bem vinda.
Petra, uma das sete
maravilhas do mundo, o grande tesouro- Al-Khazna, impressionante! Um templo de
40 metros de altura por 30 de largura esculpido num único bloco de pedra
(areia). Uma cidade onde as palavras são escassas para descrever esse passado.
As fotos não dão para ter a verdadeira noção. Um lugar fotogénico,
cenográfico e todos os nomes que lhe queiramos dar. Sabe-se ainda que o reino
se tornou muito rico, pois ficava num ponto estratégico do Oriente Médio onde
cruzavam as rotas das caravanas que transportavam incenso, especiarias e mirra,
entre a antiga Mesopotâmia e o Egito. Incenso, ouro e mirra que foram levados
de presente pelos Três Reis Magos quando nasceu Jesus.
Mirra é a resina
extraída de uma planta rara usada desde a Antiguidade com fins medicinais. É
considerada valiosa e tem propriedade antisséptica e adstringente. A mirra
representa a pureza, a cura e a proteção espiritual. Os beduínos guardam como
tesouro em pequenos baús. Eles dizem que 1 grama de mirra chega a valer mais do
que 10 gramas de ouro.
Uma viagem que
perdurará na minha memória.
Ilda Pinto Almeida
3) Boas Férias! De Aswan, Egipto (III)
Se já ia nervosa, pior fiquei. Se não tivesse o meu corpo tão rígido pelo medo, com os tendões mais tensos que cordas de viola, aposto que me debruçava e lhe dava uma de Tadinha naquela pele mais rija que casca de Carvalho. Ai dava, dava, só para se lembrar que eu ia em cima dela.
Foi então que comecei a gritar. Já não era possível continuar a suportar tanta desfaçatez de um animal regido por tal indiferença. Virei-me então para o rapaz: “Pára esta coisa! Eu quero descer! Este bicho é maluco e vai dar cabo de mim! Manda-o ajoelhar para eu descer.” Mas ele, nada! Era como se estivesse a escutar a música que mais lhe agradava.
Tal camelo, tal guia! Mas eu não parei de gritar! É que linda figura que eu fiz:
“-Não ouves? Quero descer! Este bicho vai atirar-me ao chão! Eu quero ir para o chão! Eu quero ir a pé!”
Talvez porque já não aguentava o meu disparate, o rapaz resolveu falar:
“Não medo, Madame! Não medo!”
“Tenho medo, sim! Abaixa o camelo! Se eu cair, a culpa é tua! Tenho medo, tenho! Deixa-me sair!”
“Não medo, Madame! Não medo!” - ia repetindo calmamente como se me cantasse uma doce canção de embalar. Eu é que não conseguia resignar-me.
No seu ritmo sempre certo, a viagem prosseguiu e eu só me imaginava toda em pedaços numa cama de hospital onde só se falava árabe. Só me imaginava toda partida numa terra estranha e tão distante do meu país para onde os meus companheiros regressariam deixando-me entregue a desconhecidos. O que iria ser de mim?
De repente, quando parecia ter acalmado um pouco, entra-se numa estreita descida ladeada por altos muros e umas tantas curvas pela frente. Não havia santo que conseguisse dar-me segurança interior e exterior em tal situação.
Já quase me sentia em agonia! O bicho aumentou mesmo a velocidade. Não conseguia segurar-me e só pensava: “é agora! Ai, meu Deus, que vai ser agora! O que vai ser de mim? É agora! É agora!"
E foi!
Naquele preciso momento, apareceu uma recta com menos declive. Foi no fim dessa recta que o rapaz deu ordem ao animal para ajoelhar, o que ele fez prontamente e com a mesma indiferença que sempre tinha manifestado. Dentro de mim, gritei aliviada: "estou salva! Estou salva! Salva é inteirinha!".
Finalmente tinha-se acabado o pesadelo.
Para tentar ser simpática com o rapaz, pedi-lhe para tirar uma fotografia com a suposta camela que se mantinha de joelhos, talvez arrependida pela pouca gentileza com que me tratou. E não é que a maluca continuou de cara virada para o lado?
Pobre animal! Onde estará escrito que tenham de passar a vida a carregar pessoas? Porque não lhes será concedida uma vida mais feliz?
Dessa viagem trouxe comigo uma pontinha da planta que agonizava junto ao museu das múmias. Não ficou múmia: ela reverdeceu e multiplicou-se em mimosas pequenas flores branquinhas que continuam a apresentar-se aos pares. Já lhes ouvi chamar "bem cansadinhos".
Ambas sobrevivemos. Mas, camelo, nunca mais!
Maria Lucília Teixeira Mendes
2) Boas Férias! De Aswan, Egipto (II)
Imperturbável, o meu
querido transporte seguia como se nada se passasse. Cheguei a pensar que, em
vez de um camelo, deveria ser uma camela vaidosa, porque se mandava toda em
trejeitos que na minha terra se chamariam peneirentos. Virava a cabeça para um
lado, virava-a para o outro, sem se fixar no caminho. Tenho a certeza que o
conhecia de cor. Sempre de gargalo esticado, lá seguia vaidosa a pavonear-se
como se fosse a maior das beldades.
A um certo ponto,
gritei-lhe:
“- Olha para o
caminho! Vê o que vais a fazer ou queres atirar-me de quinhentos metros de
altura?”
Alheia aos meus
gritos amedrontados, a paletta, assim lhe chamei muitas vezes, aproximou-se
demasiado da margem e começou a pavonear-se ainda mais.
“-Sua burra!
Gritei-lhe de novo- queres mandar-me para o rio?” - mas ela, nada. Havia um
alto poste de madeira à esquerda, precisamente do lado do Nilo. Dentro de mim,
pensei: "distraída como é, queira Deus não vá contra o poste. Se isso
acontecer, é o meu fim". Pois a criatura até pareceu ter lido o meu
pensamento. Sempre a olhar para todos os lados, menos para o estreito carreiro
que se ia desenhando na areia já pisada pelos animais anteriores, não é que se
aproximou o mais que pôde do maldito do poste que também achou que não devia
desviar-se nem um centímetro que fosse? "Meu Deus! É agora!" -
pensei. "Vou ficar para aqui toda partida e não há egípcio que consiga
colar estes ossos todos aos bocadinhos".
Foi por um triz que
tal não aconteceu. O bicharoco gigante a gozar comigo, passou tão tente ao
poste que por pouco não lhe bati com o joelho.
Maria Lucília Teixeira Mendes
1) Boas Férias! De Aswan, Egipto (I)
Era o dia 22/01/2020.
Diante de nós, podia-me ver uma certa quantidade de camelos, uns de pé, outros em posição de descanso com os seus humanos ao lado de cada um.
Percebi, então, que esses animais seriam o meio de transporte que nos levaria a uma pequena aldeia muito antiga e muito típica da região de Aswan.
Um grande camelo ajoelhou a meu lado, vestido de indiferença nos gestos e no olhar. Nem para mim olhou. Pelos vistos, eu era mais um ser de outra raça que ele teria de carregar, quer quisesse, quer não.
Subi, sim! E senti-me uma grande dama! Quase achei ser uma das raras mulheres Faraó, talvez a Hatshepsut ou outra das suas comadres...
Às ordens do guia, o animal levantou-se delicadamente, muito seguro e muito devagar. Percebi logo que um e outro se entendiam muito bem e que, assim sendo, eu nada teria a recear.
E lá estava eu sentada naquele altíssimo trono, direita e senhora de mim, mais que confiante, com uma perna para cada lado, o saco com alguns recuerdos bem apertado numa das mãos, não fosse ele cair. Com a outra levantado no ar, saudei quem já estava também assim elevado e despedi-me de quem aguardava a sua vez. Com os cabelos despenteados pelo vento e um rasgado sorriso, parecia a pessoa mais feliz do mundo! Aquilo é que haveria de ser uma viagem!... E foi!
O moço disse-me para me segurar numa pequena saliência que parecia de madeira e se encontrava diante de mim no dorso do camelo. Eu assim fiz. Logo o enorme bicho arrancou, começando a meter mudanças, uma atrás da outra.
À medida que a velocidade ia aumentando, eu sentia-me menos segura. Então, não confiando apenas na segurança da mão que se agarrava à frente e descobrindo que atrás de mim também havia algo a que pudesse agarrar-me, muito a medo e já toda a tremer, desloquei para lá a outra mão.
O sorriso dos meus lábios apagou-se e os cabelos espetaram-se ainda mais para o ar. Comecei a sentir-me tensa, cada vez mais tensa, como se me fosse transformando num bocado de aço. O bicharoco ia seguindo o seu caminho, nada preocupado com quem levava em cima. Levar sobre si esta rainha ou levar uma mosca, para ele parecia indiferente. A alta velocidade atingida é que tanto me apavorava, não deveria exceder em muito a de uma tartaruga.
Comecei a tremer, a tremer sem parar... cada vez tremia mais. Olhava para baixo e parecia-me estar numa varanda sem vedação num quadragésimo nono andar de um prédio qualquer em Nova Iorque.
Maria Lucília Teixeira Mendes