segunda-feira, 1 de junho de 2020

Vencedor do texto favorito do livro "As Flores do Meu Lindo Jardim"

Terminadas as votações, os nossos agradecimentos a todos os leitores que votaram, já temos um texto vencedor, numa das votações mais renhidas de sempre. Sendo assim, os nossos parabéns vão para Maria Lucília Teixeira Mendes que foi a mais votada com o texto "Aquela Boneca", tendo o seu texto "A mãe noite" ficado em segundo lugar. O texto "A raiz" de António Jesus Cunha ficou em terceiro.
Colados ao pódio ficaram "Praia de Inverno", "Lágrimas" e "As Flores do Meu Lindo Jardim", respectivamente de Florentino Mendes Pereira, Margarida Haderer e Maria do Rosário Cunha.
Os prémios serão entregues ainda esta semana.
Aos votantes lembramos que devem estar atentos ao sorteio do Totoloto do próximo sábado, dia 6, e ver se o número de participação que vos foi atribuído é igual (ou tem a mesma terminação) do número da sorte.
Fica aqui o texto vencedor:



Aquela Boneca
Na Igreja de Figueiredo das Donas


Tem dois bolsos o casaco do meu pai.
Cada bolso tem um lenço;
Cada lenço, uma função.
Desdobram-se em rectângulo
E, com todo o jeitinho,
Entendem-se sobre o chão:
O chão de tábuas da igreja
Ainda a cheirar a sabão.

Junto ao altar dourado e branco
Estende o pai um pra ele
E o outro, estende-o pra mim.
Com devoção ajoelha 
E eu também me ponho assim.
Está o altar enfeitado
Com florinhas de jasmim.

É da Sra. do Rosário o nicho mais altaneiro
Que eu vejo de onde estou.
Ladeiam-na outros dois: o do Menino
E santa Bárbara,
Cada qual mais pequenino.
Cativa-me o Pequerrucho
Com seu vestido albino.

Não se cansam os meus olhos de fitar
Seu vestido de cetim
E a bola azul que tem na mão
Da cor da fita que o prende
E prende meu coração.
Puxo a manga do pai
E chamo sua atenção:


-“Aquela boneca, pai, pode dar-ma, por favor?”
-“Não é boneca, filhinha;
É o Menino Jesus!”
Responde-me enquanto reza,
Tentando fazer-me luz.
Para mim é uma boneca:
Não o vejo com a cruz!...

Repetiam em latim: “ora pro nobis, nobish, nobish…”
- “Bish… bish…bish…bish...
Ia repetindo eu:
A rezar com devoção.[1]
Nessa noite, ó que surpresa!
Que sonho lindo o meu!   
Embalava num cestinho
A BONECA que o pai deu.


[1] Dizia a rir a Margarida Matos: “Tu rezas a chamar os gatos!”

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