Por lá passavam todos os animais, sabes. Os lobos, os leões, as raposas, e todos para atravessarem o riacho colocavam os pés em duas pedrinhas do riacho. Agora me estou a lembrar, vais-me perguntar se as pedrinhas do riacho eram grandes ou pequeninas. Ou vais-me perguntar o que é um riacho. As pedrinhas do riacho não eram muito grandes, eram parecidas com o biberão que te alimentou. Um riacho é um rio pequenino, mas ele vai alimentar outros rios, que dão para rios grandes e até aos oceanos. Quando vais para a praia vês um lago tão grande de água, não lhe vês o fim, não é?, pois são água de muitos riachos. Às vezes os homens maus enchem os riachos de roupa velha, de porcarias, e até algumas empresas são o seu esgoto, há tantos riachos tão mal tratados.
Mas estávamos a falar de duas pedrinhas que se banhavam nas águas do nosso riacho. No inverno passavam frio, era muito gelado, às vezes ficavam com pedras de gelo em cima delas, o que lhes valia eram os lobos e os leões e as raposas, que ao passarem por elas faziam com que o gelo se desfizesse. Ao princípio da primavera e no verão era um consolo, porque apesar do sol, que era escaldante, a água passava, muito limpinha – ainda era um riacho que o homem não tinha descoberto -, os homens tantas vezes são maus que destroem os riachos, as pedrinhas, poluem a água. Ah! estás a perguntar o que é poluem, olha é acabar com a criação, com estes bosques, com os riachos e as pedrinhas, com os lobos e os leões e as raposas, para eles puderem viver em boas casas, comerem do bom e do melhor, e nem pensarem que existem pedrinhas nos riachos.
- Que bonita água onde estou a banhar-me! - dizia a pedrinha verde, para a pedrinha azul, no verão.
Esqueci-me de dizer que estas duas pedrinhas tinham nome, uma era azul e outra era verde, sabes, como o musgo é verde ela ficava verde e como o sol é azul a outra mais voltada para ele ficava azul.
- Que bom este solzinho, que me coloca mais azul, e estou morenaça! – dizia a pedrinha azul, para a pedrinha verde.
As duas pedrinhas ficavam tristes era quando chegava o inverno, no outono ainda tudo corria bem, havia sol e a água ainda era quentinha. No inverno era triste, mas necessário, a água muito abundante do riacho lavava as duas pedrinhas; às vezes a força da água levava-as a outras paragens, mas sempre andavam juntas.
(O menino já está a dormir, e eu ainda não acabei a estória)
Até que um dia os homens maus decidiram acabar com o riacho e construir uma fábrica.
Diziam que era para o desenvolvimento, e por isso com grandes máquinas acabaram com a pedrinha azul, com a pedrinha verde e com o riacho, queriam outro maior, para despejar o lixo que faziam.
Acabou a estória, até porque o menino já dorme.
Joaquim Armindo