sexta-feira, 8 de março de 2024

Desafios de autores para autores: Março - Dia da Poesia

     


Os desafios de Poesia têm, desde já, a recepção aberta com o prazo a terminar ao final do dia 20, quarta-feira. Estarão online no dia 21 de Março, data em que as votações abrirão (serão encerradas a 15 de Abril, 2024).


O tema é livre, mas abrimos possibilidade, a  quem o quisesse, de assinalar o Dia da Mulher. Estes textos publicados desde o dia 8 não têm premio especial, serão avaliados juntamente com os outros, mas, por graça, estão assinalados com esta imagem.  

Lembramos que até ao dia 15 de Abril teremos uma votação a decorrer para encontrar o poema favorito dos leitores.
Como habitualmente, as votações serão feitas usando a caixa de comentários (já sabem que tem moderação pelo que os comentários/votos não ficam visíveis de imediato), não há limite para o número de vezes que podem votar ou em quem votar, apenas se espera algum bom senso (e apesar de aceitarmos que no blogue as votações ficam anónimas, só validaremos os votos após recebermos por email a identificação do votante e forma de contacto, assim que lhe atribuirmos um número).
O autor do texto mais votado escolherá do nosso catálogo de Poesia exemplar do livro que mais lhe agradar; e o mesmo sucederá com o comentário/voto sorteado de entre os votantes identificados.

Findas as votações, e porque o voto número 4 nunca chegou a ser validado por quem votou, isto é não se identificou, não só o voto não conta, também este votante não é elegível para prémio.
Assim, o poema que reuniu mais votos foi "a pequena florzita amarela", de Joaquim Armindo. Ao autor, os nossos parabéns! 
E os nossos agradecimentos a quem votou, correctamente, brevemente sortearemos um votante para receber um prémio.
O prémio, lembramos, para autor e votante é um livro de Poesia, à escolha, do nosso catálogo.

E recorrendo, como habitualmente, ao número da sorte do Totoloto, que a 16 de Abril 2024 foi o 8 e tendo constatado que não havia maneira de o utilizar dado só haver 7 votos, resolvemos usar o número mais elevado (tecnicamente, depois da chave ordenada fica imediatamente à esquerda do número da sorte) que saiu, neste caso, o 33. 
Então, muito salomonicamente, decidimos usar um 3 para um comentário e o outro 3 para um dos poemas dedicados à Mulher. - Tínhamos dito que não haveria prémio especial, mas achamos que os poemas, todos eles, mereciam um comentário que fosse -.
Assim, Ana Ferreira da Silva viu o seu voto premiado com um livro de Poesia à sua escolha. Muitos parabéns!
E, simbolicamente, a autora Melissa de Aveiro vai receber uma flor de tecido, uma recordação um bocadinho mais permanente do que uma flor natural do seu belo poema. Parabéns também para ela.

E fica encerrado este Desafio, já no dia 23 teremos um Desafio em prosa para festejar o Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor.

14) Fantasiei*

Fantasiei sonhos de muito querer
Rasguei o véu da verdade adiada
Descobri a míngua desfigurada
Fui a criança e o adulto no saber
Passos dados são reencontros assim
Ter abrigo, um agasalho e sossego
Ah, como tarda a noite do desapego
Irrequietude inquietante, outrossim
O teu presente é a mão estendida
Ergues irrequieta em sonhos a tua voz
Sempre assim, eterna e desprendida
Minha dor, esta alma dos sem conta
Espaço outro talhado a frio e pós
Teia urdida, oh enredo que desaponta.

Manuel José
2014/12/24
*Pode ver o autor a declamar o poema aqui

13) a pequena florzita amarela 


é verdade, no meio de todas as fortes plantas,
apareces tu,
                        flor amarela de uma primavera
                        dada à luz,
tu cresces florzinha, até que um pé mal-humorado,
te castigue a vida,
                        e tu sorris neste tempo,
                        de gramínea à tua volta,
parecendo sufocar-te,
                        apesar disso tu estás e alegras
quem passa por ti, florzita amarela,
sabes,
nós estamos todos preocupados,
com os violinos que não tocam,
com as chuvas torrenciais, que aí vêm,
com os arbustos que sufocam,
mas tu florzita amarela, aí estás,
                        sem medo, apesar dos loucos te poderem
                        tirar a vida,
e sorris, para todos dizendo bom dia,
                        porque a tua luz ilumina,
não dizes boa noite, porque te fechas protegendo,
e dizes,
            que na escuridão da vida,
há sempre primavera.
joaquim armindo
20/3/2024
 

 12) Ao pé da laranjeira, a tua amada

                    
Meu carinho, meu amado, ai, Senhor!...”
Ao pé da laranjeira adormecida,
                    Pela fresca sombra da tarde embalada,
                    Em baixo ao postigo da velha ermida,
                    Sangue e lágrimas sonhava tua amada:
“Ai, que pelos caminhos se perdeu
De Marte, pelo aço dilacerado,
                    Ao pé da laranjeira o triste pranto
                    Fresca sombra da tarde refrescou;
                    Do postigo dizem que o velho santo
                    De tão triste que a viu, também chorou...
“Ai, que pelos caminhos se perdeu
De Marte, pelo aço dilacerado,
Meu carinho, meu amado, ai, Senhor!...”

                    Ao pé da laranjeira aço luziu
                    De adaga de prata na branca mão;
                    Em baixo ao postigo a vida fugiu
                    Em sangue e lágrimas do coração.
“Ai pelos caminhos te buscarei eu
De Marte, meu carinho, meu amado;
Ao encontro vou do saudoso amor!”

                    Ao pé da laranjeira adormecida,
                    Pela fresca sombra da tarde embalada,
                    Em baixo ao postigo da velha ermida
                    Jaz alva a mais bela flor, a tua amada...
"Ai, que pelos caminhos se perdeu
De Marte, pelo aço dilacerado,
Amor tão jovem e puro, ai, Senhor!..."

Ana Ferreira da Silva
in "Cantares da Ibéria"

 11) num colo que nunca foge

nunca as ondas do mar, conseguem destruir,
                             o amor dos seus beijos, nas ondas do mar,
                             os eucaliptos fogem,
                             pela água que não têm,
as chuvas torrenciais, tornam-se mansas e solidárias,
no nascimento do berço, embalando
                            os barcos e os capitéis,
                            por mais duros que sejam.
“mindocas”, como estás, como vais,
tens essa dor aí? fala com a bé, ela sabe,
(“mindocas” era como o meu pai me chamava, e bé a minha irmã)
sempre, nos mais duros e horríveis tempos,
o meu pai sabia,
                            sempre, é engraçado,
o que os filhos tinham,
                            e abraçava-os um a um, destinando-os
a um mundo onde tinham de lutar,
“mindocas” não é só um nome,
mas o carinho das bátegas sobre os muros empedernidos,
e bé ou ni, a força com que todos devíamos estar juntos,
(a bé e a ni, são as minhas irmãs),
por isso o amor nasce de um colo,
                            que nunca recusa estar aqui,
                            não foge,
                            está sedento de ser uma floresta,
onde as pinhas são o fruto.
joaquim armindo
19/3/2024



10) num ninho de pássaro

os passaritos voam na liberdade,
                                                    acreditam que os ares são bons,
                                                    fluentes,
                                                    encorajantes,
                                                    límpidos,
vão daqui, para ali, acreditando,
                                                    em todos e em tudo,
eles não sabem, nem sonham, como o poeta escreve,
que as avezinhas são comidas,
                                                    por intrujões, que as matam,
em nome de uma água florida,
devastada pela ignorância,
corrupta, sem sentido,
                                                    por isso eles voam ao som límpido,
                                                    do vento, da chuva ou do granizo,
                                                    e das neves também.
cuidado,
os sons são muralhados de amor,
os tamborins, são enfeitados de ódio,
as harpas tocam as ervas mais mortíferas,
e o coração dos ventos e das chuvas e das neves,
mortos pelo feitiço das ditaduras.
as nossas mãos e olhos, como os das avezinhas,
saberão,
               cuidar das nossas crianças, ao som
               da música libertadora,
das flores dos nossos regatos.

joaquim armindo
19/3/2024

9) Aldravia* 2

poesias
abanam 
corações
desejosos
de
emoções
Ilda Pinto Almeida

 8) Aldravia* 1



poesia
com
alma
satisfaz
o
coração

Ilda Pinto Almeida

                                        *tipo de poesia minimalista

7) A favor do vento


Aniversário! Parei um momento
A sonhar desejos p’ra toda a vida;
E sonhando, sonhando distraída,
A vela soprei a favor do vento.
Ó desditosas noites de vigília,
Onde a paz, o Sol, o amor verdadeiro
Em vão sonhados? (por Maio, Janeiro,
Por leve salgueiro, pesada tília!...)
Quando a janela abri, com desalento,
Chuva de pétalas o ar coloria!
Nas vozes cantigas, nem um lamento!
Paz, Sol e amor, soltos, livres ao vento…
Feliz, o mundo inteiro agradecia
A vela soprada a favor do vento!

Ana Ferreira da Silva

6) Luso ‑Africano

Ser branco e negro,
Ser Noite e Dia,
Sol e Lua
Terra vermelha e
Mar transparente
Quente e frio.
Ser verso e do avesso,
Choro e riso,
De lá e de cá.
Ser luso africano.
Qual mulato ou mestiço,
Ou afro lusitano.
Que importa, afinal,
Se a humanidade surgiu em África
Terra mãe
De puro vermelho.

Somos todos negros,
Por todos os poros.
Todos multiétnicos
Incluindo indianos e asiáticos.
Se misturarmos todos os sangues,
No pilão, mexermos e remexermos.
O vermelho permanecerá vermelho sangue.

Bastos Vianna

5MULHER*


Fazes o chão em diário de canseiras
teu dia é essa gota que lampeja a cada instante
encontras a irrequietude no trabalho
és firmeza espraiada na claridade da noite

O teu silêncio fala devagar e nossos ouvidos tateiam a utopia da esperança
tua palavra é o encontro busca desejo, alegria do eterno a manifestar-se
repousas a dor nesse querer infinito que o porquê abafa e interroga
do real ao virtual tu és a entrega sem explicação, assim é a vida

Beliscam-te em tamanha cegueira e nem o pranto lava desmesurado nojo
tua lágrima sozinha fura calhau de aresta viva lavra sulco em mármore bravio
tua ternura é oceano comprimido grito amargo em animo recriado
tua resistência sem limite nem fim traz para a tona vergonha dissimulada

Pões o que és no cuidado da atitude ages em bravura abrangente
teu olhar atinge o lado de cá da resistência o lado do lá do alcance
única e singular aprumas o carinho da tua feminidade
luta de todos feita braço amigo terra fértil arrebol matinal

Desfaz-te o amor-entrega frio de hoje compreensão de amanhã
és quem pega no que é e abraças o devir com a coragem da realidade
acautelas o estimulo na gaveta aberta do esquecimento
és mãe inteira de todos os dias e de todas as noites

Mãe espaço-tempo dos cinco sentidos, colo-chão do crescer
teu seio aguenta o peso do mundo a raiva dos que te desprezam
teu carinho é firme, firmeza sem abrigo porta aberta a tempo ingrato
fazes o teu jeito assim e da ingratidão o limite do amor

Manuel José
*Pode ver o autor a declamar o poema aqui

4) mulheres carquejeiras do meu país


ai! ai! , mulheres carquejeiras do meu país,
ai! ai! , mulheres carquejeiras da terra, onde vivemos,
                            suportais o cuidado dos filhos,
                                                                    e dos filhos dos filhos,

                            suportais a carga dos chefes no trabalho,
                            suportais a ignorância dos chefes
                                                                                em casa.

subis as calçadas íngremes da vida,
                            sois ignoradas nos valores que possuís,

sois apalpadas pelos olhos dos passeantes,
                            nas ruas, avenidas e vielas,
                            do meu país, e entre o céu e a terra.
sobre os ombros levais os fardos da carqueja,
e distribuís para os fornos dos poderosos,
                            o pão.

os clérigos, esses, querem
                                                mulheres de recados,
                                                boca calada,
                                                e trabalho realizado.

suportais a bravura dos rios e mares,
os eucaliptos não vos dão água,
os olhos choram, perante
                                        as fontes que dão flores,
                                        neste dia oito de março,
                                        de dois mil e vinte e quatro.

joaquim armindo
8 de março de 2024

3)  Ser mulher

Ser mulher?
Nunca é o que se espera.
Nunca age, como seria esperado.
É do contra, é contra as regras.
É o certo, mas sempre errado.

É estereótipo, é fragilidade.
É ser desadequada, em qualquer idade.
É ser o que quer que se seja.
Sem se saber ser, o que quer que se seja...

Se chorar? É carente.
Se sorrir? É prepotente.
Se usar batom, é porque provoca.
Se disser o que pensa? Está louca.
Se não se pentear, é desleixada.
Se falar alto, está descompensada.
Se tiver sucesso no trabalho, é porque dormiu com alguém.
Se for solteira? É porque não a quer, ninguém.
Se sair sozinha, é um perigo.
Se falar com um homem, é sempre mais do que um amigo.
Se não casar, é uma tristeza!
Se não tiver filhos é contra a natureza.
Se for traída, a culpa deve ser dela.
Se lhe bateram, foi porque merecia.
Se vestiu saias, estava a pedir!

Mas quem deixou a mulher sair?

Ser mulher?
Ser mulher...
É ser tudo e nada, ao mesmo tempo...
Julgada. Incompreendida. Sozinha.

Ser mulher?
Ser mulher, ser mulher...
Solidão.

Mulher.
Só o sabe ser, quem o é.
Melissa de Aveiro



2) 

Desabrocha e floresce
Como a flor do lírio
Murcha e perece
Como erva ao meio dia

Será sempre a semente de ontem de hoje e de amanhã

Ilda Pinto Almeida

 

1) 


Rainha altruísta, rigorosa
nos seus desejos, conquistas
e paixões
na tempestade
toma o cálice
e como águia
voa soberana

Ela é a pérola de olhos vermelhos que continua a gerar nações

Ilda Pinto Almeida

15 comentários:

  1. O meu voto para o Luso Africano (6) laurasscunha@yahoo.com

    ResponderEliminar
  2. Voto no 13 (a pequena florzita amarela), poema simples e muito terno.
    Ana Ferreira da Silva

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Muito obrigada. Foi-lhe atribuído o número 3. Temos os seus dados em arquivo.

      Eliminar
  3. O meu voto vai para o Luso Africano (6)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Muito obrigada. Foi-lhe atribuído o número 4, mas para podermos validar o seu voto, necessitamos que nos envie um email a identificar-se. Email para tectodenuvens@hotmail.com ou geral@tecto-de-nuvens.pt com o assunto: "Votante nº 4".

      Eliminar
  4. Voto AO PÉ DA LARANJEIRA A TUA AMADA (nº 12) de Ana Ferreira Silva

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Muito obrigada. Foi-lhe atribuído o número 5. Temos os seus dados em arquivo.

      Eliminar
  5. Voto no 13 (a pequena florzita amarela).
    Melissa de Aveiro

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Muito obrigada. Foi-lhe atribuído o número 6. Temos os seus dados em arquivo.

      Eliminar
  6. Eu voto no poema: a pequena florzita amarela (13).

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Muito obrigada. Foi-lhe atribuído o número 7, mas para podermos validar o seu voto, necessitamos que nos envie um email a identificar-se. Email para tectodenuvens@hotmail.com ou geral@tecto-de-nuvens.pt com o assunto: "Votante nº 7".

      Eliminar
    2. Voto validado. Muito obrigada por fornecer os seus dados.

      Eliminar