sábado, 25 de maio de 2024

Alexandra Carneiro, autora de "Melinda", em entrevista

 



Alexandra Carneiro é licenciada em Língua e Cultura Portuguesas e esteve ligada à docência durante vários anos. Foi uma das autoras cujo trabalho concorreu ao nosso Prémio de Conto Infanto/Juvenil, 2023, e teve direito à publicação do mesmo na colectânea "Contos Contados e Encantados...". Participou, igualmente, na nossa colectânea do Natal 2023 "Memórias de Natal" (com o conto "Encanto de Natal").
A autora é defensora da fantasia, dos caminhos da descoberta para a felicidade, do sonho ilimitado, bem sedeados na infância e nas boas recordações que guarda dela. Não é por acaso que a sua "Melinda" anseia, acima de tudo, voar, que será a representação mais eficaz da liberdade, da ausência de limites físicos e do perfeito misturar de fantasia e realidade.
Mas deixemos que seja esta talentosa escritora, de 42 anos, a falar da sua escrita, de voz própria e na primeira pessoa...

  Conte-nos como e porquê começou a escrever, por paixão ou por necessidade?

Comecei a escrever por necessidade. Nasci e cresci numa aldeia minhota. Vivia numa casa cheia de muitas conversas e de histórias cruzadas e amadurecidas entre gerações, com muitas gargalhadas, muita azáfama à boa maneira do Norte: numa dinâmica muito própria, de muita partilha, de muita interação com os vizinhos, uma vida muito vivida uns com os outros, sem monotonia ou falta de companhia e muito menos de conversas. No momento em que me caso, sigo outro caminho e vou viver para outra cidade, onde não conheço ninguém, sobram palavras, mas faltam pessoas. Percebo, assim, no meio deste silêncio e desta solidão que eu sou a minha melhor companhia. Embora não tenha com quem conversar, descubro muitas histórias dentro de mim a brotarem, a quererem ganhar vida. Estiveram lá desde sempre, desde a infância e eu só precisei deste encontro comigo e com este lugar despovoado das minhas pessoas para as ouvir. Por isso, a escrita começa com esta necessidade de encontrar uma companhia para mim e com a precisão de me ouvir e de me redescobrir, ao permitir ter acesso a este acervo interior e a esta viagem ao que sou e tenho. E a partir daí, inicio esse registo e começo a dar-lhes vida através das minhas palavras.

  Qual o papel que a escrita ocupa na sua vida?

A escrita tem sido uma forma tão profunda quanto honesta de estar comigo.  Escrevo aquilo que eu sou e que tenho dentro de mim. A palavra escrita é uma companheira, testemunha, confidente e terapia em vários momentos da minha vida, seja em celebrações, em fases menos bonitas ou até trágicas, mas que encontro no registo escrito esta cumplicidade e esta profundidade. É, da mesma forma, legado e eternidade, pois tenho na palavra escrita a mais bela herança que deixarei ao meu filho.

   Sempre sonhou publicar um livro? /Publicar um texto num livro?

Não. Sempre gostei muito de ler. A leitura foi a minha primeira paixão e uma companhia insubstituível em diversos momentos da minha vida. Nunca ambicionei escrever um livro, pois achava que esse dom estava destinado a seres superiores, entidades quase divinas; alguém que já tinha vivido muitas vidas e que, por isso, teria muito para contar, para dizer aos outros. Eu estaria noutra categoria: a dos leitores, aqueles que se deslumbravam, sonhavam e deleitavam com as palavras e histórias que tinham sido escritas, até ao dia em que escrevi também eu uma história e alguém a leu. Muitos leitores a ouviram e tantos outros sentiram exatamente o mesmo que eu tinha sentido em relação a outros autores, deixando-se levar e sonhar através das minhas palavras. Aí, sim, percebi que havia público para a minha história e que ela merecia um livro.

  Qual é a sensação que tem ao ver, agora, o livro nas mãos?

Ao ter um livro meu nas mãos, sinto que posso partilhar com os outros o melhor que tenho e sou, o que mais gosto de fazer, como se fosse um tributo à vida e a tudo o que tenho vivido, aprendido, sonhado e que passa a estar ao dispor de outras pessoas, através desse objeto tão vivo, belo, sério, requintado e eterno: um livro. Um livro será sempre a materialização de um sonho.

   Tem algum projecto a ser desenvolvido, actualmente? Pensa publicar mais algum livro? Continua a sentir vontade de escrever?

Continuo a sentir vontade e necessidade de escrever. Tenho muitas palavras guardadas no coração, no computador e em cadernos avulsos de muitas páginas manuscritas. Gostaria, naturalmente, que essas palavras dessem origem a histórias que chegassem ao coração de muitas pessoas, embora não tenha, por agora nenhum projeto definido.

  Fale-nos um pouco sobre o(s) seu(s) texto(s)

ü  «Melinda»: Trata-se de um conto infantojuvenil que aborda a persistência, o sonho e a imaginação como as grandes alavancas da infância. Nele ecoa aquele querer desmedido, sem limites nem fronteiras e a luta e perseverança para a sua concretização. «Melinda» é uma voz infantil que nos fala ao coração e que nos vem confirmar o que dizia Walt Disney: «se é possível sonhar, é possível realizar». Melinda, a personagem que dá nome ao livro, é essa voz firme. Esta personagem é também o símbolo da infância no seu estado mais puro e primitivo, no contacto próximo e genuíno com a natureza e com a sua aldeia, a comunidade envolvente que participa e enriquece esta história vivamente.

ü   «Encanto de Natal»: Este conto de Natal é um texto profundamente marcante e comovente para mim. Escrevê-lo significou regressar à escrita e ao conforto de um tempo muito feliz, inocente e pueril (o passado), durante um período de dor implacável causada pela perda da minha mãe e pela vivência desse luto (presente). Mais uma vez aqui, a escrita a firmar-se como um momento terapêutico, catártico e um pretexto precioso e necessário para fazer essa viagem de regresso à felicidade e à magia da infância e do Natal em todo o seu esplendor. Esta narrativa nasce de um lugar de conforto pela presença doce e sublime da minha mãe durante todo este processo criativo. Além disso, é uma história que nos transporta para a década de oitenta, em que o mundo era um lugar bem diferente do de hoje: a felicidade nascia de tanta espontaneidade e simplicidade, que quando aparecia sob a forma de uma construção era o resultado de muito esforço, trabalho e abnegação. O pouco transformava-se em muito; em tudo, até. A valorização desse esforço, o espírito de união, de conquista, o encantamento que se aconchega num lar em época natalícia são valores que iluminam este texto. É pelos olhos graciosos (e também algo cobiçosos!) de uma criança que somos convidados a eternizar estas memórias simples de um Natal verdadeiramente feliz.

 

  Existe alguma parte do texto, em particular, que goste mais. Porquê?

Gosto muito de cada história minha como um todo. Olho para elas com uma visão integrada e integradora daquilo em que eu acredito, até porque reconheço esta coesão e coerência entre os vários momentos que as constituem e que se alinham com a forma como eu olho para a vida, penso e escrevo as histórias.  Esta harmonia baseia-se, sobretudo, na verdade que existe entre Melinda e aquilo que eu sou: a menina que continua a tentar, a tentar, a lutar; a menina que sonha e parte em busca de alcançar o seu objetivo, de dar verdade ao seu sonho, fruto da determinação, otimismo e persistência. Posso, ainda, destacar a referência/ a analogia que encontramos com a mitologia grega e com a lenda de Ícaro. Finalmente, este texto tem a capacidade de realçar este desejo antigo de o ser humano almejar a proeza de voar, de se elevar nos céus. Melinda é a metáfora da força empreendedora que quero continuar a ter para elevar os meus sonhos ao digníssimo estatuto de realidade. No caso do texto «Encanto de Natal», aprecio a envolvência tão doce e tão pura que atravessa esta narrativa. Não posso deixar escapar, porém, um conjunto de tradições natalícias que aqui são recuperadas e, portanto, revividas através de um retrato fiel do Natal da minha infância. E havia Natal mais bonito…? Seguramente que não.

 

  Indique as razões pelas quais aconselharia as pessoas a ler o seu texto? O que acha mais apelativo no seu texto?

Esta é uma resposta muito difícil e de grande responsabilidade…  

Aconselharia as pessoas a lerem os meus textos porque apelam sempre à descoberta de um caminho feliz, tendo como fonte de inspiração a minha infância, as minhas emoções, o meu olhar sobre o mundo, sobretudo, o mundo interior. Ler os meus textos é simplesmente fazerem este caminho comigo, ouvirem a minha voz, mesmo que não me conheçam. É relembrarem o poder do sonho, abrindo o seu coração e deixando-se abraçar por este encantamento que vive em nós e que tantas vezes é esquecido porque somos um lugar de histórias bonitas e os meus textos levam-nos até lá.

   Qual é o seu estilo de escrita ou que tipo de mensagem gosta de passar no que escreve?

Gosto de escrever para a infância e quero acreditar que o faço, independentemente da idade de quem lê os meus textos. Gosto de convocar os meus leitores para a sua infância. Por isso, o meu objetivo será sempre despertar nos corações que me leem ou que me ouvem essa vontade consciente ou inconsciente de regressarem a um lugar que os provoca, que os incita, interpelá-los a algo, seja através do resgate de memórias, de um sorriso no rosto, da reprodução de um momento... Não tenho a pretensão de passar uma mensagem, mas antes apelar à reflexão, à evasão e talvez (se possível) à alienação dos problemas perturbadores do momento presente. Gosto de escrever histórias felizes, bem-humoradas, por vezes, descabidas e inesperadas, de ser autora de mundos possíveis, de experiências de contentamento, de dar passos silenciosos com as palavras, mas que ecoem de forma profunda no ser humano, seja criança ou adulto. E penso tê-lo conseguido nos livros e textos da minha autoria já publicados «Lucas no mundo da lua» (2020); «Amor a meias» (2023); «Melinda» (2023) e «Encanto de Natal» (2023).

   Qual o papel das redes sociais na vida e na divulgação da obra de um autor? E na sua?

Considero inegável o papel das redes sociais na divulgação e promoção da obra de um autor. Além disso, as redes sociais proporcionam o contacto e uma conexão muito positiva entre interesses comuns, seja autores e leitores, seja entre autores, apenas, ou editoras e autores, por exemplo. É um mundo de informação e partilha que está à nossa disposição e do qual poderemos tirar proveito.

Alguns leitores contactam-me através das redes sociais, dando-me conta de que exploraram uma obra minha em determinado contexto, o que me deixa muito muito feliz e prestigia o meu trabalho, sem dúvida. Também enquanto leitora, gosto de o fazer e, por diversas vezes, já usei as redes sociais para parabenizar um autor pela sua obra. A última vez que estabeleci contacto foi com a autora da obra «Gustavo e a oficina mágica», de Marta Coruche, um conto infantil da Editora Tecto de Nuvens que muito apreciei. Esta interação e aproximação entre autor e leitores e vice-versa é evidentemente muito positiva e enriquecedora. Também aproveito as redes sociais para publicar e divulgar atividades que eu vou dinamizando à volta dos livros (literalmente). Sendo assim, é na conta de instagram m.alexandracarneiro que me poderão encontrar.

   Gosta de ler? Que tipo de leitor é que é?

Sim, gosto muito de ler e privilégio literatura infantil ou os autores clássicos. Não leio tanto como gostaria nem com uma continuidade regular, até porque não olho para a leitura como uma obrigação ou como uma lista que tenha de seguir para cumprir metas ou objetivos. Nada disso, para mim ler é entregar-me a outras vidas, a outros enredos. Gosto de terminar um livro e ficar a morar na história, a desfrutar do deleite que aquela experiência provocou em mim. 



 

Contos Contados e Encantados – Contos Infantis -Vários autores

PVP: 12,00€
178 páginas, capa mole; Tecto de Nuvens, 2023

Jovem leitor, esta prenda é para ti, 6 bonitas histórias para leres e releres ao longo da tua vida.(…) E que sonhes, sempre! Sonha um mundo bom, com gente que se ama, se respeita e se ajuda e estarás mais perto de o tornar realidade.
E que estes Contos sejam muitas vezes Contados e sejam sempre Encantados.


Livro disponível nas principais plataformas nacionais e internacionais e na nossa loja online.

Pode encomendar enviando email para loja@tecto-de-nuvens.pt

domingo, 19 de maio de 2024

Ilda Pinto Almeida, autora dos livros "O Segredo do Carvalhal"; "Sons Poéticos" e dos contos: "Daniel..." e "Duas mulheres, duas juízas", em entrevista


Já dispensa apresentações, seja como autora, seja como artista plástica, a Ilda Pinto Almeida, que entrou em 2024 a todo o vapor e chegou ao mercado, ainda no primeiro trimestre, com três livros. Duas publicações próprias "O Segredo do Carvalhal" e "Sons Poéticos" e uma obra colectiva "Heróis e Heroínas da Bíblia - como tu-" (com dois contos: "Daniel, Sadraque, Mesaque e Adebe-Nego" e "Duas mulheres, duas juízas - Débora"). - Para além de tudo isto, continua presença habitual no Blogue, nos Desafios (o que a fez chegar uma quarta vez ao mercado, agora em Abril, como parte do volume IV dos nossos Desafios.

Resolvemos misturar tudo e pedir-lhe que fale destes livros. A gosto e conveniência dela, tanto juntou as perguntas para responder de uma só vez, como respondeu pergunta a pergunta, no final conseguiu mostrar os seus objectivos com cada um dos livros.
Ilda Pinto Almeida, de viva voz e na primeira pessoa:

Conte-nos como e porquê resolveu escrever estes livros e qual a importância que eles têm em termos de potenciais livros futuros?

Qual é a sensação que tem ao ver, agora, os seus livros nas mãos? São todos projectos amadurecidos e já com algum tempo, ao que julgo saber.

Fale-nos um pouco sobre estes estes três livros. Curiosamente, de alguma forma, a ilustração faz parte dos três. Fale-nos disso.



Sem dúvida que foi um trimestre cheio de sabor. Três livros diferentes que vou falar individualmente porque há diferenças entre eles.
Um livro é um amigo e como tal, quantos mais amigos destes, mais amizade e conhecimento irá ser distribuído. O sentimento de saber que estes livros vão sendo desfolhados por mãos que gostam de sentir o prazer do papel por entre os dedos, e que olhares irão ficar cravados nas letras que ali foram deixadas, é uma mistura de sentimentos que me ficam a saltitar na mente e que me deixam irrequieta , curiosa, mas feliz.
“SONS POÉTICOS”, tal como insinua o seu titulo, é um livro de poesia direcionado ao publico adulto, e de maneira nenhuma o poderia misturar.
Não querendo dizer que os outros dois não possam ou não sejam lidos pelos adultos, mas já iremos falar sobre isso.
Publicar um livro de poesia é trazer para o papel uma linguagem diferente, muitas vezes metafórica e talvez por isso muito do publico não se interesse por esta escrita. A poesia é uma forma diferente de expressar sentimentos e visões da vida. Este é um livro de coleções onde os poemas se encaixam ou não, mas que serve para lembrar o meu percurso literário em verso, durante um determinado período de tempo, juntando textos dispersos publicados e inéditos, premiados e participantes de concursos. Um percurso que já faz 15 anos este novembro de 2024 e que por acaso começou com poesia, na Editora- Tecto de Nuvens, com quem trabalho desde então.
O desejo de engendrar esta junção de poemas e ilustração, já, de vez em quando fervilhava no pensamento. A novidade foi trazer às estrofes ilustrações de artistas latino-americanos, que me têm acompanhado, incentivado e valorizado o meu trabalho nas artes plásticas, e foi neste compilar de textos, juntando a arte e os artistas, do meu percurso que foi concebido.
Depois, este livro tem ainda a particularidade de ser um livro sem prefácio, apenas com uma nota de autor. Arrematado com uma capa cheia de cor primaveril, feita a partir de um quadro meu, "Verso Colorido" que recentemente esteve exposto na Cidade do México e trouxe com ele um belo Certificado de Reconhecimento, passado e assinado pelo Departamento da Cultura e, foi ainda e também, distinguido com uma Honorable Mention pelo 23Rd Annual Festival of Arts by The Patron of The Arts/NY, e que ficará em exposição permanente na Galeria Patron em forma digital.
Tem sido um livro que me tem dado muito gozo dar a conhecer ao publico, tanto em Portugal como nos estados Unidos. Público que normalmente repete que, e com frequência, que não gosta muito de poesia .Daí estar a trabalhar esta exposição poética de uma forma mais de proximidade onde tem havido encontros, reencontros , histórias, socialização em verso e em prosa, palavras informais sobre literatura e nós. São apresentações, quase só em feminino, não sei exatamente o porquê, mas talvez pela cor do livro, pois há quem diga que lhes faz lembrar um convite para um chá inglês dos anos vinte😊, mas uma coisa tem acontecido; momentos recheados de letras e conversas soltas sem marcação. Palavras, muitas palavras, as mais variadas palavras, têm vindo com sentido e sentimentos.
O que tenho aprendido com estes quase quinze anos é que a apresentação de um livro é feito com gentes que se encontram e se propõem ao ato de conhecer, e não tem que ser cheio de formalidades. Tem sido uma experiência muito engraçada e enriquecedora com tanta senhora à minha volta.

Depois temos o livro “O SEGREDO DO CARVALHAL”, um livro infanto/juvenil repleto de aventura e segredos como diz o titulo. Este livro foi um projeto muito interessante. Nasceu de uma pesquisa à Região de Lafões na Internet, e foi aquando desta visita internauta que me deparei com uma página que continha uma fotografia de um inseto que me era familiar, o que não me era familiar, era o nome do inseto! Foi desta forma que percorri toda aquela página lendo e descobrindo a importância que nele havia dentro do ecossistema da região, e fiquei entusiasmadíssima com a ideia de escrever algo para os mais pequenos, sabendo eu, das grandes marotices que fazia a este escaravelho, sem conhecimento é claro.
Conhecer é educar e foi assim que me propus por mãos na escrita .

Estes dois livros foram projectos que estiveram na gaveta por algum tempo, embora por motivos diferentes um do outro.

Hoje, ver qualquer um deles no mercado é uma satisfação. Como já relatei, Sons Poéticos tem sido um gozo.
Segredos do Carvalhal é diferente, porque o público alvo são as escolas e posso dizer que me trouxe momentos gratificantes de experiências únicas e ainda de enorme aprendizagem com as crianças.
A sua apresentação foi enquadrada na programação das atividades comemorativas do Dia Mundial da Árvore e Dia Internacional Das Florestas, com enfoque na população escolar. Foi um livro que chegou ao Instituto de coordenação do ensino de português para as escolas comunitárias de língua portuguesa nos Estados Unidos, às Associações e Bibliotecas públicas em NJ, NY, CT e com promessas de chegar à Califórnia. Este gesto é importante para o conhecimento da região de Lafões . É criando intercâmbios como este que a cultura se enraíza e cresce . Dar a conhecer a fauna e a flora às crianças e aos adolescentes, em forma de conto, à diáspora e etc, é expandir a cultura e criar laços. As pontes criam-se com gestos como estes.
E finalmente “ HEROIS E HEROÍNAS DA BÍBLIA”, que destaca os valores morais e sociais, e tem a curiosidade de ser composta por autoras o que me agradou bastante e, assim participar com dois contos infanto/juvenis.
Sou uma defensora deste tipo de contos recriados para a sociedade atual e tenho o sonho de vir a publicar, assim que me seja possível, um livro para os mais pequenos. Tenho um trabalho feito e na gaveta desde dois mil vinte. Em dois mil e vinte um, estes contos, foram publicados em pequenos boletins que chegaram ao Brasil e a Moçambique e distribuídos por algumas crianças e adultos nos Estados Unidos gratuitamente. Agora tenho a vontade de ver estes textos publicados em livro. Quem sabe alguém leia esta entrevista e esteja disponível para uma parceria na área da ilustração, ou então quem queira patrocinar na aquisição de exemplares.

A ilustração do primeiro livro, foi como disse uma colaboração de artistas plásticos de diferentes países da Latino América que com grande amizade e alegria disseram sim ao projeto. Já o livro infanto/juvenil é uma ilustração de empresa norte americana, o que não deixou de ser interessante pelo facto de este projeto ser em português e o ilustrador não. Os textos eram traduzidos pelo ilustrador passo a passo e depois enviava-me para que eu aprovasse o sentido do texto. Foi um trabalho a dois muito interessante e que no final fiquei muito satisfeita.
O terceiro, uma colectânea cheia de mistério do passado, mas que as suas histórias acrescentam mais valia a esta sociedade cinzenta e de valores esquecidos, conta com ilustração da Melissa de Aveiro de cujo traço gostei imenso.

Existe alguma parte do livro, ou dos livros, em particular, que goste mais. Porquê?

Todos os filhos são amados pelos progenitores! Cada um com a sua função e diferenças, mas devo dizer que me encanta informar, trazer conhecimento e especialmente ao mais pequenos.

Indique as razões pelas quais aconselharia as pessoas a ler os seus livros? O que acha mais apelativo neles?

Um livro é um instrumento que nos permite voar, conhecer e educar. Um povo que não sabe ler é pobre, e o futuro fica em risco. Antes dos cravos de Abril, muitos livros eram proibidos. Recordo ver a minha mãe no meio dos campos agrícolas a retirar livros de seus bolsos, escondida por entre verdura, para se perder na leitura. Aprendi a ler e a respeitar a escrita, aprendi que as folhas escritas eram asas que me traziam liberdade intelectual. O respeito pelo autor numa sociedade é importante. A valorização da cultura é educação e riqueza, portanto eu penso que qualquer um destes livros acarta uma grande doze de aprendizagem não só para o leitor como me trouxe a mim ao pesquisar sobre os assuntos.

Os três livros, sem querer revelar demasiado, abordam questões muito sérias e muito actuais, e também abordam personagens importantes da cultura geral, embora talvez menos conhecidas ou a cair no esquecimento. – Fale-nos um pouco sobre isto e sobre qual a mensagem que quis passar.

Sim, temos “O Segredo do carvalhal” que aborda a questão do meio ambiente e das florestas. Este é um livro sobre a fauna e a flora da região de Lafões, a obra pretende dar a conhecer ao público infantil a importância do carvalhal e da vaca-loura, uma espécie de escaravelho que pode ser encontrada nas florestas locais; dando vida e importância ao Carvalho e a Vaca-loura no ecossistema. É um livro que sendo para o público mais pequeno não deixa os adultos indiferentes à sua leitura.
Já HEROIS E HEROÍNAS DA BÍBLIA , uma antologia em que participo com dois contos bíblicos, traz o beneficio deste conhecimento enorme, pois aprendermos pelo exemplo valioso, tanto por meio de exemplos positivos quanto de contos de advertência é imensurável . Mesmo na sociedade de hoje, reconhecemos o poder da história em aprender sobre a vida de nossos contemporâneos e nossos antepassados. O saber não ocupa lugar, é uma questão de cidadania e não religiosa, eu conto, por exemplo, a história de uma mulher, da antiguidade,  Débora, que foi juiz!

Todos os seus livros para os mais novos incluem animais, é intencional? Servem para passar alguma mensagem, para estar mais próxima dos seus leitores?

Gosto imenso da natureza e do conhecimento sobre ela. As árvores, os animais exalam vida e fazem parte de todo este jardim que nos envolve. A natureza está repleta de beleza, harmonia, cores e lições que nos ensinam a viver. É bom para o ser humano o afeto e o despertar para tudo aquilo que tem vida e gira ao nosso redor. Reparemos; as crianças, são o futuro e necessitam de dar valor a tudo o que tem fôlego e a tudo o que está ao alcance do um pequeno olhar. A natureza é uma bela obra de Deus; toda ela foi feita para nós num gesto de amor.

Não resisto a perguntar: como é que vai de novos projectos? (Ou de velhos projectos a aguardar vez…).

Os projetos fazem parte do meu ADN. Já dizia o meu pai que obra parada era um homem morto. Talvez eu lhe tenha herdado essa forma de pensar. Fazer planos é muito importante para se poder alcançar objetivos na vida, mas sempre devemos submeter nossos planos à vontade Deus, porque dele é o plano e o controle, eu só preciso da vontade, sem ela o sonho não se alcança. Essa é a essência da realização do projecto ou do sonho.
É verdade que tenho vários projetos a aguardar vez, e que eu quero tirar do ficheiro para o papel, antes de iniciar outros projetos. Não gosto de ver coisas “amontoadas”, gosto de fazer e pôr à vista 😊
Deus fará coisas novas!

  


  



Todos estes livros estão à venda nas principais livrarias online, nacionais e internacionais.

segunda-feira, 13 de maio de 2024

Desafios de autores para autores: Junho - Infância

 


Desafio Infância. Em prosa, em verso, em foto, numa frase, como entenderem. Pode ser uma memória própria, uma ficção, pode ser sobre a vossa infância ou um trabalho dirigido às crianças de hoje, a única condição é que comece por: "Ser criança é..."
Podem participar com mais do que um trabalho.
Receberemos trabalhos até ao final do dia 31 de Maio. Os trabalhos serão publicados no blogue no dia 1 de Junho, Dia Mundial da Criança. Durante todo o mês de Junho ficarão abertas as votações para o melhor trabalho.

O prémio para o texto mais votado e para o comentário/voto sorteado será um livro infantil escolhido a partir de uma lista disponibilizada por nós +  1 puzzle Dani e 1 voucher com desconto de 10% em qualquer dos livros da "Colecção Petizes Felizes!". 

sexta-feira, 10 de maio de 2024

Um dia com Aníbal Seraphim em: "O cadeado que sonhava ser livre"

"Um dia com..." é uma espécie de página de diário, real ou fictício, aqui cada autor pode fazer o relato de um episódio, fazer uma reflexão, colocar um pensamento, uma foto...

Estará disponível todo o ano, independentemente de outros projectos a correr aqui no Blogue. E está aberto a todos, se tiver algo que queira partilhar, pode enviar para geral@tecto-de-nuvens.pt ou tectodenuvens@hotmail.com indicando no assunto "Um dia com...". Podem enviar quantas participações quiserem.

O 25 de Abril e a Liberdade continuam a servir de inspiração. Se nos Desafios de Abril essa inspiração era exclusivamente em prosa, não quer dizer que não tenha, simultaneamente, inspirado a Poesia. Vamos pois saborear aos poucos essa inspiração, que a Liberdade quer-se sempre...
Aníbal Seraphim mostra como um cadeado (que representa o oposto de livre) serviu para reflexão sobre o tema..




O cadeado que sonhava ser livre


Era uma vez um cadeado
Que gostava de se aventurar
Quando viajava por todo o lado
Uns diziam que deveria parar
Outros diziam que era pecado
Mas dessas grilhetas se conseguia libertar
Tinha em mente que ser cadeado
Não era sinónimo de estar fechado
Sabendo que ao estar aberto
A felicidade andaria por perto
Assim foi pautando a sua vida
Plena de harmonia e de liberdade
Até que um dia lhe foi restringida
Por terem abusado da sua bondade
Acabou por ficar encadeado
E ao ver quem dele abusou a viajar
Ficou com o coração tão amachucado
Que já nem conseguia chorar...

Texto e imagem: Aníbal Seraphim

quinta-feira, 9 de maio de 2024

Nina Pianini, autora de "José do Egito - Yosep" e "A palavra Mulher - As 5 filhas de Selofade - ", em entrevista

 


Nina Pianini (pseudónimo), 62 anos, foi uma das autoras cujo trabalho concorreu ao nosso Prémio de Conto Infanto/Juvenil, 2023, e, como tal, teve também direito à publicação do mesmo na colectânea "Heróis e Heroínas da Bíblia - Como tu", a convite nosso, ao conto concorrente "José do Egito - Yosep" , juntou também "A palavra Mulher - As 5 filhas de Selofade- "

 E entre o Prémio e a publicação desta colectânea, fez uma "perninha" na colectânea de Natal "Memórias de Natal" com o conto "Natal Memoralis".

Mais uma vez, estamos perante uma autora que desenvolveu o gosto pela leitura e pela escrita desde muito nova. Mas foi mais além, e fez da escrita e da leitura uma (bem sucedida) missão. E conseguiu usar essa paixão, essa vocação, para contornar um problema de saúde grave.
E não por acaso, para esta colectânea escolheu abordar a questão da resiliência, tendo por inspiração a história de José do Egipto. E para provar que a luta das mulheres não começou ontem e que a determinação nos pode levar muito longe, aborda a causa das mulheres recorrendo a 5 mulheres notáveis, as 5 filhas de Selofade.
Mas deixemos que seja a autora, que se reparte por Portugal, Reino Unido e Estados Unidos, a explicar, com toda a paixão, as suas causas literárias. Nina Pianini, de voz própria e na primeira pessoa:

  Conte-nos como e porquê começou a escrever, por paixão ou por necessidade?

Escrever representa a chama que me dá vida. Brincar com as palavras, fazer levantar questões, perpetuar memórias e tradições, induzir a reflexão e a crítica, fomentar o crescimento interior, possibilitar momentos de felicidade aos leitores…tudo isso move minha vontade de escrever. Por tal, proporcionar através da escrita o bem estar dos leitores e de mim própria torna-se bastante gratificante para mim como autora.  Felizmente, começar a escrever surgiu quando me vi forçada a exercitar todos os dias a escrita após AIT’s* que me bloquearam a comunicação, o treino diário e o amor que eu tinha pela escrita possibilitou-me o desbloqueamento. À medida que escrevia, o pessoal médico que me acompanhava, surpreendia-se com a rapidez da minha evolução e com a qualidade dos textos. A motivação e o gosto pela escrita estava enraizada em mim desde a infância, sempre escrevi textos para teatros caseiros e para a minha escola, ganhando prémios de escrita em adolescente. Deixei a escrita em adulta porque não era uma profissão que desse sustentabilidade económica. Passados muitos anos, ao ver-me confrontada com a necessidade de ter de treinar para recuperar, renasceu a minha chama da escrita de forma abrupta e intensa de tão bloqueada que esteve durante tantos anos.

Por tal, escrever é a essência da minha vida, não só por me ter curado, mas devolvendo-me o que estava predestinado: ajudar a tornar crianças e jovens felizes, anteriormente como alunos e atualmente como leitores.

 

* acidente isquémico transitório

  Qual o papel que a escrita ocupa na sua vida?

Nasci a ouvir histórias pela voz da minha querida avó que, ao ler-me livros, despertou em mim o gosto pela escrita. Cresci a receber um livro por semana que a minha mãe me comprava sempre que ia à praça comprar o peixe. Era uma rotina semanal instituída, assim como se comprava o pão, o leite… e essa cultura proporcionou-me o meu enriquecimento de tal forma que me tornei eu própria escritora de textos que distribuía pelos meus colegas. O gosto dos livros e da cultura, levou-me a enveredar pelos caminhos da literatura e, mais tarde, da pedagogia. Formei-me professora e tornei-me contadora de histórias, abrindo portas fechadas cheias de teias em cubículos a que chamavam biblioteca. Meus colegas riam-se “Ninguém liga a livros…está tudo cheio de pó! Que vais fazer com eles?...” A defesa dos livros e permitir o seu acesso era imprescindível, por isso, toda cheia de pó e dedos sujos arrumava o local onde os livros estavam amontoados, fazendo inventários e classificando-os pelo CDU, enfrentando obstáculos e preconceitos para dignificar o livro. Por fim, quando tudo arrumado e as turmas assistiam à apresentação de livros, professores e alunos batiam palmas aos livros e exclamavam frequentemente: “ que linda história…nem imaginava que este livro fosse tão bom!”… e o livro passou a ser valorizado no contexto educativo.  Assim, por cada escola que passava, nas minhas horas extra, formava uma biblioteca com os livros arrumados num espaço livre que encontrasse. Fui tendo um contato muito diário com o livro e tentando introduzir novas formas de integrar o livro na sala de aula, divulgando livros aos meus alunos, à minha filha e mais tarde aos meus colegas professores. Observando o valor pedagógico, social e cultural, tirei outras licenciaturas e especializei-me em estudos literários e didáticas-pedagógicas relacionadas com a leitura. A leitura tornou-se o meu porte estandarte para o desenvolvimento íntegro educativo. Criei projetos e formei a 1ª equipa de literacias, uma inovação em Portugal envolvendo professores e alunos a integrar projetos e eventos literários sistemáticos nas suas práticas educativas, que passaram a constar nos PAA das escolas (Miúdos a votos, PNL, ... entre muitas atividades), A leitura tornou-se a paixão globalizante de toda a comunidade educativa, inserindo alunos NEE, da Unidades multideficientes e de etnias/países de várias origens comprovando o efeito social integrador da leitura e o seu contributo no aumento da percentagem do sucesso educativo.

Presentemente, a escrita tornou-se o prolongamento da leitura, sendo central na minha vivência atual como a água para viver. Ramificou na minha vida diária, apossando-se como rotina essencial ao meu bem-estar. A leitura e escrita possibilitou-me a cura. Ao aperceber-me do valor que a leitura e escrita tem sob o efeito mental e emocional das pessoas, aprofundei estudos sobre neurologia e Biblioterapia. Descobri teses e relatos científicos que comprovaram tudo aquilo por que passei. Daí tornar-me numa acérrima defensora da leitura como cura neurológica e da Biblioterapia como cura das emoções. Verifiquei também o aspeto solidário da escrita ao possibilitar-me tornar felizes os leitores para quem escrevo. Anseio sempre por escrever o próximo livro. Fico sempre ansiosa que seja aquele livro que se tornará conhecido, não para que seja reconhecida, mas porque agradou ao leitor. Essa é a intencionalidade dos meus textos: tornar leitores felizes e possibilitar o seu bem-estar. Por tal, na hora da escrita, é inevitável a existência de uma certa conexão de empatia com o público a que me destino. É frequente estar a escrever e a rir com as graças das minhas personagens. A felicidade que se sente ao escrever um texto que irá fazer sorrir uma criança ou jovem que encontrou lá a resposta aos seus anseios ou problemas, contribuindo para o seu próprio autoconhecimento, torna o ato de escrever imensamente dignificante.

  Sempre sonhou publicar um livro? /Publicar um texto num livro?

É muito difícil publicar um livro em Portugal! E muito mais complicado ultrapassar todas as barreiras e obstáculos que se colocam no caminho. O desbravar da potente máquina do comércio leva a que editoras sejam contidas na publicação de novos autores em que o custo de publicação é extremamente elevado. Por isso, nada facilita. Por ser difícil entrar no mercado, autores como eu usualmente temos sempre toneladas de textos guardados na gaveta à espera da oportunidade. Poderiam dizer que agora já se pode publicar online sem recorrer a editoras. Isso é um risco que não recomendo a nenhum autor. E quem quer ser reconhecido pelo seu valor literário não deve nunca fazer, porque desse modo os seus textos nunca serão validados pelas entidades competentes.

No meu caso, todos os meus textos publicados são sempre sujeitos à avaliação da editora. Assim tenho a garantia que têm qualidade para serem publicados.

Será caso para perguntar: “Porque não publicou livros mais cedo?”

Desde sempre que, minha filha insistia comigo para publicar, ela acreditava vivamente que eu tinha todas as potencialidades para tal e até ficava zangada comigo por não arriscar e avançar para uma vida de escritora. Mas vivia uma vida profissional intensa em que a pedagogia da leitura assumia a minha missão de vida. Durante muitos anos, dinamizei mais de 4 sessões semanais de Hora do Conto integrando alunos com multideficiências e seus professores, assim como alunos de mais de 47 turmas regulares até ao 3ºciclo. Era conhecida por milhares de alunos que me passaram pelas mãos. Fomentei e criei imensos projetos em prol da defesa do livro e da leitura. Andava tão ocupada que nunca tinha tempo. Até que, o destino me fez parar. Tive o primeiro AIT deixando-me sem escrever e fui operada 4 vezes seguidas. Na recuperação, recomendaram-me treino da escrita e recomecei do zero. Após tantos meses de cama, passei a escrever com o tablet no meu colo. Nesse ano escrevi 60 textos! Todos acharam inacreditável e ainda mais admirados ficaram quando leram alguns dos meus textos. Como tinha tantas histórias escritas, passei a oferecê-las como forma de agradecimento às doutoras que cuidavam de mim. Se alguém tinha um filho com um determinado problema, escrevia-lhes logo um texto para levarem para casa e contarem aos filhos. O impressionante feedback deu-me incentivo perante a insistência de todos para enviar para editoras. E assim foi, passei a candidatar-me a concursos literários ou de editoras. Fui selecionada e ganhei prémios de publicação. É um processo muito demorado, ainda estou a aguardar publicação de obras. Tenho de agradecer e elogiar a editora TECTO DE NUVENS pela sua aprofundada avaliação que, ao contrário das outras editoras, preza pela rapidez na publicação e, principalmente pelo privilégio em me possibilitar contribuir com meus contos em duas das suas coletâneas. Foi uma honra ter participado e permitiu-me crescer como autora. 

  Qual é a sensação que tem ao ver, agora, o livro nas mãos?

Para um autor ver o seu livro publicado é o auge do sonho de qualquer escritor. É quando finalmente termina o longo espaço de espera desde a escrita até ao leitor. Mas compensa tudo ao ver um leitor com o nosso livro na mão… é uma alegria extremamente gratificante fazer os outros felizes.

Escrevemos para o leitor, não para nós, nem para a nossa projeção pessoal. O intuito do escritor é chegar ao leitor, por isso, sofremos com aquele compasso de espera entre edição, ilustração, distribuição, etc. Todos queremos ver os nossos textos publicados, mas temos de confiar nas escolhas e avaliações das editoras. Até é possível publicar um livro sem o apoio das editoras, publicando edição de autor, mas não terá a garantia de qualidade que uma editora nos confere. Como autora sou muitíssimo crítica do que escrevo e só avanço para publicação após avaliação da editora. Por isso, no meu caso, por mais que tenha pressa em ver todos meus textos publicados, prefiro sujeitar-me à avaliação das editoras. Depois da obra validada é que avanço para publicação. Assim, estarei a respeitar os meus leitores ao oferecer-lhes obras de qualidade. Se queremos publicar um livro, deve ser sempre com qualidade. Só assim garantimos qualidade literária dos livros que escrevemos e o respeito dos leitores.

  Tem algum projecto a ser desenvolvido, actualmente? Pensa publicar mais algum livro? Continua a sentir vontade de escrever?

O meu sonho  ainda não alcancei que é, sem dúvida, ver os meus textos dignificados em livros de capa dura. Essa é a meta que pretendo atingir e para a qual me esforço vir um dia a conseguir. Infelizmente, é um trabalho muito árduo porque o preço de publicação de um livro torna tudo mais difícil. Mas, como autora de livros para crianças, torna-se um marco a defender. As crianças mais pequenas muito facilmente rasgam as capas e o livro fica inutilizado. As editoras assumem frequentemente que, os preços de publicação sobrepõem-se. Além disso, um autor pode até ter muitos livros para crianças publicados, mas se nenhum for de capa dura, leva os pais a não valorizar o livro nem a autora e, consequentemente, a não comprar para o seu filho. Acrescente-se que, quando o autor não é conhecido, o leitor compra o livro pelo seu aspeto exterior: se tem uma imagem na capa que cativa, se as folhas são de material superior, se a capa é dura…etc. Ou seja, o aspeto exterior leva-o a querer ler o livro ou a rejeitar, infelizmente sem lerem a sinopse, cedendo ao poder do marketing. Por isso, os autores de literatura infantojuvenil talvez tenham uma tarefa mais árdua e dificultada pelo caminho. Talvez fosse producente criar apoios às editoras para esse investimento. Sem livros de capa dura para crianças, a literatura infantil nacional morre. É caso para perguntar: Como chegam, todos os anos, livros vindos do estrangeiro, onde até o custo de vida é mais elevado, e no entanto com preços incrivelmente mais baixos que os produzidos em Portugal?... É inaceitável. As editoras nacionais deveriam ter efetivamente apoio estatal para evitar que a literatura infantil caia apenas nas mãos de editoras/autores estrangeiros que nem conhecem as nossas crianças, e muito menos a nossa cultura, prejudicando gravemente o desenvolvimento das crianças do nosso país.

      Relativamente aos meus projetos do momento, assumo como meta, a minha vontade de investir na produção de livros-álbuns (de capa dura) com design artístico como prioridade para promover a arte, quer na imagem como na palavra, junto do público infantojuvenil. Por tal, tenho em execução 3 projetos: dois livros em fase de design por ilustradores profissionais e um livro prestes a ser publicado. Infelizmente, nenhum deles de capa dura!!

Continuo empenhada em valorizar a qualidade dos meus textos, candidatando-me a prémios literários, tendo já premiada. Inclusive, neste mês de março 2024, vi reconhecido o meu conto em que ganhei o Prémio do Conto Infantil de Cabeceiras de Bastos 2023, mas o acaso do destino impediu-me de o receber porque o meu 1º livro tinha sido publicado precisamente dias antes do final do prazo da referida candidatura. Na data em que concorri, ainda não tinha nenhum livro publicado nem sequer à venda, portanto, senti-me traída pelo destino, mas tive de me conformar e aceitar a diferença de regulamentos. Foi penoso devido à escassa quantidade de concursos literários para literatura infantil, deixando transparecer a menor importância dada aos nossos primeiros leitores e escritores deste gênero literário. Esquecem que o investimento na infância marca a prioridade de uma cultura. Aliás os concursos literários estão cheios de problemas: dominados por interesses económicos instalados, de poderes autárquicos ou de proximidade, até aos ditos como “politicamente corretos”. Senão vejamos, a maioria dos internacionais não deixam concorrer autores portugueses ou residentes em Portugal, enquanto os concursos literários portugueses são abertos a todos os países de língua oficial portuguesa anulando a nossa participação com a avalanche que inundam aos milhares de obras escritas em “português do Brasil” e ainda falam na qualidade literária da nossa língua!!! … Outros auferem valor elevado apenas para romances abrindo espaço apenas para autores de nome reconhecido (um autor iniciante ou de literatura infantil nunca ganha um concurso em que o prémio seja monetário com valor superior a 5 mil euros!). Para piorar tudo ainda há muitos concursos em que não podem concorrer pessoas com mais de 23 anos, outros só podem concorrer estudantes, outros só destinados a residentes na localidade…portanto, é caso para dizer que um autor  de literatura infantojuvenil não tem muitas chances se não forem as editoras a apostar no valor dos autores. Bem-haja Tecto de Nuvens, continuem o vosso bom trabalho!

  Fale-nos um pouco sobre o(s) seu(s) texto(s)

Os meus textos destinam-se ao público infantojuvenil, divertidos e educativos, baseiam-se no explorar da reflexão crítica e das emoções como pilares de bem estar. Refletem a filosofia da leitura para os mais novos, ajudando a lidar com as emoções, introduzindo saberes e despertando na criança a curiosidade para o seu autoconhecimento e do universo. Quando estou a escrever, constitui uma mais valia a minha larga experiência de contato direto com o público infantil, porque me vem sempre à cabeça episódios, ditos das crianças…e sempre atenta ao que os preocupa, tento assim nos meus textos ir ao seu encontro para ajudá-los a superar suas limitações e a refletir sobre o mundo que os rodeia através de textos divertidos que tocam notas de sons e palavras vibrantes… dando humor e musicalidade aos textos, tendo sido nesta perspetiva, que adotei o pseudónimo Nina Pianini.
Como exemplo, relativamente a obras em que participei e me marcaram vivamente, devo destacar a coletânea “Memórias de Natal” como um reviver clássico das nossas tradições. Deliciei-me a escrever o conto “Natal Memoralis”, que me transportou para a infância de todos nós. É um conto encantador cheio de ternura envolvido em pinceladas de tradições perpetuadas pelos tempos que leva qualquer um de nós a pensar no que é mais importante no Natal, tal como na vida. Nessa coletânea, todos os autores que nela participaram tornaram este livro único, repleto de emoções e sabores que brotam das recordações que nos cativam e nos fazem sentir os cheirinhos de Natal, num “Must have!”.
Este livro de iniciativa da editora Tecto de Nuvens é imprescindível pela descoberta ternurenta em que todos podem reviver suas memórias perpetuando nossa história e cultura.
Por tudo isto, um autor se esforça: trazer ao de cima o que está escondido em nós, dando-nos momentos de felicidade, para o qual o papel de apoio das editoras é a base.
Perante isto, a minha colaboração com esta editora veio a revelar-se para mim, uma autêntica pérola no oceano das editoras. Para além de me acarinhar no seu seio e a outros como eu, tem sempre um lado muito educativo de nos orientar e de nos apoiar. Por tal, recomendo vivamente esta editora e quanto a mim, possibilitou-me um mar de oportunidades que muito agradeço à editora Tecto de Nuvens, nomeadamente a participação no Livro "Heróis e Heroínas da Bíblia..." com 2 textos: José do Egito - Yosep" e "A palavra Mulher - As 5 filhas de Selofade". Foi uma enorme honra para mim, ter contribuído com esses dois textos. Eu nunca tinha lido uma bíblia. Sabia no entanto o seu valor devido à disciplina EMRC. Mas, nunca me tinha debruçado sobre os seus textos. Ao investigar o teor histórico e antropológico da época, aprendi a valorizar a Bíblia e a vê-la numa dimensão mais ampla e esclarecedora. Imensamente fascinada, foi com muito orgulho que participei nesses 2 contos fabulosos baseados nos textos bíblicos e reunidos na Coletânea “Heróis e Heroínas da Bíblia”. Recomendo vivamente lerem esta coletânea onde se apresentam exemplos humanos que nos transcendem e nos fazem refletir nos valores essenciais. É um livro que comprovadamente é fundamental nas aulas de EMRC, português, filosofia e psicologia por acarretar potencialidades de análise reflexiva do texto permitindo o debate crítico para o desenvolvimento do crescimento individual. “Um livro essencial a integrar o Plano Nacional de Leitura”, foi a opinião de psicólogas e colegas professoras que ficaram completamente fascinadas ao lê-lo.

  Existe alguma parte do texto, em particular, que goste mais. Porquê?

Preocupo-me sempre em promover o crescimento íntegro e, como tal, é indissociável a existência nos meus textos da reflexão e critica, mesmo que não esteja expressa de forma direta, mas que leve o leitor a induzir, pensar e mudar sua atitude para melhor. Isso está sempre presente em alguma parte do texto, pois a escrita deve elevar o leitor e provocar mudanças no seu interior.
Como autora Nina Pianini, assumo a defesa dos direitos como presente em todos os meus textos. Aliás, o meu primeiro Prémio Literário de Palmela foi o conto “Fadado de Direitos”, demarcando assim bem o valor que os meus textos pretendem promover no leitor. Assumo como outros meus colegas autores, a importância do uso da palavra. A palavra pode mover montanhas. Não basta escrever por escrever, qualquer um de nós pode escrever, mas o nosso olho crítico à sociedade, o cuidado com que trabalhamos as palavras e a força delas no leitor, podem transformá-lo e ajudar a criar um mundo melhor.
Como Nina Pianini defendo que a minha escrita possa ajudar a transformar, destaco aqui o meu conto “A palavra mulher” que consta da coletânea Heróis e Heroínas bíblicas” da editora Tecto de Nuvens. Um conto baseado nas 5 filhas de Selofade que aqui transcrevo duas partes bastante elucidativas do que atrás referi:

 “…anteviram que o seu futuro iria ser muito penoso para cada uma delas, apenas pela culpa de ser…MULHER!
    Pelo caminho, várias mulheres acomodadas à sua situação de mulher, ainda as tentaram demover, dizendo-lhes:

- As leis não estão feitas para a… MULHER!

- Deveriam conformar-se como nós! Sempre foi assim e sempre assim será! - Sonhais com coisas impossíveis!

- Não vão conseguir nada!..

  Diziam as outras mulheres à volta das irmãs ao se despedirem delas, crentes de que nada alteraria a tradição.”

 

E no seu final:

“…Pioneiras na luta pelos direitos das mulheres, a influência delas mudou o seu destino e o de todas as outras mulheres da época até aos nossos dias.

  Se nos unirmos, chegaremos a lugares onde jamais estaríamos se fossemos sozinhos, conseguindo mudar o Mundo para melhor!

              Assim, a palavra “MULHER” ganhou DIGNIDADE conquistada pela UNIÃO das 5 filhas

              de Zelofeade!”

               

 

  Indique as razões pelas quais aconselharia as pessoas a ler o seu texto? O que acha mais apelativo no seu texto?

Os textos de Nina Pianini destinam-se a crianças e jovens e, principalmente pretende captar a atenção daqueles que não gostam de ler. Escrever para os que gostam de ler, já temos conquistados, mas para aqueles que odeiam os livros é que exige a nossa redobrada atenção. São esses que temos de conquistar pelos problemas que os heróis padecem tal como eles, pelas dificuldades que enfrentam e com que se identificam… Frequentemente, as crianças e jovens não gostam de ler ou até detestam e repudiam os livros. Os meus livros querem ser lidos por aqueles infortunados que não gostam de ler. Exige de mim, um trabalho mais complexo para que o meu texto fomente o gosto pela leitura e para a compreensão do valor que a leitura tem para a evolução como pessoa individual e social. Assim, os textos de Nina Pianini reforça o uso de linguagem acessível, rica de imagens e com humor presentes nos textos. A escolha do pseudónimo “Nina Pianini”, reflete bem a intencionalidade da minha escrita alegre e até algo brincalhão, tocando teclas de sons, de palavras, de significados, de ideias promovendo o gosto por ler. Porque só criando o gosto de ler, o leitor voltará a ler.

  Qual é o seu estilo de escrita ou que tipo de mensagem gosta de passar no que escreve?

Para mim, ter concorrido à 1ª edição do Prémio Teto de Nuvens representou um marco que revolucionou a minha vida de escrita. Apesar de não ter sido vencedora, esta editora tomou uma postura completamente inédita de considerar essencial dar oportunidade aos autores que participaram e se destacaram ou manifestaram qualidade literária. Contataram-me, assim como aos outros autores e propuseram publicar uma coletânea com os nossos contos, surpreendentemente a custo zero sem qualquer contrapartida. Destaco este caráter genuíno e honesto desta editora ao não exigir aos autores qualquer pagamento em troca, comprovando a originalidade da missão desta editora. Ora, apostar na divulgação da cultura e nos seus autores, é um risco comercial que corre e, por tal, deve ser elogiada e apoiada por todos nós comprando seus livros.

Assim, esta editora vai crescendo e marcando a sua diferença. E, apoiando vigorosamente seus autores, faz-nos progredir. Tenho muito orgulho nesta interação cooperativa/colaborativa com a Tecto de Nuvens pela sua forma genuína de proteger e fomentar a escrita dos autores. Completamente agindo “fora da caixa”, lança-nos desafios mensais, coloca-nos propostas arrojadas e provocantes de votações nos textos preferidos… Em contrapartida, no meu caso, sinto-me muito gratificada pela proximidade que esta editora estabelece com seus autores e em colaborar, eu própria, o melhor que puder para o desenvolvimento e visibilidade desta editora.

Como autora para crianças/jovens, a minha escrita tem como missão o bem estar, o conhecimento íntegro, a reflexão crítica,  a defesa dos direitos  e estimular a criança a gostar de ler, embora, não infantilizando demais os textos. Como profissional educativa, abomino aqueles que quando se dirigem às crianças, acrescentam sempre o “…inho” a todas as palavras: “Toma o teu banquinho, traz a tua canequinha, olha o teu pratinho…”, inferiorizando a criança. A criança é um ser pensante bastante observador e crítico, por vezes o adulto tende a vê-lo como um ser incapaz de um pensamento analítico ou refletivo e isso traduz-se em muita da literatura para crianças nas prateleiras das livrarias, em que subsistem títulos e enredos demasiado infantilizados que leva a criança a não os ler, pois a criança não quer que o tratem eternamente como um bebé. É um insulto para a criança, continuarmos a insistir numa literatura idealizada “de florzinhas” em que os problemas que eles sentem são escondidos ou de que não se fala. Ora, as crianças precisam de falar dos seus problemas, de saber como os seus heróis conseguiram superar as dificuldades. Dá-lhes ensinamentos para a sua vida futura. E a leitura deve induzir essa reflexão que sem a qual não há transformação! Dignificar uma literatura infantil deve possibilitar o crescimento pessoal e intelectual, dando leves pinceladas de conhecimento, aqui e ali, pelo texto, de novas palavras, de alguns rigores históricos ou científicos para que a criança em simultâneo vá adquirindo também conhecimentos que lhe virão a ser úteis.

Dentro deste contexto educativo, escrevi diversos tipos de contos: Contos maravilhosos/contos de fadas, contos de critica social, contos com teor diversificado desde histórico, bíblico, defesa da natureza, património e problemáticas familiares e sociais. A minha intencionalidade é divulgar livros como potencial para a progressão global da pessoa, centrada em promover a literatura e o valor literário dos textos. Escrevo textos com cuidado e rigor literário e com a intenção de que possam vir a contribuir para o desenvolvimento íntegro da criança e da sociedade. Não pretendo que o texto tenha lições de moral ou de remate moralista, mas que induza à mudança de comportamentos do leitor para ser feliz e para uma melhor sociedade futura.

 

  Qual o papel das redes sociais na vida e na divulgação da obra de um autor? E na sua?


O perigo das redes sociais reside no facto da falta de creditação. Perfis falsos, fake news, propagação de produtos não classificados… tudo em proveito próprio, tornando-se numa teia difícil de combater.
Mas como quem está fora da rede, não existe, temos de apostar na qualidade e saber escolher os sites, blogues…deve ser muito bem analisado antes de clicar e se tornar seguidor seja de quem for. Existem muitas formas de se verificar a credibilidade do site/blogue...
No caso dos autores de livros é bastante confiável visitarem os seus sites, pois nenhum autor gostaria de fomentar má propaganda e muito menos arriscar destruir a sua imagem com conteúdos inapropriados. Os autores estão nas redes sociais, com veracidade de factos, equilíbrio e respeito.
Para o autor é vital que tenha a sua presença na rede social, tal como eu tenho o meu site Nina Pianini com o seguinte endereço: https://ninapianini.pt/
Este site ainda em fase inicial, serve como ponte para divulgação das obras, promoção das novidades literárias e para permitir aos leitores conhecerem melhor a autora, assim como possibilitar entrar em contacto com a autora e, em simultâneo, a autora estabelecer conexão com seus leitores para receber o feedback de como reagem aos seus livros, conhecer gostos e interesses dos seus leitores.
A comunidade dos autores literários, de um modo geral, apresentam bons e fiáveis sites onde não consta abuso para aproveitamento de outros fins comerciais como acontece nos sites de artistas ou da mass media que serve para se vangloriarem pelos selfies a usar a mala da marca X, ou a vestir a marcam Y para somar seguidores e viver do lucro dos “clics”.

   Gosta de ler? Que tipo de leitor é que é?

Sempre amei os livros. Dormia com eles na minha cabeceira, carregava imensos livros de escola para escola na mala do meu carro, oferecia livros pagos com o meu ordenado preocupada em proporcionar aos meus colegas professores as condições para fazerem um bom trabalho na promoção da leitura. Contribui na execução e produção de projetos didático-pedagógicos que foram reconhecidos como por exemplo em 27 de março 2024 no Encontro EPIS- empresários pela inclusão social  em que se falou do meu papel na criação do projeto de literacias.

É caso para dizer: ”A sementeira deu frutos.” Deixei minhas raízes, fazendo valer a pena o meu esforço.

Um leitor nunca deixa de ler, e quanto a mim, faço as minhas visitas semanais às livrarias e bibliotecas locais.

Ler constitui uma terapia essencial para o meu bem estar!

  




 


Heróis e Heroínas da Bíblia – Como tu… - Contos – Várias autoras
PVP: 13,00€
192 páginas, capa mole; Tecto de Nuvens, 2024

Desde sempre que os feitos dos heróis e heroínas foram divulgados, contados e recontados; celebrados, perpetuados sob inúmeras formas (…) O nosso propósito é fazer algum paralelo entre as situações vividas pelas personagens bíblicas e aquela que pode ser a vida de “personagens contemporâneas”;(…) os contos foram enriquecidos com as ilustrações da Melissa de Aveiro.


Livro disponível nas principais plataformas nacionais e internacionais e na nossa loja online.

Pode encomendar enviando email para loja@tecto-de-nuvens.pt



Não há necessidade nestas entrevistas de contraditório, mas gostaríamos que mais leitores fizessem os seus comentários no Blogue em vez de nos mandarem emails privados, que não se destinam aos autores, a dar a sua opinião, e a falar das suas experiências.

Nesse sentido, com esperança de fomentar esse diálogo, esta editora (Teresa Cunha) e esta Editora (Tecto de Nuvens) podem complementar a opinião desta autora, que é também a de outros autores, em relação às capas duras.

Em primeiro lugar, não faz parte da cultura livreira europeia a capa dura como sinal de prestígio do autor ou da obra. Felizmente! A vaidade da capa dura anda a par com a iliteracia, os bonitos livros de capa dura são bibelôs para enfeite. Os livros de capa mole são muito mais práticos muito mais propícios à leitura, seja onde for, sem esforço. – Obras de colecção são outro departamento. –

Enquanto livreiros a nossa experiência em relação a livros de capa mole e de capa dura era que os de capa dura eram para oferecer e ficar na estante (“para não estragar”), os livros de capa mole eram para ler e para interagir à vontade. – Um rasgão na capa mole corrige-se com fita cola, um estrago na capa dura, regra geral é a capa soltar-se e depois, uma a uma, também as folhas. Os livros de capa dura são também mais perigosos, as esquinas, mesmo as arredondadas, podem magoar seriamente.

Finalmente, os custos. Os livros que chegam de fora não são produzidos às centenas, mas sim às centenas de milhar. Ficam muito mais baratos (e que se “lixe” em que condições são produzidos – as taças de arroz ainda são um salário relativamente barato - e se os materiais são ou não seguros. E “cala-te boca!”…) e não há forma legal ou ética de competir com esses valores.

Apesar de muito se terem arreigado coisas, a verdade é que o Acordo Ortográfico mudou coisa nenhuma, continua a haver o Português de Portugal e o do Brasil. Sendo assim o investimento em capa dura seria limitado ao Português para Portugal e para os PALOP, e convenhamos que os pais africanos se estão, com toda a razão, completamente maribando para a “importância” das capas duras. Querem é mesmo livros. Quando se conseguem enviar livros (que o transporte está longe de ser barato) parece-nos sempre que só podendo enviar 2 caixas, faz mais sentido que levem 150 exemplares de capa mole do que 75 de capa dura…

Posto isto, fazemos livros de capa dura, mas a nossa política com os autores é que proporcionem boas histórias para serem lidas e, quando o entenderem, então proporcionem, em número limitado, a opção do luxo de uma capa dura.

Quero, pois, tranquilizar os autores, não se sintam diminuídos pelo formato do livro, deixem que seja o vosso talento a falar, com mais ou menos tempo, a palavra chegará aos pais e aos educadores. Lembro que eu, e muitos de idade próxima (e mais velhos) lemos muito boa literatura (que ainda recordamos) publicada, sem capa (a capa era feita do mesmo material das restantes páginas, tudo num papel menos do que nobre – mas que ainda existe nas nossas estantes) pela Figueirinhas.

Lembrem-se que um poema escrito num guardanapo de papel não tem menos valor do que publicado no mais rico dos papéis e encadernado com ouro e pedras preciosas…

 

E agora uma provocaçãozinha… Mas nós vivemos no país do “arrozinho”, do “pãozinho”, do “cafezinho”, do “bolinho”, da “sopinha”, da “roupinha nova para a festinha”, e toda a gente sonha ter uma “casinha”… Eu diria que somos uns incorrigíveis “queridinhos”… 😉

 

Teresa Cunha, editora