Nina Pianini (pseudónimo), 62 anos, foi uma das autoras cujo trabalho concorreu ao nosso Prémio de Conto Infanto/Juvenil, 2023, e, como tal, teve também direito à publicação do mesmo na colectânea "Heróis e Heroínas da Bíblia - Como tu", a convite nosso, ao conto concorrente "José do Egito - Yosep" , juntou também "A palavra Mulher - As 5 filhas de Selofade- " E entre o Prémio e a publicação desta colectânea, fez uma "perninha" na colectânea de Natal "Memórias de Natal" com o conto "Natal Memoralis".
Mais uma vez, estamos perante uma autora que desenvolveu o gosto pela leitura e pela escrita desde muito nova. Mas foi mais além, e fez da escrita e da leitura uma (bem sucedida) missão. E conseguiu usar essa paixão, essa vocação, para contornar um problema de saúde grave.
E não por acaso, para esta colectânea escolheu abordar a questão da resiliência, tendo por inspiração a história de José do Egipto. E para provar que a luta das mulheres não começou ontem e que a determinação nos pode levar muito longe, aborda a causa das mulheres recorrendo a 5 mulheres notáveis, as 5 filhas de Selofade.
Mas deixemos que seja a autora, que se reparte por Portugal, Reino Unido e Estados Unidos, a explicar, com toda a paixão, as suas causas literárias. Nina Pianini, de voz própria e na primeira pessoa:
Conte-nos como e porquê começou a escrever,
por paixão ou por necessidade?
Escrever representa a
chama que me dá vida. Brincar com as palavras, fazer levantar questões,
perpetuar memórias e tradições, induzir a reflexão e a crítica, fomentar o
crescimento interior, possibilitar momentos de felicidade aos leitores…tudo
isso move minha vontade de escrever. Por tal, proporcionar através da escrita o
bem estar dos leitores e de mim própria torna-se bastante gratificante para mim
como autora. Felizmente, começar a
escrever surgiu quando me vi forçada a exercitar todos os dias a escrita após
AIT’s* que me bloquearam a comunicação, o
treino diário e o amor que eu tinha pela escrita possibilitou-me o
desbloqueamento. À medida que escrevia, o pessoal médico que me acompanhava,
surpreendia-se com a rapidez da minha evolução e com a qualidade dos textos. A
motivação e o gosto pela escrita estava enraizada em mim desde a infância,
sempre escrevi textos para teatros caseiros e para a minha escola, ganhando
prémios de escrita em adolescente. Deixei a escrita em adulta porque não era
uma profissão que desse sustentabilidade económica. Passados muitos anos, ao
ver-me confrontada com a necessidade de ter de treinar para recuperar, renasceu
a minha chama da escrita de forma abrupta e intensa de tão bloqueada que esteve
durante tantos anos.
Por tal, escrever é a
essência da minha vida, não só por me ter curado, mas devolvendo-me o que
estava predestinado: ajudar a tornar crianças e jovens felizes, anteriormente como
alunos e atualmente como leitores.
* acidente
isquémico transitório
Qual o papel que a escrita ocupa na sua
vida?
Nasci a ouvir
histórias pela voz da minha querida avó que, ao ler-me livros, despertou em mim
o gosto pela escrita. Cresci a receber um livro por semana que a minha mãe me comprava
sempre que ia à praça comprar o peixe. Era uma rotina semanal instituída, assim
como se comprava o pão, o leite… e essa cultura proporcionou-me o meu
enriquecimento de tal forma que me tornei eu própria escritora de textos que
distribuía pelos meus colegas. O gosto dos livros e da cultura, levou-me a
enveredar pelos caminhos da literatura e, mais tarde, da pedagogia. Formei-me
professora e tornei-me contadora de histórias, abrindo portas fechadas cheias
de teias em cubículos a que chamavam biblioteca. Meus colegas riam-se “Ninguém
liga a livros…está tudo cheio de pó! Que vais fazer com eles?...” A defesa dos
livros e permitir o seu acesso era imprescindível, por isso, toda cheia de pó e
dedos sujos arrumava o local onde os livros estavam amontoados, fazendo
inventários e classificando-os pelo CDU, enfrentando obstáculos e preconceitos para
dignificar o livro. Por fim, quando tudo arrumado e as turmas assistiam à
apresentação de livros, professores e alunos batiam palmas aos livros e
exclamavam frequentemente: “ que linda história…nem imaginava que este livro
fosse tão bom!”… e o livro passou a ser valorizado no contexto educativo. Assim, por cada escola que passava, nas
minhas horas extra, formava uma biblioteca com os livros arrumados num espaço
livre que encontrasse. Fui tendo um contato muito diário com o livro e tentando
introduzir novas formas de integrar o livro na sala de aula, divulgando livros
aos meus alunos, à minha filha e mais tarde aos meus colegas professores. Observando
o valor pedagógico, social e cultural, tirei outras licenciaturas e especializei-me
em estudos literários e didáticas-pedagógicas relacionadas com a leitura. A
leitura tornou-se o meu porte estandarte para o desenvolvimento íntegro
educativo. Criei projetos e formei a 1ª equipa de literacias, uma inovação em
Portugal envolvendo professores e alunos a integrar projetos e eventos
literários sistemáticos nas suas práticas educativas, que passaram a constar
nos PAA das escolas (Miúdos a votos, PNL, ... entre muitas atividades), A
leitura tornou-se a paixão globalizante de toda a comunidade educativa,
inserindo alunos NEE, da Unidades multideficientes e de etnias/países de várias
origens comprovando o efeito social integrador da leitura e o seu contributo no
aumento da percentagem do sucesso educativo.
Presentemente,
a escrita tornou-se o prolongamento da leitura, sendo central na minha vivência
atual como a água para viver. Ramificou na minha vida diária, apossando-se como
rotina essencial ao meu bem-estar. A leitura e escrita possibilitou-me a cura. Ao
aperceber-me do valor que a leitura e escrita tem sob o efeito mental e
emocional das pessoas, aprofundei estudos sobre neurologia e Biblioterapia.
Descobri teses e relatos científicos que comprovaram tudo aquilo por que
passei. Daí tornar-me numa acérrima defensora da leitura como cura neurológica
e da Biblioterapia como cura das emoções. Verifiquei também o aspeto solidário
da escrita ao possibilitar-me tornar felizes os leitores para quem escrevo. Anseio sempre por escrever o próximo
livro. Fico sempre ansiosa que seja aquele livro que se tornará conhecido, não
para que seja reconhecida, mas porque agradou ao leitor. Essa é a
intencionalidade dos meus textos: tornar leitores felizes e possibilitar o seu
bem-estar. Por tal, na hora da escrita, é inevitável a existência de uma certa conexão
de empatia com o público a que me destino. É frequente estar a escrever e a rir
com as graças das minhas personagens. A felicidade que se sente ao escrever um
texto que irá fazer sorrir uma criança ou jovem que encontrou lá a resposta aos
seus anseios ou problemas, contribuindo para o seu próprio autoconhecimento, torna
o ato de escrever imensamente dignificante.
Sempre sonhou publicar um livro? /Publicar
um texto num livro?
É muito
difícil publicar um livro em Portugal! E muito mais complicado ultrapassar
todas as barreiras e obstáculos que se colocam no caminho. O desbravar da
potente máquina do comércio leva a que editoras sejam contidas na publicação de
novos autores em que o custo de publicação é extremamente elevado. Por isso,
nada facilita. Por ser difícil entrar no mercado, autores como eu usualmente temos
sempre toneladas de textos guardados na gaveta à espera da oportunidade.
Poderiam dizer que agora já se pode publicar online sem recorrer a editoras. Isso
é um risco que não recomendo a nenhum autor. E quem quer ser reconhecido pelo
seu valor literário não deve nunca fazer, porque desse modo os seus textos nunca
serão validados pelas entidades competentes.
No meu caso,
todos os meus textos publicados são sempre sujeitos à avaliação da editora.
Assim tenho a garantia que têm qualidade para serem publicados.
Será caso para
perguntar: “Porque não publicou livros mais cedo?”
Desde sempre
que, minha filha insistia comigo para publicar, ela acreditava vivamente que eu
tinha todas as potencialidades para tal e até ficava zangada comigo por não
arriscar e avançar para uma vida de escritora. Mas vivia uma vida profissional
intensa em que a pedagogia da leitura assumia a minha missão de vida. Durante
muitos anos, dinamizei mais de 4 sessões semanais de Hora do Conto integrando
alunos com multideficiências e seus professores, assim como alunos de mais de
47 turmas regulares até ao 3ºciclo. Era conhecida por milhares de alunos que me
passaram pelas mãos. Fomentei e criei imensos projetos em prol da defesa do
livro e da leitura. Andava tão ocupada que nunca tinha tempo. Até que, o
destino me fez parar. Tive o primeiro AIT deixando-me sem escrever e fui operada
4 vezes seguidas. Na recuperação, recomendaram-me treino da escrita e recomecei
do zero. Após tantos meses de cama, passei a escrever com o tablet no meu colo.
Nesse ano escrevi 60 textos! Todos acharam inacreditável e ainda mais admirados
ficaram quando leram alguns dos meus textos. Como tinha tantas histórias
escritas, passei a oferecê-las como forma de agradecimento às doutoras que
cuidavam de mim. Se alguém tinha um filho com um determinado problema, escrevia-lhes
logo um texto para levarem para casa e contarem aos filhos. O impressionante feedback
deu-me incentivo perante a insistência de todos para enviar para editoras. E
assim foi, passei a candidatar-me a concursos literários ou de editoras. Fui
selecionada e ganhei prémios de publicação. É um processo muito demorado, ainda
estou a aguardar publicação de obras. Tenho de agradecer e elogiar a editora TECTO
DE NUVENS pela sua aprofundada avaliação que, ao contrário das outras editoras,
preza pela rapidez na publicação e, principalmente pelo privilégio em me
possibilitar contribuir com meus contos em duas das suas coletâneas. Foi uma
honra ter participado e permitiu-me crescer como autora.
Qual é a sensação que tem ao ver, agora, o
livro nas mãos?
Para um autor
ver o seu livro publicado é o auge do sonho de qualquer escritor. É quando
finalmente termina o longo espaço de espera desde a escrita até ao leitor. Mas
compensa tudo ao ver um leitor com o nosso livro na mão… é uma alegria extremamente
gratificante fazer os outros felizes.
Escrevemos
para o leitor, não para nós, nem para a nossa projeção pessoal. O intuito do
escritor é chegar ao leitor, por isso, sofremos com aquele compasso de espera
entre edição, ilustração, distribuição, etc. Todos queremos ver os nossos
textos publicados, mas temos de confiar nas escolhas e avaliações das editoras.
Até é possível publicar um livro sem o apoio das editoras, publicando edição de
autor, mas não terá a garantia de qualidade que uma editora nos confere. Como
autora sou muitíssimo crítica do que escrevo e só avanço para publicação após
avaliação da editora. Por isso, no meu caso, por mais que tenha pressa em ver todos
meus textos publicados, prefiro sujeitar-me à avaliação das editoras. Depois da
obra validada é que avanço para publicação. Assim, estarei a respeitar os meus
leitores ao oferecer-lhes obras de qualidade. Se queremos publicar um livro, deve
ser sempre com qualidade. Só assim garantimos qualidade literária dos livros
que escrevemos e o respeito dos leitores.
Tem algum projecto a ser desenvolvido,
actualmente? Pensa publicar mais algum livro? Continua a sentir vontade de
escrever?
O meu sonho ainda não alcancei que é, sem dúvida, ver os meus
textos dignificados em livros de capa dura. Essa é a meta que pretendo atingir
e para a qual me esforço vir um dia a conseguir. Infelizmente, é um trabalho
muito árduo porque o preço de publicação de um livro torna tudo mais difícil. Mas,
como autora de livros para crianças, torna-se um marco a defender. As crianças
mais pequenas muito facilmente rasgam as capas e o livro fica inutilizado. As
editoras assumem frequentemente que, os preços de publicação sobrepõem-se. Além
disso, um autor pode até ter muitos livros para crianças publicados, mas se nenhum
for de capa dura, leva os pais a não valorizar o livro nem a autora e, consequentemente,
a não comprar para o seu filho. Acrescente-se que, quando o autor não é
conhecido, o leitor compra o livro pelo seu aspeto exterior: se tem uma imagem
na capa que cativa, se as folhas são de material superior, se a capa é
dura…etc. Ou seja, o aspeto exterior leva-o a querer ler o livro ou a rejeitar,
infelizmente sem lerem a sinopse, cedendo ao poder do marketing. Por isso, os
autores de literatura infantojuvenil talvez tenham uma tarefa mais árdua e
dificultada pelo caminho. Talvez fosse producente criar apoios às editoras para
esse investimento. Sem livros de capa dura para crianças, a literatura infantil
nacional morre. É caso para perguntar: Como chegam, todos os anos, livros vindos
do estrangeiro, onde até o custo de vida é mais elevado, e no entanto com preços
incrivelmente mais baixos que os produzidos em Portugal?... É inaceitável. As
editoras nacionais deveriam ter efetivamente apoio estatal para evitar que a
literatura infantil caia apenas nas mãos de editoras/autores estrangeiros que
nem conhecem as nossas crianças, e muito menos a nossa cultura, prejudicando gravemente
o desenvolvimento das crianças do nosso país.
Relativamente
aos meus projetos do momento, assumo como meta, a minha vontade de investir na
produção de livros-álbuns (de capa dura) com design artístico como prioridade
para promover a arte, quer na imagem como na palavra, junto do público
infantojuvenil. Por tal, tenho em execução 3 projetos: dois livros em fase de design
por ilustradores profissionais e um livro prestes a ser publicado. Infelizmente,
nenhum deles de capa dura!!
Continuo empenhada
em valorizar a qualidade dos meus textos, candidatando-me a prémios literários,
tendo já premiada. Inclusive, neste mês de março 2024, vi reconhecido o meu
conto em que ganhei o Prémio do Conto Infantil de Cabeceiras de Bastos 2023,
mas o acaso do destino impediu-me de o receber porque o meu 1º livro tinha sido
publicado precisamente dias antes do final do prazo da referida candidatura. Na
data em que concorri, ainda não tinha nenhum livro publicado nem sequer à venda,
portanto, senti-me traída pelo destino, mas tive de me conformar e aceitar a
diferença de regulamentos. Foi penoso devido à escassa quantidade de concursos
literários para literatura infantil, deixando transparecer a menor importância dada
aos nossos primeiros leitores e escritores deste gênero literário. Esquecem que
o investimento na infância marca a prioridade de uma cultura. Aliás os
concursos literários estão cheios de problemas: dominados por interesses
económicos instalados, de poderes autárquicos ou de proximidade, até aos ditos
como “politicamente corretos”. Senão vejamos, a maioria dos internacionais não
deixam concorrer autores portugueses ou residentes em Portugal, enquanto os
concursos literários portugueses são abertos a todos os países de língua
oficial portuguesa anulando a nossa participação com a avalanche que inundam aos
milhares de obras escritas em “português do Brasil” e ainda falam na qualidade
literária da nossa língua!!! … Outros auferem valor elevado apenas para
romances abrindo espaço apenas para autores de nome reconhecido (um autor
iniciante ou de literatura infantil nunca ganha um concurso em que o prémio
seja monetário com valor superior a 5 mil euros!). Para piorar tudo ainda há muitos
concursos em que não podem concorrer pessoas com mais de 23 anos, outros só
podem concorrer estudantes, outros só destinados a residentes na
localidade…portanto, é caso para dizer que um autor de literatura infantojuvenil não tem muitas
chances se não forem as editoras a apostar no valor dos autores. Bem-haja Tecto
de Nuvens, continuem o vosso bom trabalho!
Fale-nos um pouco sobre o(s) seu(s) texto(s)
Os meus textos destinam-se ao público infantojuvenil, divertidos e educativos, baseiam-se no explorar da reflexão crítica e das emoções como pilares de bem estar. Refletem a filosofia da leitura para os mais novos, ajudando a lidar com as emoções, introduzindo saberes e despertando na criança a curiosidade para o seu autoconhecimento e do universo. Quando estou a escrever, constitui uma mais valia a minha larga experiência de contato direto com o público infantil, porque me vem sempre à cabeça episódios, ditos das crianças…e sempre atenta ao que os preocupa, tento assim nos meus textos ir ao seu encontro para ajudá-los a superar suas limitações e a refletir sobre o mundo que os rodeia através de textos divertidos que tocam notas de sons e palavras vibrantes… dando humor e musicalidade aos textos, tendo sido nesta perspetiva, que adotei o pseudónimo Nina Pianini.
Como exemplo, relativamente a obras em que participei e me marcaram vivamente, devo destacar a coletânea “Memórias de Natal” como um reviver clássico das nossas tradições. Deliciei-me a escrever o conto “Natal Memoralis”, que me transportou para a infância de todos nós. É um conto encantador cheio de ternura envolvido em pinceladas de tradições perpetuadas pelos tempos que leva qualquer um de nós a pensar no que é mais importante no Natal, tal como na vida. Nessa coletânea, todos os autores que nela participaram tornaram este livro único, repleto de emoções e sabores que brotam das recordações que nos cativam e nos fazem sentir os cheirinhos de Natal, num “Must have!”.
Este livro de iniciativa da editora Tecto de Nuvens é imprescindível pela descoberta ternurenta em que todos podem reviver suas memórias perpetuando nossa história e cultura.
Por tudo isto, um autor se esforça: trazer ao de cima o que está escondido em nós, dando-nos momentos de felicidade, para o qual o papel de apoio das editoras é a base.
Perante isto, a minha colaboração com esta editora veio a revelar-se para mim, uma autêntica pérola no oceano das editoras. Para além de me acarinhar no seu seio e a outros como eu, tem sempre um lado muito educativo de nos orientar e de nos apoiar. Por tal, recomendo vivamente esta editora e quanto a mim, possibilitou-me um mar de oportunidades que muito agradeço à editora Tecto de Nuvens, nomeadamente a participação no Livro "Heróis e Heroínas da Bíblia..." com 2 textos: José do Egito - Yosep" e "A palavra Mulher - As 5 filhas de Selofade". Foi uma enorme honra para mim, ter contribuído com esses dois textos. Eu nunca tinha lido uma bíblia. Sabia no entanto o seu valor devido à disciplina EMRC. Mas, nunca me tinha debruçado sobre os seus textos. Ao investigar o teor histórico e antropológico da época, aprendi a valorizar a Bíblia e a vê-la numa dimensão mais ampla e esclarecedora. Imensamente fascinada, foi com muito orgulho que participei nesses 2 contos fabulosos baseados nos textos bíblicos e reunidos na Coletânea “Heróis e Heroínas da Bíblia”. Recomendo vivamente lerem esta coletânea onde se apresentam exemplos humanos que nos transcendem e nos fazem refletir nos valores essenciais. É um livro que comprovadamente é fundamental nas aulas de EMRC, português, filosofia e psicologia por acarretar potencialidades de análise reflexiva do texto permitindo o debate crítico para o desenvolvimento do crescimento individual. “Um livro essencial a integrar o Plano Nacional de Leitura”, foi a opinião de psicólogas e colegas professoras que ficaram completamente fascinadas ao lê-lo.
Existe alguma parte do texto, em
particular, que goste mais. Porquê?
Preocupo-me sempre em
promover o crescimento íntegro e, como tal, é indissociável a existência nos
meus textos da reflexão e critica, mesmo que não esteja expressa de forma
direta, mas que leve o leitor a induzir, pensar e mudar sua atitude para
melhor. Isso está sempre presente em alguma parte do texto, pois a escrita deve
elevar o leitor e provocar mudanças no seu interior.
Como autora Nina Pianini, assumo
a defesa dos direitos como presente em todos os meus textos. Aliás, o meu
primeiro Prémio Literário de Palmela foi o conto “Fadado de Direitos”, demarcando
assim bem o valor que os meus textos pretendem promover no leitor. Assumo como
outros meus colegas autores, a importância do uso da palavra. A palavra pode
mover montanhas. Não basta escrever por escrever, qualquer um de nós pode
escrever, mas o nosso olho crítico à sociedade, o cuidado com que trabalhamos
as palavras e a força delas no leitor, podem transformá-lo e ajudar a criar um
mundo melhor.
Como Nina Pianini defendo
que a minha escrita possa ajudar a transformar, destaco aqui o meu conto “A
palavra mulher” que consta da coletânea Heróis e Heroínas bíblicas” da editora
Tecto de Nuvens. Um conto baseado nas 5 filhas de Selofade que aqui transcrevo
duas partes bastante elucidativas do que atrás referi:
“…anteviram que o seu futuro iria ser muito penoso para
cada uma delas, apenas pela culpa de ser…MULHER!
Pelo caminho, várias mulheres acomodadas à
sua situação de mulher, ainda as tentaram demover, dizendo-lhes:
- As leis não
estão feitas para a… MULHER!
- Deveriam
conformar-se como nós! Sempre foi assim e sempre assim será! - Sonhais com
coisas impossíveis!
- Não vão
conseguir nada!..
Diziam as outras mulheres à volta das irmãs
ao se despedirem delas, crentes de que nada alteraria a tradição.”
E no seu final:
“…Pioneiras na
luta pelos direitos das mulheres, a influência delas mudou o seu destino e o de
todas as outras mulheres da época até aos nossos dias.
Se nos unirmos, chegaremos a lugares onde
jamais estaríamos se fossemos sozinhos, conseguindo mudar o Mundo para melhor!
Assim, a palavra
“MULHER” ganhou DIGNIDADE conquistada pela UNIÃO das 5 filhas
de Zelofeade!”
Indique as razões pelas quais aconselharia
as pessoas a ler o seu texto? O que acha mais apelativo no seu texto?
Os textos de Nina
Pianini destinam-se a crianças e jovens e, principalmente pretende captar a
atenção daqueles que não gostam de ler. Escrever para os que gostam de ler, já
temos conquistados, mas para aqueles que odeiam os livros é que exige a nossa redobrada
atenção. São esses que temos de conquistar pelos problemas que os heróis
padecem tal como eles, pelas dificuldades que enfrentam e com que se
identificam… Frequentemente, as crianças e jovens não gostam de ler ou até
detestam e repudiam os livros. Os meus livros querem ser lidos por aqueles infortunados
que não gostam de ler. Exige de mim, um trabalho mais complexo para que o meu
texto fomente o gosto pela leitura e para a compreensão do valor que a leitura
tem para a evolução como pessoa individual e social. Assim, os textos de Nina
Pianini reforça o uso de linguagem acessível, rica de imagens e com humor presentes
nos textos. A escolha do pseudónimo “Nina Pianini”, reflete bem a intencionalidade
da minha escrita alegre e até algo brincalhão, tocando teclas de sons, de
palavras, de significados, de ideias promovendo o gosto por ler. Porque só
criando o gosto de ler, o leitor voltará a ler.
Qual é o seu estilo de escrita ou que tipo
de mensagem gosta de passar no que escreve?
Para mim, ter
concorrido à 1ª edição do Prémio Teto de Nuvens representou um marco que
revolucionou a minha vida de escrita. Apesar de não ter sido vencedora, esta
editora tomou uma postura completamente inédita de considerar essencial dar
oportunidade aos autores que participaram e se destacaram ou manifestaram
qualidade literária. Contataram-me, assim como aos outros autores e propuseram
publicar uma coletânea com os nossos contos, surpreendentemente a custo zero
sem qualquer contrapartida. Destaco este caráter genuíno e honesto desta
editora ao não exigir aos autores qualquer pagamento em troca, comprovando a
originalidade da missão desta editora. Ora, apostar na divulgação da cultura e
nos seus autores, é um risco comercial que corre e, por tal, deve ser elogiada
e apoiada por todos nós comprando seus livros.
Assim, esta editora
vai crescendo e marcando a sua diferença. E, apoiando vigorosamente seus
autores, faz-nos progredir. Tenho muito orgulho nesta interação
cooperativa/colaborativa com a Tecto de Nuvens pela sua forma genuína de
proteger e fomentar a escrita dos autores. Completamente agindo “fora da
caixa”, lança-nos desafios mensais, coloca-nos propostas arrojadas e
provocantes de votações nos textos preferidos… Em contrapartida, no meu caso,
sinto-me muito gratificada pela proximidade que esta editora estabelece com
seus autores e em colaborar, eu própria, o melhor que puder para o
desenvolvimento e visibilidade desta editora.
Como autora para
crianças/jovens, a minha escrita tem como missão o bem estar, o conhecimento
íntegro, a reflexão crítica, a defesa
dos direitos e estimular a criança a
gostar de ler, embora, não infantilizando demais os textos. Como profissional
educativa, abomino aqueles que quando se dirigem às crianças, acrescentam
sempre o “…inho” a todas as palavras: “Toma o teu banquinho, traz a tua
canequinha, olha o teu pratinho…”, inferiorizando a criança. A criança é um ser
pensante bastante observador e crítico, por vezes o adulto tende a vê-lo como
um ser incapaz de um pensamento analítico ou refletivo e isso traduz-se em
muita da literatura para crianças nas prateleiras das livrarias, em que
subsistem títulos e enredos demasiado infantilizados que leva a criança a não
os ler, pois a criança não quer que o tratem eternamente como um bebé. É um
insulto para a criança, continuarmos a insistir numa literatura idealizada “de
florzinhas” em que os problemas que eles sentem são escondidos ou de que não se
fala. Ora, as crianças precisam de falar dos seus problemas, de saber como os
seus heróis conseguiram superar as dificuldades. Dá-lhes ensinamentos para a
sua vida futura. E a leitura deve induzir essa reflexão que sem a qual não há transformação!
Dignificar uma literatura infantil deve possibilitar o crescimento pessoal e
intelectual, dando leves pinceladas de conhecimento, aqui e ali, pelo texto, de
novas palavras, de alguns rigores históricos ou científicos para que a criança
em simultâneo vá adquirindo também conhecimentos que lhe virão a ser úteis.
Dentro deste contexto
educativo, escrevi diversos tipos de contos: Contos maravilhosos/contos de
fadas, contos de critica social, contos com teor diversificado desde histórico,
bíblico, defesa da natureza, património e problemáticas familiares e sociais. A
minha intencionalidade é divulgar livros como potencial para a progressão
global da pessoa, centrada em promover a literatura e o valor literário dos
textos. Escrevo textos com cuidado e rigor literário e com a intenção de que
possam vir a contribuir para o desenvolvimento íntegro da criança e da
sociedade. Não pretendo que o texto tenha lições de moral ou de remate
moralista, mas que induza à mudança de comportamentos do leitor para ser feliz
e para uma melhor sociedade futura.
Qual o papel das redes sociais na vida e na
divulgação da obra de um autor? E na sua?
O perigo das redes sociais reside no facto da falta de creditação. Perfis falsos, fake news, propagação de produtos não classificados… tudo em proveito próprio, tornando-se numa teia difícil de combater.
Mas como quem está fora da rede, não existe, temos de apostar na qualidade e saber escolher os sites, blogues…deve ser muito bem analisado antes de clicar e se tornar seguidor seja de quem for. Existem muitas formas de se verificar a credibilidade do site/blogue...
No caso dos autores de livros é bastante confiável visitarem os seus sites, pois nenhum autor gostaria de fomentar má propaganda e muito menos arriscar destruir a sua imagem com conteúdos inapropriados. Os autores estão nas redes sociais, com veracidade de factos, equilíbrio e respeito.
Para o autor é vital que tenha a sua presença na rede social, tal como eu tenho o meu site Nina Pianini com o seguinte endereço: https://ninapianini.pt/
Este site ainda em fase inicial, serve como ponte para divulgação das obras, promoção das novidades literárias e para permitir aos leitores conhecerem melhor a autora, assim como possibilitar entrar em contacto com a autora e, em simultâneo, a autora estabelecer conexão com seus leitores para receber o feedback de como reagem aos seus livros, conhecer gostos e interesses dos seus leitores.
A comunidade dos autores literários, de um modo geral, apresentam bons e fiáveis sites onde não consta abuso para aproveitamento de outros fins comerciais como acontece nos sites de artistas ou da mass media que serve para se vangloriarem pelos selfies a usar a mala da marca X, ou a vestir a marcam Y para somar seguidores e viver do lucro dos “clics”.
Gosta de ler? Que tipo de leitor é que é?
Sempre amei os
livros. Dormia com eles na minha cabeceira, carregava imensos livros de escola
para escola na mala do meu carro, oferecia livros pagos com o meu ordenado
preocupada em proporcionar aos meus colegas professores as condições para
fazerem um bom trabalho na promoção da leitura. Contribui na execução e
produção de projetos didático-pedagógicos que foram reconhecidos como por
exemplo em 27 de março 2024 no Encontro EPIS- empresários pela inclusão social em que se falou do meu papel na criação do projeto
de literacias.
É caso para
dizer: ”A sementeira deu frutos.” Deixei minhas raízes, fazendo valer a pena o
meu esforço.
Um leitor nunca
deixa de ler, e quanto a mim, faço as minhas visitas semanais às livrarias e
bibliotecas locais.
Ler constitui uma
terapia essencial para o meu bem estar!
Heróis e Heroínas da Bíblia – Como tu… - Contos – Várias autoras
PVP: 13,00€
192 páginas, capa mole; Tecto de Nuvens, 2024
Desde sempre que os feitos dos heróis e heroínas foram divulgados, contados e recontados; celebrados, perpetuados sob inúmeras formas (…) O nosso propósito é fazer algum paralelo entre as situações vividas pelas personagens bíblicas e aquela que pode ser a vida de “personagens contemporâneas”;(…) os contos foram enriquecidos com as ilustrações da Melissa de Aveiro.
Livro disponível nas principais plataformas nacionais e internacionais e na nossa loja online.
Pode encomendar enviando email para loja@tecto-de-nuvens.pt
Não há necessidade nestas entrevistas de contraditório, mas gostaríamos que mais leitores fizessem os seus comentários no Blogue em vez de nos mandarem emails privados, que não se destinam aos autores, a dar a sua opinião, e a falar das suas experiências.
Nesse sentido, com esperança de fomentar esse diálogo, esta editora (Teresa Cunha) e esta Editora (Tecto de Nuvens) podem complementar a opinião desta autora, que é também a de outros autores, em relação às capas duras.
Em primeiro lugar, não faz parte da cultura livreira europeia a capa dura como sinal de prestígio do autor ou da obra. Felizmente! A vaidade da capa dura anda a par com a iliteracia, os bonitos livros de capa dura são bibelôs para enfeite. Os livros de capa mole são muito mais práticos muito mais propícios à leitura, seja onde for, sem esforço. – Obras de colecção são outro departamento. –
Enquanto livreiros a nossa experiência em relação a livros de capa mole e de capa dura era que os de capa dura eram para oferecer e ficar na estante (“para não estragar”), os livros de capa mole eram para ler e para interagir à vontade. – Um rasgão na capa mole corrige-se com fita cola, um estrago na capa dura, regra geral é a capa soltar-se e depois, uma a uma, também as folhas. Os livros de capa dura são também mais perigosos, as esquinas, mesmo as arredondadas, podem magoar seriamente.
Finalmente, os custos. Os livros que chegam de fora não são produzidos às centenas, mas sim às centenas de milhar. Ficam muito mais baratos (e que se “lixe” em que condições são produzidos – as taças de arroz ainda são um salário relativamente barato - e se os materiais são ou não seguros. E “cala-te boca!”…) e não há forma legal ou ética de competir com esses valores.
Apesar de muito se terem arreigado coisas, a verdade é que o Acordo Ortográfico mudou coisa nenhuma, continua a haver o Português de Portugal e o do Brasil. Sendo assim o investimento em capa dura seria limitado ao Português para Portugal e para os PALOP, e convenhamos que os pais africanos se estão, com toda a razão, completamente maribando para a “importância” das capas duras. Querem é mesmo livros. Quando se conseguem enviar livros (que o transporte está longe de ser barato) parece-nos sempre que só podendo enviar 2 caixas, faz mais sentido que levem 150 exemplares de capa mole do que 75 de capa dura…
Posto isto, fazemos livros de capa dura, mas a nossa política com os autores é que proporcionem boas histórias para serem lidas e, quando o entenderem, então proporcionem, em número limitado, a opção do luxo de uma capa dura.
Quero, pois, tranquilizar os autores, não se sintam diminuídos pelo formato do livro, deixem que seja o vosso talento a falar, com mais ou menos tempo, a palavra chegará aos pais e aos educadores. Lembro que eu, e muitos de idade próxima (e mais velhos) lemos muito boa literatura (que ainda recordamos) publicada, sem capa (a capa era feita do mesmo material das restantes páginas, tudo num papel menos do que nobre – mas que ainda existe nas nossas estantes) pela Figueirinhas.
Lembrem-se que um poema escrito num guardanapo de papel não tem menos valor do que publicado no mais rico dos papéis e encadernado com ouro e pedras preciosas…
E agora uma provocaçãozinha… Mas nós vivemos no país do “arrozinho”, do “pãozinho”, do “cafezinho”, do “bolinho”, da “sopinha”, da “roupinha nova para a festinha”, e toda a gente sonha ter uma “casinha”… Eu diria que somos uns incorrigíveis “queridinhos”… 😉
Teresa Cunha, editora