A vida juntou os nossos corações,
E eu ganhei o Euromilhões.
Investi-o no Amor,
E recebi-o em juros
Arrebatadores:
Tesouros de alegria
Certificados de magia,
Depósitos a curto e longo prazo
Ações para a eternidade
Certificados de cumplicidade,
Fundos de investimento
No mais belo relacionamento.
Agora o Amor bate mais forte.
Não há bancarrota possível,
A banca do Amor é invencível.
Maria José Moura de Castro
D. Carlos e Dona Amélia
Reina na escola da aldeia movimento e alegria!
O recreio é animado e cheio de gritaria!
Há rapazes e meninas sempre em grande confusão;
Quem não está com o líder, espere um empurrão...
- Quem quer brincar aos reis e às rainhas?
Pergunta agora a Licínia sacudindo as trancinhas.
- Eu! Eu! - Respondem muitos em coro, braços erguidos no ar.
Salta o Zé e rodopia: quer ser sempre a mandar.
Acalma-se o vozear e distribuem-se os papéis:
Elas serão as rainhas e os rapazes serão reis.
Cada qual tem o seu nome: João, Sancho, Manuel…
Leonor, Mafalda, Teresa, ou rainha Isabel…
Mas há dois que não escolhem, por terem nomes reais:
É o Carlos e a Amélia que superam os demais.
E lá vai dizendo o líder sempre que o jogo inicia:
Vai casar o Rei D. Carlos com… a rainha Sofia!
- Não! Não! Isso não! - Reclamam todos à uma:
Ou casa com dona Amélia, ou não casa com nenhuma.
E lá vão de braço dado, como em marcha nupcial,
A Amélia coradinha com seu Carlinhos leal.
… …
Trouxe o tempo outros jogos: aqueles do coração…
E vemos entrar na Igreja a Amélia e o Carlão!
Tantas e tantas vezes, em brincadeira casaram,
Que à força de brincar, ambos se enamoraram.
Um e outro, que beleza! Que belos noivos vistosos!
Uniram as suas vidas com laços maravilhosos.
Nasceu mais uma família das cepas que os geraram;
Formaram um novo ninho e a terra mãe não deixaram.
A bela Amélia e o Carlos, que bela conjugação!
Servem-se do mesmo copo e comem do mesmo pão.
Logo brotaram os frutos, sendo uma só alma os dois:
Nasceu primeiro o Pedrito e outros vieram depois.
Maria Lucília Teixeira Mendes
AMOR É SOLIDÃO
Esse teu jeito de ser assim, com disparos de língua e um sonho curto. Essa paz que enjeitou a tranquilidade traz consigo a vontade de uma lágrima que se derrama com alegria. Que dizer quando te vejo segura na insegurança que te ofereço. Que afirmar quando te apanho atrapalhada na canseira de agradar. E esse teu silêncio matinal rotina feita às avessas de quem aceita um dia de cada vez. Sabes o significado e o sabor da palavra e o quanto te custa pronunciá-la. Dás sentido ao que ouves e conheces o lugar do desconforto. Preferes ficar, permanecer na esperança que a espera desaconselha. Agarras e libertas com força a ânsia do amanhã. Depois, a caminhar o caminho desfaz-se para se refazer logo a seguir.
Recriar o contrafeito é o defeito de quem ama. Teimosa insistes apesar da ingratidão.
Teu pequeno gesto é esse que me remete para o universo. Queres desconhecer a minha fraqueza, recebes o desencontro do desamparo. Sem demora, com a certeza de quem cuida, chegas a tempo do abraço. És o sol que jamais encontra ocaso.
Rejeitas folhear a vida. A tua cara por vezes fica triste e, apesar da interrogação, a garganta cala a resposta num olhar carregado de sonhos. Até parece que me estou a contradizer.
Sonhos curtos e sonhos que vão para além do horizonte. Levas contigo esses pedaços que caminham sobre as agitadas águas do mar. Que andam por longe, por muito longe, por infinitos de eternos feitos e que te trazem essa busca por quem está cá, bem perto, muito perto de ti. Teu olhar nunca sobra, é arrebol permanente, é princípio que se iniciou por aí, sem começo. E ficas bela a contemplar o teu porquê. Há sempre um novo para além do último. Cansaço é palavra proibida.
Há muito o sabes e reservas para ti, num íntimo de solidão, o segredo desta vida. Fica-me a interrogação. Talvez gostasses que fosse diferente, que eu levasse a vida a sério. Impossível.
Talvez por isso a tua ternura, em meiguice tornada, transporte uma tristeza tão profunda pronta a descarregar e o desabafo, inimigo inteiro, é o teu amigo daquele instante. Fica sem doer a dor que doí.
O trabalho caminha ao lado, sempre. Vives o dia na noite do teu querer. Noite clara de luar. Vagos sons imperfeitos traduzidos na oferta de quem aparece e te diz: ainda bem, ainda bem que um dia por aqui passei e tu aqui estavas. Tu recolhes o recado no encanto dos olhos que contemplas.
E o futuro aqui tão perto. Basta a tranquilidade de quem espera sem esperança. Regaço único, colo amigo que te leva. Nunca o futuro bate à porta. Entra com mansidão turbulenta e aproveita para aparecer. Tu estás preparada nessa quietude irrequieta que o devir constrói.
Há de ser o que será porque já assim o é. A porta abre-se, é ele, vamos recebê-lo. E nós vamos. E tu vais. E tu és. E tu perguntas: porque levaste tanto tempo a chegar?
Manuel José Martins
INFIEL
É duro, muito rude o que tenho para te dizer. Despedi-me de ti com a sinceridade que me foi possível. Abri-te as portas do meu coração e impedi-te de entrares. Vou repetir por escrito o que te disse quando falamos. É uma mistura perversa de sentimentos o que sinto.
Sem dor nem piedade quero mostrar-te o rosto do meu descontrole. Tenho de o mostrar-te porque sinto que jamais esquecerei o peso do meu pesar. Sinto a traição da memória e a amizade da lembrança. Sinto que o teu olhar é e será a única fonte capaz de alimentar a minha alegria.
A vida é uma escolha. Escolhi. É impossível regredir, espero que seja possível regressar.
Talvez, quem sabe um dia, além. Enquanto dura a espera quero longe de mim o teu desgosto, a tua tristeza. Vou magoar-te, eu sei que sim. Vou magoar-te a ti, magoar o amor que tens por mim, magoar o amor que tenho por ti, magoar o nosso amor, magoar o amor com que os outros nos vêm, magoar-me a mim próprio. É-me impossível resistir. Podem-me chamar depravado, libertino, Dom Juan, o que entenderem. Sou-o e por isso afasto-me de ti para que tu, liberta e livre, sigas o teu caminho.
Escolhi e a minha escolha abre-se à infidelidade. Talvez me perdoasses. Sei que lutarias até o conseguires e sei que o teu interior é a tal ponto bonito que os teus braços estariam abertos para me receber. Mas também sei que avançaria na devassidão e que a minha infâmia é torpe. Sem te idealizar como um poço de virtudes ou de elevar a tua decência, confesso que não aguento olhar para ti e sentir a dor que em ti provoquei. Não me sinto merecedor do teu ânimo. Quantas vezes tu me levarias a prometer o nunca mais e outras tantas vezes eu sei que faltaria à minha promessa.
Sinto a dureza deste golpe. A sua urgência evita dor. Amo-te e amar-te-ei mas, é mais forte que eu, não consigo obedecer ao amor nem apagar-me. Sou infiel! Não me reproves nem me leves em teu coração. Segue a tua vida. Eu vou para longe. A opção está feita e a minha vida profissional apresenta segurança. Sei que não te esquecerei e a ti nada te peço ou melhor, deixo-te esta única, uma única súplica: quando por ventura nos cruzarmos, na eventualidade de isso acontecer, seja em que circunstância for, no pior ou no melhor da ocasião, sem nunca me procurares, não desvies os teus olhos dos meus, permite que o meu o teu olhar encontre e, espero que te seja possível, releva. É esse teu olhar carregado de
pena que levo comigo e a meiguice que a profundidade dos teus olhos me transmite é balsamo para o meu andar. Jamais esquecerei a áurea do teu rosto e, quando o meu olhar se cruzar com o teu, minha alegria ganha alento e dá significado à tristeza.
Despeço-me com a saudade do beijo que guardo para ti. É teu e só teu esse afago. Talvez, um dia, quem sabe, o tempo seja nosso e a lágrima lave o que agora perco.
Manuel José Martins
"Dizer-te assim"
Dizer-te assim: gosto de ti com companheiros e amigos
Abraçar esse teu brincar foste tu que o descobriste
A felicidade está aqui a sorrir por entre perigos
Minha alma andava sozinha Agora que aqui estás
no firmamento insegura e o vento é nosso amigo
tu vieste devagarinho vou mandar recado ao tempo
procurar-me neste aventura pra ficar a sós contigo
Tuas mãos são desafio O desconhecido ronda
Tua paz é alegria anda longe e anda perto
Olho o teu rosto e fico É o futuro a acontecer
em ondas de maresia tua presença em aberto
Conhecer-te é esse íman Amante, amigo eterno
porta aberta num instante teu marido e companheiro
Esta vontade de entrar Nasce o dia, vem a noite
e de ser o teu amante és claridade em luzeiro
Fragância do meu querer Rainha de bem ordenar
Um deleite de esbelteza quero abraçar teu regaço
Embelezas a cidade A minha alma clama alto
com toda a tua nobreza Ocupa tu meu espaço
Atenta sempre comigo E tu calma amadureces
embelezas o meu voar és a ternura a acolher
Meus olhos buscam abrigo Vens, com cânticos apareces
encontram-no no teu estar Minha prenda oh amanhecer
Tuas palavras suavizam E o dia clareia a noite
minha fúria, minha paixão com os beijos do nosso amor
Teus gestos vêm procurar Em ti encontra o alento
o repouso em meu coração que torna rotina em ardor
Somos o pecado a queimar Mas a luz mora no além
ignomínia sem perdão e a claridade é cega
Vida intensa, voz profunda Tua lágrima vertida
tapete de incompreensão nossa mãe nossa refrega
Regamos a vida é mesmo assim
sem querer saber daquele depois
que a muitos preocupa
e renova todos os sois
Dia seguinte é termo-nos
Mãos dadas olhares vários
Reencontro de momentos
nesta sina de lendários
Manuel José Martins
Olhar íntimo de Amor (01)
Linguagem intuitiva, sem balbucio
Em olhos que se cruzam sem falar;
Nem palavra, nem gesto, nem desafio,
Feriu o coração só por aquele olhar…
Quando, assim, no silêncio do meu ser,
Aquele olhar, eu comunico em vibração
Fico a olhar a tensa espera do acontecer,
Entro na nuvem, com o olhar do coração…
Afinal, foi profundo, único e ansioso sim
Anuir feliz ao sorriso singelo a vibrar
As pupilas, desfiam aroma de alecrim
E triunfa, por fim, o olhar íntimo de amar.
22-01-2021
Florentino Mendes Pereira
Olhar compassivo de amor (02)
Doente acamado, algum tempo já
Tanta vez ao dia, o fito com amor;
No olhar vejo que retorno não há
Fico de olhar preso, a fitá-lo na dor…
Talvez esse tom compassivo de dor,
Ao deixá-lo a sós, após servi-lo a olhar
E, de longe, de novo, fito-o com amor,
Para sentir, se meu olhar, o pode aliviar.
Até parece que velou a luz do olhar
E escondeu a leitura do seu amor
Se atinassem, quem gostaria de amar,
Topariam a opulência afável da sua dor…
22-01-2021
Florentino Mendes Pereira
Olhar de amor gratuito
(03)
Oh se lembro bem aquela menina
De 6 anos apenas, oriunda do Alentejo;
Olhar de amor da enfermagem atraía
Ela, por sua vez, longe do amor e cortejo…
Daquele Serviço Médico era o enlevo:
Ria e corria sem espreitar tanto amor;
Indiferente ao olhar gratuito e meigo
De quem a via já e sempre, ao sol-pôr…
Sobrevivia, a cada crise, sob olhar clínico
Transfusão frequente era tudo normal…
Plena de simpatia voltava ao princípio
Gratuidade de amor e olvido do seu mal…
Saiu para a família a celebrar a Páscoa
Dia e meio, apenas, perdeu o nosso olhar…
Só que do pessoal clínico ficou a mágoa
Abalou… a brindar o dom gratuito de amar…
23-01-2021
Florentino Mendes Pereira
Cola de Maresia
N`areia da praia uma marca tem.
Tem um vazio de pedra.
Na rebentação o vazio
Preenche-se de espuma da onda.N`areia do deserto
Um lugar mais tem.
Tem uma pedra nova.
Pedra dura,
Triste pedra,
Solitária no seu querer,
Perdida dentro de si.
Brilha na noite,
Banhada de lua,
Solta do calor do dia,
Que a aqueceu.
Superfície lisa,
Renovada no vento cortante,
Fria no seu âmago,
Dupla em si.
O mar vem e vai
Procurar a pedra.
Sobe n`areia,
Até ao cordão dunar.
Regressa sozinho,
Verde-esmeralda,
Na lágrima de calipso.
Seca a pedra
Até partir,
Se não regada,
Como a Rosa do Deserto.
Quando quebrar…
Junta-lhe os cacos em concha,
Coloca-os à beira-mar.
O Amor tem
Cola de Maresia!
Bastos Vianna