Estão de volta os Desafios...
"Caem as folhas" continua a ser o nome do desafio que anda à volta destas folhas, sejam as das árvores ou outras, que caem e se renovam: Outono, a inspiração, os ciclos da vida, etc.
O desafio voltou a incluir as opções conto (pequeno), fotografia/desenho e a poesia.
O desafio voltou a incluir as opções conto (pequeno), fotografia/desenho e a poesia.
E sendo hoje dia de S. Martinho, também fica uma homenagem ao santo e às tradições deste dia.
Do dia 11 até ao dia 30 de Novembro 2025 estarão abertas as votações para o trabalho favorito. O vencedor receberá um prémio.
Só contaremos os votos dos votantes que se identificarem, podem votar como anónimos mas depois deverão enviar um email para um dos endereços fornecidos e indicando o número que lhes foi atribuído. Os votantes entrarão num sorteio para receberem uma lembrança.
E os prémios...
Vamos oferecer livros! As nossas folhas favoritas...
O autor premiado e o votante sorteado poderão escolher a partir de uma lista que vamos fornecer o título que mais lhe agradar.
(8) O maior São Martinho de todos os tempos
Já passaram 12 anos, mas não esquecerei o maior São Martinho de todos os tempos.
O crepitar das castanhas e o tinto a pingar das pipas foram um excelente tónico que
aconchegaram o estômago e fizeram o sangue girar mais rápido nas veias.
A boa disposição foi tanta, que às páginas tantas e sem conhecer ninguém estava já
rodeado de amigos a fazer brindes, poses para as fotos, a cantar e dançar numa perfeita harmonia do espírito de São Martinho.
Foi em Penafiel, já nos idos de 2013. Daí para cá tanta coisa mudou e o bicho papão
do tempo faz acelerar na nossa mente que agora as estações do ano mudam mais rapidamente do que outrora, mas, pura ilusão! A vida frenética é que leva a esse estado de alma, e em vez de mantermos a calma, a vida ao redor leva-nos ao frenesim do quotidiano.
Meu rico São Martinho, faz com que respire fundo e volte a saborear tranquilamente as castanhas e degustar harmoniosamente um bom vinho.
Aníbal Seraphim
(7) HÁ SEMPRE UM AMIGO... OU DOIS
O esquilinho abriu os olhitos negros à luz pardacenta da manhã. Já não era cedo, mas os primeiros frios do Outono, e o calor da toca, não o animavam a sair; no entanto, os seus afazeres – entre os quais a busca de alimentos – convenceram-no a espreguiçar-se e espreitar para fora do tronco aconchegante do seu pinheiro. Uma aragem suave e fresca trouxe-lhe o aroma da terra ainda húmida da chuva tímida da noite – a primeira chuva desse Outono até então demasiado seco.
O esquilito inspirou a plenos pulmões e apressou-se a descer: o chão fofo de erva tenra estava já semeado de cogumelos de variados tamanhos e cores, e dos castanheiros começavam a cair preciosos ouriços maduros com o seu delicioso tesouro de castanhas novas, o que vinha mesmo a calhar, para desenjoar da ementa de pinhas do dia-a-dia. Quando, porém, chegou junto dos castanheiros, deparou com uma meia dúzia de esquilos madrugadores.
- Enfim chegaste! Julgávamos que não querias castanhas este ano!
- Naturalmente quero!
- Então, vai lá acima buscá-las!
O esquilito olhou para cima e suspirou: como eram altos, os castanheiros! Os outros
esquilos desataram a rir e puseram-se a andar com os respectivos carregamentos de castanhas embrulhadas em grandes folhas que o vento espalhara pelo chão.
“Tenho medo das alturas”, disse para consigo o esquilito, sentindo-se desamparado. “Eles sabem disso, e não quiseram acordar-me para poderem ficar com todas as castanhas caídas... Tenho fome! Vou procurar alguma pinha mais ou menos seca, ou talvez prove um cogumelo...”
- Pára! Pára! – uma rabanada de vento empurrou-o para trás. – Esses cogumelos não se podem comer! São venenosos!
- Então...?
- Eu e o castanheiro, vamos ajudar-te. Agarra-te bem ao tronco e começa a trepar. Não tenhas medo, eu vou-te segurando! E não olhes para baixo...
Receoso, o esquilito lá foi trepando, fincando bem as unhas no tronco rugoso.
- Não tenhas medo! – reforçou o castanheiro. – Os meus ramos são muito fortes, e tu és leve como uma pena! Vamos! Hoje hás-de aprender a correr e a saltar de ramo em ramo como os outros esquilos! Não te deixaremos cair!
Pouco a pouco, o esquilito foi-se tornando mais ágil e destemido, e ao cabo de algum
tempo já nem se lembrava de que alguma vez tivera medo das alturas. Como era divertido saltar e voar de ramo em ramo, de árvore em árvore! E como era engraçado ver o bosque de um perspectiva tão diferente! O esquilito trepou, correu e saltou até se cansar, sempre vigiado de perto pelo vento, a postos para o segurar caso escorregasse.
Quando, por fim, desceu do castanheiro, o esquilito deparou com um montinho de ouriços já abertos, que ele próprio fizera cair nas suas andanças e saltitanços lá pelo alto. Muito contente, abraçou o castanheiro e acenou ao vento, agradecendo-lhes pela ajuda preciosa que lhe haviam dado, ensinando-o a ultrapassar os seus receios e a colher o seu próprio alimento.
Ana Ferreira da Silva
(6) Caem as folhas no outono
Os dias cinzentos regressam ao nosso quotidiano para nos fazer lembrar que num passado não muito longínquo os tons verdes exuberantes fizeram as delícias dos passeios ao ar livre. Quantas vezes os fizemos com quem amamos? Como os fazemos agora que essas pessoas já partiram?
Claro que os podemos voltar a fazer na estação do outono, deixando-nos envolver no misticismo de que mesmo sozinhos podemos fazer essa viagem carregados de uma nostalgia de sorriso nos lábios, lembrando-nos desses doces momentos.
As estações do ano servem-nos para lembrar que o Divino, através na Natureza,
mostrar-nos a beleza da vida seja em que estação for.
Aníbal Seraphim (texto e foto)
(5) Caem as folhas
(4) QUADRINHA DE PÉ QUEBRADO
Fresca manhã de S. Martinho,
Estalam castanhas no assador;
Pelo pão e pelo vinho,
Damos graças ao Senhor.
Ana Ferreira da Silva
(3) Caem as folhas - uma mão cheia de folhas
naquela estrada. ou melhor na avenida. por onde passo. quotidianamente. ouço as vozes de suaves folhas. de todas as cores. já sei que estamos no outono. não é pela chuva. mas por estas folhas que nas ruas se vêm. e também nas quelhas. e nas avenidas. soltam-se e pronto. temos o outono. as pedras das ruas. assim como o alcatrão. conhecem-nas. estão habituadas e sensibilizadas para as verem. nascer. e cair. os bebés. e os meninos mais pequenos acham o ouro quando apanham as folhas. de tão coloridas. tão velhas. elas são os caprichos da natureza. da criação. nós também somos criação. por isso elas dão voz à vida. e melodia. sabem que existe um vento que as solta das árvores. como nós sabemos que há um vento que um dia também nos arrasta.
tantas cores. que o nosso alfabeto não conhece. as nossas mãos quando as apanham ficam na liberdade. é que as folhas são livres. contam com o vento. nós não. não contamos com a melodia dos ventos. que sopram. em cada dia da nossa vida. mas estamos a falar do outono. e o outono não é morte. mas vida. trabalhada no nosso dia a dia. por isso o cair das folhas vão ao encontro das nossas mãos. mãos que são acorrentadas. pelo querer dos nossos negócios. as folhas caídas não inventaram os negócios. são libertas.
melodiosas. cantam e dançam. ao som duma música. daquela que vem de dentro. cantam a vida. são concertos de graça. onde não entram entradas. tudo é gratuito. como dizemos ele é de graça. a liberdade passa por aqui. consiste num espetáculo. silencioso. sim. e mais. é repetido todos os anos. encanto e melodia. são renovados todos os caminhos. são autênticos tapetes de folhas. mais que uma mão de folhas. as folhas regressam à terra. dando-lhe vida. alimentam a vida que vem na primavera.
caem as folhas no outono. como se de uma música se tratasse. o vento compõe as notas. as árvores são instrumentos que lançam os seus acordes coloridos pelo chão. cada folha que toca a terra é um compasso. uma parte desta sinfonia sazonal. onde o silêncio e o movimento se misturam. criam harmonia.
essa harmonia é exemplar. para cada um. ou uma. de nós.
joaquim armindo
(2) JOÃO E ROMEU
Sentado em frente ao lago, parecendo observar os volteios dos patos que descreviam na água círculos graciosos como a agradecer-lhe as migalhas de pão, inclinado para diante com a gola do velho casaco levantada, os cotovelos apoiados nos joelhos e os dedos das mãos entrelaçados, João não observava nem meditava, nem ainda se ocupava de deitar contas à vida. Tinha o olhar fixado num além só de si conhecido, num mundo que já só lhe pertencia na memória, num tempo que guardava como tesouro na arca inexpugnável do coração.
Deitado a seus pés, o fiel Romeu apoiava o focinho ora numa, ora na outra pata, suspirando de longe a longe, ansioso por regressar a casa e ao conforto da sua cesta e da sua manta coçada, que João talhara a partir de um cobertor em fim de vida.
A tarde avançava; o céu límpido adensava-se, reclamando os matizes suaves do crepúsculo. A aragem refrescava e fazia cantar os plátanos do jardim público. Uma a uma soltavam-se folhas de tons outonais quentes, folhas pequenas e grandes, semelhantes a mãos espalmadas.
Para grande aflição do Romeu, João não parecia ter pressa nem vontade de voltar para casa, onde o aguardava o silêncio, um silêncio de ramos nus que nem o vento fazia cantar. Viúvo, com os filhos para longe, nunca a casa lhe parecera tão fria; nem as cortinas de renda, os cortinados de veludo, o cadeirão que lhe conhecia o corpo, ou mesmo a braseira, nada disso o aquecia já. Por isso se deixava ficar por ali, naquele banco que todos os dias o esperava junto ao lago, na vã esperança de que o bulício das vidas alheias o animasse: as crianças a correr, os casalinhos apaixonados, o sussurro dos plátanos, o cantar da fonte do lago, os patos, as rolas... Nada! Nada conseguia devolver-lhe a vontade de viver; nada!...
O Romeu levantou-se e enfiou o focinho gelado entre os joelhos do dono, ganindo baixinho. João despertou da sua letargia e reparou nos olhos húmidos do cãozito, que tremia de frio. À entrada do parque uma matriarca aconchegada num xaile grosso apregoava as qualidades das suas castanhas assadas...
- Tens razão, Romeu. Começa a pôr-se frio... Vamos! Vou comprar castanhas para dividirmos quando chegarmos a casa. Depois instalamo-nos no sofá e dormimos uma sesta a ver televisão antes do jantar. Parece-te bem, amiguinho?
Ana Ferreira da Silva
(1) Caem as folhas - Folhas Bailarinas
Folhas esvoaçantes bailam no ar,
na varanda aberta vão-se abrigar.
Beijam outras, manuscritas,
e fogem ligeiras — sonhos a roubar.
Dançam versos, folhas, rimas,
num rodopio de almas finas.
A escritora sorri, encantada,
vendo o outono em valsa dourada.
Novembro chega em pranto e trovoada,
com ventos de alma apaixonada.
Ela entrega-se ao vento e ao pensar,
deixa-se, leve, no tempo vogar.
E o céu rasga-se em luz e rumor,
raios combatem trovões sem pudor.
As folhas descem, tapete final,
de palavras e cores em tom outonal.
Teresa Portal





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