sexta-feira, 3 de abril de 2020

Desafios de autores para autores: "Fotografia"





Mais uma semana, mais um desafio. Desta vez a inspiração vinha de uma fotografia (podem clicar nas fotografias para as ver melhor; depois cliquem na tecla esc para voltar aos textos).
Agradecemos aos autores pela sua inspiração e aos leitores pelas visitas. Estejam à vontade para também deixar as vossas sugestões/comentários.



as três floritas













as botas cardadas abomináveis,
dos que anseiam tempestades, e fazem do mar o escabelo dos pés,
esmagam as três floritas,

                                        que riem para o sol,
                                        e brincam entre a relva,
                                        e fecham para a noite as pétalas.

nos tormentos das águas, vivem
e nas selvas estão acordadas,
onde escutam o som dos pardais,
como quem as enamora,
vão seguindo os caracóis, que não roem,
e a folhagem que as aconchega.

mas nos tristes jardins dos homens,
sugam-nas, cortam-lhes a vida,
porque pisam a relva, pisam as três floritas,
que anunciam a esperança da vida.

mas guardá-las quando sorriem nos corações,
é obra de mãos que não estão sujas,
nem os cotovelos amarelos,
nem pés que as trincam.

e só são três floritas brancas, no meio da relva.


Joaquim Armindo

ONTEM


Ontem, ontem as crianças brincavam na rua
andavam de bicicleta pelos passeios, com loucura
Ontem elas corriam nos jardins em grande algazarra
até os ouvidos doíam pela sua farra
Ontem homens e mulheres, caminhavam apressados 
enchiam  lojas e  supermercados
amontoavam-se nas praças e nos cafés
Ontem os restaurantes estavam a abarrotar
e a noite enchia-se de gente nas ruas a desfrutar 
as praias , essas, eram tão cheias
que não se encontrava um lugar
Ontem as ambulâncias ouviam-se de vez em quando
também era o mesmo com os bombeiros
pouco nos fisgávamos nos médicos e enfermeiros
Ontem o sol nascia
a chuva às vezes caía
os risos percorriam  ruelas
em afetos de doces primaveras
os pássaros, esses cantavam,
a tarde chegava e a noite também
 e as estrelas davam a sua luz quando a lua se escondia
os olhos a tudo assistiam
sem imaginar o que o amanhã traria
Hoje, hoje !
as crianças não correm
os jardins estão tristes com rostos de  solidão
os homens e mulheres também
estão fechadas em credos pela razão
os cafés e os restaurantes estão pasmados
e o mar abraça a praia em solidariedade
pelo mundo que se encontra em confusão
O sol , esse, nasce à mesma cintilante
porém o vento  pode vir
e sopra  onde quer
ouvimos  sua voz 
sem sabermos donde vem, nem para onde vai
e o dia acontece como sempre acontece
os passaredo chilreia sem medo
à chuva ou ao sol, sem  segredo
a tarde chega, como sempre acontece
a noite vem, como sempre acontece
 e as estrelas poderão brilhar 
se a lua não der o seu luar
Amanhã, amanhã...
não sei o que vai passar
mas o dia irá nascer!
Se vai chover?!
não sei, mas tudo pode acontecer...
os pássaros irão cantar 
não têm nada que temer
a tarde irá chegar
e a noite, irá anoitecer
mas homens e mulheres, esta memória
no coração e na mente irão escrever
com tinta inapagável do quanto está a acontecer
Talvez, talvez alguns, irão agradecer
o livramento que chegou do céu
através da ciência e o hostil venceu 
em credos temerosos repetitivos
ou em orações que saem
de íntimo do coração
em louvor , amor e gratidão
mas outros, voltarão a esquecer
todo o aperto que no mundo houve
nos dias em que de novo
tiveram que aprender a viver 

Ilda Pinto Almeida


Finta

Esta noite fintarei a vida
E os seus males invisíveis
Vou dormir nas asas do amor
E trazer-te para o meu sonho
Para o aconchego
Do meu templo corporal
Dar-te-ei todos os abraços
Todos os beijos
Que a vida me proíbe
Cobrir-te-ei com a minha alma
E farei amor com o teu coração
Esta noite fintarei a vida
E os seus males invisíveis
Vou sonhar com a salvação
E lutarei contra moinhos se preciso
Juntinha a ti
Avançaremos sobre sentidos proibidos
Tocando-nos com todos os sentidos
Resgataremos o teu ser e o meu
Numa união
Num só corpo
Numa alegre purificação
Esta noite fintarei a vida
Derrotarei males invisíveis
Poderei respirar
Romper com a solidão
E tocar-nos com todos os dedos das mãos.

Maria José Moura de Castro


Foto tirada no Senegal.
TUMULTO DAS ONDAS

Murmúrios de Paisagens
Sons Transparentes Descaem, lúcidos,
Em escadaria de mármore.

Nascem palmeiras
Contra o sol Do deserto, escaldante.

Brincam crianças-azuis,
Gritando, berrando Pela Mãe-Rosa.

Esvai-se a cerveja gelada.
Como as ondas do mar
Arrefecendo na areia,
Vai-e-vem a coragem de prosseguir.

Onde pastam as estrelas Do céu pintado de cinza?
Quero brincar Com tons esbatidos de Aguarelas.

Lá, no Azul Gaivota.
Que desengano de estar…

Que assalto de desejos pueris e vãos!!

BASTOS VIANNA


Próximos desafio: Prosa - texto com um máximo de 300 palavras. Pode ser um conto, experiência, etc., começando, obrigatoriamente, pelo originalíssimo: "Era uma vez...". Textos a a enviar até ao meio-dia de quinta-feira, dia 9 de Abril 2020.
Continuamos a aceitar as vossas sugestões.
Bom trabalho!
Os trabalhos deverão ser enviados por email para geral@tecto-de-nuvens.pt ou tectodenuvens@hotmail.com

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