O desafio para esta semana era escrever poesia com total liberdade: tema, forma, rima, etc. Acontece que, inevitavelmente, apesar do tema livre, a inspiração dominante acabou por ser o 25 de Abril.
Agradecemos aos autores pela sua participação e aos leitores pelas suas visitas e divulgação. Podem deixar os vossos comentários, sugestões, cumprimentos aos autores, etc., na caixa de comentários.
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Abril!
Eis um povo desvalido
Privado de sonhar!
Na liberdade, tolhido
Sem forças para lutar!
Amordaçada esta gente
Povo luso com história!
Sem igualdade, de repente,
Olvidou momentos de glória!
Perdeu seu brilho e triste
Como algo que não existe
Viveu sem sentido ou poder
Amarfanhado sem opinião
Sentiu a dor, a repressão!
Abril! Renasce um novo viver!
DESABAFOS - FORTE DE PENICHE
Eis um povo desvalido
Privado de sonhar!
Na liberdade, tolhido
Sem forças para lutar!
Amordaçada esta gente
Povo luso com história!
Sem igualdade, de repente,
Olvidou momentos de glória!
Perdeu seu brilho e triste
Como algo que não existe
Viveu sem sentido ou poder
Amarfanhado sem opinião
Sentiu a dor, a repressão!
Abril! Renasce um novo viver!
Dulce Sousa
DESABAFOS - FORTE DE PENICHE
Penosas
As penas
Revoltosas
As almas
Penadas
Castradas
Ceifadas
As vidas
Abafados
Os gritos
Insultados
Os corpos mutilados
Calcados
Os ais
Destes, daqueles
De outros tantos
Que tais.
Tal e igualmente
Todos à uma
Serenos
Serenamente
Corajosos
Teimosos
Importantes
Mas doentes
Os crentes
Os sãos
Os grandes.
Ontem
Progenitores
Da igualdade
Hoje
Filhos
Da liberdade
Amanhã
Netos
Da verdade.
Eternamente
Portugueses
Pregoeiros
Do pregão-refrão
Da justiça
E lealdade.
Margarida Haderer
Junta de Salvação Nacional
25 abril de 1974
Já não podias ó Lusa Gente
Um tal governo déspota aguentar
Nascido duma abominável mente,
Traçado e imposto por Salazar
Ao Povo e governante descendente!...
Sempre a tua razão foi desprezada
Aos interesses do fascismo opressor!...
Liberdade sempre te foi negada
Vivendo cercada pelo terror;
A tua mor vontade era assolada
Criminosamente pelo pavor,
Aos “Pides” que lhes era facultada
Objurgar o Povo com vigor!...
Na ilusão de promessas enganosas
Abalaram-te o modo de pensar!...
Cercando-te de insídias ardilosas;
Infando meio de ao Povo negar
Objeção e penas dolorosas,
Nascidas dum perverso governar
Austero às Gentes que receosas,
Liberdade não tinham p´ra respirar!...
João Carvalho Táboas – “in Renascer”
no meu Portugal
no meu país, o coração bate, como as raízes
de um castanheiro,
tanta, tanta, tanta gente, empunha a bandeira do meu país.
são os hospitais, são os médicos, são os enfermeiros,
ai, tanta gente que se dá,
são os técnicos de resíduos,
à porta de cada um,
são os padeiros, são a gente do meu país.apetece cantar, os nossos ídolos desavergonhados,
que riem, batem palmas e curam novos e velhos.
ai, país de aljubarrota, das guerras coloniais,
de arma a tiracolo ou de máscara sem medo,
país de dentro do peito,
que exalas aloés e mirra,
que cantas a canção desconhecida,
na morte e na vida.
ai, país de são mamede, onde conseguiste
o amor da pátria em construção.
ai, país das desfolhadas, do minho ao algarve,
dos açores e da madeira,
tu, meu país, és o da guitarra, do douro ao tejo,
e do mondego,
que brotas águas nas serras, e borboletas no caminho.
como te amamos, meu Portugal.
Joaquim Armindo
no meu caminho
tu sabes abril que és a minha canção,
dos dedos das violas, ao som das trombetas,
das mulheres carquejeiras,
que subiam e subiam, a ingreme calçada,
para o pão dos filhos.
tu sabes abril que és o meu ser,
da luta e da planície,
dos montes e das montanhas,
onde os caminheiros iam, para voltar,
e possuir a vida.
tu sabes abril que não és a minha grilheta,
que sussurra a prisão,
mas o tamborim que saiu
dos boeiros,
e se faz mar no rio.
tu sabes abril que és o meu maio, de flores,
em cadeiras,
das festas,
das emboscadas,
dos feridos e dos mortos,
mas tu sabes abril, que juraste o maio,
dos cabelos ao vento,
da liberdade.
Joaquim Armindo
POR AQUI
O grito
abafa-se no discurso
não se ouve o eco
não se sente o pulso
Perde-se juventude
ganham-se bastidores.
Veste-se a gravata
venham os doutores.
É a Europa
a dos fundos perdidos.
São os outros que ganham
os nossos pedidos
Fuge a História
e as histórias também.
Fica o diário
da república de aquém.
Perde-se o sonho
proíbe-se a vontade.
Esconde-se o olhar
legisla-se a verdade.
Mãe
porque teimas em rezar um terço que é dor?
Porque nunca acreditas na cunha, no favor?
Foi num dia já distante
numa manhã não sei se de nevoeiro.
Os cravos cantaram
cantaram no terreiro.
Passou o dia
foi-se a madrugada.
Ficou o nevoeiro,
ficou terra queimada.
Venham meus senhores,
venham os discursos, a burocracias.
Os montes de papeis
e as tecnocracias.
Que ninguém abandone a sala
vem aí o presidente e os ministros também.
São os senhores deputados
e ainda mais alguém.
Venham todos
e todos vamos aplaudir.
Haja palmas, haja alegria,
que sapos já não há para engolir.
Manuel José Martins
1993/07/02
ABRIL
Em vinte e cinco do quatro
Quando a manhã aqui chegou
Mil nove e mil séculos
Madrugada um cravo beijou
Abafaram-te entretanto
Entre discursos e palmas
Lembram-se e festejam-te
Animam-te em sessões calmas
Tu, quando a ti se dirigem
Recebes em que remédio
Mensagens de um ânimo
Esperança em assédio
Oh grito de suaves ondas
De entranhas nossas cravado
Ergue teu odor bélico
Em amanhãs transpirado
E a poesia senhores
Senhoras que tão bem trajais
Esse perfume há de ficar
Encalhado em vosso cais
Deixem-se de populismos
De gritar pela história
Quem vem transporta aliança
Quem chega, nem memória
Agora assim te discutem
Na assembleia sentados
Por ali estão um terço
Dos ilustres deputados
Ao que nos obrigas covid
Sem ti, ah que bom seria
A serenata de discursos
Nesse tom de romaria
Vermelho torna cinzento
Em aguarela encarnada
Venha daí essa sessão
Teimosia é festejada
E tu vinte e cinco de Abril
Mil nove e setenta e quatro
Reduzem o que nos destes
Ao finito anfiteatro
E tu vinte e cinco de Abril
Mil nove e setenta e quatro
Estendes o que nos destes
Em ondas de alabastro
Manuel José Martins
Ode ao (coração) Filigraneiro (de Gondomar)
O filigraneiro que, delicadamente, entrelaça
Os fios da filigrana e a solda
Dedica-lhe o minucioso amor
Do artista pela criação que assim não morre.
Atravessam o tempo unidos por este laço,
Numa tradição milenar, abraçando o contemporâneo,
Num eterno namoro rendilhado,
Que ganha forma nas suas mãos de milagreiro.
E o seu longo caminho conjunto é coroado
Pelo maior coração do mundo
Cujos frutos desfilam luxuosamente
No corpo da orgulhosa gente.
in Coração Rendilhado
Maria José Moura de Castro (https://www.facebook.com/ mjmcastro)
Maria José Moura de Castro (https://www.facebook.com/
Ao nosso Abril de 2020
Força, Abril, força,
Resiste a este confinamento forçado
Preenche-o de sol por dentro
Pinta-o com as cores do arco-íris
E enche-o de solidária sanidade
Corre, Abril, corre,
Vai buscar a luz ao fundo do túnel
E tira-nos desta liberdade condicional
Que parece uma eternidade
Traz-nos o doce Maio da nossa existência
Com promessas da possível normalidade
Liberta-nos, Abril, liberta-nos,
Deste ambiente atípico
Feito de semblantes pesados
Envoltos em mascarado medo
Em névoa
E solidão indesejada
Dá-nos o sol da rua com o seu calor
E luminosidade
Sorri-nos, Abril, sorri-nos,
Lança a gaivota ao vento
E acolhe-a com a mensagem da cura
Da liberdade
Atira-nos para as ruas de Maio
Com cravos e maias abençoados
Seja findo o luto frio
Do defunto sem direito a ser velado
Diz basta à digital relação
Derruba os muros por este vírus criados
Avante, Abril, avante,
Sê hercúleo.
Maria José Moura de Castro (https://www.facebook.com/mjmcastro)
Apologia da Poesia
Parem o tempo, chiu, venham criar,
Sintam a música a tocar,
Ouçam as palavras a fluir,
Fechem os olhos e deixem-se ir.
Confiem no amor,
Dispam-se da timidez e do pudor.
Abram a vossa caixa das emoções
E sirvam palavras como refeições.
Façam as palavras viajar
Pelo papel e pelo ar,
Pelo pensamento, pela boca, pelos ouvidos
E escrevam, escrevam com os sentidos.
A escrita é água, fogo, terra e ar,
Pode fazer rir e também chorar.
É razão e emoção, é catarse e terapia.
Peguem nas palavras e criem magia.
Iluminem-nas e espalhem-nas por todo lado.
Tenham mente aberta e espirito aguçado.
Decorem as palavras com liberdade,
Deem asas à vossa criatividade.
O preconceito não é permitido,
Tudo pode ser refletido:
A partilha, o amor, a amizade,
A infância, a vida, a saudade...
Digam que guardam um pouco de si
E a Poesia não findará aqui.
És o livro mais lindo que eu gosto de ler.
Nas linhas do teu corpo alegremente me perco,
Sinto a sua textura,
E percorro-o com os meus olhos,
Numa leitura silenciosa
E intensa.
Devoro as suas letras
E inalo o seu odor.
És um livro muito gustativo
E com cheiro dentro.
Encontro-me nele
E a lê-lo continuo.
Saboreio-o.
in Doce Maio de Noite Estrelada
Maria José Moura de Castro (https://www.facebook.com/mjmcastro)
PRÓXIMOS DESAFIOS:
Poema (estilo livre) sobre o tema "Felicidade".
Prosa: uma história verídica (vivida por vós ou por outros) contada num máximo de 750 palavras. Pode ser um episódio engraçado; uma moralidade; algo relacionado com o trabalho/estudo, etc.
- Este desafio vai ter um período de votação e um prémio (caderno "Uma manhã na praia" ). -
Poema (estilo livre) sobre o tema "Felicidade".
Prosa: uma história verídica (vivida por vós ou por outros) contada num máximo de 750 palavras. Pode ser um episódio engraçado; uma moralidade; algo relacionado com o trabalho/estudo, etc.
- Este desafio vai ter um período de votação e um prémio (caderno "Uma manhã na praia" ). -
Envie os seus trabalhos para geral@tecto-de-nuvens.pt ou tectodenuvens@hotmail.com
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