sexta-feira, 22 de maio de 2020

Desafios de autor para autor: Poesia Livre

Sem dúvida o nosso desafio mais popular, volta para mais uma ronda: à Poesia livre (em tema, forma, extensão, etc.).
Podiam participar com um ou mais poemas.


Ser português é ser saudade

Ser português é ter alma
De saudade que não termina!
Ser português é ter a porta aberta
E vir à janela dizer “olá” à vizinha!
Ser português é ter na voz
Um fado que entristece e fascina!
Ser português é nunca ter a casa deserta,
E dividir o caldo verde por dois ou três...
Ou mais... todos os que aparecerem!
O português mete mais água na panela!
Ser português é vibrar com futebol!
Ficar feliz por pôr as pernas ao sol
E emborcar uma mini e sande de presunto!
Ser português é falar, falar com todos,
Com conteúdo e mesmo sem assunto!
Ser português é, também, ter alma de trovão
E tocar grandes guitarradas em cada manifestação!
Ser português é ser Tuga de gema,
E os Tugas são o Zé e a Maria,
Com a nossa Senhora na boca
E muita fé na bagagem,
De tão dura que já fora a viagem!
Ser português é cantar o hino nacional
De lágrima ao canto do olho e mão no peito,
Para sentir o pulsar do coração,
Que é lusitano e perfeitamente imperfeito.
Ser português é acorrer para ver a desgraça,
Mas não ficar indiferente à dor que passa!
Ser português é encher caixas de plástico

Com comida e amor ao próximo!
Ser português é depositar uns tostões,
Que viram milhões, rapidamente,
Para socorrer a Matilde, Pedrogão e toda a gente!
Ser português é ficar em casa e respeitar ordens!
Ter orgulho no seu país, mas sempre a reclamar!
Ser português é ter alma de vencedor,
É dobrar o Bojador e as Tormentas
E perder tudo, porque o de fora é que é bom!
E, ainda assim, sorrir pelo passado,
Reclamar o futuro, continuando a fazer tudo errado!
Ser português é comer sardinha pinga no pão
E não dispensar a malga de vinho ou o fino!
Ser português é ter raça de lutador
E a amargura de um rei sem dor, dorido!
Ser português é pôr as mãos na cabeça e dizer:
“oh pá, está tudo f*dido! “,
Mas, continuar a caminhar sem parar,
E indignar-se, apenas com alarido!
Ah! Mas ser português é tão bonito!
É ter cá dentro um grito de história,
De uma gloriosa memória
Que nos enche de orgulho
E apenas sabe fazer barulho!
Mas um barulho pacífico...
E que venha o chouriço e a broa
E gente da boa para abraçar!
Assim é o Tuga comum mortal,
Que fala a mais bela língua do mundo,
A língua de Camões que arrebata corações
Com sempre viva e imortal poesia!

E que grita com brio à chuva e ao frio:
Agora e para sempre: Viva Portugal!

Ana Pão Trigo (in "Poetisa de Pé Descalço")


Tecto de Nuvens

Que lembrança saudosa e amiga
Gravo há anos na retina dos olhos
Tectos de Nuvens e castelos por cima
Girando, vivos como seres misteriosos.

Assim me parece o nome da Editora
Tecto de Nuvens, a apontar novas descobertas
A criação e a vida são beleza, arte e aroma
Que guardamos no coração para horas certas.

Admiro dedicação e tarefas minuciosas
Que a cada minuto suscitam a vossa mente,
Sugestões imensas e tão harmoniosas!
Quem escolhe, teme deixar a melhor semente.

Felicito a Chefe e o pessoal operário
Que tanto apreciam o esmero e a arte
Cada qual dá seu tributo e recado
E a Tecto de Nuvens,
Em toda a parte
Aromatiza a praça, os livros e o mercado.




                        (23 de Maio 2017), Florentino Mendes Pereira
No dia da poesia livre, tomamos a liberdade de ir ao baú buscar um miminho...


 QUEDO-ME
Quedo-me aqui
Quedo-me sem ti
Perco-me em mim
Assim…

Quedo-me muda serena transparente e tua
Quedo-me por ti
Assim…

Galgo a escadaria do palácio antigo e belo
Perco-me nos corredores do labirinto
E encontro-me/te num doce ninho
Assim…

Amo sinto estremeço e rio
Escancaro a alma neste mar sem rio
Salto a balaustrada
Solto o grito agudo
Solto o ponto e o brio
Sou amante do destino.

Por amor
de todos serei o guia indistinto
a todos darei
o abraço antigo

Quedo-me assim
Quedo-me por mim.

Margarida Haderer

AFINAL

Afinal era curto o caminho
a ponte
a passagem
Era fácil visível transponível
a sebe bem tecida
Afinal…
Era tão só um trilho passageiro
um desvio
um breve-longo engano
Afinal…
Havia Sol na outra margem do rio
Havia Luz por entre as vírgulas do vazio
Havia Flores, Verdes, Amarelos, Rubros, desafios
Afinal…
Havia Tempo e Mar p´ra desflorar e desfrutar
frutos suculentos, doçuras e branduras
Afinal…
Havia VIDA!
Afinal...

Margarida Haderer



numa noite de luar

a lua ilumina o ser da noite,
porque a lua é um ser,
(assumidamente abstrato),
                                     numa ressonância,
que devíamos construir, pelo labor,
das fronhas,
e das tempestades que passam e voltam,
mas o sol nunca veio,
                                     é que ele nunca foi,
na luz da noite, saboreamos,
o caminho madrasto da vida,
e se algum dia,
                                    encontrares o que procuras,
então sabes,
qual é o lugar das lágrimas que choras.
                                    ora, falemos da noite e do luar,
e do sol e da chuva,
                                    do vento e das ceifeiras,
colhendo o trigo,
que cresce na noite da madrugada.

Joaquim Armindo


Fica já lançado o último desafio de Maio: Infância. Em prosa, em verso, em foto, numa frase, como entenderem. Pode ser uma memória própria, uma ficção, pode ser sobre a vossa infância ou um trabalho dirigido às crianças de hoje.
Podem participar com mais do que um trabalho.
Receberemos trabalhos até ao final de sábado, dia 30 de Maio. Os trabalhos serão publicados no blogue no dia 1 de Junho, Dia Mundial da Criança. Durante todo o mês de Junho ficarão abertas as votações para o melhor trabalho.
No dia 1 de Junho vamos lançar a nossa nova colectânea de contos infantis: "O Baloiço" e o trabalho mais votado receberá um exemplar em capa dura deste trabalho.
Bom trabalho!

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