quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Ilda Pinto Almeida em entrevista II


Voltam as entrevistas e também podem voltar os entrevistados... Com a participação em 3 colectâneas: "As Flores do Meu Lindo Jardim"; "O Baloiço" e "Um cheirinho a Natal" (a lançar no próximo mês de Novembro), com a publicação da edição revista de "Quando o sol deixa de brilhar" e, no mês passado, o lançamento de "Ouro Azul", Ilda Pinto Almeida tem tido um ano em cheio (tão cheio que tem projectos em lista de espera...) em ambos os lados do Atlântico, num ano que começou com um "saltinho" à Austrália!
O trabalho ainda não está concluído e após a apresentação do livro "Ouro Azul" em Portugal, segue-se outra, já em Novembro, a convite da Comunidade Latino-americana (que a agraciou com o título de embaixadora emérita (ilustre) da  dita comunidade "É de mencionar que esta leitura nos faz identificar a similitude de dois mundos tão diferentes, mas tão parecidos em muitos aspectos culturais e sociais. Esta importante ligação e encontro literário, concretizado a partir do seu interesse em conhecer a nossa cultura e identidade, permitiu-nos estabelecer esta ponte e poder apresentar-lhe a si, a quem dêmos o reconhecimento do nome de Embaixadora emérita, a América Latina como um região com uma história e riqueza cultural tão extraordinária (...)").
Assim que a situação sanitária o permita, haverá uma outra apresentação organizada pelo Cônsul português na região onde vive.
Ficam as palavras da autora e artista plástica:


Fale-nos um pouco sobre o seu livro.
Falar de um só livro seria falar de uma só parte do meu percurso. “Ouro Azul” é a parte que faltava ao livro lançado em 2014 com o título “Quando o sol deixa de brilhar” livro este que foi premiado com o prémio Literacidade no Brasil, terceiro lugar, e também com o Prémio Escritor Lusófono por Excelência, em, 2015.
Estes dois livros complementam-se. Foi um trazer de memórias à vida, umas vezes com uma grande gargalhada, outras vezes com uma lágrima no canto do olho.
Falar de “Ouro Azul” é trazer à mesa um tema pertinente. É falar de um povo que partiu, e que continua a partir, da pátria mãe à busca do maná que a terra não teve a ousadia de dar. É a minha história e a história de muitos mais que estão por entre as linhas destas crónicas, em uma mensagem de esperança e realizações.
O meu motivo é levar aos demais uma palavra de esperança e de coragem. Fazer com que os leitores meditem na palavra emigrante e na sua jornada.
Dizer que temos que acreditar nos nossos sonhos e lutar por eles. O facto de “falta de oportunidades”, “um não”, “a circunstância”, não é o fim mas pode ser o começo de um novo projecto.

Existe alguma parte do livro, em particular, que goste mais. Porquê?
Não tenho nada em particular narrado pelas páginas do livro ou nos livros que me dê mais agrado. Todos os momentos descritos foram vividos com grande preocupação, mas também com enorme esperança.

Este livro é uma reedição que precede o que será uma continuação lógica deste livro. Fale-nos deste projecto tanto no seu conjunto como no detalhe individual, já que fez alterações ao primeiro livro. 
“Quando o sol deixa de brilhar" é uma edição revista que era necessária. Era também adequado fazer-lhe algumas alterações, tanto no conteúdo como no seu aspecto visual. Assim, com a editora, em uma pesquisa profunda no todo do volume, chegámos a esta obra que se apresenta agora. Como já mencionei este livro veio à luz há cerca de seis anos e que esgotou.
Quando pensei em escrever os trajectos, as memórias e os abraços em “Ouro Azul”, tive necessidade de trazer à vida o primeiro livro que muitos dos meus agora leitores não tiveram oportunidade de ler e, estou satisfeita por tê-lo feito.

Indique as razões pelas quais aconselharia as pessoas a ler o seu livro? O que acha mais apelativo no seu livro?
É sempre difícil dizer aos outros o que devem fazer, mas não é difícil dizer aos leitores que este livro ou estes livros são uma mais-valia para as suas vidas. Conhecer a azáfama da vida dos emigrantes que tantas vezes são desconsiderados pelos seus próprios conterrâneos. Por vezes apelidados de palavras que são rótulos, e que os fazem acreditar que não pertencem a lado nenhum, são motivos mais que suficientes para qualquer leitor que goste de literatura que faz bem à alma e alegra o coração, vinculando, também, o conhecimento de uma realidade ainda desconhecida por tantos e até pelos governos que escondem da história estes factos.

O segundo livro deste projecto foi escrito quase a pedido, até que ponto essa pressão dos leitores foi um estímulo ou um obstáculo?
Levei seis anos a ganhar coragem a iniciar, a colocar nas páginas brancas de um bloco de notas algumas das minhas vivências como emigrante. E digo algumas porque há muitas mais que ficaram por partilhar. No decorrer destes anos houve muitas pessoas, leitores do primeiro livro, que me perguntavam para quando o percurso migratório, mas na verdade eu não estava preparada para falar dele. Até que um dia, no meio de tantos relatos de outros que tinham deixado a terra nesta aventura de melhorar a vida, o cozinhado foi começando a formar-se no consciente. Algum tempo foi passando, e depois de muitas anotações e até capítulos/“quadros”, como refere a professora Matilde de Sousa Franco (ao ter a delicadeza de descrever esta obra), inicialmente soltos, é que comecei a interiorizar este meu dever e assim em alguns meses apresento à editora o meu trabalho.

Qual é o seu estilo de escrita ou que tipo de mensagem gosta de passar no que escreve?
Deixo o meu estilo para o leitor se pronunciar. Gosto da escrita e gosto de colocar no papel vivências quotidianas, tanto em prosa como em poesia. Além destas tenho o gosto pelas histórias infantis. Histórias sobre o ambiente e contos bíblicos.
Sempre me preocupo em levar aos leitores uma mensagem de fé. Que o melhor ainda está por chegar.
Em “Quando o sol deixa de brilhar” só consegui distanciar o suficiente da minha experiência escrevendo na terceira pessoa; em “Ouro Azul” a minha história (que também é a de tantos outros) aparece em pequenas crónicas (os tais quadros), desse modo o livro pode ser lido/consultado na sequência apresentada ou de modo individual.

Qual o papel actual das redes sociais na vida e na divulgação das suas obras? Onde é que a podemos encontrar?
As redes sociais são o melhor veículo para levar o trabalho de qualquer autor ao público, quando o conseguimos ter do nosso lado. Graças a Deus hoje em dia não ficamos tão limitados à espera do “senhor do jornal”, dos média, à espera da oportunidade. Hoje temos ao dispor vários formatos de divulgação que são preciosos para difundir o trabalho, sou o exemplo disso.Vivo nos Estados Unidos e conseguir que os meios de comunicação comunitários ou além-mar, façam cobertura é um caso de amigos. Dou um exemplo, entre tantos; Em 2018 fui nomeada ao Prémio Anim’Arte 2017, que acabei por receber, e só foi depois de muita insistência, publicado no jornal da Comunidade quase dois meses depois, já depois de ter passado o momento. – Teria sido bom para a comunidade saber disto, gostamos de saber estas coisas, enchem-nos de orgulho e unem-nos (os Estados Unidos é um pais muito grande!). - Mas o que me deixou mais decepcionada foi ser um prémio importante a nível comunitário e até o Consulado português, de então, também ele fechou os olhos. – Hoje em dia, e se calhar até por influência das redes sociais, já há um pouco mais de atenção. - E por aí assim se vão revelando os meios de divulgação comunitários, aqui. Por isso volto a insistir que os novos meios de divulgação que se encontram à disposição de todos devem ser usados com sabedoria e sem medo.
Quero dizer que agora mesmo o mais alto representante dos Estados Unidos em Portugal, o senhor embaixador George Glass, se fez presente à mesa no lançamento do livro “Ouro Azul-Trajectos – Memórias e Abraços”, (que teve lugar em Setembro em Vouzela) a fazer a ponte, do outro lado da minha ponte.
Estava ali, como referiu, uma também cidadã Americana, trazendo à mesa o tema migração, laços e cidadania, e até ao momento não houve uma sequer referência a este facto nas redes sociais locais até ao momento desta entrevista. Concluo que continuo a ser uma emigrante nas palavras escritas, de cá para lá e de lá para cá.
Por tudo isto, as plataformas digitais são ouro na oportunidade de dar publicidade aos autores desconhecidos e não só. É com grande êxito que muitos de nós dão a conhecer os triunfos que vão acontecendo, sem sujeitar o momento, à espera que alguém o dê a conhecer.
Quem tiver interesse pode acompanhar-me em:

No seu livro relata a experiência inicial, na Europa e depois a dos Estados Unidos, a que ainda vive. Os portugueses parecem conhecer razoavelmente a experiência europeia, mas no que diz respeito à americana, exceptuando talvez a do Canadá, parecem saber muito pouco e até quase ignorar a existência dela (a comunidade portuguesa nos Estados Unidos não é assim tão pequena…). Mais acima referiu um quase esconder da realidade e também refere, na resposta anterior, uma falta de atenção. Sabemos que enquanto escritora e artista plástica tem perdido oportunidades por falta de peso da comunidade portuguesa ou pela falta de interactividade da mesma com Portugal e vice-versa. É sabido que a comunidade latina nos Estados Unidos tem um grande peso mas também uma grande actividade cultural. Recentemente foi alvo de uma iniciativa que poderá ter grande impacto na sua carreira, fale-nos dessa situação e o quanto pode significar para si.
Aparecem oportunidades, tanto nas áreas das artes plásticas como na literatura, mas a comunidade portuguesa não participa nos eventos, sou das únicas pessoas que participa, por isso torna-se difícil manter a nossa posição. Há bem pouco tempo tive um convite para um intercâmbio cultural nas artes plásticas pela comunidade latina, mas foi impossível idealizar este projecto por falta de apoios. Também na parte literária é quase impossível ter uma participação activa. Os convites existem, mas sem ter os textos escritos em espanhol a possibilidade de participar é nula. A hispanidade é um país. As traduções não são acessíveis e torna-se um caminho complicado, quase impossível, para os autores de língua portuguesa, residentes, como eu. Precisamos destes leitores (latinos) uma vez que o público que está na pátria não nos conhece.
Fui há bem pouco tempo recipiente de uma honrosa carta de apoio à minha obra da comunidade latino-americana, que fala da conexão ou da importância à relação cultural que venho estabelecendo ao criar ponte entre as duas culturas. Esta carta refere ainda a importância de apresentar esta obra à comunidade Hispânica, uma vez que o tema é comum. Já não é a primeira vez que o meu trabalho é elogiado pelas comunidades latinas, como, por exemplo, a carta de reconhecimento, certificada pelo governo de El Salvador, entregue à Câmara Municipal de Vouzela em 2018, pela altura da homenagem prestada ao meu trabalho desenvolvido fora de portas.
A comunidade portuguesa é bastante grande, mas não é um povo ligado às leituras. Os Clubes dedicam-se mais à cultura popular sem que haja grande vontade às artes. Tenho-me debatido e trazido à conversa este assunto na minha cidade, mas há falta de sensibilidade para esta matéria.
Teríamos que começar pelas escolas de língua portuguesa. Sensibilizar as crianças, dizer-lhes que a cultura portuguesa não é só ranchos e arraiais. Levar até elas o teatro e ensinar-lhes a fazer teatro em português, criando saídas. Levá-las a exposições e incentivá-las na escrita com programas de concursos literários entre escolas.
Portugal para nós está muito longe e ainda somos vistos como pessoas de pouca escolaridade. Mesmo que isso seja verdade, então, apresentem um trabalho de aprendizagem aos que não tiveram a oportunidade de estudar.



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Carta de reconhecimento, 2018


Pode ler, ou reler, a entrevista que Ilda Pinto Almeida nos deu Dezembro de 2018 aqui: https://tectonuvens.blogspot.com/2018/12/ilda-pinto-almeida-em-entrevista.html


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