Depois de em 2008 termos dado início à colecção infantil "Petizes Felizes!" com o livro Dani e os Amigos, fomos publicando outros livros infantis e infanto-juvenis, mas o nosso Dani andava um bocadinho sem a companhia de novos amigos. Felizmente, neste ano de 2021 arranjamos-lhe merecida e honrosa companhia, com 4 novos livros.
Esta colecção de contos chama-se: “Sonhos de Helicóptero, Cara de Pato”, qual a importância do sonho na vida das crianças?
O sonho é onde tudo acontece. No mundo dos sonhos não temos limites, regras, impedimentos de sermos o que queremos e como queremos. O mundo dos sonhos é um mundo no qual os elefantes são cor-de-rosa e as crianças têm a oportunidade de viajar, sem pressa de chegar à meta, levando apenas na bagagem a sua imaginação sem limites.
O título tem um significado especial para si e para o seu filho. Qual é?
O seu significado é muito difícil de explicar, mas muito fácil de sentir, se lerem todas estas histórias que escrevi com o coração. Mas pormenores não poderei dar. Esse é um exercício que deve ser feito pelos leitores. “O artista cria a obra, o leitor recria”. Certamente, os meus sonhos de Helicóptero, Cara de Pato não são os mesmo do meu filho, de outras crianças, de outros pais. Cada um tem os seus.
De onde veio a ideia para estas histórias?
Estas histórias surgiram naturalmente e de improviso, na hora de deitar, quando ia adormecer o meu filho. Inicialmente, a intenção era apenas contar uma história bonita que lhe proporcionasse um bom momento, de tranquilidade e descontração, antes de dormir. Depois, conforme foi crescendo, achei que deveria usar as histórias para inspirá-lo, para ensinar valores humanos. E, a partir daí, passei do mundo colorido e mágico, ao mundo menos bonito mas que se poderia explicar de forma, um pouco mais leve.
Mas não as contava apenas ao seu filho, pois não?
Não. Contava e conto algumas das minhas histórias aos meus pacientes. Como psicóloga clínica, uso, muitas vezes, a biblioterapia para trabalhar algumas questões. Para além das histórias que já contava ao meu filho, comecei a contar histórias que escrevi, propositadamente, para os meus pacientes, para ajudá-los a ultrapassarem os seus problemas.
Fala, portanto, da “biblioterapia”. Fale-nos um pouco mais sobre o conceito.
A Biblioterapia é uma estratégia terapêutica artística e criativa que permite, através da leitura de poemas, histórias e outros textos partir para a reflexão, tão essencial em determinadas problemáticas, como por exemplo a Depressão e/ou Perturbação de Ansiedade Generalizada. A Ana Psicóloga utiliza as suas histórias, também, com crianças com Perturbação do Espectro do Autismo, Hiperatividade com Défice de Atenção e outras problemáticas. Aliada à escrita criativa, a leitura de histórias que educam para os valores humanos (solidariedade, tolerância, honestidade, humildade…) constitui-se como uma valiosa e deliciosa ferramenta de trabalho.
A biblioterapia não tem uso exclusivo nas crianças, ou tem? Recordo que um dos motivos mais apontados para o sucesso dos livros a que chamamos genericamente romances ou novelas tinha a ver com o leitor se identificar com todos os problemas e peripécias que as personagens enfrentavam, sofria com elas e alegrava-se no final com a resolução dos problemas, sentindo-se depois revigorado (e até inspirado “Eu também poderia fazer assim.” “Se ela conseguiu resolver os problemas, eu também vou conseguir”). É algo similar?
Não tão literal e simples assim. A Biblioterapia também pode ser uma estratégia, uma ferramenta, utilizada com adultos. No entanto, sou um pouco avessa a livros de auto-ajuda e coaching de cordel, levado a cabo por pessoas sem formação para tal. A transformação não vem das palavras bonitas. A transformação vem da auto-reflexão. E a literatura pode, efetivamente, ajudar a despertar essa auto-reflexão, auto-consciência. Pode ajudar a trazer ao de cima aquilo que está preso ou oculto na nossa psique. Muitas vezes, e tal como disse, através da identificação com personagens e/ou situações. Ou, apenas, pelo simples despertar do nosso eu através da arte.
Parabéns à Ana pela interessante entrevista, fiquei curiosa em conhecer a história.
ResponderEliminarNa verdade, é um conjunto de histórias, cada uma com um ensinamento diferente. Vale a pena ler, independentemente da idade.
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