Terminamos aqui o ciclo das entrevistas com as autoras dos novos livros da colecção "Petizes Felizes!", desta vez com Ilda Pinto Almeida, autora do livro "As travessuras do Nino", nº 4 da colecção.
Esta entrevista tem a particularidade de ser a duas vozes pois este livro é inspirado em factos reais e, sem dúvida, que a concepção e execução das travessuras do Nino são exclusivamente do gato Nino... Por isso mesmo, também teve direito a dizer de sua justiça.
Gato Nino, de repente tornou-se famoso, com livro publicado e tudo. Está contente com isso?
Claro que sim, especialmente quando o meu sonho era aparecer na televisão. Mesmo que se venha a falar do abandono da Delfina, eu estou pronto para a publicidade.
Fale-nos um pouco sobre o seu livro, pelo que percebo, é biográfico. Está correcto?
Podemos dizer que sim! Eu quero mostrar aos humanos que às vezes não é fácil ser um felino, apesar de viver em um lar muito carinhoso, onde tenho três camas forradas de pelos macios, janelas fantásticas para ver a rua e um quintal inspirador, é sempre difícil tomar algumas decisões, como ir à rua quando chove ou cai neve. Depois quero mostrar que também erro como os humanos. Eles não são tão perfeitos como nos querem fazer ver, a nós gatos.
Indique as razões pelas quais aconselharia as pessoas a ler o seu livro? O que acha mais apelativo nele?
Bom aqui vou deixar a autora responder porque foi ela quem se meteu nessa alhada.
(Ilda) Estas páginas foram escritas a pensar nos pequenos , mas também nos adultos. Desde criança tive e observei os animais. Os gatos normalmente são vistos com grande empatia, por serem excelentes companhias. São cúmplices perfeitos para quem procura um companheiro para descansar, quem gosta de passar momentos sossegados, o que não é o caso do Nino. Ele é um gato muito travesso e por esse motivo traz- me esta inspiração cheia de picardia. Quero mostrar ao leitor, que tenha lá por casa um parecido com o Nino, para não desesperar, veja-o como um ator mais atrevido. Depois para nos divertirmos um pouco com todas as suas façanhas tão próprias de um adolescente, neste caso gato. Muitos artistas afirmam ser a melhor companhia e às vezes uma grande inspiração.
Gato Nino, nem sempre se porta muito bem, não tem medo de ser um mau exemplo para os meninos que vão ler o livro? Se calhar, agora, já não seria tão teimoso e daria ouvidos à dona, certo? Se calhar já não há mais travessuras para contar…
(O Nino reagiu à nossa pergunta da forma como a fotografia ilustra, pelo que, sensatamente, optámos por deixar que fosse a Ilda a responder...)
O Nino está a viver a sua adolescência e como tal, também nele se verifica uma pequena rebeldia, umas vezes engraçada, outras vezes demasiada atrevida, assim como nos humanos. Eu creio que as suas travessuras são um acto próprio da idade, sejam pessoas ou animais. As crianças ao lerem ou ouvirem as histórias irão perceber o quanto é importante ter um felino por companhia pelas suas características e habilidades únicas, capazes de se domesticarem a si próprios. Serão por si só uma lição de aprendizagem e crescimento para todos. Quanto às travessuras já terem acabado?! Não me parece que seja possível nos próximos tempos, a sua rebeldia adolescente ainda está para ficar um pouco mais.
Ilda, no Prefácio faz uma comparação muito interessante entre as crianças e os animais. Quer falar um pouco mais sobre isso?
LOL!! lembrei-me agora mesmo das minhas netas Emma e Sofia, que têm doze anos... ao ficarem a passar o fim de semana connosco... Era fim-de-semana e também dia dos avós. Logo pela manhã perguntei-lhes se elas queriam ir ao Centro Comercial, que fica a trinta minutos de casa e é considerado o maior nos Estados Unidos - The American Dream Mall . Assim fomos as três contentes às compras. O objetivo era fazer compras para as duas e comermos alguma coisa por lá, e assim sucedeu. Dentro das lojas elas vestiam tudo o que lhes aparecia pela frente e que não fazia o género delas, incluindo as famosas “Ugly christmas shirts” desfilando pela loja inteira, e eu, sem saber se me havia de rir ou preocupar em sermos postas fora, olhava os seus rostos radiantes de quem andava a fazer show felicíssimas. Em certo momento, cheias de si e de vida nas suas travessuras de adolescentes, ao mesmo tempo de costas quentes pela presença da vovó... gritam do meio da loja, e em modos de passagem de modelo, dizem: - Vamos lá vovó, diverte-te pois é dia dos avós. Vivam os avós! Rindo-se às gargalhadas com um brilho nos olhos de felicidade extraordinário, acabando eu por me render e fazer parte das suas travessuras, ao mesmo tempo que esperava uma chamada de atenção da segurança. Mas pouco importava naquele momento de cumplicidade. São momentos como estes que me agarram o imaginário e o levam mais além, numa forma comparativa entre as duas inocências, o animal e a criança, e tentar afigurar como será o prazer de uma fantástica travessura nos seus conscientes .
(Pedimos ao Gato Nino para tapar as orelhas. Bufou mais um bocado, mas fez-nos a vontade. É que ele já tem fama de ser bastante vaidoso…). Ilda, é certo que às vezes o Nino a faz perder a paciência, mas a verdade é que aproveitou as travessuras dele, fantasiando um pouco o pensar dele, para ensinar a importância da tolerância. Se preferir, que devemos considerar os sentimentos alheios, mesmo que sejam de um gato. É a tal reflexão que queria que também fosse interessante para os adultos que estivessem a ler?
É certo! Como se costuma dizer, às vezes o Nino tira-me do sério. Ainda esta semana ele fez uma grande safadeza ao saber que eu tinha descoberto as malandrices da sua falta de apetite. Nesse dia eu sentei-me ao computador sem lhe passar cartão todo o dia e ao mesmo tempo castigá-lo. Assim que me levantei e fui para a cozinha tratar do jantar, o senhor gato Nino dirigiu-se ao meu escritório e marcou o ecrã do computador com a sua marca territorial! Não imaginam o que isso significou! Quando o encaro com o sucedido ele olha para mim com aqueles olhos vivos de marotice e pareceu-me ouvi-lo dizer: -Isso não é nada... a culpa é tua, é tua... abre-me a porta, abre-me a portaaa tenho que ir à rua...
É claro que estas malandrices do gato Nino, contadas de uma forma divertida trazem gozo e uma boa gargalhada. Tudo na vida depende de como encaramos as situações. Podemos ter sempre duas visões diferentes da mesma realidade. Podemos olhar em sentido de terror ou como uma comédia. Talvez se chame a isso paciência ou será que é ela uma virtude que devemos usar e abusar dela. A vida será sempre o reflexo das nossas ações. A tolerância será sempre o caminho para o entendimento.
Ilda, tem mais projectos para estes género literário? Livros? Actividades...
Sim , parar é morrer como dizia o meu pai. Não sei se consigo concretizar todos os projectos que escrevo no meu caderno, e todas as histórias que escrevo, mas os sonhos existem e enquanto eles existirem haverá uma pintura em construção na minha alma, que faz almejar prosseguir com os livros por fazer, todos os dias.
As travessuras do Nino - coletânea -, Ilda Pinto Almeida; 66 páginas, Tecto de Nuvens, 2021
"É um livro que tem por figura principal um gato, que não fala, pois os gatos não têm essa capacidade, mas as suas atitudes levam-me a pensar nas palavras que ele diria se lhe fosse possível, humanamente, falar."
PVP 7,00€
Pode ler, ou reler, a entrevista de Ilda Pinto Almeida nos deu em Outubro de 2020 aqui:
Pode ler, ou reler, a entrevista que Ilda Pinto Almeida nos deu Dezembro de 2018 aqui: https://tectonuvens.blogspot.com/2018/12/ilda-pinto-almeida-em-entrevista.html
Já li o livro e diverti-me imenso. É um gato que, como é dito na entrevista, parece um jovem irreverente. Fico à espera do próximo!
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