Mas deixemos que seja a guerreira, por voz própria, a
apresentar este novo livro “(Re) nascer de mim”:
Fale-nos um pouco sobre o seu livro.
O livro
“(Re)nascer de mim” é um livro de poesia (em verso e em prosa) que contém os
pensamentos, as reflexões, as vivências de alguém que sentiu a necessidade de
voltar a nascer, por sua própria conta em risco, de se fortalecer, de se
afirmar como ser único e singular, sem receios e sem dúvidas. É um grito de
revolta, mas também é um sorriso de vitória e um abraço sincero e genuíno ao
amor, nas suas múltiplas formas.
Relacionado ainda com a pergunta anterior,
agora articulando com o seu primeiro livro de Poesia, dando como certo que a
Poetisa continua sem regras, o que mais há em comum entre os dois livros? E
como é que se destacam um do outro? E quantas regras quebrou neste livro?...
A relação que existe entre o meu
primeiro livro de poesia e este é a escrita continuar a vir de dentro, da alma,
sem filtros. Escrevo, desde sempre, aquilo que sinto e penso, sem pensar se vai
agradar ou não a quem lê. Mantenho-me a pensar e a sentir em verso. Destacam-se
um do outro na medida em que há uma diferença clara na minha forma de expressão,
mais madura, mais própria, mais reflexiva. O meu primeiro livro contém poemas que
escrevi desde os meus onze anos de idade, poemas da minha adolescência e
juventude, poemas de uma jovem adulta. Agora sou um Eu mais completo, ainda
mais determinado e, sobretudo, menos preocupado com a opinião de terceiros, sem
medo de inquietar. Mesmo ao nível da escrita propriamente dita nota-se uma
grande evolução. As regras quebro todas quantas puder e quantas forem
necessárias, desde sempre.
Indique as razões pelas quais aconselharia
as pessoas a ler (ou dar a ler) o seu livro?
Considero que, sobretudo, as mulheres
que estão a necessitar de introduzir mudanças nas suas vidas, de dar aquele
passo para o qual falta a coragem e determinação, deveriam ler o meu livro.
Vejo-o como um incentivo de (re)nascimento para outras mulheres. Durante todo o
processo de escrita deste livro, servi de inspiração a muitas mulheres nessa
situação e sinto-me muito honrada por isso. Alguns dos poemas que escrevi
tiveram inspiração nessas histórias, também. O que não quero com isto dizer é
que se trata de um livro de leitura exclusivamente feminina. Considero que
retrata valores e apresenta reflexões importantes para qualquer jovem ou adulto
ler. Tendo em conta a humanidade e sociedade que se nos apresenta, nos dias de
hoje, considero de extrema importância qualquer leitura que desperte
consciências para a construção de um mundo melhor. Para mim, “só a poesia pode
salvar o mundo”. Esta frase não é minha, mas concordo em absoluto com esta
máxima. Só a poesia é capaz de chegar ao mais íntimo de cada um de nós.
Não resisto à provocação: o título “(Re)
nascer de Mim”, o “de” é para ser entendido como “do Eu”, “a partir de mim”,
como?
Sim, o “de” pode ser entendido como “do eu”, do meu eu. Alguém que
escreve algo tão genuíno não renasce a partir de outros egos. Este livro retrata
um período de (re)descoberta de mim própria, de afirmação da minha essência. E,
por isso, todas as mudanças que surgiram em mim partiram de um Eu que já
existia e esteve adormecido, apagado, durante alguns anos da minha vida. Nunca
voltamos à casa de partida e jamais seremos quem fomos ontem, no entanto, há
que preservar aquilo que há de bom, aquilo que nos faz sentir inteiros.
Na vida somos muitas vezes
derrotados/derrubados, o que pode ser considerado uma morte (deixamos de ser
aquela pessoa, de ver as coisas daquela maneira…). Mas não tem que ser um fim?
O (Re) nascer é uma coisa boa? – Pode falar a poetisa e a psicóloga. –
Qualquer mudança é uma oportunidade de
crescimento. O renascer é, inevitavelmente, algo de bom, de positivo: preserva
a essência e acrescenta, potencia. Não considero que nalguma vida morra um eu
para dar lugar a outro. A história de cada pessoa contém tudo aquilo que lhe
vai acontecendo, ao longo da vida, o bom e o mau ou menos bom. Todos os
acontecimentos de vida devem ser integrados na construção de cada ser humano,
uma construção que nunca termina. Durante o nosso percurso vamos sendo
confrontados com situações que põem à prova a nossa força e resiliência. Não
podemos escolher tudo aquilo que nos acontece, mas podemos decidir o que fazer
com o que nos acontece. Haverá sempre escolha! Podemos usar as experiências
menos boas e transformá-las em aprendizagens bonitas e renovadoras,
inspiradoras. Desta forma e para terminar, nunca me senti derrotada ou
derrubada, precisamente por isto. Tal como digo num dos meus poemas “tenho
apenas um ou dois dias para chorar por cada problema”, depois há que caminhar.
Não concordo com a ideia enraizada na sociedade de “refazer vidas”. As vidas
não se refazem! Nós vivemos a nossa vida como uma história única e todos os
passos contam para construir esse caminho. A vida não se refaz, vive-se! Aquilo
que sou hoje não apaga o que fui ontem, nem condiciona de forma determinante e
permanente o que serei amanhã.
Não querendo induzir/condicionar o que responde,
mas há uma questão dominante pelo livro que tem a ver, coloquemos as coisas de
forma suave, com situações menos felizes. Embora o foco esteja no feminino,
dado ter sido escrito por si, não é um livro exclusivamente para mulheres,
certo? Muitos se poderão rever nas situações ou extrapolar a partir delas.
Servirá também de ajuda/estímulo. Acha que a literatura pode ter um
papel importante para ajudar estes temas? E acha que a literatura, aqui
especificamente a Poesia, deve ter esse papel, isto é, servir de alerta,
mas também de solução e até denúncia, ou deve manter uma atitude mais neutra,
apelar à introspecção individual, mas em termos públicos ficar-se apenas pelo
entretenimento?
Tal
como já respondi antes, este livro adequa-se a toda e qualquer pessoa que se
permita refletir sobre o mundo atual: um mundo no qual escasseiam os valores
humanos fundamentais, um mundo preconceituoso, egoísta e consumista. Um mundo
desatento face ao que é mais importante: a beleza das pequenas coisas, das
relações humanas, da relação do homem com a natureza, do amor.
A
poesia, para mim, não é entretenimento. Poderá sê-lo para algumas pessoas. Mas
essa não é, de todo, a poesia que eu escrevo. A poesia é algo que vem da alma!
Não tem que ser feliz ou cor-de-rosa para ser bonita, tem que conter
sentimento, tem que conter uma mensagem, tem que ser interventiva. E tem o
poder de mudar vidas, de inquietar, de provocar, de gerar novos eus, novos
mundos. A literatura ou a poesia, em particular, podem funcionar como terapia,
catarse, como forma de libertação, de expressão ou como mote para levarmos a
cabo mudanças, para ganharmos coragem, para avançarmos. Podemos, através da
poesia, transformar os episódios menos bons das nossas vidas em algo bonito e,
dessa forma, arrumarmos o nosso coração.
Aquilo
que escrevo não é neutro. É muito pessoal. Não seria um “eu poeta” se me
neutralizasse e me dedicasse a escrever vivências que não senti, que não são
minhas. Partilho-me com o mundo para inquietar, para inspirar quem se quiser
deixar inspirar, quem se identificar com o que escrevo. É preciso ter coragem
para nos partilharmos de uma forma tão íntima, mas é necessário. Os poetas dão
voz ao mundo.
Como
autora posso dizer que assumo, determinantemente, o papel de guerreira, muito
mais do que uma sobrevivente e nunca como vítima. Tudo o que nos acontece é
produto das nossas escolhas. Todas as guerreiras devem sarar as suas feridas e
seguir em frente, ainda com mais força, mais fé. Se não podemos escolher aquilo
que nos acontece, em determinado momento da nossa vida, podemos escolher o que
fazer com aquilo que nos acontece. Eu escolhi lutar. Não sou a vítima, sou a
guerreira! É preciso aprender e crescer, fazer caminho. Colocarmo-nos
permanentemente no lugar de vítimas, não resolve os nossos problemas. As
soluções não vêm ter connosco. Nós é que devemos procurar e encontrar as
soluções. Enfatizar o sofrimento e quem o infligiu é focarmo-nos no problema e
não na solução. Aprendi que a melhor forma de nos dignificarmos, de mostrarmos
o nosso valor, é fazer aquilo que quem nos magoa não espera de nós: é superarmo-nos!
Magoar propositadamente alguém acontece, precisamente, porque se considera que
esse alguém está, por algum motivo, abaixo de, é frágil. Então, há que sair por
cima. E, tal como disse a autora do prefácio do meu livro, é “Sobre mão no
peito. Sobre mão na anca. Sobre mão na massa.”.
Tem mais projectos para estes géneros
literários? Livros? Actividades?
Neste momento, tenho um
projeto no âmbito da promoção da escrita criativa para adultos e crianças, a
sair da gaveta. Acho necessário promover a criatividade num mundo tão plástico,
no qual tudo nos é dado pronto. À parte disso, vou continuar a escrever, todos
os dias, sem fazer grandes projetos. Limito-me a ser, como já sabe, sem regras
e, quando sentir que me devo partilhar novamente, por algum motivo, assim o
farei.
“(Re)
nascer de Mim” é um livro de poesia que nos mantém despertos, da primeira à
última página, para a possibilidade de nascermos e voltarmos a nascer, as vezes
necessárias, ao longo da nossa vida.
Sem comentários:
Enviar um comentário