domingo, 19 de novembro de 2023

Melissa de Aveiro, sobre as mais recentes ilustrações, em entrevista

 

 Presença habitual por estes lados pela sua produção literária, Melissa de Aveiro visita-nos, desta vez, na qualidade de ilustradora, com vários dos livros que ilustrou a serem dados à estampa em Outubro e em Novembro deste ano.
Porque o ilustrador acaba, também, a ser um coautor, pedimos-lhe que fosse uma espécie de guia turística na viagem pelas ilustrações dos livros: "A Florzinha Vaidosa"; "O Pássaro da Asa de Ferro"; "Contos Contados e Encantados" (4 separadores); "Gustavo e a Oficina Mágica".
Então aqui fica a jornada da Melissa, ilustradora, em voz própria, na primeira pessoa:

  Conte-nos quando é que começou a desenhar e quando é que começou a usar o desenho para ilustrar algo?

Desde o 3º ano de escolaridade que sempre me interessei por desenho. Canetas, lápis de cor… tudo o que fosse colorido chamava à minha atenção para utilizar na “arte”. No início dos anos letivos adorava comprar material novo para utilizar nos desenhos… Por vezes isso trazia-me alguns problemas pois os colegas pediam emprestado e eu, com medo que pudessem gastar ou estragar, não emprestava… causando certos constrangimentos, confesso! É que o material para além de caro, era muito precioso e por mim estimado.

   Qual o papel do desenho (e da arte em geral) na sua vida?

Gosto muito de criar! Mesmo quando não o faço, na realidade, há sempre alguma coisa que me inspira a criar posteriormente um desenho ou uma pintura! É assim que me entretenho nas poucas horas vagas: a ler, a escrever ou a pintar/desenhar e a criar coisas.

  Como é que faz a ilustração de um livro? É um processo “técnico” (no sentido de regras, equilíbrios…) ou mais intuitivo/emocional (do género “consigo visualizar esta cena”)?

É um processo mais visual. Leio o texto e tento recriar o que imagino, perante a leitura.

  Falando especificamente dos livros “A Florzinha Vaidosa”; “O Pássaro da Asa de Ferro”; “Gustavo e a Oficina Mágica” e “Contos Contados e Encantados”, qual é a sensação que tem ao ver, agora, os livros, já prontos, nas mãos?

É bastante engraçado. Ver as imagens conjugadas com o texto e saber que foram colocadas naquele exato lugar escolhido para elas.

  Fale-nos um pouco sobre o ilustrar de cada um destes livros. Foi fácil, intuitivo?

Ilustrar um livro escrito por nós é diferente de ilustrar um livro de outro autor. Existe, obviamente, uma responsabilidade diferente… na medida em que é necessário perceber bem o que o autor pertente, de maneira que as ideias se conjuguem para se chegar a algum lado. Por vezes foi fácil, outras vezes mais desafiante.

   Existe alguma parte de cada um destes livros, em particular, que a toque mais. Porquê? Influenciou o estilo/escolha do traço?

Gustavo e a Oficina Mágica de Marta Coruche remeteu-me para um tempo mais antigo e nostálgico, culminando com uma ceia de Natal familiar. Tentei que isso se transmitisse nas ilustrações desenhadas à mão e na escolha das cores utilizadas.– Este livro vem com um marcador recortável de árvore de Natal

A florzinha vaidosa, de Ana Ferreira da Silva, é um livro dedicado a um público mais novinho, tem um traço mais infantil, colorido e ternurento. Aborda a questão das relações entre irmãos, por vezes conflituosas pelas diferentes personalidades e interesses, mas também de entreajuda.

O Pássaro da Asa de Ferro foi o mais desafiante. Denisa Sousa escreveu um conto mais adulto, dedicado a todas as idades, onde aborda temas como resiliência, bullying e superação. Tem como personagens uma família de pássaros! Sendo que os desenhos são dentro do ornitológico, um pouco realistas, também coloridos em algumas ilustrações, predominando os tons azuis pela personagem principal de nome “Azulinho”.

Sobre a coletânea de contos infantis, onde ilustrei 4 dos 6 contos, cada história teve o traço que mais se adequou à narrativa que cada um dos autores criou.

   Indique as razões pelas quais aconselharia as pessoas a ler estes livros? O que acha mais apelativo nos livros?

Cada história é uma aventura diferente. Cada conto tem uma lição a aprender. As ilustrações tornam os livros mais apelativos.

   Dada a sua experiência como autora, ilustradora e enfermeira, qual a importância da arte na vida das pessoas, em particular naqueles mais debilitados, temporária ou permanentemente, pela doença?

A imaginação, a arte e a literatura têm a capacidade de nos transportar para outros lugares, mesmo que não se saia da cadeira de onde se está sentado. É para isso que a arte serve, para nos fazer sonhar acordados… fugir da realidade para lugares (possivelmente) melhores.

 

  Considera a arte, neste caso não apenas na perspectiva de um apreciador, mas de alguém que “produz” algo, seja um bordado, uma colagem, pintura, desenho, tocar um instrumento, etc., como sendo sempre uma actividade (até na perspectiva de “escape”) recomendável e positiva? Ou é apenas se a pessoa for boa na sua realização? Ou pode ser benéfico mesmo que o resultado final não seja digno de ir para o Museu? Acha que há mérito no processo por si só?

Na minha perspectiva, o importante é criar! Por vezes costumo realizar workshops de pintura e há sempre alguém que descobre que “afinal até sou bom nisto”. Em contrapartida, é sempre uma maneira de desanuviar o stress, como uma terapia! Nunca me apercebi de alguma desvantagem em criar alguma coisa artística sem ser, por vezes, o custo de alguns materiais! Mas até com reciclagem se consegue fazer alguma coisa.



   



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Pode encomendar enviando email para loja@tecto-de-nuvens.pt





4 comentários:

  1. A Melissa é multifacetada e isso é uma maravilha. Quem me dera saber desenhar. Mas, confesso, gosto que me surpreendam com as suas maneiras de "ler" o que escrevo. Concordo com o que diz que cada forma de arte pode ser uma boa terapia, vendável ou não; pode surgir um talento escondido, importa é que as pessoas encontrem a expressividade como um escape. Beijinhos e parabéns por tantos livrinhos, cada um desafiante à sua maneira.

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    1. Muito obrigada pelas suas palavras. Um grande beijinho.
      Melissa A.

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  2. Muito obrigada pela entrevista e pela oportunidade de poder ilustrar livros de outros autores... ajudando-os a tornar sonhos em realidade!

    Melissa A.

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    1. Também nós temos que agradecer o seu talento e o facto de o estar a partilhar tanto com outros autores como com os seus leitores e os leitores dos outros. Enriquece-nos a todos.
      E num tempo de tudo artificial, tudo montado a partir de referências arquivadas, é bom ter alguém que lê uma história, a entende, a interpreta e depois a transforma em imagens únicas, exclusivas e personalizadas.

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