Mais um ano, mais Desafios e mais, esperamos sempre que mais, AMOR. A melhor maneira de arrancarmos mais um ano de trabalhos é assim, cheia de amor - todo e qualquer amor, incluindo, naturalmente, o amor pela vida. Aceitamos pequenos contos e poesia (em todas as formas que pretenderem, incluindo quadras).
Os trabalhos são publicados neste blogue a 14 de Fevereiro, Dia Mundial do Amor, do Casamento e dos Namorados (S. Valentim) e até ao dia 29, teremos uma votação a decorrer para encontrar o texto favorito dos leitores.
Como habitualmente, as votações serão feitas usando a caixa de comentários (já sabem que tem moderação pelo que os comentários/votos não ficam visíveis de imediato), não há limite para o número de vezes que podem votar ou em quem votar, apenas se espera algum bom senso (e apesar de aceitarmos que no blogue as votações ficam anónimas, só validaremos os votos após recebermos por email a identificação do votante e forma de contacto, assim que lhe atribuirmos um número).
O texto mais votado receberá um exemplar do livro "Olhar de Amor" + caneca "Be My Valentine" e sortearemos um dos comentários/votos para receber um exemplar do livro "Olhar de Amor" (livro entregue em saco de organza, com cartão de mensagem igual ao livro para acompanhar uma prenda e um marcador de livro).
Findas as votações e contabilizados todos os votos que foram validados, temos um empate o que dá, muito apropriadamente, um par de vencedores: "Marimbas de Sofala" de Bastos Vianna e "Anelo" de Ilda Pinto Almeida. Aos dois, os nossos parabéns!
Sortearemos entre os dois quem vai ficar com a caneca "Be My Valentine" (que entretanto, e temporariamente, esgotou para além da unidade reservada para este Desafio) e a caneca "Bodas de Prata". As canecas serão acompanhadas pelo exemplar do livro "Olhar de Amor".
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Caneca "Bodas de Prata" |
Aos votantes os nossos agradecimentos, aqueles que tiveram os votos validados terão a oportunidade de ser sorteados no próximo sábado para, também eles, receberem o livro "Olhar de Amor".
Boa sorte!
O sorteio do Totoloto do dia 2 de Março de 2024 teve o número 6 como número da sorte. Infelizmente os números 5 e 6 pertenciam a votos não validados (e entretanto retirados do blogue), pelo que todos os votantes elegíveis foram a sorteio. Saiu o número 10, do Francisco Arantes que, muito brevemente, vai receber o seu exemplar do livro. Muitos parabéns!
Muito obrigada a todos os que votaram...
(7) poema numa noite de amor
pelas margens do rio douro,
bem perto da ribeira,
dormimos embalados pelo sonho de amor,
com as águas do rio serenas, sem encalhar,
e os meninas e meninas a nadar,
num mergulho da ponte, a ponte do nosso coração,
as pataniscas de bacalhau chamando a todos,
que viajam, sem pestanejar, pelas ruas,
mas também pelas vielas, onde tantos namorados
se beijaram em noites escuras,
e a história foi beber às fontes escondidas dos cantares,
das gaivotas,
onde o amor-perfeito florido constrói tantos namoros,
não ofuscados pela moral,
das ladeiras do paço episcopal,
ah! aí estão os gritos inesperados das três da manhã,
esperando novos rios de paz,
tantos e tantos, como os floridos jardins dos nossos corações,
do rio,
apascenta o luar,
da noite da esperança,
correndo dias de abraços e noites,
onde só o rio nos espreita.
joaquim armindo
(6) ANELO
O amor
é perfume
movediço
como as asas de uma gaivota
ó
quem me dera
em ti
pousar
e de fragrância te embriagar
Ilda Pinto Almeida
(5) O QUE É O AMOR?
O amor é como um copo
d’água fresca
Que circula os sentidos saciando
à sua volta
É o toque do afeto que faz vibrar as
emoções
E sentir que a magia existe
É não ser, eu e tu, mas
nós
Ilda Pinto Almeida
(4) CORAÇÃO
APOQUENTADO
Fervilha no meu peito este
coração
e as artérias ardem-me
como fogo que queima
palpita-me o sangue vermelho
carmesim
e choram-me de falsos risos as
entranhas
Tenho desejos de gritar ; os medos
são eles que falam e não eu
nesta pena lilás de pensamentos
neste ambiente solitário que me
assiste
Sinto que o vento me assobia
e digitalizo a denúncia do sopro
“é que a janela tem uma fresta “
e a corrente calma
desliza com o bafejo do vento
num quadro quase colorido
segredando-me a chegada
d’ma possível primavera
Ilda Pinto Almeida
(3) Carta de Amor 2
Sentada a meu lado o teu silêncio
é quieto atento ao florido dos sons que vêm do palco. Olho-te e sinto brilho em
teu escutar, vejo-te e tu és inteira, o nosso nós é robusto. A alma da terra a
entranhar-se em nós. Casas, caminhos, campos, muralhas, de noite e de dia, a
caminho do trabalho, a trabalhar, a espiar a mulher querida e no encontro, a
voz canta e desenha princípio a eternizar-se. De mãos dadas nós escutamos
aqueles homens que pendulam enquanto suas gargantas soltam a voz sentida de um
povo que hoje é memória mas cuja vida renasce em cada palavra cantada, em cada
som respirado, em cada tom sentido. Cantam a cappella e o suor, a força, o
religioso e o profano, a esperteza e o saloio, o sonho, o querer e o vencer
estão naquele tom que acaricia planície banhada em suor a transpirar
criatividade e anseio. O tempo recusa voltar, é absolutamente impossível
qualquer o retorno temporal. O que lá vai, lá vai, é história, permanece em
memória. A ouvir o Cante escutam-se fotografias a preto e branco, ruas
estreitas e casas brancas, lágrimas e sorrisos, esforço e canseira, algum
cinema, muitos livros, homens e mulheres magras, umas debruçadas outras firmes,
escuta-se a ceifa e a campina, a planície e o monte, vê-se a alegria e a
tristeza camaradas e companheiras de uma vida que a morte denega esgotar.
Convido-te a ouvir o Alentejo a cantar e tu, por momentos,
tornaste alentejana; vamos andando, nunca restando. Gosto de te ver assim
petrificada sem admitir nem movimento nem ruído. A tua face permanece em
sorriso e o teu olhar vê todos os cantos do mundo com brilho distinto, elege
isto como o sítio onde a paixão se emociona e se encanta. És assim, quando
gostas o teu refúgio é singular, possessivo, convidas e és o convite para que
eu materialize o nós que tu és. Depois, na praça, um pé de dança. Ris-te
perante a minha inabilidade eu aponto-te meia dúzia de tropeções. As diferenças
a diferenciarem-se e a diversificarem-se; as rezingonas, estudadas e
academizadas diferenças. O olhar é intraduzível, o calor das nossas mãos
calam-nos e nós caminhamos pela arcada, lojas fechadas, um friozito a meter as
pessoas em casa.
Dormes a meu lado enquanto te escrevo. Olho-te e quero
ver-te. O teu amor é belo e do teu corpo irradia uma torrente quente,
acariciadora. Assim, sem nada, apenas a ideia pousada em ti e a beleza da vida.
Deixamos que ela corra e tu desvias a sua intromissão, desvias ou queres
ignorá-la; és feliz assim no teu exemplo, no teu ato artesanal, no teu
instante; és feliz em trazer tudo aquilo que aqui é para o pé de nós. Ergo o
meu cálice em brinde. És o exemplo de alguém que está de bem com a vida.
Por estares de bem com a vida convidei-te a ouvir o Cante.
Gostas do Alentejo e o Cante é a memória viva daqueles e daquelas que se
entregam à vida para que esta lhes traga o bem. Depois de tanto, ninguém sabe o
que é o bem mas, seja lá o que é, o bem é o que vem a seguir. Um dia de cada
vez e todo o segundo em sua universalidade. É assim que te entendo e te aceito
sem saber se é assim que te quero. A beleza da vida é isto, sentir que alguém
nos ultrapassa e nos avança sem que o eu o mereça. Tu és isto: o meu imerecido.
És a minha entrega, a minha luta, a minha missão.
Manuel José
(2) Carta de Amor 1
Os gomos da laranja separam-se
devagar. Dá-me gosto descolar o albedo em fiapos. A tangera sabe melhor que a
laranja neste janeiro frio que a lareira contraria. Sim, ela convida-me. Sim,
ela conta a sua história. Sim, ela embrulha a sua história em estória, em
muitas histórias e fantasias. Sim, ela olha-me nos olhos e o seu olhar é som em
meu escutar. Sim, ela atropela-me e provoca-me. Sim, ela manifesta paixão por
mim. Sim, ela é abrasadora na caricia. Sim, passeamos avenidas e jardins,
sentamo-nos a conversar naqueles bancos. Sim, ou eu encandeado ou ela
apaixonada por mim. Sim, ela procura-me e torna em regozijo. Sim, ela insiste
perante minha resistência. Sim, ela é forte e a minha fortaleza insegura. Sim,
ela eleva o seu querer e eu baixo os olhos. Sim, ela dá-me a mão e eu vou. Sim,
ela transpira juvenilidade e eu embalo a acariciar sonho riscoso. Sim, ela é
terrível e eu abraço um abismo que refuto. Sim, ela atira-me todo o seu ser e
eu mergulho.
Ela lampeja os olhos em lágrimas: sou doente terminal,
estou a morrer, incurável! O tempo que me retiras é tudo o que quero e tudo o
que tenho, ao espaço de que foges e abandonas a ele me entrego, nele me esgoto.
És o único amigo que desconhece a minha doença. Nem sei como isto é possível e,
conscientemente em enredo, plena no que faço, pressiono-te, persigo-te, encurto
o tempo a tentar evitar perder o que é perdido. Evitas-me e eu insisto, sei da
minha perversidade mas contrariá-la para quê. Os dias da minha vida estão
contados e, todos os dias, peço para morrer. A morte tarda e o estado social
dá-me o amparo que me arrasta pelo chão. Quantas vezes te olho e te atiro um
olhar para que tu vejas quem eu sou, para que tu vejas o que sou eu, para que
tu sintas que na tua frente está o encandeamento, para que tu despertes e me
dês o abraço que me falta, o beijo pelo qual suspiro; tu nada, uma insignificância
que põe os peixes a roer. Sou peixe e o oceano em que vivo e moro está limpo de
plástico. Partículas minúsculas de plástico dão à costa, eu roo tudo o que há
para roer. És fresco, és saúde, és vigor e a insignificância com que me
aceitas, a amabilidade com que me toleras, a insciência com que me recebes, arrebata-me,
lança-me para um terreno que desprezo, arreganha-me uma ânsia que só tu podes
satisfazer. Estou aqui, estamos aqui e tu ouves-me porque recusas ouvir-me. Se
calhar agora compreendes-me ao saber que a minha doença é incurável e eu tenho
poucos dias de vida. Eu mando às favas a tua compreensão, dispenso que me
recordes. Sabes, sou o teu escarro, esse mesmo que sai da tua boca sem tu
contares e cola na lapela do presidente que está na tua frente. Sou o teu nada,
sou a tua insignificância, sou a lágrima cravada na tua atómica cegueira.
Hoje é o funeral dela. Muita gente, muito pesar. Ela
merece-o; nunca, jamais, em tempo algum ela é falsa. Mas há um momento, há um
instante em que a fortaleza é fraca. Talvez eu seja violado.
Eu traio-te, traio-te com o meu corpo e com o meu espírito.
A toranja é mais fria que o vento que frieira as costas da
minha mão. Eu recordo-te, lembro a suavidade do teu amor, o teu corpo quente e
a temperatura dos teus beijos. A minha memória clama por ti, pelo teu sorriso
altivo, pela tua entrega, pelo teu querer de vontades miscelâneas, misturadas.
Tu és esse melhor que eu encontro, essa descoberta que um sorriso simples
dispara com a mira no bem. Tu és esse encanto-dor que dispensa as palavras. Tu
és essa ternura a esgotar paciência. Tu és a busca jamais imperdível. Porque me
rejeitas? Atreves-te? Atrevo-me, é o que me resta deste resto rejeitado. E
sacudo. Recuso este resto. Olhar, ver-te, sentir o que tu és, que tu andas por
aí, que tu és vida e vida dás, que a tua alegria é fazer alegria. Há um dia, um
instante que aconchega todo o presente. Há um regaço disposto. Sinto que és
esse regaço. Vacilar? O meu preparo para esse instante é a tua confiança. Sei
que tenho vontade, que o quero, que o desejo com a amplitude de um nós, de um
nós que é de outros e nosso, daqueles que nos rodeiam, que nos conhecem, que
nos amam e nos odeiam mas que fazem, e nós com eles, o artesanal que a vida é. É
assim que falas e é assim que te escuto. Escorregar? Para que queres meu o
deslize se tu és a certeza? Outra vez? O silêncio a abandonar-me. Entrego-te o
meu silêncio e silencio-me, penitencio-me, propósito firme de emenda; nunca,
nunca mais. Nunca digas nunca.
Manuel José
(1) Marimbas de Sofala
Treme meu corpo,
Espicaçado,
Pelo som cavo, do ritmo das marimbas.
Talvez em mim,
Exista ainda um lamento,
Um Gemido,
De escravo fugido,
Da Nigéria até Moçambique,
Passando pelo Congo.
Não consigo deixar de tremer com aqueles
Três som, fortes, feiticeiros.
A mãe dela lançou um desafio.
A dança do ventre.
Tremi e avancei para a pista,
De areia húmida, das ondas.
Era um moleque,
Mas já cheio de tesão.
Dancei de olhos fechados,
Sem camisa,
Para deleite dela.
Meu pensamento corria,
Em pautas de desejo
Cujo alvo era sua filha.
Imaginava minhas carícias
a estremeçam seus seios pequenos
e sua boca como uma goiaba doce,
absorvendo meus lábios quentes de jindungo.
Seus braços cresciam como ramos
Sobre mim e
suas pernas eram erva trepadeira.
Mulata de cabelo liso de azeviche
Tinham o ondulado das ondas
Cantava em seus ouvidos feitos búzios.
Seus olhos traziam-me ao tempo de berlinde e tabuada
Sua face o orvalho, morno, da madrugada.
Mulata endiabrada.
Teu corpo era como o vento marítimo,
Despido da capulana colorida,
De panos de algodão de Cambaia
e outras peças vindas do mar Vermelho ou de Guzarate.
Talvez um dia tuas mãos me saibam dizer adeus.
Hoje és só a minha mulata
Ao som das Marimbas de Sofala.
Bastos Vianna