quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Um dia com... Ilda Pinto Almeida em: Fevereiro

  "Um dia com..." é uma espécie de página de diário, real ou fictício, aqui cada autor pode fazer o relato de um episódio, fazer uma reflexão, colocar um pensamento, uma foto...

Estará disponível todo o ano, independentemente de outros projectos a correr aqui no Blogue. E está aberto a todos, se tiver algo que queira partilhar, pode enviar para geral@tecto-de-nuvens.pt ou tectodenuvens@hotmail.com indicando no assunto "Um dia com...". Podem enviar quantas participações quiserem.

Depois de ter gozado um ensolarado dia com temperaturas a rondar os 8 graus e ter visto os primeiros sinais da Primavera, a autora Ilda Pinto Almeida, residente na cidade de Elizabeth, Estados Unidos, foi dormir para acordar com um cenário completamente diferente: tudo coberto de neve! Fica aqui a sua ode ao mês de Fevereiro, um travesti de cores, temperaturas e ambientes...

QUEM SE ATREVE A DIZER

Fevereiro já não sei se te escreva

Ó eterno travesti em transição
Misterioso, carnavalesco e duvidoso
A sociedade anda por aí confusa e esquisita
Mas tu Fevereiro sempre foste conspirador
Nessa alquimia meio inverno e meio três- Marias
Crês no amor, vermelho
Roxo, laranja
Sempre à distância
Cujo afago é fragrância
Daquela que vem a seguir

Ainda  ontem

Oferecias um copo de sol
Acompanhado de chilreios musicais
E botões de flores semiabertas nupciais  
Em uma bandeja calorenta
Que mais parecia juventude
Vestias-te de roupagem leve
Calorosa e alegre

Hoje serves um copo de leite coalhado

De uma brancura exorbitante
O calor, esse, só no coração!
No entanto
Desde o  aconchego da casa posso admirar
Pela janela 
Um cardinal com sua cor vermelho garrido
Amor vermelho
Nos ramos brancos da árvore que justamente brotava 
Com seus botões semiabertos
 Talvez hoje estejam a tremer
Cobertos de branco
À  espera que lhes seja servido um copo de sol!

A  noiva

Essa está delirante
Amanhã e pelos dias seguintes
Estará vestida
Primeiramente de cinza
E logo de viúva
Com as vestes da poluição
Tão fortes como as guerras
Deste século corrompido
Ucrânia
Palestina e outras mais!

À  espera da quentura

Dos  astros para se recolher
À  rendição

És Fevereiro imitador

Travesti imudável
Nesta sociedade esquisita e confusa
Também ela em transição  

 








Fotografias de Ilda Pinto Almeida

1 comentário:

  1. Um texto fantástico que traduz na perfeição o nosso mês de Fevereiro. As cores, as mudanças abruptas do tempo ... está lá tudo. Obrigada por mais um poema.

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