"Um dia com..." é uma espécie de página de diário, real ou fictício, aqui cada autor pode fazer o relato de um episódio, fazer uma reflexão, colocar um pensamento, uma foto...
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Depois de ter gozado um ensolarado dia com temperaturas a rondar os 8 graus e ter visto os primeiros sinais da Primavera, a autora Ilda Pinto Almeida, residente na cidade de Elizabeth, Estados Unidos, foi dormir para acordar com um cenário completamente diferente: tudo coberto de neve! Fica aqui a sua ode ao mês de Fevereiro, um travesti de cores, temperaturas e ambientes...
QUEM SE ATREVE A DIZER
Fevereiro já não sei se te escreva
Ó eterno travesti em transição
Misterioso, carnavalesco e duvidoso
A sociedade anda por aí confusa e
esquisita
Mas tu Fevereiro sempre foste
conspirador
Nessa alquimia meio inverno e meio
três- Marias
Crês no amor, vermelho
Roxo, laranja
Sempre à distância
Cujo afago é fragrância
Daquela que vem a seguir
Ainda ontem
Oferecias um copo de sol
Acompanhado de chilreios musicais
E botões de flores semiabertas
nupciais
Em uma bandeja calorenta
Que mais parecia juventude
Vestias-te de roupagem leve
Calorosa e alegre
Hoje serves um copo de leite
coalhado
De uma brancura exorbitante
O calor, esse, só no coração!
No entanto
Desde o aconchego da casa
posso admirar
Pela janela
Um cardinal com sua cor vermelho
garrido
Amor vermelho
Nos ramos brancos da árvore que justamente
brotava
Com seus botões semiabertos
Talvez hoje estejam a tremer
Cobertos de branco
À espera que lhes seja servido
um copo de sol!
A noiva
Essa está delirante
Amanhã e pelos dias seguintes
Estará vestida
Primeiramente de cinza
E logo de viúva
Com as vestes da poluição
Tão fortes como as guerras
Deste século corrompido
Ucrânia
Palestina e outras mais!
À espera da quentura
Dos astros para se recolher
À rendição
És Fevereiro imitador
Travesti imudável
Nesta sociedade esquisita e confusa
Também ela em transição
Fotografias de Ilda Pinto Almeida
Um texto fantástico que traduz na perfeição o nosso mês de Fevereiro. As cores, as mudanças abruptas do tempo ... está lá tudo. Obrigada por mais um poema.
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