sábado, 16 de novembro de 2024

"Uma viagem de férias" - TEXTO VENCEDOR

 


E numa votação que, também ela, pareceu ter ido em viagem de férias, lá se conseguiu, no desfazer das malas, encontrar votos para os textos com a vitória a sorrir ao conto "O ritual de «Um dia na praia»". Muitos parabéns à autora, Nina Pianini.

Os nossos parabéns também para aos autores classificados em segundo e terceiro lugar, respectivamente: Alexandra Carneiro e, ex-aequo, Alexandra Carneiro e Joaquim Armindo.
E o nosso obrigada a quem votou, estejam atentos ao sorteio do prémio.
Quanto aos autores, brevemente receberão os seus souvenirs/recuerdos desta viagem de férias...


1º  O ritual de “ Um dia na praia…”  VENCEDOR


  Mareusia
  Férias do emigrante que fica  e à luz do candeeiro

E para aguçar o apetite de quem ainda não leu o conto vencedor, fica um excerto.


A névoa cobria o horizonte.
O frio trespassava os ossos e os meus passinhos pequenininhos faziam mais longa a caminhada. De braço esticado e de mão dada à minha mãe, lá seguia para o pequenino comboio que nos levaria à praia. Ansiosa por chegar esse dia, mal tinha dormido. Animada, passei dos braços da minha mãe para os do meu pai. Sentaram-me num banco de madeira rija e o comboio partiu ao grito do chefe da estação:
- Partida!...
Com a bandeirinha no ar, rematava a saída do comboio apitando prolongadamente: piuiii!...
Por sua vez, bufando como um animal de forte pujança, o comboiozinho insuflou uma enorme nuvem branca que, saindo debaixo das rodas, cobriu toda a gare em volta.
- Este comboio é muito antigo, é movido a vapor!- Explicou meu pai.- Lá à frente, o maquinista deita lenha na fornalha que aquece a água. É a força do seu vapor que faz mover o comboio…
E meu pai lá ia contando os factos, esmiuçando tudo para saciar a minha curiosidade. Mas, hoje era diferente. Eu nem o ouvia, nem sequer prestava atenção. Estava tão ansiosa que não parava de perguntar:
- Já chegamos à praia?... ainda falta muito?...
Torcendo-se sempre a assoprar “u-uuu…”, o comboiozinho nomeado pelos populares de “o Poveiro” desengonçava-se pela estreita via, abanando todos os que iam lá dentro num constante trepidar. De tão leve que eu era, ia escorregando no vidrado lustre do banco, ora para lá, ora para cá, conforme as curvas. Sem conseguir agarrar-me a lado nenhum, meu corpo só parava quando batia nas pontas do banco.
Largando incessantemente o intenso vapor que aumentava a névoa fresca matinal, pelo esforço exigido à máquina a puxar as três carruagens de madeira completamente cheias de dezenas de pessoas. Porém, o despachado comboiozinho “Poveiro” de madeira lá seguia o estreito trilho desbravando ramos e folhagem que, intrometidamente, se enfiava pelas janelas ao atravessar a densa floresta verdejante.
Subitamente, da janelinha de madeira fina algo começou a surgir que arrebitou os meus sentidos e dos restantes passageiros: uma linha azul começou-se a perfilar ao longe.
- Já se avista o mar! – Gritaram os passageiros em contagiosa alegria.
Todos se elevaram dos lugares esticando seus pescoços e focando seus olhos naquele ponto.
Lá se avistou o mar azul intenso, e da boca soltou-se em coro:
- “Deslumbrante!…”
E a sua maresia entrou pelas janelinhas abertas, banhando-nos com seu fresco aroma.
Quando o comboiozinho “Poveiro” parou, uma avalanche de gente não perdeu tempo a saltar do comboio, seguindo pelo estreito carreiro de madeira atravessando os mil carris cruzados da estação até à estrada, por onde todos caminharam enfileirados munidos de chapéus, bancos, baldinhos, lancheiras, boias e todo o tipo de artífices necessários para passar um belo dia na praia.
A pressa de chegar à praia, era intensa, todos concentrados em passo acelerado, ninguém perdia tempo, nem energia a falar. Em silêncio compenetrado de chegar à meta, prosseguiam em fila indiana pelos passeios atravessando toda a cidade. Nada os distraía da sua missão de chegar ao destino, por isso nem perdiam tempo a olhar as vitrines das lojas ou as dezenas de tendas dos vendedores ambulantes espalhados pela rota que todos sabiam de cor: o caminho traçado seguido à décadas pelos veraneantes.
Ao chegar à famosa rua central da conhecida praia da Póvoa de Varzim, a praia mais afamada das redondezas, todos pararam em harmoniosa sintonia.
Em
 frente de todos, mesmo ao fundo, deslumbrava-se agora a fonte da nossa alegria: o mar!... Aquela espetacular imagem fez-nos parar para contemplar! Especados nos passeios, todos esticavam o nariz para cheirar aquele típico cheirinho a mar! Sem exceção, todos abriram um largo sorriso incontido. Era nessa altura que lançavam um olhar em redor e abanavam a cabeça uns para os outros, em concordância plena sem nada dizer. Unidos na confirmação silenciosa geral de que tinham chegado à meta: o mar que todos nós aspirávamos!
Espalharam-se como carreiros de formigas pelo extenso areal doirado que amortecia nosso andar, largando as roupas e tudo o que se trazia.
Derramando o protetor pelo corpo, correram para a água.
Estivesse a temperatura que estivesse, ninguém se importava com isso. Salpicavam seu corpo com a abençoada água enquanto as crianças saltitavam alegremente nela: “splasch”!
Tal como eles, divertida na água, eu chapinhava nas poças e pocinhas que abundavam, observando atenta para onde ia o caranguejo que fugia correndo de lado, em que buraco da pedra rochosa o polvo enfiava seus tentáculos escondendo-se, como as conchas se abriam para beber a fresca água que a onda trazia, o movimento do mar para entender porque a onda espumava...
Incansável nas minhas descobertas de criança, lá ia tudo coscuvilhando e revirando…
E revirando o baldinho cheio de areia molhada, construía (...)

Para mais informações sobre a colectânea, clique aqui.
E se é fã da escrita da vencedora, Nina Pianini, não perca este passatempo aqui.





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