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sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

Helena Ferreira, vencedora do 2º Prémio de Conto Infanto/Juvenil Tecto de Nuvens, em entrevista

 

 Não sei quem fica mais nervosa na hora do telefonema a comunicar a vitória do Prémio, se eu, se as vencedoras, provavelmente eu... Elas, após o choque inicial, mostram o talento que se encontrou na escrita, o mesmo entusiasmo, o mesmo poder de atracção para o enredo vencedor. A Helena Ferreira não foi excepção e logo contou que tinha escrito a história para a neta (naturalmente, não fazia parte do texto avaliado pelo júri, mas no final do livro - nas notas finais - encontram o "diálogo" entre avó e neta sobre este livro, acabado de ler pela avó) e de alguma forma, dei por mim, de novo a viajar por aquele bosque mágico.
Se já leram a entrevista da Mariana Manaia, a ilustradora da capa, já se aperceberam de que também ela se sentiu transportada para o bosque e a viver todas as cenas como se lá estivesse - o que diz bem do talento da autora, pois se os adultos reagem assim ao livro, imagine-se as crianças! E também já viram o quanto a Mariana ficou inspirada que até conseguiu transportar todo aquele brilho para o papel. E deixamos da entrevista dela algo para partilhar aqui, é que a Beatriz da história tem 9 anos, mas a Mariana criou-a a partir de uma foto da Bia (neta da autora) com 5, num processo absolutamente fantástico, não só de envelhecimento como de "embonecamento" (algo que aliás também já tinha feito com a Leonor, que passou de uma menina de 2 anos para uma pré-adolescente de 11).
Mas o que leva um conto a destacar-se de todos os outros, quando os "outros" são muito bons? É a valorização das palavras, é o alertar para um problema real (as palavras estão a perder-se), é o apresentar de soluções tão simples e tão mágicas; é o exemplo da verdadeira magia da escrita: aquela que retira o leitor do seu mundo e o transporta para o outro. Finalmente, é o tipo de livro que diverte, que ensina, que acarinha e que responsabiliza. É impossível ler-se este livro e não se fazer juramento de também nós nos tornarmos guardiões das palavras.
Mas a fada responsável por toda esta magia, uma académica e avó de 56 que colecciona livros pop-up,  é a melhor pessoa para apresentar este livro.
Helena Ferreira, por voz própria e na primeira pessoa...

  Esta primeira pergunta não é 100% original, mas ainda só a perguntámos uma vez… Foi a vencedora do Prémio de Conto Infanto/Juvenil Tecto de Nuvens (2025)- a segunda pessoa a ganhar este Prémio - qual foi a sensação de ter sido o seu conto o escolhido?

Foi uma sensação absolutamente indescritível! Quando recebi a notícia, senti uma mistura de alegria, surpresa e uma profunda gratidão. Este prémio tem um significado especial porque representa o reconhecimento de uma história que nasceu do meu amor pelas palavras e pela leitura. Saber que o júri viu valor na mensagem que quis transmitir - sobre a importância de preservar as palavras e o poder da leitura - foi emocionante. É como se a própria Beatriz, a minha personagem, tivesse conseguido cumprir a sua missão também no mundo real.

  Conte-nos como e porquê começou a escrever, por paixão ou por necessidade?

Comecei a escrever por paixão absoluta. Desde pequena que as palavras exercem sobre mim um fascínio quase mágico. Sempre acreditei no poder das palavras para transformar o mundo. Escrevi o meu primeiro livro infantil, "Lénita e o Principezinho Coração de Prata", em 2008 para a Francisca, e isso abriu uma porta que nunca mais fechei. A escrita não é uma necessidade no sentido prático, mas sim uma necessidade da “alma” - é a minha forma de conspirar histórias e de acreditar que posso fazer a diferença, especialmente na vida das crianças.

  Qual o papel que a escrita ocupa na sua vida?

A escrita é o meu refúgio e a minha revolução. Vivo entre pilhas de livros e passo o tempo a conspirar histórias. A escrita para crianças, em particular, é a minha forma de manter viva a magia num mundo cada vez mais caótico. É onde consigo fundir o meu lado académico com o meu lado sonhador, onde posso ser simultaneamente rigorosa e fantasiosa. Também gosto de escrever contos e, por vezes, aventuro-me na poesia e na dramaturgia. Ainda não desisti de terminar um romance que iniciei há muitos anos. Vamos ver…

  Sempre sonhou publicar um livro?

Não diria que "sempre", mas desde que descobri o prazer de contar histórias para crianças, sim. O sonho ganhou forma quando percebi que as histórias que escrevia podiam ter vida para além do momento da leitura, que podiam chegar a outras crianças, outras famílias. Cada livro publicado - "Lénita e o Principezinho Coração de Prata" (2008), "Ti Manel Xeringa" (2011), e agora "O Bosque das Palavras Perdidas" (2025) - é a concretização desse sonho renovado.

  Qual é a sensação que tem ao ver, agora, o seu livro nas mãos?

É uma sensação surreal e maravilhosa. Ver "O Bosque das Palavras Perdidas: Porque todas as palavras são importantes!" materializado, com as belas ilustrações da Mariana Manaia na capa, é como ver um sonho ganhar corpo. Mas o mais emocionante é imaginar as mãos de crianças a folhearem estas páginas, os seus olhos a descobrirem a história da Beatriz e a Árvore das Palavras. É saber que estas palavras que escrevi vão voar para outros corações e, quem sabe, inspirar novas gerações de leitores e escritores.

  Tem algum projecto a ser desenvolvido, actualmente? Pensa publicar mais algum livro? Continua a sentir vontade de escrever?

Absolutamente! A vontade de escrever nunca desaparece. Tenho sempre histórias a fervilhar na cabeça, personagens que me visitam em momentos inesperados. Entre o stress do quotidiano, as histórias continuam a aparecer. Quanto a projetos concretos, prefiro deixá-los amadurecer um pouco antes de os revelar, mas posso garantir que há mais aventuras a caminho. As crianças merecem histórias que as façam sonhar e acreditar que podem mudar o mundo.

  Fale-nos um pouco sobre o seu livro.

"O Bosque das Palavras Perdidas - Porque todas as palavras são importantes!" conta a história de Beatriz, uma menina de nove anos que descobre que as palavras estão a desaparecer. Não apenas dos seus cadernos, mas da própria realidade - as pessoas deixam de as ouvir e de as ver. Na sua busca pelas palavras perdidas, Beatriz encontra a Árvore das Palavras, uma árvore mágica que guarda todas as palavras que alguma vez existiram, e Luna, a Guardiã das Palavras.

É uma metáfora sobre o que estamos a perder na era digital - a riqueza da linguagem, o prazer da leitura, o poder das histórias. Mas é também uma história de esperança, que mostra como uma criança corajosa pode fazer a diferença. Através da leitura, da partilha de histórias e da valorização das palavras, a Beatriz consegue salvar a Árvore e inspirar outros a redescobrirem a magia da linguagem.

  Existe alguma parte do livro, em particular, que goste mais. Porquê?

Tenho um carinho especial por dois momentos. O primeiro é quando a Beatriz descobre a Árvore das Palavras pela primeira vez - essa sensação de maravilhamento, de descobrir algo mágico e precioso. Tentei capturar aquele momento em que uma criança percebe que há mais no mundo do que aquilo que vê à superfície.

O segundo momento é o serão de histórias em família, quando Beatriz conta aos pais a história que acabou de viver (sem revelar que era real). É um momento de intimidade, de redescoberta, de ligação. Os pais, absortos no quotidiano stressante, redescobrem o prazer de simplesmente escutar. É isso que quero que este livro inspire - momentos de partilha, de presença, de magia simples.

  Indique as razões pelas quais aconselharia as pessoas a ler o seu livro? O que acha mais apelativo no seu livro?

Aconselho a leitura deste livro porque ele fala de algo urgente e essencial: a preservação da linguagem e do amor pela leitura numa era de hiper-conectividade e comunicação simplificada. É um livro que:

·         Para as crianças: É uma aventura mágica que as faz sentir-se poderosas, mostrando que podem fazer a diferença

·         Para os pais e educadores: É um lembrete suave, mas poderoso sobre a importância de cultivar o amor pelas palavras

·         Para todos: É uma celebração da linguagem, das histórias e do poder transformador da leitura

O mais apelativo, creio, é que não é um livro que prega ou moraliza. É uma história genuína, com magia, aventura e emoção, que naturalmente inspira os leitores a valorizarem as palavras.

  Não resisto a perguntar isto: a personagem principal concorreu com este livro a um Prémio literário e ganhou-o. O que foi isso? Manifestação de um desejo? Futurologia? “Hipnose” para o júri?

Essa é uma pergunta deliciosa! E, fez-me rir. Quando escrevi a história, a Beatriz já tinha essa jornada completa na minha mente - incluindo o facto de ela se tornar escritora e ganhar um prémio. Foi, talvez, uma manifestação de um desejo profundo: que as histórias sobre a importância das palavras sejam reconhecidas e celebradas.

Mas confesso que quando o meu próprio livro ganhou o Prémio Tecto de Nuvens 2025, senti um arrepio. A vida imitou a arte, ou a arte antecipou a vida? Prefiro pensar que foi a magia das palavras a funcionar - essa mesma magia sobre a qual escrevo. As palavras têm poder, e quando as usamos com intenção e amor, coisas extraordinárias podem acontecer.

  A acompanhar este livro há um eBook. Fala-nos sobre ele e como pode ser não só vantajoso, como adaptável, para pais e educadores.

O guia que acompanha o livro é, na verdade, um prolongamento da experiência da leitura. Chama-se "Guia para Pais e Educadores - O Bosque das Palavras Perdidas" e está disponível gratuitamente em formato digital, para quem adquire o livro.

Este guia oferece:

·         Atividades práticas inspiradas na história (como criar a própria Árvore das Palavras em casa ou na sala de aula)

·         Jogos de palavras para dinamizar o amor pela linguagem

·         Sugestões para serões de histórias em família

·         Ideias para clubes de leitura

·         Rituais de leitura e escrita criativa

O que o torna especial é a sua adaptabilidade. Não é prescritivo - oferece ferramentas que pais e educadores podem adaptar às suas realidades, idades das crianças e contextos. Pode ser usado em casa, na biblioteca, na escola, em ATLs. A ideia é democratizar o acesso a formas criativas de manter as palavras vivas, tal como a Beatriz faz na história.

  Qual é o seu estilo de escrita ou que tipo de mensagem gosta de passar no que escreve?

Não sei se tenho um estilo. Para ter um estilo era necessário que me considerasse uma escritora. E sinto-me apenas como uma aprendiz. Digamos que na escrita para crianças, procuro equilibrar a magia com a realidade emocional. Gosto de criar mundos fantásticos - como o Bosque das Palavras Perdidas: Porque todas as palavras são importantes!"  - mas ancorados em emoções e situações que as crianças reconhecem. E procuro escrever com uma linguagem rica, mas acessível, porque acredito que as crianças merecem ser desafiadas linguisticamente sem serem intimidadas.

Quanto às mensagens, procuro transmitir valores de coragem, solidariedade, responsabilidade e esperança. Acredito que as crianças são os únicos seres humanos verdadeiramente revolucionários, e as minhas histórias tentam alimentar essa capacidade transformadora. Quero que as crianças que leiam os meus livros sintam que podem mudar o mundo "no recreio da escola, antes do lanche", como costumo dizer.

  Qual o papel das redes sociais na vida e na divulgação da obra de um autor? E na sua?

Acredito que as redes sociais são uma ferramenta poderosa, mas que exigem muito tempo. No meu caso, só uso o Instagram [@helenag.ferreira] e procuro partilhar o meu processo criativo, mas não sei se tenho muito êxito, porque é algo muito esporádico.
Há também uma ironia deliciosa aqui: escrevo sobre a importância de desligarmos dos ecrãs e valorizarmos as palavras, e depois uso as redes sociais para divulgar essa mensagem! Por isso, tento usar as redes de forma consciente - partilhando conteúdo que inspire à leitura, à criatividade offline, às conversas reais. Sempre como uma ferramenta e não como um fim em si mesma.

  Gosta de ler? Que tipo de leitor é que é?

Adoro ler! Sou uma leitora omnívora e algo caótica. Vivo literalmente entre pilhas de livros - académicos, ficção, poesia, infantis, clássicos, contemporâneos. Leio em português, inglês, espanhol. Tenho sempre vários livros a decorrer simultaneamente, dependendo do humor.
Como leitora, sou intensamente emocional. Não consigo ler apenas com a cabeça - leio com o coração todo. Choro com as histórias, rio alto, fico furiosa com personagens, apaixono-me por palavras e excertos inteiros. Decoro passagens e poemas simplesmente porque gosto do som das palavras. Sublinho, rabisco nas margens e dialogo com os autores.
E claro, tenho uma relação especial com a literatura infantil. Leio-a não apenas para me inspirar como escritora, mas porque acredito genuinamente que alguns dos livros mais profundos e revolucionários são escritos para crianças. Eles ainda não esqueceram a magia. Faço-lhe até uma inconfidência: coleciono livros pop-up do mundo inteiro e já tenho, inclusive, uma enorme coleção.

Pode ver mais informações sobre o livro aqui.

 




O acesso ao eBook está disponibilizado no final do livro, basta escrever o endereço no seu browser e pode fazer o download gratuitamente.
Se não tem o livro mas está interessado nos exercícios (adaptáveis a qualquer livro), o eBook (em PDF) vende-se exclusivamente na nossa loja online (https://tecto-de-nuvens.pt/index.php?id_product=515&controller=product), também o pode adquirir enviando email para loja@tecto-de-nuvens.pt. Tem o custo simbólico de 2€.



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