terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Jeracina Gonçalves em entrevista

Continuamos o ciclo de entrevistas, hoje com Jeracina Gonçalves, 74 anos, autora de "Histórias de Gente Simples". Fala-nos do seu mais recente livro e deixa também um apontamento sobre a sua participação na colectânea "Natal, Natais - colectânea de poesia - " onde assina 3 dos poemas.



  Conte-nos como e porquê começou a escrever, por paixão ou por necessidade?
Não sei bem, nem como nem porquê. Mais ou menos sempre escrevi em papéis, que depois perdia ou esquecia por aí, como desabafo, para guardar memórias… Sei lá! Era uma forma de guardar o que não queria esquecer, de me abstrair da realidade que, às vezes, me magoava e voar um pouco para além dela, de registar o que me emocionava e fazia feliz, ou que me indignava...
Há uns anos, após uma jornalista ter-me perguntado por que escrevia, fiz um pequeno poema. Registo aqui um pequeno trecho:

“Por que escrevo?
Não sei.
Escrevo com o coração;
Abro a porta ao meu Ser
Liberto a minha emoção.”

Creio que nisto se resume a razão porque sempre, mais ou menos, escrevi.

  Qual o papel que a escrita ocupa na sua vida?
A escrita, neste momento, é uma terapia, uma forma de dar asas ao tempo, que desaparece num fechar de olhos levando-me a clamar por mais. É o meu psicólogo, o meu psiquiatra, o meu “Xanax”… É uma forma de me sentir viva e jovem; é uma forma de manter a minha mente ativa alimentando os meus neurónios.

  Sempre sonhou publicar um livro?/Publicar um texto num livro?
A publicação nunca foi o meu objetivo primário. Para mim o importante é escrever, é dar liberdade ao que me vai na alma; é exorcizar as emoções negativas e vibrar com as positivas; é dar liberdade ao meu pensamento…
E os três livros que publiquei aconteceram, porque apareceu um objetivo capaz de satisfazer a minha alma, muito para além da simples publicação.
Textos, já publiquei alguns, em coletâneas várias. Tantas vezes caíram propostas no email, que resolvi começar a participar em algumas.

  Qual é a sensação que tem ao ver, agora, o seu livro nas mãos? 
Um livro é um pedaço de nós, que atiramos para o mundo. É quase como um filho. E haverá sensação melhor que ter um filho nos braços?
Claro que manusear um livro nosso dá-nos a sensação de concretização, de obra feita. E, principalmente, quando com essa obra sabemos que estamos a contribuir para ajudar a realizar os sonhos de alguém. É muito bom.

  Tem algum projecto a ser desenvolvido, actualmente? Pensa publicar mais algum livro? Continua a sentir vontade de escrever
Tenho muita coisa escrita, a precisar de revisão. E continuo a escrever. Todos os dias tenho de escrever qualquer coisa. Quanto a publicar… não sei. Depende do objetivo que apareça. Publicar, apenas por publicar, sinceramente, não estou muito inclinada. Mas… quem sabe o dia de amanhã?

  Fale-nos um pouco sobre o seu livro. /texto*.
Não há muito a dizer sobre ele. É apenas uma pequena coletânea de pequenos contos, escritos no tempo, quase todos baseados em factos concretos. Focam sentimentos que considero importantes nas relações humanas: a solidariedade, a amizade, a solidão na velhice, a droga, a emigração: problemas dos nossos dias, histórias do dia-a-dia de gente simples.

*--O que inspirou o seu texto (indique se é conto ou poema)?

São três poemas inspirados na Essência do Natal, neste tempo tão adulterada, tão perdida entre fitas e papeis metalizados.
Claro que qualquer livro tem partes melhores, mais bem conseguidas, que outras. E o meu livro tem histórias melhores que outras; mas todas são espelho de relações humanas, de sentimentos humanos fortes, profundos, que mexem com a sensibilidade do leitor.

  Indique as razões pelas quais aconselharia as pessoas a ler o seu livro? O que acha mais apelativo no seu livro?
Não sei o que é mais apelativo no meu livro. O meu livro fala de sentimentos. E já tive quem me dissesse, que não conseguiu parar, e leu-o de uma vez só, do princípio ao fim; já tive quem me disse que chorou; já tive quem me dissesse que lhe fez lembrar as próprias vivências… Cada qual sente-o à sua maneira.

  Qual é o seu estilo de escrita ou que tipo de mensagem gosta de passar no que escreve?
Quando escrevo não penso muito na mensagem que quero transmitir. Escrevo sobre o que à minha volta me fez sentir algo que transborda em mim e preciso de fazer fluir. Mas gosto de passar emoções, que possam criar no leitor o desejo cuidar e ajudar a construir um ambiente limpo e um mundo mais justo, mais solidário e preocupado com os que sofrem.

  Qual o papel das redes sociais na vida e na divulgação da obra de um autor? E na sua?
As redes sociais têm um papel importante na divulgação de um autor; dão a conhecer o nome e a sua obra. Mas não sei se terão muita influência na venda das obras de novos autores, que aparecem sem terem por trás montada toda uma engrenagem de marketing apoiada em grandes editoras e distribuidoras.

  Gosta de ler? Que tipo de leitor é que é?
Gosto de ler. Fui uma leitora compulsiva durante a minha adolescência e juventude. Agora… nem tanto. Mas gosto de ler um bom livro de vez em quando.





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