José Amado, 72 anos, é uma estreia tanto na Tecto de Nuvens, como nas publicações, mas a escrita já vem de trás. "ANIMAIS, novo sopro de vida - poemas - " é o seu primeiro livro, mas espera-se, e deseja-se, que não seja o último. Nesta entrevista o autor explica a escolha da temática para estes poemas (a pintura que ilustra a capa é também de sua autoria) e fala do seu percurso ligado à escrita e a outras artes.
José Amado, por voz própria:
Conte-nos como e porquê começou a escrever,
por paixão ou por necessidade?
Talvez a necessidade tenha surgido primeiro. Participei num jornal de parede de grupo de Jovens no tempo de adolescência e com incorporação (obrigatória) na vida militar, recorria à escrita de cartas abertas para todo o grupo; quando da mobilização para África, escrevia em aerogramas, para me sentir ligado aos conhecidos sacavenenses, aos camaradas militares colocados noutras terras ultramarinas e a mais de uma dezena de madrinhas de guerra (a maioria das quais nunca me encontrei presencialmente). Guardei a poesia desse tempo, na gaveta, e ainda não a publiquei.
Qual o papel que a escrita ocupa na sua
vida?
Achei que não seria o meu desígnio. Havia muito para fazer na tecnologia e sobrava pouco tempo para escrever. A mim mesmo, dizia: tens que escrever mesmo pouco em cada ano, para que o cérebro com quadrante esquerdo dominante, não te deforme como ser humano. Assisti a uma formação de 3 dias em Neurolinguística e saí de lá a pensar que ia mudar, utilizar todos os quadrantes do cérebro. A pouco e pouco mudei, mas foi só um bocadinho.
Com a pandemia, o confinamento desfez-me (e a todos os mortais) os desejos de viajar e perante a clausura, os hobbies deixaram de o ser e passaram a ser a única forma de me expressar. Acordava para escrever, ler, pintar e interagir no Facebook. Com as fotografias de caminhadas antes realizadas, senti necessidade de as publicar acompanhadas de poemas. Mantenho esse hábito com menos constância.
Sempre sonhou publicar um livro?
Ao guardar na gaveta o que ia escrevendo e, revendo de vez em quando o que tinha, admitia que um dia…
No Facebook, de alguns os comentários recebidos, vinha o desafio de:
-Quando é que publicas um livro? Coligi os poemas por temas e nasceu o primeiro.
Qual é a sensação que tem ao ver, agora, o
seu livro nas mãos?
Nunca imaginei que o desafio literário atingisse este desfecho, ainda me belisco. Agrada-me o resultado e a minha dúvida agora é se vai agradar a quem o ler. Criei uma equação de complexidade elevada da qual não extraio facilmente a incógnita.
Tem algum projecto a ser desenvolvido,
actualmente? Pensa publicar mais algum livro? Continua a sentir vontade de
escrever?
Tenho e sim, continuo a escrever, só não publico porque o hemisfério esquerdo do cérebro me diz:
- Aguarda o resultado deste primeiro livro.
Fale-nos um pouco sobre o seu livro.
Não tenho animais de estimação
nem de criação, mas por os ter tido, olho-os como fazendo parte da nossa vida e
motivo bastante para “quase” os humanizar. É indiscutível que os animais de
companhia nos dias de hoje, permitem uma socialização maior entre desconhecidos
e achei que valia a pena pôr pensamentos e palavras na boca de alguns como se fosse
este, o seu verdadeiro papel na sociedade.
Existe alguma parte do livro, em
particular, que goste mais. Porquê?
Nos poemas: Tourada pela
cabeça do touro, que termina em abraço de amizade; Viscosidade, pelo final
feliz; Novas espécies marinhas, na sequência do aquecimento global e Novas
Orientações de Deus, por os homens deixarem de ser confiáveis.
Indique as razões pelas quais aconselharia
as pessoas a ler o seu livro? O que acha mais apelativo no seu livro?
Os animais comportarem-se como pessoas e nalguns poemas só eles é que possuem discernimento e voz. É a oportunidade de assistir à ausência de reflexos condicionados e assistir à libertação da sua própria consciência. A introspeção surge nos animais como forma de julgar o seu lugar neste mundo de humanos.
Qual é o seu estilo de escrita ou que tipo
de mensagem gosta de passar no que escreve?
Somos seres complexos e o que nos surge no momento de escrever não é premeditado, flui para o teclado o que a mente inconscientemente constrói. É um jogo, da qual não se sabe regras, nem o desfecho, mas sei que deste modo encontrei o caminho. Nesta descoberta, sinto necessidade de o partilhar com os outros.
Qual o papel das redes sociais na vida e na
divulgação da obra de um autor? E na sua?
As redes sociais sendo um dos meios de comunicação das gerações ativas, são imprescindíveis; mas a proliferação de comentadores e de quem bota faladura, leva-nos a ser muito atentos. No meu caso, as boas opiniões dos poemas publicados, alimentaram-me o ego, culminando na publicação deste livro.
Gosta de ler? Que tipo de leitor é que é?
Fui leitor compulsivo, só largava um livro depois de chegar ao fim. Agora,
estou moderado e em casa, tenho livros cuja leitura inicio e são postos de
lado, para voltar mais tarde. Quando termino, ofereço mesmo os que tenha
gostado, exceto os de poesia, que continuo a guardar. Para viagens mesmo de fim
de semana, carrego livros para ler, para além do iPad que armazena ebooks.
Pode acompanhar o autor em:
https://www.facebook.com/jose.m.amado/
www.linkedin.com/in/josé-amado-escritor
https://www.instagram.com/zeamado/
ANIMAIS, novo sopro de vida – poemas- ; José Amado
PVP: 12,00€
138 páginas, capa mole; Tecto de Nuvens, 2022
Os animais estão por todo o lado, na profundidade dos seus pensamentos são postos a falar de si e do que os rodeia, das tarefas, dos prazeres e dos antídotos que injetam nos males dos seus donos. São inseparáveis companhias dos que estão sós, nos seus eternos monólogos iniciados em longas noites da vida.
Disponível nas principais lojas online nacionais e internacionais.
Felicidades
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