Nina Pianini (pseudónimo), 62 anos, está de regresso!
Já este ano falámos com ela sobre outros seus textos destinados aos mais novos e também sobre a sua participação na colectânea de Natal de 2023. Voltamos a falar para que ela nos apresente o seu mais recente livro "Amigo meu, meu amigo é?", ficando também a promessa de que, também este ano, a vamos encontrar na nossa colectânea de Natal.
Neste seu livro para os mais novos (também obrigatório para os mais velhos...) aborda a importante questão da amizade num harmonioso casamente entre os textos e os desenhos a cores da Julieta, que ilustrou o livro.
Nina Pianini, de voz própria e na primeira pessoa:
Este seu novo livro aborda uma questão primordial na vida de uma pessoas: a amizade. Conte-nos como e porquê resolveu escrever este livro e qual o impacto que pretende que tenha nos mais novos, e também, já agora, nos menos novos que também entrem em contacto com ele?
A publicação do livro “ Amigo meu, Meu amigo é?” surgiu no âmbito da
oportunidade proporcionada pela Tecto de Nuvens numa das suas Campanhas
promocionais a que aderi com bastante entusiasmo. Significou a concretização de
um sonho, de uma conquista de longa data em publicar um livro de capa dura!...
Este meu anseio levou a que tivesse de ser muito assertiva quanto ao tipo
de história que merecesse essa dita
honra.
Após muita concentração e reflexão em selecionar qual a história entre
toneladas de histórias que já escrevi, não foi nada fácil. Não podia escolher
um texto qualquer, tinha de ser uma história que o leitor quisesse ler, voltar
a ler e reler e, se possível, na melhor
das circunstâncias se tornasse num clássico.
Não senti qualquer indecisão quando peguei no meu rascunho da história “
Amigo Meu, Meu amigo é?”. A riqueza imaginativa marcante no texto e o impacto
do potencial da sua mensagem no público infantil a que se destina, tinha os
ingredientes certos para merecer o investimento em capa dura!*
O enriquecimento do texto e o arranjo final levou-me numa fantasia de
paralelismo com a geometria e deliciei-me divertida a escrevê-lo. Por tal, foi
uma experiência muito gratificante escrever este livro, principalmente pela sua
temática que leva a refletir sobre a amizade e promove mudança no leitor.
Este livro “ Amigo meu, Meu amigo é?” induz ao aperfeiçoamento das nossas
escolhas através da identificação do leitor com as personagens e situações,
apresentando questões e problemas com os quais frequentemente todos nós somos
confrontados no dia-a-dia, mas de que usualmente ninguém fala.
A finalidade do livro é, por tal, ativar no leitor a consciencialização
de habilidades sociais para encontrar verdadeiras amizades, promovendo mudanças
positivas no leitor.
*Como se explica na resposta seguinte, a
versão em capa dura foi feita numa tiragem limitada, quase de teste. O livro
que agora se promove é em capa mole e com ilustrações a cores. Contudo, o
processo descrito acima foi usado para escolher a história e não tanto a sua
forma de apresentação, pelo que o processo foi comum a ambas as versões do
livro. Preste atenção ao nosso blogue caso tenha interesse na versão em capa
dura, brevemente saberá como a obter.
Fale-nos um pouco sobre este livro,
incluindo, também, a importância, da ilustração. Qual é a sensação que tem ao
ver, agora, os seu livro nas mãos?
A fim de medir o impacto do livro “ Amigo meu, Meu amigo é?” procedeu-se
a uma pré-avaliação a partir de uma pequena tiragem prévia (em capa dura, com
menos imagens e numa versão mais abreviada do texto), tendo-se verificado uma
excelente adesão junto de uma pequena amostra de pais e professores
especializados bibliotecários.
Consideraram de um modo geral que, era um livro bastante educativo, particularmente
rico nas comparações que faz, que promove reflexão e debate e o desenvolvimento
de habilidades sociais e de valores, manifestando afirmações positivas a favor
do livro como:
“Hoje em dia, há muitos livros infantis que falam da amizade do ursinho
ou da perda do amiguinho, mas raramente se fala do problema propriamente dito
ou se põe a criança a saber questionar ao fazer escolhas como este livro faz.”
“O leitor-criança muitas vezes é posto em situações de leitura passiva
que não promovem a reflexão. Este livro “ Amigo meu, Meu amigo é?” contraria
essa corrente e dá asas para uma leitura ativa e eficaz de criar mudança
destacando logo no título a sua diferença pela forma de pergunta.”
“Num mundo em que o ecrã se apodera do dia a dia de todos e em que as redes sociais proliferam, existe o perigo das crianças e jovens se deixarem facilmente influenciar . este perigo tem de ser combatido. Este livro constitui uma boa ferramenta para levar crianças e jovens a refletir sobre essas questões.”
Perante esta excelente recetividade do livro ajudou a acreditar na sua aceitação pelo público em geral.
Quanto aos desafios passados durante a fase de produção do livro, assumo que o desafio maior em relação aos problemas que encontrei na execução do livro, foi encontrar um ilustrador devido ao curto espaço de tempo em que as ilustrações tiveram de ser executadas. A importância da ilustração era para mim essencial. Pretendi que o livro tivesse ilustrações que ajudassem a tornar o livro mais apelativo e atraente para o público-infantil, pelo que optei por contatar entidades formadoras de ilustração e encontrei uma jovem ilustradora de Animação 3 D que, apesar da sua falta de experiência editorial/gráfica, se veio a tornar uma excelente colaboradora. Aprendemos juntas, superando as falhas que iam aparecendo. E, no entretanto, tornamo-nos amigas e o nosso duo já está a funcionar de forma muito gratificante para ambas.
Existe alguma parte do livro, em
particular, que goste mais. Porquê?
Sem querer
desvendar o final, destaco a apoteose final quando a personagem principal do
livro, após tantas tentativa-erro frustradas, descobre por si mesma quem afinal
era seu amigo de verdade…aquele que estava lá sempre presente nas horas más e
boas, que a conhecia melhor do que ninguém aceitando suas limitações e a
ajudava insistentemente, dia a dia, a melhorar.
Quem seria?
Aconselho a lerem
o livro para o descobrirem.
Acreditem que o
final, foi também desafiante para mim. Como autora, constituiu um dilema que me
deixou bastante surpreendida à medida que o seu desenlace se foi desenhando ao
escrevê-lo.
Por tal, aconselho
a ler. Até porque acontecem sempre coisas mágicas quando os escritores escrevem
e eu como autora também ao escrever fui descobrindo que, quando encontramos
amigos verdadeiros, sentimos que temos alguém em quem podemos confiar e contar,
alguém com quem podemos compartilhar nossas alegrias e tristezas, nossos medos
e sonhos. Tal como no dizer de Cícero: "Um amigo é, por assim dizer, um
segundo eu" e comprovado num estudo recente do ISCTE ( Instituto
Universitário de Lisboa), em que as crianças mostraram preferir brincar com
crianças que têm interesse pelas mesmas brincadeiras, levando o investigador
Pacheco, R. (2017) a sugerir aos pais: “Ajude as crianças a identificarem estes
interesses partilhados”, pois uma “relação de amizade é caracterizada pela união, semelhança e afeto positivo” como
defendia Goldman, B. D., & Buysse, V. (2007) in Friendships in very young
children.
A atualidade da temática da Amizade acarreta especial importância perante
as novas formas de interação e relacionamento social que têm um impacto
significativo no desenvolvimento social das crianças. Os perigos para
crianças/jovens, referidos em estudos, da influência das Redes Sociais, das amizades
virtuais, da falta de interação face a face, do risco de isolamento do mundo
real ao passarem muito tempo online, do Bullying e insegurança online em que
crianças expostas a conteúdos inapropriados ou a pessoas mal-intencionadas,
assim como da dependência excessiva de dispositivos eletrônicos para
socialização, podem prejudicar o desenvolvimento de habilidades de comunicação
e resolução de problemas no mundo real. Daí se destaca a importância em
desenvolver, desde muito cedo, habilidades sociais essenciais como empatia,
cooperação e resolução de conflitos que ajudará a criança a fazer amizades, a
lidar com desafios em suas interações e a desenvolver competências sociais.
Este livro transforma-se numa excelente ferramenta de recurso para pais e
educadores proporcionando uma ótima estratégia para conversar sobre todas as
diferentes sensações que a amizade pode provocar, fazendo com que as crianças
reconheçam melhor aquilo que sentem, tornando-se num tema fundamental a ser
discutido e/ou debatido em casa ou na escola ou junto dos amigos.
Relembre-se de que, as amizades são importantes para o bem-estar das
crianças. Muitas vezes, é com o suporte dos amigos que as crianças se sentem
confiantes para embarcar nas aventuras do dia-a-dia, adquirindo novas
competências,
Epicuro defendia que: "Não é tanto a ajuda de nossos amigos que nos
ajuda, mas a confiança de sua ajuda".
Para que a criança aprenda sobre o valor da amizade, é necessário, por
tal, gerar nelas, noções, conhecimentos, habilidades, emoções, vivências,
sentimentos e que a preparemos para viver com harmonia e respeito.
As crianças devem saber quem é um bom amigo e porquê, como se comportam
os bons amigos, e como manter uma boa amizade.
Proporcionar uma educação de qualidade que prepare os jovens para os
desafios futuros, incentivando o pensamento crítico, a criatividade e a
resolução de problemas. incluem desafios que personagens precisam superar,
ensinando as crianças sobre a importância da colaboração e da resolução de
problemas.
Assim, o livro “ Amigo meu, Meu amigo é?” enquadra-se no método
Montessori pela relevância dada ao quotidiano e enfoco na autonomia e
importância do ser, ajudando o leitor a refletir sobre a forma como seleciona
seus amigos e o modo como se relaciona em consonância com os estudos que
confirmam que as crianças necessitam de adquirir “competências que lhes
permitam fazer escolhas eficazes durante as suas interações com os
outros” Gloeckler, L. R., Cassell, J. M., & Malkus, A. J. (2014).
Para além da intencionalidade presente no livro “ Amigo meu, meu amigo é?” em valorizar como é essencial saber selecionar as amizades, apresenta também outros fatores subjacentes educacionais que o educador saberá facilmente reconhecer tendo em conta o seu treino pedagógico-didático, nomeadamente o facto de que ter bons amigos é vital para a felicidade, o bem-estar e mesmo para a saúde em qualquer etapa da vida influenciando positivamente a confiança, segurança e felicidade. Dados recolhidos de vários estudos desenvolvidos pelas faculdades de psicologia comprovam que crianças com amigos tendem a ser mais felizes e menos propensas a desenvolver problemas emocionais.
A nível mundial, a temática da Amizade assumiu já preponderante valor universal tendo a Eurocid proclamado: o Dia Internacional da Amizade, que se celebra anualmente a 30 de julho, para dignificar o papel que a amizade detém na concretização dos valores.
Em Portugal, várias instituições se dedicam a promover a saúde mental e o bem-estar das crianças ajudando-as a criar amizades e desenvolver habilidades sociais, nomeadamente a Universidade de Coimbra que coordena o projeto europeu “Let’s Talk About Children”, que engloba 9 países participantes, visando promover a saúde mental de crianças de contextos familiares vulneráveis, incentivando a criação de redes de apoio e amizade. As amizades beneficiam as crianças criando sentimentos de pertencimento e de segurança, que contribuem para reduzir o stress e a ansiedade que podem surgir nas primeiras interações sociais.
Nesse âmbito, o livro “ Amigo Meu, meu Amigo, é?”, integra muito mais que falar sobre o poder da amizade e como fazer amigos ou amigas, incorpora a empatia, confiança, lealdade e gentileza com o outro abrindo portas importantes para toda nossa vida!
“A amizade é uma alma que habita dois corpos; um coração que habita duas almas.” Defendia Aristóteles, pela profundidade e conexão especial que a verdadeira amizade pode proporcionar. Assim, a amizade constitui um sistema de apoio ao desenvolvimento socio emocional e autoconhecimento da criança, desenvolvendo a sua própria identidade e atributos como competência social, altruísmo, negociação, empatia, habilidade para lidar com conflitos e divergências de opiniões. Para a criança/jovem, um amigo é uma segurança, é um recurso para os momentos piores (verbalizar os problemas e “desabafar” são fatores protetores ao longo da vida) na descoberta do mundo e na vida relacional. Ter essa rede ajudará a criança a lidar com as novidades e transições típicas dessa etapa da vida, algo essencial para o desenvolvimento de mecanismos de confronto saudáveis.
O grande escritor
Roald Dahl, in A girafa, o pelicano e eu( p.79) escreveu: “Adeus, amigo, mas
não fique triste, pois é bom saber que a amizade existe”.
Não resisto a perguntar: há potencial para
mais livros dentro deste género? Que novos projectos tem em mãos?
No caso deste livro “ Amigo meu, Meu amigo é?” o seu potencial abrange
leitores de todas as idades e culturas. Todos sentem o desafio de encontrar a
amizade verdadeira. É um livro com impacto na mudança e valorização dos valores
e ética.
Como autora, tento levantar o véu de inquietudes internas de que nunca se
falam porque nunca há tempo para se falar, numa época em que o telemóvel não
para de tocar e em que milhões de sms milhões voam nas redes…e o momentâneo é
fútil.
Muitas das vezes, o mercado livreiro opta por “flores” e “coraçõezinhos”
inferiorizando ou infantilizando a literatura infantil de forma redutora aos
parâmetros idílicos de um mundo perfeito, por vezes, até demasiado perfeito,
escondendo as dificuldades, os problemas…Será que, lendo apenas textos de
nuvens encantadas, a criança/jovem fica preparada para enfrentar o que a vida
lhe reserva? Essa é a questão.
Por tudo isso, torna-se cada vez mais imprescindível o papel interventivo
de uma autora. Durante séculos, foi relevante o papel interventivo dos
escritores tal como se recorda por exemplo na obra “ Os Miseráveis” de Vítor
Hugo. Seus textos refletem a sociedade, por vezes dura e crua, através da sua
visão percetiva da atualidade presente de forma a conseguir fazer refletir e
antever para onde caminha no futuro. Essa atitude interventiva, atenta e
crítica fomenta a mudança interna do leitor na relação biunívoca com o livro,
mas também influencia a sua ação de cidadania na vivência em sociedade.
Este mês finalizei um álbum ilustrado explorando o
desenvolvimento do bebé e relação mãe-filho. As ilustrações são fabulosas e
estou a enquadrar o texto em cada página. Vai ser um livro que muito irá
agradar aos pais que são confrontados com aquela eterna pergunta: “ Como
nasci?”. Através de uma história, o livro conta como o bebé cresce e se sente,
sendo útil tanto para crianças como para futuras mães que desconhecem as fases
de crescimento do bebé.
Um outro livro que terminei e que já está a ser
ilustrado é uma aventura divertida sobre uma sociedade cruel dominada sob o
poder dos Deuses em que o amor não existia e a ação de um menino endiabrado.
Tenho um outro livro sobre Os sentimentos do
camaleão e de como ultrapassar seus medos que também está a ser ilustrado e que
irá agradar aos meus pequenos leitores porque é um camaleãozinho muito
problemático e indefeso.
Enfim, tenho sempre muitos projetos entre mãos… mas
o meu gosto de escrever em exclusividade para o público infantil prevalece em
todas as obras que escrevo e é a todas as crianças e jovens que eu dedico o que
escrevo com o desejo de escrever histórias que lhes agradem.
Crianças contentes, autora feliz!
Pode obter mais informações sobre o livro aqui.
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