segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Nina Pianini, autora de "Amigo meu, meu amigo é? ", em entrevista

 

Nina Pianini (pseudónimo), 62 anos, está de regresso!

Já este ano falámos com ela sobre outros seus textos destinados aos mais novos e também sobre a sua participação na colectânea de Natal de 2023. Voltamos a falar para que ela nos apresente o seu mais recente livro "Amigo meu, meu amigo é?", ficando também a promessa de que, também este ano, a vamos encontrar na nossa colectânea de Natal.

Neste seu livro para os mais novos (também obrigatório para os mais velhos...) aborda a importante questão da amizade num harmonioso casamente entre os textos e os desenhos a cores da Julieta, que ilustrou o livro.

Apesar de o trabalho inicial se ter destinado a uma versão (não comercializada) em capa dura; é sobre a versão alargada e em capa mole (com ainda mais ilustrações a cores) que a autora nos vai falar.
 Nina Pianini, de voz própria e na primeira pessoa:

  Este seu novo livro aborda uma questão primordial na vida de uma pessoas: a amizade. Conte-nos como e porquê resolveu escrever este livro e qual o impacto que pretende que tenha nos mais novos, e também, já agora, nos menos novos que também entrem em contacto com ele?

A publicação do livro “ Amigo meu, Meu amigo é?” surgiu no âmbito da oportunidade proporcionada pela Tecto de Nuvens numa das suas Campanhas promocionais a que aderi com bastante entusiasmo. Significou a concretização de um sonho, de uma conquista de longa data em publicar um livro de capa dura!...

Este meu anseio levou a que tivesse de ser muito assertiva quanto ao tipo de  história que merecesse essa dita honra.

Após muita concentração e reflexão em selecionar qual a história entre toneladas de histórias que já escrevi, não foi nada fácil. Não podia escolher um texto qualquer, tinha de ser uma história que o leitor quisesse ler, voltar a ler e reler e, se possível,  na melhor das circunstâncias se tornasse num clássico.

Não senti qualquer indecisão quando peguei no meu rascunho da história “ Amigo Meu, Meu amigo é?”. A riqueza imaginativa marcante no texto e o impacto do potencial da sua mensagem no público infantil a que se destina, tinha os ingredientes certos para merecer o investimento em capa dura!*

O enriquecimento do texto e o arranjo final levou-me numa fantasia de paralelismo com a geometria e deliciei-me divertida a escrevê-lo. Por tal, foi uma experiência muito gratificante escrever este livro, principalmente pela sua temática que leva a refletir sobre a amizade e promove mudança no leitor.

Este livro “ Amigo meu, Meu amigo é?” induz ao aperfeiçoamento das nossas escolhas através da identificação do leitor com as personagens e situações, apresentando questões e problemas com os quais frequentemente todos nós somos confrontados no dia-a-dia, mas de que usualmente ninguém fala.

A finalidade do livro é, por tal, ativar no leitor a consciencialização de habilidades sociais para encontrar verdadeiras amizades, promovendo mudanças positivas no leitor.

*Como se explica na resposta seguinte, a versão em capa dura foi feita numa tiragem limitada, quase de teste. O livro que agora se promove é em capa mole e com ilustrações a cores. Contudo, o processo descrito acima foi usado para escolher a história e não tanto a sua forma de apresentação, pelo que o processo foi comum a ambas as versões do livro. Preste atenção ao nosso blogue caso tenha interesse na versão em capa dura, brevemente saberá como a obter.

  Fale-nos um pouco sobre este livro, incluindo, também, a importância, da ilustração. Qual é a sensação que tem ao ver, agora, os seu livro nas mãos?

A fim de medir o impacto do livro “ Amigo meu, Meu amigo é?” procedeu-se a uma pré-avaliação a partir de uma pequena tiragem prévia (em capa dura, com menos imagens e numa versão mais abreviada do texto), tendo-se verificado uma excelente adesão junto de uma pequena amostra de pais e professores especializados bibliotecários.

Consideraram de um modo geral que, era um livro bastante educativo, particularmente rico nas comparações que faz, que promove reflexão e debate e o desenvolvimento de habilidades sociais e de valores, manifestando afirmações positivas a favor do livro como:

“Hoje em dia, há muitos livros infantis que falam da amizade do ursinho ou da perda do amiguinho, mas raramente se fala do problema propriamente dito ou se põe a criança a saber questionar ao fazer escolhas como este livro faz.”

“O leitor-criança muitas vezes é posto em situações de leitura passiva que não promovem a reflexão. Este livro “ Amigo meu, Meu amigo é?” contraria essa corrente e dá asas para uma leitura ativa e eficaz de criar mudança destacando logo no título a sua diferença pela forma de pergunta.”

“Num mundo em que o ecrã se apodera do dia a dia de todos e em que as redes sociais proliferam, existe o perigo das crianças e jovens se deixarem facilmente influenciar . este perigo tem de ser combatido. Este livro constitui uma boa ferramenta para levar crianças e jovens a refletir sobre essas questões.”

Perante esta excelente recetividade do livro ajudou a acreditar na sua aceitação pelo público em geral. 

Quanto aos desafios passados durante a fase de produção do livro, assumo que o desafio maior em relação aos problemas que encontrei na execução do livro, foi encontrar um ilustrador devido ao curto espaço de tempo em que as ilustrações tiveram de ser executadas. A importância da ilustração era para mim essencial. Pretendi que o livro tivesse ilustrações que ajudassem a tornar o livro mais apelativo e atraente para o público-infantil, pelo que optei por contatar entidades formadoras de ilustração e encontrei uma jovem ilustradora de Animação 3 D que, apesar da sua falta de experiência editorial/gráfica, se veio a tornar uma excelente colaboradora. Aprendemos juntas, superando as falhas que iam aparecendo. E, no entretanto, tornamo-nos amigas e o nosso duo já está a funcionar de forma muito gratificante para ambas. 

  Existe alguma parte do livro, em particular, que goste mais. Porquê?

Sem querer desvendar o final, destaco a apoteose final quando a personagem principal do livro, após tantas tentativa-erro frustradas, descobre por si mesma quem afinal era seu amigo de verdade…aquele que estava lá sempre presente nas horas más e boas, que a conhecia melhor do que ninguém aceitando suas limitações e a ajudava insistentemente, dia a dia, a melhorar.

Quem seria?

Aconselho a lerem o livro para o descobrirem.

Acreditem que o final, foi também desafiante para mim. Como autora, constituiu um dilema que me deixou bastante surpreendida à medida que o seu desenlace se foi desenhando ao escrevê-lo.

Por tal, aconselho a ler. Até porque acontecem sempre coisas mágicas quando os escritores escrevem e eu como autora também ao escrever fui descobrindo que, quando encontramos amigos verdadeiros, sentimos que temos alguém em quem podemos confiar e contar, alguém com quem podemos compartilhar nossas alegrias e tristezas, nossos medos e sonhos. Tal como no dizer de Cícero: "Um amigo é, por assim dizer, um segundo eu" e comprovado num estudo recente do ISCTE ( Instituto Universitário de Lisboa), em que as crianças mostraram preferir brincar com crianças que têm interesse pelas mesmas brincadeiras, levando o investigador Pacheco, R. (2017) a sugerir aos pais: “Ajude as crianças a identificarem estes interesses partilhados”, pois uma “relação de amizade é caracterizada pela  união, semelhança e afeto positivo” como defendia Goldman, B. D., & Buysse, V. (2007) in Friendships in very young children.

   Indique as razões pelas quais aconselharia as pessoas a ler/comprar o seu livro? O que acha mais apelativo nele?

A atualidade da temática da Amizade acarreta especial importância perante as novas formas de interação e relacionamento social que têm um impacto significativo no desenvolvimento social das crianças. Os perigos para crianças/jovens, referidos em estudos, da influência das Redes Sociais, das amizades virtuais, da falta de interação face a face, do risco de isolamento do mundo real ao passarem muito tempo online, do Bullying e insegurança online em que crianças expostas a conteúdos inapropriados ou a pessoas mal-intencionadas, assim como da dependência excessiva de dispositivos eletrônicos para socialização, podem prejudicar o desenvolvimento de habilidades de comunicação e resolução de problemas no mundo real. Daí se destaca a importância em desenvolver, desde muito cedo, habilidades sociais essenciais como empatia, cooperação e resolução de conflitos que ajudará a criança a fazer amizades, a lidar com desafios em suas interações e a desenvolver competências sociais.

Este livro transforma-se numa excelente ferramenta de recurso para pais e educadores proporcionando uma ótima estratégia para conversar sobre todas as diferentes sensações que a amizade pode provocar, fazendo com que as crianças reconheçam melhor aquilo que sentem, tornando-se num tema fundamental a ser discutido e/ou debatido em casa ou na escola ou junto dos amigos.

Relembre-se de que, as amizades são importantes para o bem-estar das crianças. Muitas vezes, é com o suporte dos amigos que as crianças se sentem confiantes para embarcar nas aventuras do dia-a-dia, adquirindo novas competências, 

Epicuro defendia que: "Não é tanto a ajuda de nossos amigos que nos ajuda, mas a confiança de sua ajuda".

Para que a criança aprenda sobre o valor da amizade, é necessário, por tal, gerar nelas, noções, conhecimentos, habilidades, emoções, vivências, sentimentos e que a preparemos para viver com harmonia e respeito.

As crianças devem saber quem é um bom amigo e porquê, como se comportam os bons amigos, e como manter uma boa amizade.

Proporcionar uma educação de qualidade que prepare os jovens para os desafios futuros, incentivando o pensamento crítico, a criatividade e a resolução de problemas. incluem desafios que personagens precisam superar, ensinando as crianças sobre a importância da colaboração e da resolução de problemas.

Assim, o livro “ Amigo meu, Meu amigo é?” enquadra-se no método Montessori pela relevância dada ao quotidiano e enfoco na autonomia e importância do ser, ajudando o leitor a refletir sobre a forma como seleciona seus amigos e o modo como se relaciona em consonância com os estudos que confirmam que as crianças necessitam de adquirir “competências que lhes permitam fazer escolhas eficazes durante as suas interações com os outros” Gloeckler, L. R., Cassell, J. M., & Malkus, A. J. (2014).


† O livro, sem querer revelar demasiado, para além da amizade, aborda outras questões muito sérias e muito actuais, que passam pelo desenvolvimento da personalidade, mas também, de alguma forma, o aceitar da própria imagem, e como estas questões causam pressão e desconforto, mesmo quando as influências externas são bem intencionadas. – Fale-nos um pouco sobre isto e sobre qual a mensagem que quis passar.

Para além da intencionalidade presente no livro “ Amigo meu, meu amigo é?” em valorizar como é essencial saber selecionar as amizades, apresenta também outros fatores subjacentes educacionais que o educador saberá facilmente reconhecer tendo em conta o seu treino pedagógico-didático, nomeadamente o facto de que ter bons amigos é vital para a felicidade, o bem-estar e mesmo para a saúde em qualquer etapa da vida influenciando positivamente a confiança, segurança e felicidade. Dados recolhidos de vários estudos desenvolvidos pelas faculdades de psicologia comprovam que crianças com amigos tendem a ser mais felizes e menos propensas a desenvolver problemas emocionais. 
 A nível mundial, a temática da Amizade assumiu já preponderante valor universal tendo a Eurocid proclamado: o Dia Internacional da Amizade, que se celebra anualmente a 30 de julho, para dignificar o papel que a amizade detém na concretização dos valores.
Em Portugal, várias instituições se dedicam a promover a saúde mental e o bem-estar das crianças ajudando-as a criar amizades e desenvolver habilidades sociais, nomeadamente a Universidade de Coimbra que coordena o projeto europeu “Let’s Talk About Children”, que engloba 9 países participantes, visando promover a saúde mental de crianças de contextos familiares vulneráveis, incentivando a criação de redes de apoio e amizade. As amizades beneficiam as crianças criando sentimentos de pertencimento e de segurança, que contribuem para reduzir o stress e a ansiedade que podem surgir nas primeiras interações sociais.
Nesse âmbito, o livro “ Amigo Meu, meu Amigo, é?”, integra muito mais que falar sobre o poder da amizade e como fazer amigos ou amigas, incorpora a empatia, confiança, lealdade e gentileza com o outro abrindo portas importantes para toda nossa vida!
“A amizade é uma alma que habita dois corpos; um coração que habita duas almas.” Defendia Aristóteles, pela profundidade e conexão especial que a verdadeira amizade pode proporcionar. Assim, a amizade constitui um sistema de apoio ao desenvolvimento socio emocional e autoconhecimento da criança, desenvolvendo a sua própria identidade e atributos como competência social, altruísmo, negociação, empatia, habilidade para lidar com conflitos e divergências de opiniões. Para a criança/jovem, um amigo é uma segurança, é um recurso para os momentos piores (verbalizar os problemas e “desabafar” são fatores protetores ao longo da vida) na descoberta do mundo e na vida relacional. Ter essa rede ajudará a criança a lidar com as novidades e transições típicas dessa etapa da vida, algo essencial para o desenvolvimento de mecanismos de confronto saudáveis.

O grande escritor Roald Dahl, in A girafa, o pelicano e eu( p.79) escreveu: “Adeus, amigo, mas não fique triste, pois é bom saber que a amizade existe”. 

  Não resisto a perguntar: há potencial para mais livros dentro deste género? Que novos projectos tem em mãos?

No caso deste livro “ Amigo meu, Meu amigo é?” o seu potencial abrange leitores de todas as idades e culturas. Todos sentem o desafio de encontrar a amizade verdadeira. É um livro com impacto na mudança e valorização dos valores e ética.

Como autora, tento levantar o véu de inquietudes internas de que nunca se falam porque nunca há tempo para se falar, numa época em que o telemóvel não para de tocar e em que milhões de sms milhões voam nas redes…e o momentâneo é fútil.

Muitas das vezes, o mercado livreiro opta por “flores” e “coraçõezinhos” inferiorizando ou infantilizando a literatura infantil de forma redutora aos parâmetros idílicos de um mundo perfeito, por vezes, até demasiado perfeito, escondendo as dificuldades, os problemas…Será que, lendo apenas textos de nuvens encantadas, a criança/jovem fica preparada para enfrentar o que a vida lhe reserva? Essa é a questão.

Por tudo isso, torna-se cada vez mais imprescindível o papel interventivo de uma autora. Durante séculos, foi relevante o papel interventivo dos escritores tal como se recorda por exemplo na obra “ Os Miseráveis” de Vítor Hugo. Seus textos refletem a sociedade, por vezes dura e crua, através da sua visão percetiva da atualidade presente de forma a conseguir fazer refletir e antever para onde caminha no futuro. Essa atitude interventiva, atenta e crítica fomenta a mudança interna do leitor na relação biunívoca com o livro, mas também influencia a sua ação de cidadania na vivência em sociedade.

 Deste modo, continuo a escrever obras e a aumentar a minha bibliografia, tentando dignificar valores como respeito, empatia, e responsabilidade social, para que crianças e jovens se tornem cidadãos conscientes e ativos na sociedade, dando assim o meu contributo para ajudar a construir uma melhor sociedade em que a paz, a aceitação da diversidade e os valores sejam valorizados para o bem-estar.

Este mês finalizei um álbum ilustrado explorando o desenvolvimento do bebé e relação mãe-filho. As ilustrações são fabulosas e estou a enquadrar o texto em cada página. Vai ser um livro que muito irá agradar aos pais que são confrontados com aquela eterna pergunta: “ Como nasci?”. Através de uma história, o livro conta como o bebé cresce e se sente, sendo útil tanto para crianças como para futuras mães que desconhecem as fases de crescimento do bebé.

Um outro livro que terminei e que já está a ser ilustrado é uma aventura divertida sobre uma sociedade cruel dominada sob o poder dos Deuses em que o amor não existia e a ação de um menino endiabrado.

Tenho um outro livro sobre Os sentimentos do camaleão e de como ultrapassar seus medos que também está a ser ilustrado e que irá agradar aos meus pequenos leitores porque é um camaleãozinho muito problemático e indefeso.

Enfim, tenho sempre muitos projetos entre mãos… mas o meu gosto de escrever em exclusividade para o público infantil prevalece em todas as obras que escrevo e é a todas as crianças e jovens que eu dedico o que escrevo com o desejo de escrever histórias que lhes agradem.

Crianças contentes, autora feliz!

 

 


 Pode obter mais informações sobre o livro aqui.

Pode ler ou reler a outra entrevista da autora aqui.


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