domingo, 17 de novembro de 2024

Julieta, ilustradora do livro "Amigo meu, meu amigo é?", em entrevista

 


Se uma imagem vale mais do que mil palavras, quando se conjugam imagens e palavras estamos perante uma grande riqueza.
Nem sempre é fácil coordenar o texto e a imagem, são dois espíritos criadores que as produzem e idealizam, mas quando o casamento é perfeito, todos saem beneficiados, e é por isso que os ilustradores são também coautores das obras. 
É o que sucede em "Amigo meu, meu amigo é?", Nina Pianini e Julieta conseguem que miúdos e graúdos se debrucem sobre o tema da amizade.

E é sobre este trabalho e o seu gosto pela arte que nos fala Julieta (pseudónimo), 36 anos, por voz própria e na primeira pessoa.


Conte-nos quando é que começou a desenhar e quando é que começou a usar o desenho para ilustrar algo?


Antes de mais gostaria de agradecer pela oportunidade que me estão a dar ao puder participar nesta entrevista.
Desenho desde criança, desde que tenho consciência da minha existência para dizer a verdade.
Observava a minha irmã que desenhava já muito bem com tenra idade e como irmã mais nova punha-me ao seu lado tentando obter o mesmo resultado.
Recordo-me que nos meus desenhos havia várias janelas, luas, prendas, estrelas e sois.
Era e continua a ser mágico.

 Qual o papel do desenho (e da arte em geral) na sua vida?

A arte tem toda a importância para mim e na minha opinião para o mundo.
De uma forma geral, para mim, é uma fonte de inspiração, tem vida e, às vezes, nem sei de onde provém. Neste caso, o desenho é uma forma de transmitir o que vai no meu pensamento, o que vai dentro do meu mundo interno e que gostaria cada vez mais de exteriorizá-lo para a nossa realidade “terrestre “assim como partilhar com quem aprecia também o que eu considero belo.

 Como é que faz a ilustração de um livro? É um processo “técnico” (no sentido de regras, equilíbrios...) ou mais intuitivo/emocional (do género “consigo visualizar esta cena”)?

Tento visualizar uma parte da ilustração recorrendo a músicas e do que consigo visualizar passo para o papel ou anoto as ideias a seguir para não me esquecer.
Eu diria que é mais intuitivo pois procuro ter inspiração para o que faço. A seguir posso vir a colocar algumas técnicas nas ilustrações embora dê mais ouvidos ao que é intuitivo.

 Falando especificamente das duas versões do livro “Amigo meu, meu amigo é?”, qual é a sensação que tem ao ver, agora, os livros, já prontos, nas mãos?

É uma sensação muito boa, não pensava que teria esta oportunidade para ser franca embora no meu íntimo sentisse que um dia, seria o dia. Estou realmente muito grata por esta oportunidade pois após a conclusão do livro o sentimento de realização é gratificante e de uma verdadeira gratidão para com a escritora Nina Pianini e todos a quem me deram força para avançar.

 Fale-nos um pouco sobre o ilustrar deste livro. Foi fácil, intuitivo?

Se dissesse que fosse fácil não estaria a ser sincera.
Foi um desafio para mim, embora consiga imaginar as cenas e por vezes serem tão claras na minha mente, passar as mesmas para uma ilustração é sempre um desafio.

 Existe alguma parte de cada um deste livro, em particular, que a toque mais. Porquê? Influenciou o estilo/escolha do traço?

Sim, na minha opinião a mensagem do livro é profunda e no entanto pode ser interpretada de várias maneiras entre várias pessoas, contudo, fala sobre algo precioso e que tantos nós necessitamos neste mundo, o amor de uma amizade sincera, uma amizade que se encontra sempre por perto e dentro de nós como a do “lápis” que nos acompanha vá para onde formos.
Uma amizade que todos nós deveríamos estar prontos a receber, assim como também oferecer a nossa amizade a quem precisa.
Isto é algo de muito puro num mundo como o nosso porque vamos refletir, o que define uma verdadeira amizade? Na verdade acredito que a resposta está em cada um de nós e que podemos tentar escutar essa resposta.

 Indique as razões pelas quais aconselharia as pessoas a ler este livro? O que acha mais apelativo no livro?

É importante sensibilizar as crianças a importância da amizade. É importante a criança ganhar mais esta noção, de ser amigo e na escolha dos bons amigos que o acompanham no decorrer da sua vida. Este livro mostra que a amizade não é oferecida por qualquer pessoa que encontramos ou colega da escola mas mostra que a amizade é oferecida por quem é nosso Amigo.

 Considera a arte, neste caso não apenas na perspetiva de um apreciador, mas de alguém que “produz” algo, seja um bordado, uma colagem, pintura, desenho, tocar um instrumento, etc, como sendo sempre uma atividade (até na perspetiva de “escape”) recomendável e positiva? Ou é apenas se a pessoa for boa na sua realização? Ou pode ser benéfico mesmo que o resultado final não seja digno de ir para o Museu? Acha que há  mérito no processo por si só?

Na minha opinião, considero que a arte esteja em vários lugares e em várias ocasiões da nossa vida. Vejo arte de quem dança, vejo arte num fotógrafo quando fotógrafa uma fotografia ou um quadro pintado, a arte está numa flor, nos veios de uma planta, numa gota de água resistente pendurada, na fé das pessoas, no que é divino, vejo arte na água e nas cores da chama de uma vela.
Um bordado, trabalhos manuais, cerâmica a música, tudo isto faz parte do mundo artístico e tudo se conjuga. É uma forma de expressão e enaltece o sentido da vida.
Sou da opinião que toda as pessoas deveriam ser encorajadas a expressar a sua criatividade, seja por escrita, por escultura, por bordar ou tocar um instrumento musical. Não é só no museu que é bonito ou necessário expor a arte, a expressão artística de cada um é válida e pode conduzir a novas ideias e emoções, desenvolve a parte criativa do ser humano, pode ser terapêutico e trabalhar a autoestima da pessoa, é refrescante e ajuda a não esquecermos as crianças que todos temos dentro de nós. Não temos que ser iguais, cada um pode desenvolver a sua criatividade à sua maneira. Com isto tudo acredito que a arte tenha influência para um mundo melhor.

 Tem mais projetos em mãos? Ilustrar livros é algo que gostaria de continuar a fazer?

Para já, o que posso dizer é que pretendo melhorar. Estou longe da onde quero chegar e com isto quero dizer que sim, pretendo continuar e de obter mais projetos daqui para a frente. Espero realmente um dia perceber este mundo que está em mim e de tentar perceber como poderei mostrar o mesmo através das minhas ilustrações assim como perceber o mundo de quem escreve e dar formas às suas histórias.


Para saber mais informações sobre o livro clique aqui.
Se quer contactar a ilustradora, envie-nos um email para informacoes@tecto-de-nuvens.pt


sábado, 16 de novembro de 2024

"Uma viagem de férias" - TEXTO VENCEDOR

 


E numa votação que, também ela, pareceu ter ido em viagem de férias, lá se conseguiu, no desfazer das malas, encontrar votos para os textos com a vitória a sorrir ao conto "O ritual de «Um dia na praia»". Muitos parabéns à autora, Nina Pianini.

Os nossos parabéns também para aos autores classificados em segundo e terceiro lugar, respectivamente: Alexandra Carneiro e, ex-aequo, Alexandra Carneiro e Joaquim Armindo.
E o nosso obrigada a quem votou, estejam atentos ao sorteio do prémio.
Quanto aos autores, brevemente receberão os seus souvenirs/recuerdos desta viagem de férias...


1º  O ritual de “ Um dia na praia…”  VENCEDOR


  Mareusia
  Férias do emigrante que fica  e à luz do candeeiro

E para aguçar o apetite de quem ainda não leu o conto vencedor, fica um excerto.


A névoa cobria o horizonte.
O frio trespassava os ossos e os meus passinhos pequenininhos faziam mais longa a caminhada. De braço esticado e de mão dada à minha mãe, lá seguia para o pequenino comboio que nos levaria à praia. Ansiosa por chegar esse dia, mal tinha dormido. Animada, passei dos braços da minha mãe para os do meu pai. Sentaram-me num banco de madeira rija e o comboio partiu ao grito do chefe da estação:
- Partida!...
Com a bandeirinha no ar, rematava a saída do comboio apitando prolongadamente: piuiii!...
Por sua vez, bufando como um animal de forte pujança, o comboiozinho insuflou uma enorme nuvem branca que, saindo debaixo das rodas, cobriu toda a gare em volta.
- Este comboio é muito antigo, é movido a vapor!- Explicou meu pai.- Lá à frente, o maquinista deita lenha na fornalha que aquece a água. É a força do seu vapor que faz mover o comboio…
E meu pai lá ia contando os factos, esmiuçando tudo para saciar a minha curiosidade. Mas, hoje era diferente. Eu nem o ouvia, nem sequer prestava atenção. Estava tão ansiosa que não parava de perguntar:
- Já chegamos à praia?... ainda falta muito?...
Torcendo-se sempre a assoprar “u-uuu…”, o comboiozinho nomeado pelos populares de “o Poveiro” desengonçava-se pela estreita via, abanando todos os que iam lá dentro num constante trepidar. De tão leve que eu era, ia escorregando no vidrado lustre do banco, ora para lá, ora para cá, conforme as curvas. Sem conseguir agarrar-me a lado nenhum, meu corpo só parava quando batia nas pontas do banco.
Largando incessantemente o intenso vapor que aumentava a névoa fresca matinal, pelo esforço exigido à máquina a puxar as três carruagens de madeira completamente cheias de dezenas de pessoas. Porém, o despachado comboiozinho “Poveiro” de madeira lá seguia o estreito trilho desbravando ramos e folhagem que, intrometidamente, se enfiava pelas janelas ao atravessar a densa floresta verdejante.
Subitamente, da janelinha de madeira fina algo começou a surgir que arrebitou os meus sentidos e dos restantes passageiros: uma linha azul começou-se a perfilar ao longe.
- Já se avista o mar! – Gritaram os passageiros em contagiosa alegria.
Todos se elevaram dos lugares esticando seus pescoços e focando seus olhos naquele ponto.
Lá se avistou o mar azul intenso, e da boca soltou-se em coro:
- “Deslumbrante!…”
E a sua maresia entrou pelas janelinhas abertas, banhando-nos com seu fresco aroma.
Quando o comboiozinho “Poveiro” parou, uma avalanche de gente não perdeu tempo a saltar do comboio, seguindo pelo estreito carreiro de madeira atravessando os mil carris cruzados da estação até à estrada, por onde todos caminharam enfileirados munidos de chapéus, bancos, baldinhos, lancheiras, boias e todo o tipo de artífices necessários para passar um belo dia na praia.
A pressa de chegar à praia, era intensa, todos concentrados em passo acelerado, ninguém perdia tempo, nem energia a falar. Em silêncio compenetrado de chegar à meta, prosseguiam em fila indiana pelos passeios atravessando toda a cidade. Nada os distraía da sua missão de chegar ao destino, por isso nem perdiam tempo a olhar as vitrines das lojas ou as dezenas de tendas dos vendedores ambulantes espalhados pela rota que todos sabiam de cor: o caminho traçado seguido à décadas pelos veraneantes.
Ao chegar à famosa rua central da conhecida praia da Póvoa de Varzim, a praia mais afamada das redondezas, todos pararam em harmoniosa sintonia.
Em
 frente de todos, mesmo ao fundo, deslumbrava-se agora a fonte da nossa alegria: o mar!... Aquela espetacular imagem fez-nos parar para contemplar! Especados nos passeios, todos esticavam o nariz para cheirar aquele típico cheirinho a mar! Sem exceção, todos abriram um largo sorriso incontido. Era nessa altura que lançavam um olhar em redor e abanavam a cabeça uns para os outros, em concordância plena sem nada dizer. Unidos na confirmação silenciosa geral de que tinham chegado à meta: o mar que todos nós aspirávamos!
Espalharam-se como carreiros de formigas pelo extenso areal doirado que amortecia nosso andar, largando as roupas e tudo o que se trazia.
Derramando o protetor pelo corpo, correram para a água.
Estivesse a temperatura que estivesse, ninguém se importava com isso. Salpicavam seu corpo com a abençoada água enquanto as crianças saltitavam alegremente nela: “splasch”!
Tal como eles, divertida na água, eu chapinhava nas poças e pocinhas que abundavam, observando atenta para onde ia o caranguejo que fugia correndo de lado, em que buraco da pedra rochosa o polvo enfiava seus tentáculos escondendo-se, como as conchas se abriam para beber a fresca água que a onda trazia, o movimento do mar para entender porque a onda espumava...
Incansável nas minhas descobertas de criança, lá ia tudo coscuvilhando e revirando…
E revirando o baldinho cheio de areia molhada, construía (...)

Para mais informações sobre a colectânea, clique aqui.
E se é fã da escrita da vencedora, Nina Pianini, não perca este passatempo aqui.





segunda-feira, 11 de novembro de 2024

"Caem as folhas" e "S. Martinho" - Desafios de Novembro

 



 Estão de volta os Desafios...

 "Caem as folhas" continua a ser o nome do desafio que anda à volta destas folhas, sejam as das árvores ou outras, que caem e se renovam: Outono, a inspiração, os ciclos da vida, etc.
O desafio voltou a incluir as opções conto (pequeno), fotografia/desenho e a poesia. 
E sendo hoje dia de S. Martinho, também fica uma homenagem ao santo e às tradições deste dia.

Do dia 11  até ao dia 30 de Novembro 2024 estarão abertas as votações para o trabalho favorito. O vencedor receberá um prémio.
Só contaremos os votos dos votantes que se identificarem, podem votar como anónimos mas depois deverão enviar um email para um dos endereços fornecidos e indicando o número que lhes foi atribuído. Os votantes entrarão num sorteio para receberem uma lembrança.

E os prémios...
Vamos oferecer livros! As nossas folhas favoritas...


O autor premiado e o votante sorteado poderão escolher a partir de uma lista que vamos fornecer o título que mais lhe agradar.

9) As folhas nascem

As folhas nascem
E as folhas caem
Todos os anos na sua época
- O tempo passa, o tempo recua, o tempo para!?
A vida é como um barco quando navega no mar de ondas!
As folhas caem… a árvore fica de pé
Ontem andava vestida, amanhã está nua
As folhas caem-lhe!
Na próxima primavera há muitas folhas viçosas de esperança
Depois, depois, mudam de cor
E tudo volta ao mesmo


Ilda Pinto Almeida

8) no outono da vida das folhas a caírem

se virmos como se vestem as árvores,
de folhas verdejantes e encobridoras dos sóis,
somos bafejados pelo querer e ser
                     do cheiro primaveril,
                     da sua virilidade,
e lembramos,
                     oh, se lembramos,
das suas vidas, como se fossem nossas,
lembramos o crepúsculo lapidador
                        das suas folhas,
                        que caiem, como se mortas,
nas lembranças dos outonos passando por elas,
o vigor das suas querenças,
                   leva-as a florir,
logo a seguir, viçosas e lindas,
o outono é como a vida,
                  lindo que nos amarra,
                  ao som das cores imanando
as sinfonias dos grilos no verão,
e o renascer em cada primavera,
assim é o outono.

Joaquim Armindo


7) No dia de São Martinho vai à adega e prova o vinho


Sabia que faltam apenas 50 dias para o final do ano? Pois bem, a data que se assinala hoje tem vários significados e um deles é esse, que num pequeno salto, estamos a comer as 12 passas e a beber champanhe, ou branco de Lafões.
Mas daqui até lá ainda há imenso tempo para saborear, viver e reviver várias sensações festivas.
Uma delas é a que se realiza hoje um pouco por todo o lado e nas nossas casas: O dia de São Martinho, com os seus tradicionais magustos.
Em Portugal é feriado municipal em Alijó, Mêda, Penafiel, Pombal e Torres Vedras. Um dos mais afamados realiza-se em Penafiel e que abriu as festividades ontem, dia 10, e prolonga-se até ao dia 21 de Novembro. Já lá estivemos e a festa é de arromba.
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História do São Martinho

Reza a lenda, e as liturgias atestam, que São Martinho de Tours terá nascido na Hungria por
volta do ano 316 desta Era. Terá sido um soldado romano, que renunciou à milícia e recebeu
baptismo, tendo rumado a França e fundando um mosteiro.
O milagre que lhe é atribuído foi, segundo a lenda, que ao ver um mendigo ao frio num dia de tempestade de neve, cortou o seu manto ao meio e partilhou-o com o mendigo. Deste acto, diz-se que recebeu uma bênção de três dias de sol, advindo daí a expressão “verão de São Martinho”, que habitualmente nestes dias do ano o tempo fica soalheiro.
O etnógrafo português José Leite de Vasconcelos, afirmou que esta festividade representa um sacrifício em honra dos mortos, em que no passado a celebração era de forma diferente da que em Portugal se comemora a data, em que era usada a tradição de acender as fogueiras para que à meia-noite fosse preparada uma mesa com castanhas, que simbolicamente serviriam para oferendar aos familiares que já partiram deste mundo.
Talvez por este motivo alguns locais da Escandinávia é celebrado no dia de véspera, dia 10,
iniciando um período de recolhimento antes do Natal e fazendo desse jantar, o último grande jantar do ano. Na Suécia, esse jantar consiste em sopa, ganso assado e bolo de maçã.

O nosso magusto

Por cá já a história de comes e bebes é outra: Castanhas assadas e vinho. Vinho que pode
muito bem ser o vinho novo, a água-pé ou jeropiga.
Aliás, no caso do vinho já terá um outro significado a ter em conta, sendo o primeiro dia do qual deve ser degustado o vinho novo, já que a maturação do vinho do ano atinge o seu ponto ideal para ser provado.

Em todo o caso, temos sempre o provérbio popular: “No dia de São Martinho vai à adega e prova o vinho”.
Só nos resta desejar uma boa noite de São Martinho com castanhas assadas e boa prova do
novo vinho, água pé ou jeropiga.

Aníbal Seraphim
(Publicado originalmente em: Notícias de Lafões nº, 584 - Página 14 - 11/11/2021)

6) No dia de S. Martinho



Aníbal Seraphim

5) A peneira da vida


Ai outono outono
Porque me fazes sempre isto?
Passo o inverno a sonhar
Com os pássaros a chilrear
E com os dias à beira mar a passear
Finalmente a primavera regressa
Com os dias a crescer mais depressa
Sinto-me mais vigoroso
Deixando de ser preguiçoso
Aí vai chegando o verão
Mas que maravilhosa estação
Que ao ver as donzelas a passar
Fico logo com o coração a palpitar
Certo dia vi uma Deusa de cabelo doirado
Ficando imediatamente apaixonado
Voltando a sensação de me sentir amado
No meio da natureza desenhamos corações
Com juras de amor em todas as estações
Em Setembro vivemos um tórrido equinócio
Augurando um excelente início
O renascer da felicidade
Em tão tardia idade
Certo dia aconteceu o inesperado
Ela foi viver para outro lado
Dizendo que tudo estava terminado
Deixando-me completamente desolado
E logo no regresso da nova estação
Que traz melancolia e pouca fé
Em que árvores ficam em pé
Mas as folhas caem ao chão

Ai outono outono
Porque me fazes sempre isto?

Aníbal Seraphim

3) Outono sem se ralar...



Aníbal Seraphim



3) O ESQUILO E A CIGARRA


Andava a cigarra atarantada enterrando as patitas na terra amolecida pelas primeiras chuvas daquele Outono particularmente ameno. Tão ameno fora até então aquele Outono, que a cigarra nem se dera conta de que a azáfama das formigas – sempre tão rigorosas em questões de calendário – terminara havia duas boas semanas, e todos os formigueiros do bosque se encontravam já de portas fechadas na expectativa dos grandes frios. A cigarra foi, assim, apanhada desprevenida, sem comida em casa e, para dizer a verdade, sem casa, pois o buraquito onde costumava abrigar-se para dormir, escavado sob uma raiz de sobreiro, tinha sido alagado por essas mesmas inesperadas chuvas, obrigando-a a proteger-se do mau tempo sob o chapéu de um grande cogumelo branco que uma rabanada de vento acabara por arrancar.
Chorando a sua desdita, foi a cigarra batendo à porta de cada formigueiro conhecido; mas o resultado era sempre o mesmo...
- Formiga, amiga formiga, sou eu, a cigarra do bosque! – implorava, a voz cada vez mais enrouquecida – Todo o Verão cantei para a tua família! Terás por aí algumas migalhinhas que possas dispensar, que estou cheia de fome?
- Tenho muita pena, cigarra – respondia-lhe sem emoção a formiga, do outro lado da porta fechada. – Não te avisámos nós mil e uma vezes que te acautelasses, que a vida não pode ser passada só em cantorias? Não te aconselhámos nós mil e uma vezes a encher a despensa para o Inverno? Vocês, cigarras, não ganham emenda! Todos os anos é a mesma coisa! Passam o Verão a divertir-se, a troçar do nosso trabalho, e depois quando chega o frio, é aqui d’el-rei, que temos fome!
- Eu nunca trocei do vosso trabalho, formiga! – protestou a cigarra na sua voz lamuriosa – Apenas vos disse que devíeis aproveitar um pouquinho a beleza dos dias longos e a suavidade das noites de Verão, em vez de trabalhardes sem parar!
- Pois sim, cigarra; mas aqui não há nada para ti! A nossa comida está calculada para durar todo o Inverno! Somos muitas, e ao contrário de ti, que passaste o tempo a vadiar, temos crianças para alimentar! Além disso, as portas do formigueiro já estão todas trancadas, e só abrimos na Primavera! Vai andando!
E lá se ia arrastando a cigarra de formigueiro em formigueiro, cada vez mais faminta e cansada. A terra amolecida começava a ceder lugar à lama pegajosa à medida que a chuva fininha ia refrescando a terra, emprestando brilhos cristalinos à erva viçosa.
Quando chegou o crepúsculo, a cigarra enfiou o corpo dorido sob um monte de folhas húmidas que o vento arrancara às árvores do bosque, e desatou a chorar.
- Que se passa, cigarra?
A cigarra abriu os olhos, entre admirada e assustada. Tinha diante de si um enorme focinho ruivo que se havia insinuado sob o monte de folhas. Nem o calor da respiração daquele grande nariz escuro a reconfortou, julgando que ia ser comida.
- Por favor – implorou num fio de voz -, não me faças mal, deixa-me morrer em paz!
- E tu queres morrer?! Mas que ideia estranha!
O esquilo – pois de um belo esquilo ruivo se tratava – escavou o monte de folhas, deixando a descoberto o corpo definhado da pobre cigarra.
- Pois não eras tu que cantavas de manhã à noite aquelas intermináveis canções?
A cigarra endireitou as costas ao reconhecer um dos esquilos que moravam num buraco do seu sobreiro.
- Sim, era eu... Desculpa se não vos deixei dormir! Estou tão arrependida!...
- Ora essa! Fizeste aquilo para que Deus te criou, que é espalhar alegria pelo bosque! Mas agora não me parece que te sintas muito feliz! Diria que estás doente...
- É verdade, amigo esquilo, quase perdi a voz! Morro de frio e de fome!
- Porque não subiste a bater à nossa porta?
- Olha, não sei, acho que tive vergonha... Além disso, sempre julguei que as formigas não se importariam de me ajudar.
- As formigas lá têm as suas manias – descartou o esquilo. – Consegues trepar para as minhas costas?
- Para onde me levas?
- Para casa, naturalmente! A nossa toca é quentinha, vais recuperar num instante! Os miúdos vão adorar ouvir-te cantar de novo! Além disso, temos a despensa cheia de bolotas, e quando acabarem, sempre podemos descer a buscar mais algumas! Parece-te boa ideia, vires morar connosco durante o Inverno?
A cigarra desatou a soluçar, comovida.
- Não sei como te agradecer, amigo esquilo...
- Não quero que me agradeças. Deus inventou o Outono para nos ensinar a sermos previdentes, mas acima de tudo, para aprendermos a ser uns para os outros! Vamos! Tens de te por boa para nos cantares canções de Natal!
Dito e feito. E assim, ao longo de todo aquele Inverno, o bosque ressoou com o canto da cigarra, feliz no aconchego do lar da família Esquilo, vizinha do primeiro andar.

Ana Ferreira da Silva


2) caem as folhas, brotam as castanhas


no brilho constante do mar,
nasce uma nuvem de fumo
                       do castanheiro
                       assando as castanhas,
e brilhando no instante
                       de quentes e boas
aí vão os cartuchinhos a soprar a maré.

não muito longe,
amarelas ou avermelhadas
                        ou de outras cores,
                        (que até não existem, no nosso imaginário),
das suas proprietárias, as árvores
são abrasadas pelos ventos
deixando-as como nuas,
e sem que a moral interfira na sua nudez,
vão despejando folha a folha
                         no chão,
os pinheiros, não,

são necessários para o natal.

castanhas e folhas, são a correr
os nossos caminhares,
no outono, ao virar das avenidas,
                        paralelas e brilhantes,
encontramos o devir.

mas ficam as folhas das árvores
e as castanhas assadas, nos imemoriais
                         desta caminhada.
Joaquim Armindo


1) CHEGOU O OUTONO


É Outono.
De fulvas cores se veste a Natureza,
Tons quentes de lareira acesa;
Bailam ramos ao namoro do vento,
Mil delicadas folhas chovem num momento.

É Outono.
Regressam da escola os meninos,
Cortam a fresca aragem seus risos cristalinos;
Das folhinhas que volteiam colhem braçadas
Muitas e muitas, nas mochilas guardadas.

- Quem fará a maior grinalda,
E a mais bela, para a sala de aula?
- Grande surpresa faremos à mestra!
- Na escola amanhã, será dia de festa!

É Outono.
Já sobre o mar o Sol boceja,
E a Terra a adormecer preguiçoso beija;
E pelo bosque úmbrio, em cada cantinho,
Bolotas e cogumelos nos acenam, e castanhas para o S. Martinho.

Ana Ferreira da Silva


domingo, 10 de novembro de 2024

Livros para o Natal

 

Livros para o Natal

Neste Natal não deixe ninguém sem prenda. Os livros de Natal, para miúdos e graúdos, em Prosa ou em Poesia, são uma excelente aposta.

Juntamos todos os títulos aqui, para uma melhor organização. Os livros estão disponíveis na nossa loja online, e em todas as principais plataformas nacionais e internacionais.

Na nossa loja tem a possibilidade de ter os portes grátis em Portugal continental para compras de valor igual ou superior a 50€, tendo também a possibilidade de fazer múltiplos envios e já com os livros embrulhados.

Visite a nossa loja online ou contacte-nos em loja@tecto-de-nuvens.pt para encomendas ou mais informações.

As promoções que possam estar a ser aplicadas a parte ou à totalidade dos livros no momento do seu contacto ser-lhe-ão comunicadas.

Boas Festas!

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Novo livro para o Natal em pré-lançamento: "Na noite de Natal - Colectânea de Poesia de Natal -"

 E, mais uma vez, o Natal se aproxima e, como tal, é ocasião de apresentarmos a nossa tradicional colectânea de Natal, este ano dedicada à Poesia.



Ouvimos muito que o Natal está já esgotado, já se disse tudo o que havia a dizer. Será? Talvez não haja mais para dizer, mas talvez ainda esteja tudo por viver, o Natal deste ano será a memória dos próximos, será mesmo que já está dito, já estará mesmo vivido? (…).

Entretanto, e para inspiração temos este livro (…) belos poemas, boas reflexões, excelentes memórias e melhores propósitos.

 

 

Na noite de Natal – Colectânea de Poesia de Natal -; Vários autores; 68 páginas, capa mole; Tecto de Nuvens, 2024

PVP: 9,00€

 

Packs promocionais válidos até 17 de Novembro 2024:

 

Pack de 10 livros (40% de desconto) = 90€ - 54,00€
Pack de 5 livros (30% de desconto) = 45€ -31,50€
1 livro (25% de desconto) = 9€ - 6,75€

A este valor acrescem portes. Encomendas para  Portugal continental de valor igual ou superior a 50€ têm portes gratuitos. Podemos enviar para vários endereços.

Faça a sua encomenda enviando email para loja@tecto-de-nuvens.pt


terça-feira, 5 de novembro de 2024

Regressam os Desafios: " Caem as folhas" (Outono) + S. Martinho

 




Estão de regresso os desafios e, muito apropriadamente, retomamos com um que fala da mudança de estação. Este é um desafio reciclado (ou renovado, se quiserem considerar o Outono) do anos anteriores. "Caem as folhas" continua a ser o nome do desafio que andará à volta destas folhas, sejam as das árvores ou outras, que caem e se renovam. Podem trabalhar o Outono, a inspiração, os ciclos da vida, etc.
O desafio volta a incluir as opções conto (pequeno), fotografia/desenho e, claro continua a poesia. Podem participar com mais do que um trabalho.
Podem começar, de imediato, a enviar trabalhos. Os trabalhos serão publicados no blogue no dia 11 de Novembro.
E porque o tempo quente se prolongou e como tal só agora nos vamos dedicar ao Outono, escolhemos publicar o Desafio no dia de S. Martinho, um clássico de Outono/Inverno, uma festa com colorido e calor.
Como tal, abrimos também a possibilidade de participações com as populares quadras dedicadas à festividade, combinando assim dois Desafios habituais. No entanto, o Desafio não se fica pelas quadras, pois não é exclusivamente um desafio de S. Martinho. Simbolicamente, o S. Martinho marca uma última oportunidade para festas de exterior antes de entrar o frio e o Inverno. O desafio é, pois, escrever ou sobre os últimos dias de bom tempo ou sobre os primeiros dias de frio, ou sobre os dois, ou memórias de S. Martinho.
Prosa ou poesia, memórias ou ficção. Estilo livre.
Concluindo, a 11 de Novembro 2024 publicaremos textos ou imagens sobre a mudança da estação (simbólica ou literal) em "Caem as folhas" e/ou mais especificamente escrever sobre os primeiros dias de frio ou os últimos de calor com o pretexto de festas como o S. Martinho que marcam a transição da vida do exterior para a do interior. Como bónus para os leitores também poderemos ter quadras de S. Martinho.
Os autores podem escrever sobre qualquer das temáticas e com quantas participações quiserem. Aceitamos trabalhos até ao final do dia 10 de Novembro.
Do dia 11  até ao dia 30 de Novembro 2024 estarão abertas as votações para o trabalho favorito. O vencedor receberá um prémio (a divulgar aquando da publicação do desafio).
Só contaremos os votos dos votantes que se identificarem, podem votar como anónimos mas depois deverão enviar um email para um dos endereços fornecidos e indicando o número que lhes foi atribuído. Os votantes entrarão num sorteio para receberem uma lembrança, também a divulgar.
E assim, abrimos oficialmente o regresso à rotina e à escrita.
Bom trabalho!

Envie os seus trabalhos para geral@tecto-de-nuvens.pt ou tectodenuvens@hotmail.com



terça-feira, 22 de outubro de 2024

Votação para o texto favorito do livro "Uma viagem de férias"

  Vote no seu texto favorito e ganhe um conjunto de duas canecas com a ilustração da capa e 1 conjunto de 10 postais iguais à capa do livro…







Para votar recorte esta página e envie para: Tecto de Nuvens, Rua Camilo Pessanha, 152; 4435-638 Baguim do Monte.
Por sms (terá de incluir os seus dados completos para receber o prémio) para 960131916.
Por email para geral@tecto-de-nuvens.pt com o título: Melhor texto colectânea de férias.
Aceitamos votações até 15 de Novembro de 2024 (data do email, sms ou carimbo do correio). A todas as participações será atribuído um número, por ordem de chegada. – Serão excluídas as participações que não tragam os dados necessários para o envio do prémio -.
O vencedor do melhor texto será anunciado no blogue “Notícias das Nuvens” e nas redes sociais de todos os autores participantes nesta colectânea.
O vencedor do passatempo será aquele cuja participação tiver o número (ou terminação de número) igual ao do número da sorte do sorteio do Totoloto de 20 de Novembro de 2024.
- A seguir ao sorteio do Totoloto será sorteado um participante de entre todos os que tiverem número ou terminação de número (caso haja mais do que um) igual ao sorteado para o Totoloto, e esse será o vencedor. -
A todos os participantes que nos facultarem o endereço de email comunicaremos o número atribuído à chegada. Tentaremos fazer o mesmo com os sms, mas é mais prático com endereços de email.
Também o vencedor deste passatempo será anunciado no nosso blogue e nas redes sociais dos autores, a partir da segunda-feira seguinte ao sorteio do Totoloto.
Obrigada pela sua participação.