Antes de mais gostaria de agradecer pela oportunidade que me estão a dar ao puder participar nesta entrevista.
Desenho desde criança, desde que tenho consciência da minha existência para dizer a verdade.
Observava a minha irmã que desenhava já muito bem com tenra idade e como irmã mais nova punha-me ao seu lado tentando obter o mesmo resultado.
Recordo-me que nos meus desenhos havia várias janelas, luas, prendas, estrelas e sois.
Era e continua a ser mágico.
Qual o papel do desenho (e da arte em geral) na sua vida?
A arte tem toda a importância para mim e na minha opinião para o mundo.
De uma forma geral, para mim, é uma fonte de inspiração, tem vida e, às vezes, nem sei de onde provém. Neste caso, o desenho é uma forma de transmitir o que vai no meu pensamento, o que vai dentro do meu mundo interno e que gostaria cada vez mais de exteriorizá-lo para a nossa realidade “terrestre “assim como partilhar com quem aprecia também o que eu considero belo.
Como é que faz a ilustração de um livro? É um processo “técnico” (no sentido de regras, equilíbrios...) ou mais intuitivo/emocional (do género “consigo visualizar esta cena”)?
Tento visualizar uma parte da ilustração recorrendo a músicas e do que consigo visualizar passo para o papel ou anoto as ideias a seguir para não me esquecer.
Eu diria que é mais intuitivo pois procuro ter inspiração para o que faço. A seguir posso vir a colocar algumas técnicas nas ilustrações embora dê mais ouvidos ao que é intuitivo.
Falando especificamente das duas versões do livro “Amigo meu, meu amigo é?”, qual é a sensação que tem ao ver, agora, os livros, já prontos, nas mãos?
É uma sensação muito boa, não pensava que teria esta oportunidade para ser franca embora no meu íntimo sentisse que um dia, seria o dia. Estou realmente muito grata por esta oportunidade pois após a conclusão do livro o sentimento de realização é gratificante e de uma verdadeira gratidão para com a escritora Nina Pianini e todos a quem me deram força para avançar.
Fale-nos um pouco sobre o ilustrar deste livro. Foi fácil, intuitivo?
Se dissesse que fosse fácil não estaria a ser sincera.
Foi um desafio para mim, embora consiga imaginar as cenas e por vezes serem tão claras na minha mente, passar as mesmas para uma ilustração é sempre um desafio.
Existe alguma parte de cada um deste livro, em particular, que a toque mais. Porquê? Influenciou o estilo/escolha do traço?
Sim, na minha opinião a mensagem do livro é profunda e no entanto pode ser interpretada de várias maneiras entre várias pessoas, contudo, fala sobre algo precioso e que tantos nós necessitamos neste mundo, o amor de uma amizade sincera, uma amizade que se encontra sempre por perto e dentro de nós como a do “lápis” que nos acompanha vá para onde formos.
Uma amizade que todos nós deveríamos estar prontos a receber, assim como também oferecer a nossa amizade a quem precisa.
Isto é algo de muito puro num mundo como o nosso porque vamos refletir, o que define uma verdadeira amizade? Na verdade acredito que a resposta está em cada um de nós e que podemos tentar escutar essa resposta.
Indique as razões pelas quais aconselharia as pessoas a ler este livro? O que acha mais apelativo no livro?
É importante sensibilizar as crianças a importância da amizade. É importante a criança ganhar mais esta noção, de ser amigo e na escolha dos bons amigos que o acompanham no decorrer da sua vida. Este livro mostra que a amizade não é oferecida por qualquer pessoa que encontramos ou colega da escola mas mostra que a amizade é oferecida por quem é nosso Amigo.
Considera a arte, neste caso não apenas na perspetiva de um apreciador, mas de alguém que “produz” algo, seja um bordado, uma colagem, pintura, desenho, tocar um instrumento, etc, como sendo sempre uma atividade (até na perspetiva de “escape”) recomendável e positiva? Ou é apenas se a pessoa for boa na sua realização? Ou pode ser benéfico mesmo que o resultado final não seja digno de ir para o Museu? Acha que há mérito no processo por si só?
Na minha opinião, considero que a arte esteja em vários lugares e em várias ocasiões da nossa vida. Vejo arte de quem dança, vejo arte num fotógrafo quando fotógrafa uma fotografia ou um quadro pintado, a arte está numa flor, nos veios de uma planta, numa gota de água resistente pendurada, na fé das pessoas, no que é divino, vejo arte na água e nas cores da chama de uma vela.
Um bordado, trabalhos manuais, cerâmica a música, tudo isto faz parte do mundo artístico e tudo se conjuga. É uma forma de expressão e enaltece o sentido da vida.
Sou da opinião que toda as pessoas deveriam ser encorajadas a expressar a sua criatividade, seja por escrita, por escultura, por bordar ou tocar um instrumento musical. Não é só no museu que é bonito ou necessário expor a arte, a expressão artística de cada um é válida e pode conduzir a novas ideias e emoções, desenvolve a parte criativa do ser humano, pode ser terapêutico e trabalhar a autoestima da pessoa, é refrescante e ajuda a não esquecermos as crianças que todos temos dentro de nós. Não temos que ser iguais, cada um pode desenvolver a sua criatividade à sua maneira. Com isto tudo acredito que a arte tenha influência para um mundo melhor.
Tem mais projetos em mãos? Ilustrar livros é algo que gostaria de continuar a fazer?
Para já, o que posso dizer é que pretendo melhorar. Estou longe da onde quero chegar e com isto quero dizer que sim, pretendo continuar e de obter mais projetos daqui para a frente. Espero realmente um dia perceber este mundo que está em mim e de tentar perceber como poderei mostrar o mesmo através das minhas ilustrações assim como perceber o mundo de quem escreve e dar formas às suas histórias.
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