Já tínhamos tido oportunidade de falar com a autora aquando da sua participação na colectânea "Heróis e heroínas da Bíblia - como tu-" em que participou com o conto «Pedro Regueifas e o sonho que muda tudo» baseado na história de José do Egipto. Desta vez falamos com ela a propósito do romance contemporâneo "A ditadura das árvores" lançado aquando do solstício deste inverno.
Deixamos então que seja a autora, nascida em Viseu há 55 anos, a explicar-nos a escolha do tema e o que podemos esperar desta leitura e, em particular, qual a resposta para a pergunta colocada na capa do livro "O que acontece quando as árvores se resolverem vingar?".
Laura Ramos, por voz própria e na primeira pessoa:
Fale-nos um pouco sobre o seu novo livro.
Trata-se de um livro deste tempo e
para este tempo. Vivemos tempos desafiadores em que a Natureza dá sinais de exaustão
e a humanidade continua a não fazer as mudanças necessárias para apaziguar
esses sinais.
É uma história de amizades,
encontros e desencontros, de famílias e interacção entre meios sócio-económicos
diferentes, mas com um denominador comum: a distração de todos, ou melhor, de
quase todos, em relação aos sinais da natureza.
Indique as razões pelas quais aconselharia
as pessoas a ler (ou dar a ler) o seu livro?
É um livro de fácil leitura,
adequado a quase todas as idades, actual e que lembra o leitor sobre a
importância de estar atento às questões ambientais e, ao mesmo tempo, explora a
condição humana nas relações interpessoais.
Este livro aborda questões muito
pertinentes na contemporaneidade: ecologia, natureza, vida na cidade, vida no
interior… Acha que a reflexão tem lugar no entretenimento; a literatura pode
continuar a ser um escape mesmo quando nos faz pensar em questões sérias? E sem
adiantar muito da história, relendo agora o livro, também fica com medo desta
“vingança das árvores”?
A
literatura, para mim, além do entretenimento e relaxamento que proporciona, pode
servir para evocar as características da época em que a história se desenvolve,
servindo de testemunho de modos de vida de um tempo e fazer o leitor pensar
sobre questões relevantes como as que hoje se nos deparam.
Temos de começar a pensar que o
progresso tecnológico não pode servir propósitos de mera ganância ou a
humanidade corre o risco de pagar um preço elevado. Tem de se abandonar a
expectativa de que determinados erros apenas vão atingir alguns, como por
exemplo a exploração desenfreada de minérios que, numa primeira linha, afecta
as populações das imediações, mas posteriormente acaba por atingir a
alimentação de todos os demais, ou seja, temos de aprender a procurar o Bem
comum.
Sim, também temo que a natureza se
vingue da humanidade e nos confronte com situações cada vez mais perigosas e
sobretudo estranho esta forma automática de o ser humano percorrer um caminho destrutivo
sem conseguir parar ou reverter.
O romance contemporâneo, com o seu olhar
para questões sociais, políticas e outras, é algo que lhe agrada? É um género a
que tenciona voltar?
Não
faço questão de enveredar, nos meus livros, por questões políticas como
objectivo, mas sim de encarar com o máximo possível de bom senso as
problemáticas que hoje atormentam a humanidade, independentemente dos juízos
políticos que possam suscitar.
A minha observação é mais
primordial, na medida em que prefiro observar a realidade à luz da dicotomia
entre o Bem e o mal e não de ideologias políticas.
Tem mais projectos para livros?
Actividades?
Tenho
uma Trilogia da qual escrevi apenas o primeiro volume, mas de momento não penso
continuar.
Tenho um conto cuja edição se tem
atrasado por conta de ilustrações e questões práticas.
Gostava de escrever uma biografia
de alguém com visibilidade no mundo.
Sem prejuízo de poder vir a fazer
uma abordagem diferente à escrita, por ora, só penso escrever quando tiver uma
história suficientemente forte que justifique ser transposta para livro, ou
seja, não criar personagens para elaborar uma história, mas deixar que a
história me encontre ou que as personagens surjam de modo livre, sem o meu
pré-determinismo. Essa liberdade, essa espontaneidade, é o que mais aprecio quando
passo para o papel.
A ditadura das árvores – romance contemporâneo -; Laura Ramos; 214 páginas, capa mole; Tecto de Nuvens, 2024, PVP: 16,00€Para quase todos nós a natureza “simplesmente” está lá, algures no seu sítio, estática, presente; não reparamos nela enquanto andamos preocupados com os estudos, as profissões, os relacionamentos, o estatuto social, as frivolidades... Tal e qual como as personagens de “A ditadura das árvores”, que nem mesmo com os avisos refletiram sobre a natureza, os seus problemas, os abusos que sofre… E não foi por falta de alertas fossem da própria natureza, de uma criança que afirma que as árvores e os elementos falam com ela; de um jovem pastor que lê a natureza como se fosse um livro; ou de um jovem sacerdote, de uma aldeia do interior, que tenta alertar os seus paroquianos para os muitos atentados contra a natureza e contra a humanidade. Tudo foi ignorado, tudo foi alvo de chacota e divertimento. Até ao dia em que as árvores se resolveram vingar...
Livro disponível nas principais plataformas online nacionais e internacionais e na nossa loja online.
Leia ou releia a outra entrevista com a autora
aqui.