Adão era um homem muito especial, passava a vida a ajudar os outros. Tinha mil e uma atividades: andou em aventuras pela Europa fora com grupos musicais, fazia teatro, escrevia para revistas, jornais e outras coisas tais. Fazia exposições de fotografia em que gostava de partilhar a sua magia. Tinha um grande problema: O trabalho diário consumia-lhe toda a energia num muito intenso dia-a-dia.
Tinha um grande amor pelas artes e uma enorme paixão por tudo o que era cultura. Amava muito a sua família mas prematuramente foram desaparecendo e formando estrelas no céu.
Amava todos os que sempre estiveram do seu lado e que em certas alturas da vida o ajudaram. Amava tanto a vida e era extremamente sensível. Tão sensível, mas tão sensível que quando alguém lhe contava alguma alegria, ficava sempre com uma lágrima de felicidade a escorrer pela face.
Andava sempre de sorriso aberto, e todos os que o conheciam diziam que ele deveria ser uma pessoa a quem a vida lhe correria muito bem.
Com quem no passado com ele privaram, pensavam que com tantas atividades andava sempre rodeado de amigos e que nunca lhe deveria faltar companhia.
Mas… Sofria por dentro e muitas vezes o que chorava era o coração. Sofria por dentro porque afinal não tinha companhia. Sofria por dentro porque lhe faltava uma companheira de cumplicidade. Sofria por dentro porque faltava o grande amor da sua vida.
No dia de São Valentim fazia questão de ir jantar sozinho, porque amor é: Saber viver com o amor-próprio. Amor é: Amar a vida como ela é. Amor é: Amar à distância e lembrar-se dos mais necessitados com quem ao longo da sua vida teve oportunidade de os amar nem que fosse por um breve instante e com simples gestos e atitudes.
14 de Fevereiro de 2025… Venha mais um jantar sozinho cheio de amor no coração.
Aníbal Seraphim
(12) Vida de amor
Acordar e ser grato por mais um dia
Tomar o pequeno-almoço em boa companhia
Sair de casa para aproveitar o sol em harmonia
Caminhar pelo jardim e ver as crianças cheias de energia
Regressar a casa pleno de satisfação
Almoçar sendo grato pela refeição
Refletir sobre uma vida de trabalho e agora viver da pensão
Dar graças por chegar à reforma e ter cumprido uma missão
Pensar no verão que está a chegar
Começar a refletir para onde se irá viajar
Ir de carro para a serra ou ir de barco em alto mar
Será a escolha que o destino ditar
Dar mais um passeio com a velha companheira
Dando-lhe sempre a mão para atravessar a passadeira
É-lhe grata por ter sido uma cúmplice à maneira
Ter sido o seu sol no nabal e a chuva na eira
Anoitece e sente-se grato por mais um dia
Ficando no sofá a ler um livro em boa companhia
Deitam-se sob uma luz romântica em harmonia
Fazem amor como dois jovens cheios de energia
Aníbal Seraphim
(11) A CANDEIA
Por ti a candeia deixei à janela,
Cuidando que da montanha a verias
- Pouco mais que uma pequenina vela
Face às trevas, ao vento, às brumas frias.
Terno e frágil coraçãozito aceso
Do triste fogo da minha tristeza,
Que todo o meu querer deixei eu preso
À humilde chama da candeia acesa.
Sobre meus olhos a noite desceu,
Cessaram as lágrimas e secaram;
Nos meus lábios poisou um beijo teu,
Muito leve tuas mãos me acariciaram;
E à janela a candeia estremeceu
Quando em sonhos os corações se amaram.
Ana Ferreira da Silva
(10) (Des)amor
Por detrás dos óculos escuros e do jornal da tarde, João observava. Era uma tarde quente, típica do mês de Agosto. Deitou um olhar invejoso aos banhistas que, a poucos metros da esplanada, se refrescavam nas ondas. A areia, dourada e escaldante, parecia implorar ao mar que a inundasse, acalmando assim tanto calor. Só ele não podia, num mergulho, refrescar o corpo transpirado. Não se encontrava na praia para gozar banhos de mar. Estava ali para ver a mulher com o amante. Tinha de ver com os próprios olhos, de contrário não seria possível acreditar.
Um telefonema que recebera horas antes, no escritório, informara-o do comportamento indigno de Ana, na sua ausência. A pessoa amiga (como se intitulara ao telefone) convidara-o a deslocar-se à esplanada, na praia de S. João, onde Ana – a sua Ana – iria encontrar-se com o amante. João não acreditara. Ou, pelo menos, não quisera acreditar. A mulher com quem casara oito anos atrás não seria capaz de uma traição. No entanto… Não lhe dissera Ana que não estaria em casa naquele dia? Onde tinha dito que iria? À praia com uma amiga. Qual a amiga, na verdade? Ela não especificara. E a dúvida começara a atormentá-lo. Por fim, decidira-se e ali se encontrava agora, sob a sombra protectora do guarda-sol colorido, com a garrafa de água já vazia, encoberto pelo jornal (como nos filmes de detectives que ele tanto apreciava), tentando descobrir a figura graciosa da mulher.
Sentia a garganta seca e dispunha-se a pedir nova bebida quando a viu. Encolheu-se por detrás do vespertino. Ana aproximava-se, movendo-se com a elegância habitual,
na companhia de um homem alto, louro e atraente, que João não reconheceu. O vestido leve que Ana usava moldava-lhe as formas esbeltas que João bem conhecia.
Escolhida a mesa, sentaram-se ambos e pediram qualquer coisa que João não pôde ouvir. O vento agitava o cabelo negro de Ana e os seus olhos verdes (como o mar) pareciam a João mais verdes e mais brilhantes. O louro deitava-lhe olhares ardentes, apaixonados. Tocava-lhe o rosto com uma familiaridade chocante. Falava-lhe ao ouvido. João conseguia imaginar o que dizia. Palavras doces, de amor… Não precisou de ver mais. Levantou-se bruscamente e, atirando uma nota para cima da mesa branca, afastou-se a passos largos.
Sentia uma raiva surda, uma dor forte no peito, uma desilusão profunda que lhe dificultava a respiração. Entrou no carro e dirigiu como louco. Como era possível que Ana o enganasse? Não lhe jurara ela fidelidade? Não prometera amá-lo e honrá-lo?
João sentia-se magoado, humilhado, traído.
Entrou no escritório, rubro de indignação. A secretária, morena e bonita, aproximou-se num andar sinuoso.
- Aconteceu alguma coisa, querido?
O olhar suavizou-se-lhe de imediato.
- Um pequeno contratempo, meu amor.
Lígia Dantas
(9) Primeiro Amor
Nascia a manhã.
Espreguiçando seus braços abertos abria o começo.
Teimosa apresentava-se por entre as nuvens do céu, aclarando levemente o céu.
Mas, tal como todos os inícios, germinava lentamente, envolvida em mistério inebriante de um denso nevoeiro espesso escondendo o desabrochar do dia cobrindo os vultos de cinza.
Imperceptível a olho nu, as plantas recolhiam as gotículas de orvalho fresco e os cães faziam suas caminhadas matinais. As rotinas habituais afloravam: as lojas preparavam- se para abrir, os alunos seguiam seu rumo para a escola…
Pela rua abaixo, de perninhas frágeis, seguia cabisbaixo de olhos fixos no chão. Revoltado com a vida, dava pontapés em todas as pedrinhas que ia encontrando. Até que se começou a deslumbrar aquela casa. Seu corpo começou a tremelicar, seu coraçãozito começou a aquecer e um rubor inundou-lhe as faces. Não percebeu o que se passava com ele. O que seria aquilo que sentia?...
À medida que se foi aproximando, seu coração acelerou ainda mais…fazendo brotar de dentro dele sentimentos desconhecidos. Uma incomodativa interrogação não parava de bailar no seu pensamento:
- Será que a vou ver?...
Ao passar em frente da casa, desacelerou o passo. À sua lembrança vinha a sua imagem. Era algo muito precioso que fazia seus olhos ficarem encadeados de amor.
Impressionado com a sua beleza, seus olhos ficavam ofuscados mal a via. Sonhava em olhá-la tempo sem fim…
E fez o que sempre fazia quando por ali passava. Do bolso, gentilmente retirou a maçã docinha. Com a manga da camisola de lã limpou-a carinhosamente até ficar bem luzidia. Esticou-se nas pontas dos pés, esticou o pescoço ampliando seu campo de olhar… e, tremelicante, esticou o braço por cima do pequeno muro para pousar a maçã no lugar ideal para aquela que era a luz dos seus olhos, sussurrando baixinho: “AMO-TE”!
Porém, no preciso momento em que ia pousar a maçã, pressentindo passos na sua
direção, atrapalhou-se e espalhou-se pelo chão. Depressa se recompôs e, ainda atabalhoado, prosseguiu ligeiro, muito encolhidinho e enrolando-se nos livros que levava, temeroso que alguém se apercebesse da sua presença e pior, que soubessem dos seus sentimentos que sentia por ela. “Ai, se houvesse um buraco onde me pudesse esconder…” pensava ele pelo caminho.
- Espera aí…
- Não fiz nenhum mal, não ia roubar nada…- Apressou-se a balbuciar antes que o acusassem.
- Eu sei…apenas queria agradecer-te a amabilidade de dares todos os dias uma maçã.
E a conversa progrediu amena, amável…
Ao verem-no chegar à escola acompanhado, os colegas admirados foram-se aproximando. Toda a turma o rodeou. Sempre o tinham visto aos pontapés e maldisposto insultando todos.
Mas hoje, ele estava diferente!
Da sua boca, só saíam agora palavras de ternura, todas as que possam imaginar… enquanto aconchegava e acariciava com carinho a sua companhia. Verem-no ter aqueles gestos de meiguice e de ternura surpreendeu todos. Pensavam-no incapaz disso...
Era a primeira vez!
A primeira vez que sentia afeto… Inebriado e inundado por essa emoção que transbordava de dentro do seu coração, ele deixou pela primeira vez transparecer a todos o seu sentimento sem medo.
Perante a admiração geral, a ave de um quilo e de quase um metro de altura pousada no ombro dele, abriu a beleza da sua plumagem e fez o seu grito típico “RRAAAK”, articulando de seguida a palavra humana:
- “AMO-TE”!
Um enorme sorriso ternurento se abriu em todos e em coro exclamaram:
- Oh... que amor!
Essa sensação deliciosa de amar que mudou suas vidas.
Por incrível que pareça, desta vez não houve os risinhos habituais de troça que causavam desconforto: “ Estão apaixonados, nha, nha, nha….!” nem sequer a expressão: “Ui, que nojo…” Desta vez, todos se derreteram perante a companhia por
quem ele sentia afinidade e empatia!
- É uma arara-canindé! São das araras mais populares como animais de estimação e eram sinal de riqueza na época dos reis. Foi-me oferecida por uma família brasileira que vai regressar ao Brasil e não tinha com quem a deixar! É oriunda de uma comunidade indígena, diz a lenda que esta espécie animal foi criada pela deusa Arara Encantada que ensinou música, dança, a fala e todo o saber. É dócil e muito inteligente, aprende tudo o que lhe ensino! Basta ouvir uma vez uma palavra para a dizer logo. - Acrescentou o rapaz que tudo sabia sobre ela, visivelmente feliz e com o coração repleto de AMOR!
Era o nascer do Amor…
Nina Pianini
(8) uma estória
era assim. num ano longínquo. há muitos anos. um rapaz entrava num comboio. mas antes perante olhares dos circunstantes. dava um abraço. a uma pessoa que era especial. muitas palmas. porque o abraço foi mesmo apertado. era mesmo um abraço de amor. embora não declarado. na próxima vinda do comboio haveria de ser declarado. com um beijo. lá pelos pinhais e eucaliptos. sim junto a essa escola. e daí começaram as cartas. sim. as cartas do correio. para lá. para cá. quando chegava o comboio namoravam. que é como se diz. levaria três ou quatro meses. até que deixaram de chegar as cartas. do correio. sim senhor.
numa se dizia. nada nem ninguém nos separará. não foi assim. não senhor.
houve alguém que separou. fosse porque fosse. mas separou. e as cartas deixaram de chegar. para que conste não deixou de existir amor. só que foi interrompido. ele era pobre. ela não o era. haveria outro casamento para ela. aprazado. e foi assim que foi interrompido o namoro. como se chamava.
passaram-se anos. ela viúva. voltaram-se a encontrar. ele casado. já não existiam flores no bosque. nem camélias a florescer. os pinhais e os eucaliptos desapareceram. as cartas não chegaram pelos carteiros. carteiros como se chamavam. os senhores que entregavam cartas. só uma coisa nunca desapareceu. nem a um. nem a outro. o amor que sempre os ligou. fica como estória. ou história. no dia dos namorados de dois mil e vinte e cinco.
joaquim armindo
(7) as rosas duma videira
rosas e uvas não são rios e mares,
mas as rosas dão seiva
às uvas,
as uvas dão sabor
às rosas,
assim é o amor, dos namorados.
joaquim armindo
(6) O Amor
De manhã, durante a minha habitual caminhada no jardim da minha rua, cruzei-me com um casal de idade avançada. Encontravam-se ambos junto a um dos aparelhos de exercícios, que felizmente existem um pouco por toda a parte, quando passei por eles em passo apressado para tentar manter a forma e os níveis de colesterol. Consegui ver-lhes o sorriso cúmplice e, quase sem dar por isso, abrandei. Disfarçadamente, observei-os. A senhora erguia para o homem um olhar brilhante, com a cabeça ligeiramente inclinada, num gesto deliciosamente coquete. Riu-se, numa gargalhada breve, suave e inesperadamente jovial. Compreendi que o que lhe provocara o riso tinha sido a atenção que o homem lhe dedicava. Rodeava-a com braços cuidadosos, ainda firmes, e olhar terno, ao mesmo tempo que lhe recomendava carinhosamente para ter cuidado. Ela riu-se novamente, no seu riso de menina, e depois sorriu-lhe. Ele sorriu-lhe de volta. Sem conseguir conter-me, sorri também. Prossegui a minha marcha, mas a minha atenção ficou por lá. Perguntei-me quantos anos teriam de casados. Perguntei-me se a sua união teria sido sempre assim. Encurtei o percurso para poder cruzar-me novamente com o casal, atraída pela cumplicidade que deixavam transparecer. A senhora abandonou o aparelho, com o companheiro ainda a segurá-la e os risos de ambos a chegarem até mim. Vi-lhes o toque carinhoso, os rostos muito próximos. No momento em que, com relutância, decidi voltar a casa, vi-os, surpreendida, despedirem-se. "Até amanhã, minha querida"; disse-lhe ele. "Até amanhã, meu amor", respondeu-lhe ela. Vi-o beijar-lhe o alto da cabeça. Vi o abraço que deram, o último olhar encantador, as mãos que se tocaram, o sorriso à despedida. Vi-os dirigirem-se, separadamente, para a saída. Ela subiu as escadas, devagar, a olhar para trás de quando em vez, a acenar-lhe sempre, até desaparecer pelo portão de ferro forjado. Segui atrás dele, na direcção daquela que seria também a minha saída, na extremidade oposta do jardim. Ao passar pelo homem, olhei-lhe para a mão esquerda. Vi claramente duas alianças, a dele e a de viuvez. Senti o coração amolecer. Pensei que o amor pode assumir muitas formas, que não é afinal exclusivo da juventude, que é possível que aconteça em qualquer fase da vida, sem
perder a beleza e o encanto.
Cheguei a casa e só então percebi que trazia os olhos húmidos.
Lígia Dantas
(5) PERFUME
Ele é o perfume que envolve minha alma
Um aroma doce que nunca se dissipa
Seu toque é o óleo essencial que me faz amar
Sua voz é a nota musical que me faz sonhar
Ele é a essência pura, o extrato de amor
O perfume que me faz sentir, a pérola
Seu beijo é a aplicação suave de candor
Sua presença é o aroma que me faz sentir em casa
Ele é o perfume que me faz vencer
Ele é o ser que me faz sentir amada
O aroma que me faz querer
O perfume que me faz sentir desejada