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quarta-feira, 24 de dezembro de 2025
terça-feira, 23 de dezembro de 2025
Nina Pianini, autora de "Natal em tempo de guerra", em entrevista
Este seu novo livro, é uma estreia no
romance, como é que deu por si a ir para lá do seu género mais habitual, o
conto?
Penso que é difícil domar a veia criativa.
Ela, por vezes, leva-nos para onde a imaginação quer seguir. Foi o meu caso.
Perante o desafio lançado pela Tecto de Nuvens de escrever um “romance de amor” aceitei logo porque
gosto de desafios e de pôr à prova a minha capacidade de escrita. A questão de ser romance, satisfaz-nos a quem
gosta de escrever como eu, porque o conto breve, intenso como uma centelha
ilumina um instante e logo se apaga. O romance deu-me espaço para se ir desenvolvendo
pelas páginas e a possibilidade de acompanhar os personagens na sua dor, na sua
esperança e na sua transformação.
À medida que escrevia, o sopro longo do
romance de amor, pedia espaço, pedia tempo para que o amor nascesse, sofresse e
se reinventasse para além da brevidade. Foi como se as próprias cartas me
empurrassem para lá da fugacidade, obrigando-me a escutar os silêncios entre as
linhas e a dar corpo ao que não podia ser dito em poucas páginas.
Depois de começar a escrever este género
nunca mais parei. Fiquei tão delirante que até escrevi logo 5 romances de amor.
Escrevi cheia de entusiasmo no espaço curto de poucas semanas. No caso do
romance deste livro, o Natal é uma época de encontro e de memória, e quis
cruzar essa atmosfera com uma narrativa histórica que nos toca a todos. A seu
tempo, percebi que tive de me conter, pois por mim alongava-me mais e mais no
desenrolar da ação e a explorar o silêncio entre as linhas. Penso que um autor
quando olha para o seu texto vê-o a ganhar vida e é difícil ter de lhe dar um
fim, quando a vontade era esmiuçar o que ia na alma dos personagens. Mas a
questão do número de páginas obriga-nos a conter a nossa imaginação. Dito isto,
o que quero dizer é que a minha estreia em Romances de Amor alargou meu campo
de visão do que há ainda para escrever, assim como este próprio livro facilmente
se podia transformar numa serie completa com tanto que havia mais para contar.
Esta é toda uma estreia! Natal e romance
histórico! Foi acaso, deliberado?
Como referi, este livro surge no âmbito de
uma proposta da Tecto de Nuvens. Ainda bem que há editoras que nos provocam e
nos incitam a escrever outros géneros para além dos que nós estamos inclinados.
Por tal, o que mais me inquietou foi o arranque inicial por ser um “Romance de
amor”, pois por vezes, os romances de amor caiem na banalidade de estereótipos que
um escritor consciente quer evitar e não cair na redundância do que já todos os
outros autores já escreveram. Um verdadeiro escritor quanto a mim, tem de
explorar outras formas de apresentar a mesma questão, sob outros ângulos... Como
priorizo sempre escrever algo que seja profundo e, principalmente que não seja
“aborrecido” para o leitor, pois valorizo escrever um bom livro com um teor
construtivo para o leitor e levá-lo a questionar. Assim, tinha de ser algo
marcante e, muito naturalmente, senti o ímpeto de escrever relacionando o tema
com uma fase tão difícil que Portugal viveu. A escolha não foi casual: é
precisamente na tensão entre a dureza da guerra e a ternura das cartas que
nasce a força do livro.
E aborda uma questão que muito diz aos
portugueses, a guerra colonial. Talvez não seja a primeira associação que se
faça, mas, com um pouco de reflexão, e até antes das famosas mensagens, faz
sentido que fosse uma época em que soldados e famílias mais sentissem a
distância. Conte-nos como e porquê resolveu escrever este livro, e fazer esta
abordagem?
A guerra colonial é uma ferida que ainda
pulsa na pele da nossa memória coletiva e marcou profundamente várias gerações.
Cresci a ouvir ecos dessa dor, e percebi que só através da literatura poderia
dar corpo ao silêncio dos relatos não contados e memórias não registadas que
ainda hoje ecoam na mente de quem viveu essa época. Enquanto escrevia este
livro, percebi que só através da literatura poderia devolver humanidade a esse
vazio. O livro é uma tentativa de dar voz à distância, ao vazio que se
preenchia com cartas, ao amor que se sustentava na palavra escrita, mostrar que
até na separação mais cruel pode nascer um gesto de amor. É uma forma de
homenagear tanto dos que partiram como os que ficaram. Em simultâneo,
tentei dignificar as cartas de Madrinha de Guerra que, até hoje nunca foram valorizadas pelo seu enorme potencial para o
registo da nossa História Viva e essencial fazer parte do espólio de um Museu
Histórico.
Já romance e cartas, tem tudo a ver… Era impossível,
suponho, escrever um romance sobre a Guerra Colonial sem as madrinhas de
guerra. Ainda assim, não tem ideia de ser uma temática pouco explorada?
As madrinhas de guerra foram pontes invisíveis, mulheres que
seguraram homens à beira do abismo com a força das palavras. Realmente, por ser
um tema pouco explorado, até diria nunca referido, como uma mancha de que não
se quer falar. Por isso, como autora considerei ser tão urgente colocar na
literatura. Ao escrever este romance, senti que lhes devolvia o lugar que
merecem na nossa História: o lugar da esperança, da resistência silenciosa, da
ternura que atravessa fronteiras.
As madrinhas de guerra foram um elo vital
entre o soldado e a vida civil, entre a dor e a esperança. Ao trazer essa
dimensão, quis iluminar um papel feminino muitas vezes esquecido, mas que foi
decisivo.
Houve alguma história, em particular, que a
tenha inspirado?
O conhecimento de existência dessas cartas
chegaram até mim, ainda em jovem, quando um jovem meu vizinho partiu para a
guerra e a quem recusei ser sua Madrinha de Guerra por não perceber o que isso
significava. Só anos mais tarde, vi o erro que cometera quando me apercebi do
terror da guerra colonial pela sua morte e ao saber pela sua mãe do seu
desgosto de não ter nenhuma madrinha de guerra e do quanto teria sido benéfico
para ele receber palavras amigas vindas de alguém conhecido da sua terra. Aprendi
a dar valor às Madrinhas de Guerra ao ouvir relatos de familiares e testemunhos
de soldados. Cartas que nunca ninguém valorizou nos manuais e livros de
História Universal e muito menos está contemplado nos Museus de História Viva
como se fosse algo inútil ou vão. Por isso, espero sinceramente que o meu
romance possa relembrar o que está esquecido para que a história da guerra
colonial fique completa.
Indique as razões pelas quais aconselharia
as pessoas a ler/comprar o seu livro? O que acha mais apelativo nele?
Este romance é uma história de amor e de
sobrevivência, mas também de memória coletiva. O livro fala de dor, mas
sobretudo de esperança, e mostra como até nos momentos mais sombrios podemos
encontrar luz.
Este livro traz algo que o distingue: valoriza o poder da
palavra escrita, fala da capacidade de resistência humana na guerra e o
contributo que as cartas das Madrinhas de Guerra tiveram. A voz das madrinhas
de guerra merece ser escutada, e o Natal continuará a ser um espaço fértil para
cruzar memória, afeto e literatura. Mas
mais do que uma história concreta, foi esse gesto universal de escrever para
alguém distante. Cartas que atravessaram oceanos, que carregaram lágrimas e
promessas. Inspirou-me essa fé na palavra, essa crença de que uma frase pode
salvar um coração perdido no meio da guerra. O facto de acreditar que uma
palavra pode salvar um coração no meio do caos. É esse gesto que quis
eternizar. Este é um livro que fala de amor onde menos se espera: no campo de
batalha, na solidão das trincheiras, na saudade das famílias. O mais apelativo
é essa fusão entre História e emoção, entre a dor coletiva e a esperança
íntima. É um romance que nos lembra que, mesmo em tempos de guerra, a palavra
pode ser abrigo.
Tendencialmente, se verifica certas modas de
que nem sempre o leitor-consumidor se apercebe. Por exemplo, se sai um livro
sobre bibliotecas que se torna famoso, logo outros autores correm atrás a
escrever sobre o mesmo tema ou a meter a palavra no enredo mesmo que seja numa
única página, talvez como forma garantida de que se gostaram daquele livro
sobre bibliotecas, então também vão gostar do seu. Aconteceu isso aqui nos
últimos anos em que fez furor nos EUA,
em Inglaterra, na China e até no Japão. E todos os autores, ditos famosos,
escreviam algo em que metessem a palavra “biblioteca” na capa ou em alguma
página do livro!
Este ano, a moda são os “gatos”! A palavra
“gato” aparece em vários títulos, ilustrações, contos… Por isso, é caso para se
questionar: “Será que o escritor para se tornar conhecido tem de seguir modas?
…” Penso que não, o escritor deve ser atento, observador e critico, é isso que transporto para a escrita. Escrevo
para encantar o leitor, para levantar questões e levar a pensar e, nesse
processo ajudar ao crescimento pessoal. É
uma missão muito mais digna e abrangente. Daí ter escrito este livro “Amor em tempo
de Guerra” sobre algo de que ninguém escreve: o poder das palavras e as cartas
das Madrinhas de Guerra!
Não resisto a perguntar (já sabe o que a casa gasta…): há potencial para mais livros dentro deste género? Seja romances de Natal, seja, porventura, algo deste género, mas pela perspectiva da madrinha de guerra?
Sem dúvida. Para mim, a escrita assume uma importância
vital como a água para beber e leva-me à incessante necessidade de escrever
mais e melhor. Cada vez mais, sou exigente no uso da palavra. Penso que, num verdadeiro escritor há esse
cuidado e aperfeiçoamento para oferecer ao leitor uma obra digna, tal como um
pintor que apresenta sua obra-prima. Ora, este livro, sendo um romance de amor,
possibilitou-me poder aprofundar a qualidade literária fundamental para a minha
creditação literária, abrindo-me caminhos a explorar. Assim, completa-me o
aspeto como o romance, seja de amor como de outros géneros, em que me permite
desenvolver o texto com maior profundidade quer emoções como pensamentos,
promovendo a reflexão. Abre asas de autor para escritor. Valorizo imenso
oferecer ao leitor “escritas significativas”. O aperfeiçoamento literário e a
importância do subjacente ao texto demarcam quando uma “autora” passa a
“escritora”. E tenho a agradecer a todos os meus leitores e editores, que esse
mérito está já a ser reconhecido pela avaliação da minha obra literária que é
apresentada nas pesquisas online.
Quanto a próximas escritas, devo revelar que,
há ainda muito silêncio à espera de ser transformado em palavra. Cada romance é
uma semente e já tenho muitos a germinar, tudo depende das editoras que
investem em nós, pois a imaginação nunca para. A Tecto de Nuvens apoia e dá
incentivo e isso é o que os autores precisam. Neste caso, a Tecto de Nuvens
teve igualmente um papel de destaque ao valorizar a perspectiva da madrinha de
guerra que é riquíssima e merece ser aprofundada, dando a sua aprovação para a
publicação sem a qual não seria possível este livro chegar ao leitor.
Entretanto já escrevi mais duas obras, desta
vez de poesia infantil. E não se julgue que, por ser infantil que é menos
literário, antes pelo contrário. A precisão de palavras, o ritmo, o enredo, os
adjuvantes, o clímax, o desenlace… são alguns componentes que exigem muita habilidade
e concisão literária que nem sempre é reconhecida. Nada mais errado do que
pensar que é fácil escrever para crianças.
Reforço que me preocupo imenso com o que se oferece às crianças para
ler, pois isso irá influir no seu desenvolvimento e na sua postura se gosta ou
não de ler. Tudo tem de ter um rigor literário ainda mais reforçado pela
implicação que vai ter na criança que ainda está em formação. Infelizmente, há no
mercado livreiro, muitas obras infantis e, até prémios de literatura infantil
atribuído a obras, com uma linguagem demasiado infantilizada em que prolifera a
visão romantizada do adulto e não ajudam nada ao desenvolvimento íntegro da
criança. Por isso, ajuda a que um
escritor de literatura infantil tenha algum conhecimento do desenvolvimento da
criança (por ex: dos estágios de Piaget) e responsabilidade em escrever textos
que promovam o crescimento. Assim, quando ser escritor nos corre nas veias,
tanto se escreve prosa, poesia… como até teatro, mas ter sempre a consciência
do que a sua escrita poderá contribuir para o enriquecimento de alguém.
Boas escritas!
Pode obter mais informações sobre o livro aqui.
Pode ler ou reler as outras entrevistas da autora aqui, aqui e aqui.
Livro: "Natal em tempo de guerra", de Nina Pianini
Natal em tempo de guerra - romance -; Nina Pianini
112 páginas, capa mole; Tecto de Nuvens, 2025 PVP: 12,00€
Um romance histórico emocional que atravessa os horrores da Guerra Colonial Portuguesa para revelar a força da palavra, da memória e do amor. A narrativa ficcional fala de Miguel, um jovem recém licenciado enviado para a Guiné-Bissau em abril de 1973, que sofre as amarguras da guerra e sua transformação pelo vínculo através das cartas com Teresa, sua madrinha de guerra, e apoio do povo local o salvará, da solidão e de si mesmo.
A história comovente culmina num reencontro inesperado e numa promessa de paz que se transforma, anos depois, numa fundação dedicada ao bem-estar emocional e à não-violência. O romance é uma homenagem à resiliência humana, à fraternidade entre culturas e à capacidade de cura através da escuta e da escrita.
Disponível na nossa loja online e nas principais plataformas nacionais e internacionais.
terça-feira, 16 de dezembro de 2025
Laura Ramos, autora do livro "Eu, El Rei D. Sebastião, a vós retorno! - edição revista -" em entrevista
O escritor é conhecido pela sua insatisfação, pela vontade de retocar, reescrever, aperfeiçoar, mas também é conhecido pela sua atracção pelo mistério, pelo inesperado, por aquilo que é menos óbvio... Laura Ramos não foge a nenhum destes conceitos e o livro de que agora nos fala é o exemplo disso. O tema fascinou-a, seduziu-a, as circunstâncias permitiram-lhe uma nova edição do livro e, como tal, retocar aqui e ali, sempre na busca da perfeição literária. Fale-nos um pouco sobre o seu novo
livro.
Apenas fiz uns pequenos retoques, mas a história permanece igual.
Indique as razões pelas quais aconselharia
as pessoas a ler (ou dar a ler) o seu livro?
Este livro aborda um dos temas mais
fantásticos, místicos e misteriosos da História de Portugal. O que é que a
levou a abordar esta temática e o porquê da escolha desta teoria (que embora,
provavelmente seja das mais bem suportadas em termos de provas, não é a que a
maior parte dos leitores conhecerá, aqui “conhecerá” como possibilidade e não
como parte do mito)?
E a forma de narrativa, entre lá e cá, o
sonho e a memória? Foi uma escolha natural, intuitiva?
É uma forma de não tornar o livro pesado com pormenores da vida pessoal do rei e das demais personagens, indo buscar as partes que sobressaem na vida das pessoas que um dia estiveram na Terra a cumprir o seu destino e a tecer os fios à nossa meada, enquanto nação. Um livro de História tem de se debruçar sobre tudo, mas um romance vai buscar as partes mais importantes para descobrir as pessoas.
Este livro é uma espécie de híbrido entre o
romance histórico e o especulativo. O ano passado contemplou-nos com um romance
contemporâneo “A Ditadura das Árvores”, o romance é a sua forma de comunicação
preferida? É um género a que tenciona voltar?
Tem mais projectos para livros?
Actividades?
Sim, tenho
algumas ideias de histórias que gostaria de transformar em romances. Dá-me
prazer criar personagens diferentes e que tenham personalidade própria e deixem
algum legado aos leitores.
Creio que não
vou parar por aqui.
domingo, 14 de dezembro de 2025
Filomena Costa, autora de "Sebe, o Gnomo", em entrevista
A mais recente edição do Prémio de Conto Infanto/Juvenil Tecto de Nuvens produziu não um, mas dois segundos classificados. Ambos com a particularidade de se passarem em florestas com figuras "míticas" e magia (da boa) e também, posteriormente, com ambos a serem ilustrados pelas próprias autoras. Conte-nos como e porquê começou a escrever,
por paixão ou por necessidade?
As histórias
estiveram sempre presentes. Desde muito pequena escrevia, ilustrava e "editava" os meus ‘livros’ que oferecia aos amigos, à família, às professoras. A estória
mais antiga que recordo, porque a minha professora primária, a D. Ilda, quis
ficar com ela, foi a aventura de um patinho que se atreveu a entrar numa
‘grota’ escura, onde vivia um monstro que lhe gritou, com uma voz de fazer cair
as penas: sai daqui patinho bisbilhoteiro!
Qual o papel que a escrita ocupa na sua
vida?
Faz parte intrínseca do que sou. As histórias
estão por toda a parte e chamam-me. Desde os pássaros, pousados no cabo
elétrico que atravessa a estrada, no caminho para o trabalho; o velho frágil,
de olhar perdido, sentado numa cadeira, junto à porta que abre direto para a
rua…
Sempre sonhou publicar um livro?
Em criança,
sim. Quando entrei na adolescência e durante boa parte da vida adulta, a
escrita tornou-se necessidade primária, como comer ou dormir. Era algo que
tinha de fazer, que gostava de fazer, mas não sentia vontade de expor, ou
partilhar. Mesmo quando participava em concursos literários, o que me motivava
era o desafio, o pretexto para criar.
Qual é a sensação que tem ao ver, agora, o
seu livro nas mãos? E em relação às ilustrações da capa e do miolo, que são
suas?
A sensação de voltar aos seis anos e ter, finalmente, conseguido concretizar aquele desejo de transformar as ideias em palavras e imagens que se podem partilhar com os outros. Muito bom!
Tem algum projecto a ser desenvolvido,
actualmente? Pensa publicar mais algum livro? Continua a sentir vontade de
escrever?
Neste momento está em fase de edição um texto
que venceu, este ano, o prémio literário Mariano Gago, de ficção científica e
será publicado em breve. Estou ainda a escrever um conjunto de contos pensados
para aplicar a sessões de Filosofia para Crianças.
Fale-nos um pouco sobre o seu livro.
Sebe, o Gnomo é um jovem centenário cheio de
personalidade e certezas. Descobre, da pior forma, que as ações têm
consequências e que nem mesmo os gnomos podem viver sem os outros.
Existe alguma parte do livro, em
particular, que goste mais. Porquê?
Gosto sobretudo da relação
entre a sílfide, Nectarina, e Sebe. Estabelece-se entre eles uma amizade
verdadeira que podemos apreciar nos pequenos gestos e nos diálogos.
Indique as razões pelas quais aconselharia
as pessoas a ler o seu livro? O que acha mais apelativo no seu livro?
A história é
simples, fácil de ler que toca questões fundamentais: a resiliência, a amizade,
a empatia, o respeito pelos outros e pela natureza.
Qual é o seu estilo de escrita ou que tipo
de mensagem gosta de passar no que escreve?
Por estranho
que pareça, ou não, sinto que a minha escrita se bifurca, consoante mergulho no
universo infantil, ou escrevo para adultos. Quando escrevo para o público
infantil assumo o espanto, a curiosidade, a esperança nas soluções loucas,
inesperadas e sempre divertidas. Há
sempre uma forma de resolver os desafios, com a ajuda dos outros, boa
disposição, alguma magia e vontade de aprender.
Qual o papel das redes sociais na vida e na
divulgação da obra de um autor? E na sua?
Confesso que não sou grande apreciadora das redes sociais, o que certamente não é boa estratégia, enquanto autora.
Gosta de ler? Que tipo de leitor é que é?
Adoro ler. Já fui uma leitora voraz, capaz de
ler em qualquer lugar e não deixar o livro a meio. Hoje, a disponibilidade de
tempo já não é tanta e necessito de um espaço calmo, em confusão, para poder
apreciar a leitura. Continuo incapaz de deixar a leitura a meio.
Pode saber mais informações sobre o livro aqui.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2025
Helena Ferreira, vencedora do 2º Prémio de Conto Infanto/Juvenil Tecto de Nuvens, em entrevista
Não sei quem fica mais nervosa na hora do telefonema a comunicar a vitória do Prémio, se eu, se as vencedoras, provavelmente eu... Elas, após o choque inicial, mostram o talento que se encontrou na escrita, o mesmo entusiasmo, o mesmo poder de atracção para o enredo vencedor. A Helena Ferreira não foi excepção e logo contou que tinha escrito a história para a neta (naturalmente, não fazia parte do texto avaliado pelo júri, mas no final do livro - nas notas finais - encontram o "diálogo" entre avó e neta sobre este livro, acabado de ler pela avó) e de alguma forma, dei por mim, de novo a viajar por aquele bosque mágico. Esta primeira pergunta não é 100% original, mas ainda
só a perguntámos uma vez… Foi a vencedora do Prémio de Conto Infanto/Juvenil
Tecto de Nuvens (2025)- a segunda pessoa a ganhar este Prémio - qual foi a
sensação de ter sido o seu conto o escolhido?
Foi uma sensação absolutamente indescritível! Quando recebi a notícia,
senti uma mistura de alegria, surpresa e uma profunda gratidão. Este prémio tem
um significado especial porque representa o reconhecimento de uma história que
nasceu do meu amor pelas palavras e pela leitura. Saber que o júri viu valor na
mensagem que quis transmitir - sobre a importância de preservar as palavras e o
poder da leitura - foi emocionante. É como se a própria Beatriz, a minha
personagem, tivesse conseguido cumprir a sua missão também no mundo real.
Conte-nos como e porquê começou a escrever, por paixão
ou por necessidade?
Comecei a escrever
por paixão absoluta. Desde pequena que as palavras exercem sobre mim um
fascínio quase mágico. Sempre acreditei no poder das palavras para transformar
o mundo. Escrevi o meu primeiro livro infantil, "Lénita e o Principezinho
Coração de Prata", em 2008 para a Francisca, e isso abriu uma porta que
nunca mais fechei. A escrita não é uma necessidade no sentido prático, mas sim
uma necessidade da “alma” - é a minha forma de conspirar histórias e de
acreditar que posso fazer a diferença, especialmente na vida das crianças.
Qual o papel que a escrita ocupa na sua vida?
A escrita é o meu refúgio e a minha
revolução. Vivo entre pilhas de livros e passo o tempo a conspirar histórias. A
escrita para crianças, em particular, é a minha forma de manter viva a magia
num mundo cada vez mais caótico. É onde consigo fundir o meu lado académico com
o meu lado sonhador, onde posso ser simultaneamente rigorosa e fantasiosa.
Também gosto de escrever contos e, por vezes, aventuro-me na poesia e na
dramaturgia. Ainda não desisti de terminar um romance que iniciei há muitos
anos. Vamos ver…
Sempre sonhou publicar um livro?
Não diria que
"sempre", mas desde que descobri o prazer de contar histórias para
crianças, sim. O sonho ganhou forma quando percebi que as histórias que
escrevia podiam ter vida para além do momento da leitura, que podiam chegar a
outras crianças, outras famílias. Cada livro publicado - "Lénita e o
Principezinho Coração de Prata" (2008), "Ti Manel Xeringa"
(2011), e agora "O Bosque das Palavras Perdidas" (2025) - é a
concretização desse sonho renovado.
Qual é a sensação que tem ao ver, agora, o seu livro
nas mãos?
É uma sensação
surreal e maravilhosa. Ver "O Bosque das Palavras Perdidas: Porque todas
as palavras são importantes!" materializado, com as belas ilustrações da
Mariana Manaia na capa, é como ver um sonho ganhar corpo. Mas o mais
emocionante é imaginar as mãos de crianças a folhearem estas páginas, os seus
olhos a descobrirem a história da Beatriz e a Árvore das Palavras. É saber que
estas palavras que escrevi vão voar para outros corações e, quem sabe, inspirar
novas gerações de leitores e escritores.
Tem algum projecto a ser desenvolvido, actualmente?
Pensa publicar mais algum livro? Continua a sentir vontade de escrever?
Absolutamente! A
vontade de escrever nunca desaparece. Tenho sempre histórias a fervilhar na
cabeça, personagens que me visitam em momentos inesperados. Entre o stress do
quotidiano, as histórias continuam a aparecer. Quanto a projetos concretos,
prefiro deixá-los amadurecer um pouco antes de os revelar, mas posso garantir
que há mais aventuras a caminho. As crianças merecem histórias que as façam
sonhar e acreditar que podem mudar o mundo.
Fale-nos um pouco sobre o seu livro.
"O Bosque das Palavras Perdidas - Porque todas as palavras são
importantes!" conta a história de Beatriz, uma menina de nove anos que
descobre que as palavras estão a desaparecer. Não apenas dos seus cadernos, mas
da própria realidade - as pessoas deixam de as ouvir e de as ver. Na sua busca
pelas palavras perdidas, Beatriz encontra a Árvore das Palavras, uma árvore
mágica que guarda todas as palavras que alguma vez existiram, e Luna, a Guardiã
das Palavras.
É uma metáfora
sobre o que estamos a perder na era digital - a riqueza da linguagem, o prazer
da leitura, o poder das histórias. Mas é também uma história de esperança, que
mostra como uma criança corajosa pode fazer a diferença. Através da leitura, da
partilha de histórias e da valorização das palavras, a Beatriz consegue salvar
a Árvore e inspirar outros a redescobrirem a magia da linguagem.
Existe alguma parte do livro, em particular, que goste
mais. Porquê?
Tenho um carinho especial por dois momentos. O primeiro é quando a Beatriz
descobre a Árvore das Palavras pela primeira vez - essa sensação de
maravilhamento, de descobrir algo mágico e precioso. Tentei capturar aquele
momento em que uma criança percebe que há mais no mundo do que aquilo que vê à
superfície.
O segundo momento
é o serão de histórias em família, quando Beatriz conta aos pais a história que
acabou de viver (sem revelar que era real). É um momento de intimidade, de
redescoberta, de ligação. Os pais, absortos no quotidiano stressante,
redescobrem o prazer de simplesmente escutar. É isso que quero que este livro
inspire - momentos de partilha, de presença, de magia simples.
Indique as razões pelas quais aconselharia as pessoas
a ler o seu livro? O que acha mais apelativo no seu livro?
Aconselho a leitura deste livro porque ele fala
de algo urgente e essencial: a preservação da linguagem e do amor pela leitura
numa era de hiper-conectividade e comunicação simplificada. É um livro que:
·
Para as crianças: É uma aventura mágica que as faz sentir-se poderosas, mostrando que
podem fazer a diferença
·
Para os pais e
educadores: É um lembrete suave, mas
poderoso sobre a importância de cultivar o amor pelas palavras
·
Para todos: É uma celebração da linguagem, das histórias e do poder transformador
da leitura
O mais apelativo, creio, é que não é um livro
que prega ou moraliza. É uma história genuína, com magia, aventura e emoção,
que naturalmente inspira os leitores a valorizarem as palavras.
Não resisto a perguntar isto: a personagem principal
concorreu com este livro a um Prémio literário e ganhou-o. O que foi isso?
Manifestação de um desejo? Futurologia? “Hipnose” para o júri?
Essa é uma pergunta deliciosa! E, fez-me rir. Quando
escrevi a história, a Beatriz já tinha essa jornada completa na minha mente -
incluindo o facto de ela se tornar escritora e ganhar um prémio. Foi, talvez,
uma manifestação de um desejo profundo: que as histórias sobre a importância
das palavras sejam reconhecidas e celebradas.
Mas confesso que quando o meu próprio livro ganhou o Prémio Tecto de
Nuvens 2025, senti um arrepio. A vida imitou a arte, ou a arte antecipou a
vida? Prefiro pensar que foi a magia das palavras a funcionar - essa mesma
magia sobre a qual escrevo. As palavras têm poder, e quando as usamos com
intenção e amor, coisas extraordinárias podem acontecer.
A acompanhar este livro há um eBook. Fala-nos sobre
ele e como pode ser não só vantajoso, como adaptável, para pais e educadores.
O guia que acompanha o livro é, na verdade, um
prolongamento da experiência da leitura. Chama-se "Guia para Pais e
Educadores - O Bosque das Palavras Perdidas" e está disponível
gratuitamente em formato digital, para quem adquire o livro.
Este guia oferece:
·
Atividades práticas inspiradas na história (como criar a
própria Árvore das Palavras em casa ou na sala de aula)
·
Jogos de palavras para dinamizar o amor pela linguagem
·
Sugestões para serões de histórias em família
·
Ideias para clubes de leitura
·
Rituais de leitura e escrita criativa
O que o torna
especial é a sua adaptabilidade. Não é prescritivo - oferece ferramentas que
pais e educadores podem adaptar às suas realidades, idades das crianças e
contextos. Pode ser usado em casa, na biblioteca, na escola, em ATLs. A ideia é
democratizar o acesso a formas criativas de manter as palavras vivas, tal como
a Beatriz faz na história.
Qual é o seu estilo de escrita ou que tipo de mensagem
gosta de passar no que escreve?
Não
sei se tenho um estilo. Para ter um estilo era necessário que me considerasse
uma escritora. E sinto-me apenas como uma aprendiz. Digamos que na escrita para
crianças, procuro equilibrar a magia com a realidade emocional. Gosto de criar
mundos fantásticos - como o Bosque das Palavras Perdidas: Porque todas as
palavras são importantes!" - mas
ancorados em emoções e situações que as crianças reconhecem. E procuro escrever
com uma linguagem rica, mas acessível, porque acredito que as crianças merecem
ser desafiadas linguisticamente sem serem intimidadas.
Quanto às
mensagens, procuro transmitir valores de coragem, solidariedade,
responsabilidade e esperança. Acredito que as crianças são os únicos seres
humanos verdadeiramente revolucionários, e as minhas histórias tentam alimentar
essa capacidade transformadora. Quero que as crianças que leiam os meus livros
sintam que podem mudar o mundo "no recreio da escola, antes do
lanche", como costumo dizer.
Qual o papel das redes sociais na vida e na divulgação
da obra de um autor? E na sua?
Há também uma ironia deliciosa aqui: escrevo sobre a importância de desligarmos dos ecrãs e valorizarmos as palavras, e depois uso as redes sociais para divulgar essa mensagem! Por isso, tento usar as redes de forma consciente - partilhando conteúdo que inspire à leitura, à criatividade offline, às conversas reais. Sempre como uma ferramenta e não como um fim em si mesma.
Gosta de ler? Que tipo de leitor é que é?
Como leitora, sou intensamente emocional. Não consigo ler apenas com a cabeça - leio com o coração todo. Choro com as histórias, rio alto, fico furiosa com personagens, apaixono-me por palavras e excertos inteiros. Decoro passagens e poemas simplesmente porque gosto do som das palavras. Sublinho, rabisco nas margens e dialogo com os autores.
E claro, tenho uma relação especial com a literatura infantil. Leio-a não apenas para me inspirar como escritora, mas porque acredito genuinamente que alguns dos livros mais profundos e revolucionários são escritos para crianças. Eles ainda não esqueceram a magia. Faço-lhe até uma inconfidência: coleciono livros pop-up do mundo inteiro e já tenho, inclusive, uma enorme coleção.
quinta-feira, 11 de dezembro de 2025
Mariana Manaia, ilustradora, em entrevista.
Há crianças que sonham em ser famosas, em ir à lua, conhecer esta ou aquela personagem (real ou imaginária)... E há aquelas crianças que criam mundos e lhes dão vida através dos desenhos. Com sorte mantém-se sonhadoras e talentosas e, de vez em quando, batem-nos à porta...
E assim temos a história desta jovem ilustradora, nascida em Coimbra e criada em Leiria. Este ano de 2025 esteve connosco e ajudou-nos com a criação de vários mundos: o de um robô muito capaz; o de um bosque mágico e o sempre fantástico mundo da mitologia sebastianista.
Ainda teve um bocadinho de tempo para criar um belo postal de Férias, co-vencedor do nosso Desafio de Julho.
E é pelos seus lápis e pincéis que vai ser colorida esta entrevista em que fala dos três livros em que trabalhou este ano. Mariana Manaia por voz própria e na primeira pessoa:
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Conte-nos quando é que começou a desenhar e
quando é que começou a usar o desenho para ilustrar algo?
Eu desenho
desde que me lembro! Se formos a ver, todos nós desenhamos, e somos artistas em
criança. Eu nunca deixei de desenhar, sempre foi parte de mim. Usar o desenho
para ilustrar histórias é algo mais recente, o meu primeiro livro ilustrado foi
“Um sonho GIGANTESCAMENTE transformador” da autora Suzana de Freitas, que foi
publicado este ano, em Janeiro. Foi muito gratificante e estou neste momento a
trabalhar para fazer da ilustração o meu trabalho a tempo inteiro. Felizmente, desde aí já
consegui fazer alguns trabalhos com a Tecto de Nuvens a quem agradeço a
confiança e o apoio. Muito obrigada.
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Qual o papel do desenho (e da arte em geral)
na sua vida?
Quando sou
criativa é quando me sinto mais alinhada comigo mesma e mais feliz. Desenhar é
uma forma de expressão e é também uma forma de “escape”. Eu tenho uma mente
muito ativa, penso muito, imagino muito e tenho muitas ideias o que é muito bom
mas também se torna difícil às vezes. Quando desenho, é algo automático e
intuitivo e a mente desliga. Tudo o que interessa naquele momento é o que estou
a criar. E quando acabo uma ilustração sinto uma sensação de conquista e de
orgulho, o que também é agradável!
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Como é que faz a ilustração de um livro? É um
processo “técnico” (no sentido de regras, equilíbrios…) ou mais
intuitivo/emocional (do género “consigo visualizar esta cena”)?
O meu processo
começa sempre pela leitura do livro. Eu imagino, na minha cabeça, as cenas a
desenrolar como um filme. E depois tento traduzir para o papel as cenas chave
do “filme” que melhor representem o texto. Só depois dessa parte mais intuitiva
e emocional é que penso como posso melhorar o desenho pensando nas regras dos
terços, na teoria da cor e nessas coisas mais técnicas.
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Falando especificamente dos livros “Leonor e
o robô Topap” (ilustração e capa); “O Bosque das Palavras Perdidas” (ilustração
da capa) e “Eu, El Rei Dom Sebastião, a vós retorno!” (ilustração e capa), qual
é a sensação que tem ao ver, agora, os livros, já prontos, nas mãos?
É muito
gratificante! Ver o meu trabalho como algo físico e tangível e saber que vai
dar a cara a estes trabalhos tão bonitos das minhas colegas autoras é uma
honra.
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Fale-nos um pouco sobre o ilustrar de cada um
destes livros. Foi fácil, intuitivo?
Há livros
mais fáceis que outros de ilustrar, por diversas razões. Às vezes a inspiração
atinge-nos imediatamente, outras vezes é preciso explorar diversas ideias. E
depois também é preciso que a nossa ideia vá de encontro às ideias e
expectativas do autor, o que pode acontecer à primeira (com alguma sorte) ou
pode precisar de mais algumas tentativas!
Para o livro
da “Leonor e o robô Topap” foram precisas várias tentativas para o design final
das personagens. Especialmente para o robô Topap. A maneira como interpretei o robô
estava longe daquilo que a autora e a editora tinham imaginado. Foi preciso
refazer várias vezes o esboço e, ao mesmo tempo, partes do texto que descreviam
o robô foram retrabalhadas para chegarmos ao produto final. Mesmo com todos
estes percalços eu gostei imenso deste trabalho. Acho que nunca tinha desenhado
um robô, por isso foi um desafio engraçado! Para além que gostei imenso da
história.
Para o livro
“O Bosque das Palavras Perdidas” foi algo muito intuitivo. A autora Helena
Ferreira tem um dom para a descrição, o que tornou o meu trabalho muito fácil.
O desenho foi feito de início ao fim sem ser preciso uma única alteração. Um
daqueles casos em que a ilustradora tem muita sorte!
Por fim,
“Eu, El-rei Dom Sebastião, a vós retorno!” foi o meu primeiro livro com a Tecto
de Nuvens fora da categoria infantil. A autora tinha muitas ideias desde início,
o que poderia correr bem ou mal! Será que conseguiria ir de encontro às
expectativas? Correu tudo bem felizmente, as ideias da autora eram muito
interessantes e algumas iam de acordo com o que eu já tinha imaginado. A autora
falou num nevoeiro e um cavaleiro, e eu imaginei logo uma capa que fluísse para
a contracapa, uma ilustração única. Mais tarde surgiu a ideia da coroa que eu
também incorporei. A editora Teresa também foi essencial para este trabalho,
foi a ponte entre mim e a autora e deu ideias muito valiosas que levaram a uma
das capas mais bonitas que já fiz (na minha opinião claro)!
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Existe alguma parte de cada um destes livros,
em particular, que a toque mais. Porquê? Influenciou o estilo/escolha do traço?
Para o livro
da “Leonor e o robô Topap” a cena final foi a mais marcante para mim e é a cena
que deu origem à capa. Os dois parceiros triunfantes, tendo cumprindo a sua
missão, foram o foco desta ilustração. O design destas personagens, como falei
anteriormente, foi algo que precisou de várias tentativas, por isso também eu
me sinto triunfante de os ver assim na capa!
“O bosque
das palavras perdidas” tocou-me especialmente pela imersão que tive ao ler este
livro. Deu-me imenso gosto ler, e relembrou-me das minhas sessões de leitura em
criança. É um livro muito bonito e com uma mensagem muito importante. Para este
livro quis me focar em trazer alguma magia para a capa para refletir isso, e
por isso a luz foi o foco desta ilustração.
O livro “Eu,
El-Rei Dom Sebastião, a vós retorno!” foi o meu primeiro livro com a Tecto de
Nuvens fora da categoria infantil. Por isso quis fazer algo bastante diferente
e apostar tudo no cenário, em vez de na personagem. O resultado foi uma
ilustração com algum mistério, e com alguns elementos que representam bem este
livro!
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Indique as razões pelas quais aconselharia as
pessoas a ler estes livros? O que acha mais apelativo nos livros?
“Leonor e o robô
Topap” é um livro engraçado e tenro sobre um robô abandonado e a menina que o
encontra e que o ajuda a encontrar o seu propósito. A inteligência artificial,
um tema tão atual, é um dos temas centrais do livro. Como podemos utilizar esta
tecnologia para o bem da humanidade? Para mim, como ilustradora, é algo tão
importante, porque como sabemos a inteligência artificial está a roubar
trabalhos artísticos, seja na ilustração, na escrita ou até na música.
Trabalhos estes profundamente humanos, que muitos de nós queremos fazer! Mas
podemos utilizá-la para fazer os trabalhos que não queremos ou que sejam
perigosos para os humanos como iremos explorar neste livro!
“O bosque das
palavras perdidas” é um livro lindo sobre a importância das palavras. Eu diria
mesmo que é digno de um filme da Disney. A autora transporta-nos para dentro da
história com o seu dom da descrição e o livro tem uma mensagem bonita e cada
vez mais importante nos dias de hoje. Aconselho vivamente!
E por fim “Eu,
El-Rei Dom Sebastião, a vós retorno!” é um livro já para um público mais
crescido. Procura responder ao maior mistério da História de Portugal com uma
hipótese muito interessante e emocionante. Aconselho a qualquer apreciador de
história e de ficção.
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Considera a arte,
neste caso não apenas na perspectiva de um apreciador, mas de alguém que
“produz” algo, seja um bordado, uma colagem, pintura, desenho, tocar um
instrumento, etc, como sendo sempre uma actividade (até na perspectiva de
“escape”) recomendável e positiva? Ou é apenas se a pessoa for boa na sua
realização? Ou pode ser benéfico mesmo que o resultado final não seja digno de
ir para o Museu? Acha que há mérito no processo por si só?
A arte é
algo que todos deveríamos fazer, faz parte de ser humano. Pensem nas pinturas
das cavernas. A arte sempre fez parte de nós! Hoje estamos muito desligados do
nosso lado criativo, por “falta de tempo” ou porque achamos que “só conta se
formos bons à primeira”. Mas permitir-se largar a perfeição e ser mau a alguma
coisa, pintar fora das linhas, fazer uma cerâmica torta, permitir-nos errar e
tentar de novo é algo profundamente humano. Só avançamos, só melhoramos, se
tentarmos e não ficarmos agarrados a uma ideia de perfeição que não existe.
O processo
criativo, seja por que meio for, é algo muito benéfico para qualquer pessoa.
Alguém disse: “A expressão é o oposto da depressão”. Não tenham medo de se
exprimir através de qualquer forma de arte. É verdadeiramente libertador.










