E assim, tal como o monarca, também o livro regressa...
A autora não é estranha para os leitores do blogue e já antes nos falou do seu gosto pela escrita e da preferência pelo romance, mas tal como um bom livro, cada nova "leitura" da autora traz algo de novo sobre esta viseense de 56 anos. Aprendemos sobre ela e sobre este regresso do seu "Eu, El Rei D- Sebastião a vós retorno!" enquanto nos fala sobre este assunto fascinante.
Laura Ramos, por voz própria e na primeira pessoa...
Fale-nos um pouco sobre o seu novo
livro.
Trata-se de um
romance histórico que explora a lenda de D. Sebastião e se apoia na versão de
que o rei não morreu na batalha de Alcácer Quibir.
Mistura
realidade com ficção. Recria cenas em que são lembrados episódios históricos,
situações que aconteceram na realidade e que marcaram a vida, a derrota militar
e o espírito do rei.
Ao mesmo
tempo, partindo da versão de que o rei não desapareceu em Alcácer Quibir, mas
continuou a viver, sem coroa, e partindo das circunstâncias pessoais
historicamente conhecidas, tentei recriar o contexto mental e espiritual em que
o homem teria mergulhado ao defrontar-se com uma nova realidade de vida.
Procurei
ancorar-me nas características pessoais conhecidas ao rei para elaborar os seus
sentimentos, ideias e vontades que sejam verosímeis num contexto de
sobrevivência pós batalha.
Para além da nova capa, esta versão difere
muito da de 2022, ou fez apenas alguns retoques?
Apenas fiz uns pequenos retoques,
mas a história permanece igual.
Indique as razões pelas quais aconselharia
as pessoas a ler (ou dar a ler) o seu livro?
Sempre me
apaixonou perceber o motivo que tornou lendário um rei que, na verdade, perdeu
a guerra, a coroa e deixou o reino à mercê daqueles que sempre ambicionaram
dominar Portugal. Esse gosto talvez seja partilhado pelos leitores.
Vale a pena
recordar o clima de mistério e ânsia que rodeou o nascimento deste rei e o seu
desaparecimento do trono.
Também vale a
pena conhecer a possibilidade de o rei não ter morrido na batalha, o que é uma
circunstância admitida por alguns historiadores.
Por outro
lado, vivemos tempos de turbulência, incerteza e insegurança. Nessas fases, os
povos preferem mergulhar nas suas lendas, onde muitas vezes encontram
inspiração e forças para continuar a acreditar no presente e no futuro.
E depois há as
razões práticas para ler este livro: é relativamente pequeno e rápido de se ler,
tem uma capa linda.
Sobretudo é
bom recordar um rei que se transformou num mito ainda hoje presente na
consciência nacional. Apesar dos fatídicos factos históricos, o rei D. Sebastião
representa a esperança em dias melhores e no ressurgimento nacional. Ótimos
motivos para o reler!
Este livro aborda um dos temas mais
fantásticos, místicos e misteriosos da História de Portugal. O que é que a
levou a abordar esta temática e o porquê da escolha desta teoria (que embora,
provavelmente seja das mais bem suportadas em termos de provas, não é a que a
maior parte dos leitores conhecerá, aqui “conhecerá” como possibilidade e não
como parte do mito)?
Sempre
me fascinaram temas misteriosos e a vida de D. Sebastião deixou-nos como legado
um mistério enorme, a esperança de o país ter de cumprir uma obra inacabada.
Este rei deixa muitas perguntas no ar, muitos “porquês” sobre a sua existência,
sobre as suas escolhas e sobre o destino de Portugal.
Também
quis dar vida à possibilidade da sobrevivência do rei, de modo a que as teses
que se debruçam sobre isso não sejam lembradas apenas na dimensão do estudo,
mas na riqueza do romance que, partindo do conhecido, persegue o desconhecido e
dá vida às personagens históricas, tornando-as próximas de nós todos e, dessa
forma, podemos melhor compreender quem foram e como pulsaram.
Alguns
factos ficcionados assentam mesmo em possibilidades que já vi exploradas.
E a forma de narrativa, entre lá e cá, o
sonho e a memória? Foi uma escolha natural, intuitiva?
É uma forma de não
tornar o livro pesado com pormenores da vida pessoal do rei e das demais
personagens, indo buscar as partes que sobressaem na vida das pessoas que um
dia estiveram na Terra a cumprir o seu destino e a tecer os fios à nossa meada,
enquanto nação. Um livro de História tem de se debruçar sobre tudo, mas um
romance vai buscar as partes mais importantes para descobrir as pessoas.
Este livro é uma espécie de híbrido entre o
romance histórico e o especulativo. O ano passado contemplou-nos com um romance
contemporâneo “A Ditadura das Árvores”, o romance é a sua forma de comunicação
preferida? É um género a que tenciona voltar?
Sim, sem
dúvida que o romance é uma forma de comunicação e a oportunidade de criar.
Embora não tenha datas, nem objectivos que pressionem, gostaria de continuar a
escrever.
“A Ditadura
das Árvores” é um livro sobre o presente e o futuro próximo, os problemas, os
medos e as esperanças que a humanidade hoje enfrenta. Acaba por ter pontos de
contacto com o livro “Eu, el rei D. Sebastião, a vós retorno”, na medida em que
este também viaja pelos medos e esperanças de uma nação.
Ambos encaixam
neste tempo de mudanças aceleradas, em que o homem busca o progresso, mas já
anseia pelo sentido da sua existência e do futuro. São, pois, ambos livros que
têm voz para este tempo.
Tem mais projectos para livros?
Actividades?
Sim, tenho
algumas ideias de histórias que gostaria de transformar em romances. Dá-me
prazer criar personagens diferentes e que tenham personalidade própria e deixem
algum legado aos leitores.
Creio que não
vou parar por aqui.
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